27.9.12

assado, Luiz Fernando Galotti, Emanuel Medeiros Vieira, Sua majestade o canário, Olsen Jr., Passado, Luiz Fernando Galotti, Emanuel Medeiros Vieira, Sua majestade o canário, Olsen Jr., Passado, Luiz Fernando Galotti, Emanuel Medeiros Vieira, Sua majestade o canário, Olsen Jr., Passado, Luiz Fernando Galotti, Emanuel Medeiros Vieira, Sua majestade o canário, Olsen Jr.

 

Garça em Santo Antônio de Lisboa. Foto: Celso Martins

Dois ilustres escritores

Emanuel Medeiros Vieira encaminha o porma "Passado", dedicado a Luiz Fernando Galotti, falecido recentemente. "Meu primeiro livro foi lançado em 29 de setembro de 1972 na livraria Cruz e Sousa", que pertencia a Galotti, lembra Emanuel. "E a Vera Linhares [falecida] ajudou no preparo do lançamento".
Oldemar Olsen Júnior, o nosso Olsen Jr., andou por Florianópolis tratando de reformas em sua casa na Lagoa da Conceição e conversou com alunos do Colégio Maria Luiza de Melo, o popular Melão, em São José. Antecipou a crônica "Sua majestade o canário".

Gaivota na Ponta do Sambaqui (Sambaqui). Foto: Celso Martins

*

SUA MAJESTADE O CANÁRIO

Por Olsen Jr.

   Não é segredo para ninguém que os animais exercem um determinado fascínio sobre as pessoas. Desde tempos imemoriáveis estes seres, ditos irracionais, acompanham o gênero humano. Alguns destes espécimes como lembrou um amigo bem humorado, até se adaptaram melhor ao mundo que certos indivíduos que conheço, mas é outra história.
   O fato é que esta afetividade transplantada para o plano prático fez com que domesticássemos determinadas espécies para o nosso convívio, seja por razões impostas pelo trabalho, para fins bélicos, alimento, negócios, sociabilidade e até ocupações lúdicas...
   Por que estou lembrando isso?
   Certos fatos e acontecimentos estão tão incorporados em nossas vidas que, muitas vezes, não percebemos as dificuldades que envolveram nossos antepassados considerando a iniciativa que vai desde a captura de determinadas espécies de animais até o seu condicionamento para pô-las a disposição do convívio humano para os fins a que destinasse.
   Assim, a docilidade de um gato (seja de que raça for) aninhado em cima de um sofá na sala dificilmente evoca sua ancestralidade com os egípcios e a civilização que engendraram... Um cachorro abanando o rabo para receber um afago do dono raramente provoca um sentimento de gratidão  pelos povos asiáticos que os trouxeram para o nosso convívio... Do alimento para a caça, guarda e companheirismo, quem sabe quem chegou primeiro?  Talvez a sobrevivência mesmo, arrisco.
   Mas no lugar onde estou morando agora, Rio Negrinho (Norte do estado de SC) uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção, andando por aí, foi à ausência de cachorros nas ruas. A sensação é a de que os proprietários dos cuscos gostam deles o suficiente para não permitir que fiquem soltos por aí a mercê de um destino aventureiro que, aliás, não condiz com uma sociedade de colonização alemã.
  Outra constatação, a propósito foi uma amiga quem me alertou. Como ela gosta muito de bichos e sempre conviveu com gatos desde a infância (na casa dela sempre havia pelo menos dois) disse-me que era muito raro perceber a presença de um destes bichanos em qualquer local. Daí insuflado pela curiosidade comecei a reparar em todos os lugares por onde andasse se havia algum gato... Nada... Mesmo em casas habitadas por gente idosa onde tal incidência é quase rotineira, nem sinal daqueles animais assim tão limpos e delicados e inofensivos como sempre fazia questão de afirmar a minha amiga que, a bem da verdade tinha um em casa com o curioso nome de “Pacato”, segundo ela, a inspiração para nomeá-lo veio do seriado “He-Man” da televisão.
   Lembro que nos fizemos a mesma pergunta: “o que será que houve com os gatos (estávamos nos referindo aos felinos, evidentemente) desta cidade?
   A pergunta permaneceu no ar durante alguns meses... Outro dia encontro com esta amiga e comentamos sobre aquele fato inusitado, foi quando ela começou a rir... Aí foi a minha vez de ficar intrigado... “Qual a graça?”  – Indago, sem entender... “Descobri a razão da quase ausência dos gatos na cidade” – Disse ela, fazendo um breve suspense para apimentar o que iria dizer... “Estou ouvindo” – brinquei enquanto esperava pelo desfecho daquele enigma. Descobri a resposta, começou ela, por puro acidente. Dia destes, comentei com um morador antigo aqui da terra, que não tinha visto nem um gato nas imediações... Ele sem se constranger, simplesmente disse: “Ninguém tem gato em casa porque há muitos criadores de canários na cidade... E aqui o canário é rei!”... Rimos juntos... Lembrei do Lauro, meu barbeiro que coleciona troféus ganhos pelos seus canários, mas agora já é outra história!

