10.9.12



Camaradas, salve!
Segue a crônica com a música...
Com o carinho do poeta sempre...



O cantor e ator Ricky Shane é um mistério...
Filho de pai libanês e mãe francesa...
Foi para Paris com 15 anos...
Gravou  “Mamy Blue” em 1971 e literalmente “matou a pau”...
Depois sumiu... Dedicou-se ao cinema e teatro...
Casou, teve filhos...
Nunca mais ouvi falar dele... Uma pena!
Tinha talento, esta composição é um exemplo, vai... (Olsen Jr.)



NEM SEMPRE
FREUD EXPLICA

Por Olsen Jr.

   Estou no consultório odontológico esperando a minha vez. Procuro ler alguma coisa (qualquer coisa) para aliviar a tensão. Pego uma revista “Status” (remake)... Na década de 1970 uma publicação com este nome era o melhor que se tinha para a satisfação do público masculino. Guardo um exemplar temático (só Drinks) daquela época. Agora, a edição que tenho em mãos é uma pálida evocação do que a memória ainda retém.   Não deveria ter mais “certas” preocupações, mas tenho... Vejo a senhora que sai do gabinete, caminha lentamente em minha direção... Afirmo para descontrair “não doeu nada, certo?”... Ela parece surpresa com a minha observação, afinal tudo ali é asséptico e sério... “Não, meu filho, não doeu”...   Digo para ela que certos “traumas” ou “má vontade”  se preferir, com algumas situações a gente leva da infância e não muda mais...
A ela junta-se a atendente e ficam me ouvindo... Continuo, “dentista, cortar cabelo e comprar roupas sempre foram questões a serem resolvidas para mim”. O primeiro por não suportar o ruído que a broca faz (e a gente não vê o que ela está fazendo), o segundo porque nunca me deixaram ter o cabelo comprido na época em que isso era moda (na década de 1960 quando os Beatles mandavam na música pop) e por último, se antes era porque a minha mãe escolhia o que iria vestir, agora simplesmente porque não suporto a constatação sempre quando me vejo num provador de que preciso perder peso, e todo o drama continua...”
   A mulher e a recepcionista começam a rir e naquele momento esqueço que sou o próximo a ser atendido. Ela concorda comigo e lembra que na sua infância a broca nos consultórios era acionada por pedais e claro, dependia das flutuações da energia do dentista despendidas no ato... Penso que as alterações de rotação da dita cuja deveriam provocar “dores” de intensidades variadas em curto espaço de tempo... E, “quanto aos provadores, acrescentou ela, tenho verdadeiro pavor... Menos porque não goste de comprar roupas, porque gosto, mas não sou compulsiva como uma amiga que já deve ter perdido a conta de quantos sapatos tem em casa”...
   Intervenho e afirmo que deve ser algo no componente genético das mulheres porque não conheço uma que não goste de sapatos...
   Ela assente com a cabeça e continua a história afirmando que sua amiga teve de ir a uma festa e comprou uma sandália para combinar com a roupa... Quando já em casa foi procurar a peça descobriu que tinha guardada outra sandália, da mesma cor e modelo... Mas eu estava falando dos provadores, porque os detesto... Algum tempo atrás fui provar uma roupa... Estava lá dentro me preparando para vestir a roupa que pretendia comprar quando escorreguei e tentei me apoiar no que eu pensava ser uma parede daquela cabine... Para minha surpresa, levei um susto, eram apenas cortinas dispostas em “U” e caí de costas no provador ao lado... Naquele momento havia um homem só de cuecas que iria também vestir alguma roupa... Caí por cima dele e foi um “Deus nos acuda!”...
   Aí foi a minha vez de juntar-me as gargalhadas da recepcionista... A mulher pareceu não se abalar, disse já ter superado o “trauma”, mas não esquecia o caso... Alguém avisou que o motorista dela já  estava esperando e ela saiu, não sem antes abraçar a secretária e a atendente do gabinete... Depois olhou para mim e afirmou “não se preocupe, meu filho, não vai doer nada!”
   Agradeci aquele conforto moral e depois que ela saiu fiquei imaginando que nada é melhor que o bom humor para encorajar um homem recalcitrante (sem nenhuma vocação para herói) num gabinete de dentista! 
  

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