EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
Salvação - Alameda dos Amigos Mortos
SALVAÇÃO
Por Emanuel Medeiros Vieira
“O tempo é a espera de Deus que mendiga nosso amor”. (Simone Weil)
“O tempo é uma nave sem governo, umas vezes avança, outras baloiça-se nas ondas oleosas.
O tempo é uma perpetuidade cansada; o chão que pisamos é feito de infinidade, o sol despenha-se do alto para que o recebamos, e não para medir a noite e o dia.
Cada livro é uma peregrinação”. (Agustina Bessa Luís)
Salvar o tempo do tempo: é preciso.
Toda matéria vem da memória.
Todo tempo é derradeiro.
Estóicos – não desistimos.
Tudo termina em morte.
Exorcizamos a finitude através do que criamos?
Salvamos o tempo vivido.
ALAMEDA DE AMIGOS MORTOS
Por Emanuel Medeiros Vieira
ALAMEDA DE AMIGOS MORTOS:
CHAMAM-ME PARA NAVEGAR NO BARCO
DAS PARCAS.
MANHÃ COM CHEIRO DE MARESIA,
FLOR RETORCIDA DO CERRADO,
MORANGOS NA CESTA.
E TUDO CONTINUARÁ.
OUTRO CAFÉ, OUTRO DOMINGO, OUTRO MENINO,
E TODO VENTO DA MEMÓRIA JÁ PASSOU.
ALAMEDA DE AMIGOS MORTOS:
NAUTA, NAVIO ENCALHADO, CASCO, GOSTO DE SAL,
GAIVOTA, PORTO, GARRAFA AO MAR, BILHETE.
ALAMEDA DE AMIGOS MORTOS:
ALÉM DE MIM, ALÉM DO PÓ.
ALGUEM FECHA MEUS OLHOS,
APÓS O MOMENTO DERRADEIRO.
NADA MAIS PODE SER COMPENSADO:
FUI APENAS MEMÓRIA,
NÁUFRAGO NA MINHA PÁTRIA SOBERANA: O EXÍLIO.
Fotos: Celso Martins (Sambaqui, Florianópolis-SC)
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