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A música que ilustra o texto poderia ser esta...



Do grupo “The Troggs” que pontificou na década de 1960 (só para variar)...
Eles emplacaram muitos sucessos, a maioria no ano de 1966 quando assinaram contrato com o mesmo empresário do “The Kings”...
Continuam na estrada até  hoje...
Antes que esqueça, “Troggs” é a abreviatura inglesa para a palavra trogloditas...
Vai com o carinho de sempre do poeta... (Olsen Jr.)

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 Gaivota na praia das Flores (Sambaqui). Foto: Celso Martins

PASSADO 

Por Emanuel Medeiros Vieira


Em memória de Luiz Fernando Gallotti – que muito fez pela cultura de
Florianópolis e pelo avanço do conhecimento e da democracia.

Para os que ainda sonham.

Atiramos o passado ao abismo, mas não nos debruçamos para ver se ele está morrendo.” (William Skakespeare)                        

Quando chover no seu desfile, olhe para cima e não para baixo. Sem a chuva, não existiria o arco-íris.” (G. K. Chesterton)


O passado caiu no abismo.
Caiu?
Escorre o Tempo – sempre.
Deixamos tudo para depois.
Ele – o Tempo – não.
Tudo já foi dito (lembrado): um trapiche, um menino, um velho – e o mar.
“Redundante, repetitivo”.
São sempre os mesmos – os temas.
(Álibi compensatório).
O pai sereno no caixão.
Só captamos fragmentos de uma vida.
A baía azul, a regata – o útero materno.
O Passado será sempre um país estrangeiro.
Ossadas de um menino?
Ou um sonho irrevogável – algo de ti ficará.
Obrigado, amigo!

(Salvador, setembro de2012)

*

 Placa no Gambarzeira (Santo Antônio de Lisboa).


24.9.12

FOTOGRAFIA (Celso Martins) e 
POESIA (Emanuel Medeiros Vieira)






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Imagens da resistência democrática
na Florianópolis da década de 1970

Jornalista e historiador Celso Martins mostra fotografias inéditas

Imagens da Resistência: Florianópolis nos anos 70, do historiador e jornalista Celso Martins, tem a coordenação e produção de Carmem Lúcia Luiz com a curadoria do fotógrafo Radilson Carlos Gomes. O movimento estudantil, as noitadas no Roma, a Novembrada e o cotidiano daqueles tempos integram a mostra.
“Tudo isso fazia parte do meu dia-a-dia, como morador do bairro da Trindade que ameaçava fazer poesia, militava na oposição à ditadura civil-militar e atuava como repórter do jornal O Estado”, conta Martins que não se vê como fotógrafo. “Fotografo no intuito de reportar uma imagem”, explica, “mas onde eu me realizo é como repórter de texto”.
O material que está sendo mostrado é apenas uma ínfima parte do acervo reunido por Celso Martins, a maior parte ainda em negativos que nunca foram ampliados. Munido de uma câmera Canon FTB, ele cobriu os atos da resistência democrática e o dia-a-dia de seus integrantes, além de fatos e eventos pela cidade.
Teve a sorte de conviver com o grupo pioneiro do foto-jornalismo na cidade, reunido no jornal O Estado, como Orestes Araújo, o falecido Rivaldo Souza, Sérgio Rosário e Lourival Bento. “Eu era repórter mas acompanhava as discussões dos fotógrafos sobre a obtenção da imagem, as questões éticas, a revelação, ampliação e edição das fotos”, lembra.
Naquele tempo, profissionais de peso como Tarcísio Mattos, Carlos Silva e Sarará, atuaram no laboratório do jornal, com quem eu “discutia a qualidade dos meus negativos”. Martins também se recorda das primeiras lições com Osvaldo Nocetti (Coca) e Laureci Cordeiro, as aulas com Dario de Almeida Prado e o convívio com outros profissionais.
A mostra tem um formato diferente, com fotos em grandes dimensões, muitas escaneadas e ampliadas a partir de contatos, sem o uso de qualquer programa para alterar seu estado original. Uma pequena instalação vai mostrar como eram processadas estas fotografias, com ampliador, bacias, pinças, cuba e o tradicional varalzinho para a secagem de fotos e negativos.
Na ocasião estarão sendo autografados os livros Os quatro cantos do Sol – Operação Barriga Verde (Florianópolis: EdUFSC, 2006) e Os Comunas – Álvaro Ventura e o PCB catarinense (Florianópolis: Paralelo 27/Fundação Franklin Cascaes, 1995, ambos de autoria de Celso Martins.


Serviço

Mostra
Imagens da Resistência: Florianópolis nos anos 70

Autor
Celso Martins (jornalista e historiador)

Abertura
Dia 25.0.2012 às 19 horas

Permanência
Dias 25 a 27 de setembro

Local
Espaço É A GENTE (rua Júlio Moura, 139, Centro)

Entrada franca

*

BREVIÁRIO

(Ou Livro das Citações)

Lembrando Theo Angelopoulos (1936-2012), um dos maiores cineastas do século XX


Por EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

(...) “Disse a mim mesmo repetidas vezes que não existe outro enigma senão o tempo, essa infinita urdidura do ontem, do hoje, do futuro, do sempre e do nunca”.

(Jorge Luis Borges – “O Congresso”, em “O Livro de Areia”)

O tempo – sempre

pó, sombras, finitude,

meu breviário,

bíblia da jornada – inelutável calendário,

 mar azul ao fundo,

menino, velho, defunto.

o tempo e seus presságios

 meu fio-terra particular (subjetividade dilacerada) – e rosto no espelho (todos os dias)

bússola desgovernada, errático astrolábio

a vida escorre – sempre celebrada

(Mesmo que a morte tenha mais tempo)

Novamente, lembrei-me de Borges – da mesma obra –, citado na epígrafe:
(...) “Também a mim a vida deu tudo. A todos a vida dá tudo, mas a maioria ignora isso. (...)

(“Undr”)

Lembrando Theo de “A Viagem dos comediantes”, “Paisagem na neblina” “A Eternidade e um dia”, “Um olhar a cada dia”

Breviário, epístola, palavra, revelação, mãe, imortalidade – e o tempo e o mar

(Quem sabe, Deus)

A Eternidade é um dia

A Eternidade e um dia

E só essa vida. Só essa. Nunca mais.

16.9.12


10.9.12



Camaradas, salve!
Segue a crônica com a música...
Com o carinho do poeta sempre...



O cantor e ator Ricky Shane é um mistério...
Filho de pai libanês e mãe francesa...
Foi para Paris com 15 anos...
Gravou  “Mamy Blue” em 1971 e literalmente “matou a pau”...
Depois sumiu... Dedicou-se ao cinema e teatro...
Casou, teve filhos...
Nunca mais ouvi falar dele... Uma pena!
Tinha talento, esta composição é um exemplo, vai... (Olsen Jr.)



NEM SEMPRE
FREUD EXPLICA

Por Olsen Jr.

   Estou no consultório odontológico esperando a minha vez. Procuro ler alguma coisa (qualquer coisa) para aliviar a tensão. Pego uma revista “Status” (remake)... Na década de 1970 uma publicação com este nome era o melhor que se tinha para a satisfação do público masculino. Guardo um exemplar temático (só Drinks) daquela época. Agora, a edição que tenho em mãos é uma pálida evocação do que a memória ainda retém.   Não deveria ter mais “certas” preocupações, mas tenho... Vejo a senhora que sai do gabinete, caminha lentamente em minha direção... Afirmo para descontrair “não doeu nada, certo?”... Ela parece surpresa com a minha observação, afinal tudo ali é asséptico e sério... “Não, meu filho, não doeu”...   Digo para ela que certos “traumas” ou “má vontade”  se preferir, com algumas situações a gente leva da infância e não muda mais...
A ela junta-se a atendente e ficam me ouvindo... Continuo, “dentista, cortar cabelo e comprar roupas sempre foram questões a serem resolvidas para mim”. O primeiro por não suportar o ruído que a broca faz (e a gente não vê o que ela está fazendo), o segundo porque nunca me deixaram ter o cabelo comprido na época em que isso era moda (na década de 1960 quando os Beatles mandavam na música pop) e por último, se antes era porque a minha mãe escolhia o que iria vestir, agora simplesmente porque não suporto a constatação sempre quando me vejo num provador de que preciso perder peso, e todo o drama continua...”
   A mulher e a recepcionista começam a rir e naquele momento esqueço que sou o próximo a ser atendido. Ela concorda comigo e lembra que na sua infância a broca nos consultórios era acionada por pedais e claro, dependia das flutuações da energia do dentista despendidas no ato... Penso que as alterações de rotação da dita cuja deveriam provocar “dores” de intensidades variadas em curto espaço de tempo... E, “quanto aos provadores, acrescentou ela, tenho verdadeiro pavor... Menos porque não goste de comprar roupas, porque gosto, mas não sou compulsiva como uma amiga que já deve ter perdido a conta de quantos sapatos tem em casa”...
   Intervenho e afirmo que deve ser algo no componente genético das mulheres porque não conheço uma que não goste de sapatos...
   Ela assente com a cabeça e continua a história afirmando que sua amiga teve de ir a uma festa e comprou uma sandália para combinar com a roupa... Quando já em casa foi procurar a peça descobriu que tinha guardada outra sandália, da mesma cor e modelo... Mas eu estava falando dos provadores, porque os detesto... Algum tempo atrás fui provar uma roupa... Estava lá dentro me preparando para vestir a roupa que pretendia comprar quando escorreguei e tentei me apoiar no que eu pensava ser uma parede daquela cabine... Para minha surpresa, levei um susto, eram apenas cortinas dispostas em “U” e caí de costas no provador ao lado... Naquele momento havia um homem só de cuecas que iria também vestir alguma roupa... Caí por cima dele e foi um “Deus nos acuda!”...
   Aí foi a minha vez de juntar-me as gargalhadas da recepcionista... A mulher pareceu não se abalar, disse já ter superado o “trauma”, mas não esquecia o caso... Alguém avisou que o motorista dela já  estava esperando e ela saiu, não sem antes abraçar a secretária e a atendente do gabinete... Depois olhou para mim e afirmou “não se preocupe, meu filho, não vai doer nada!”
   Agradeci aquele conforto moral e depois que ela saiu fiquei imaginando que nada é melhor que o bom humor para encorajar um homem recalcitrante (sem nenhuma vocação para herói) num gabinete de dentista! 
  

6.9.12



AGREGAR

Poema de Emanuel Medeiros Vieira*

“Não Matarás”: não basta.
Teu mandamento será este: farás tudo para que o outro viva.
É vero sim o que quero:
não me importa o estoque de teu capital, Brasil,
mas tua capacidade de: amar
lavrar
aspirar
compreender.

Esse estatuto de miséria não é o nosso,
e a tecnologia da última geração não me sacia:
meu coração navegador quer mais.
A Ética – cuspida, debochada, no reino do simulacro,
Virou produto supérfluo porque não tem valor contábil.

Tempo dessacralizado e sem utopia:
a esperança é um cavalo cansado?
A aventura acabou no mundo?
Seremos apenas meros grãos de areia na imensa praia global?
Habitantes de um mundo virtual neste mercado sem cara?
Soará pomposo, eu sei:
não deixemos que nos amputem a alma
(e que acolhamos o outro).
Ser gente: não mera massa abúlica, informe, com os olhos colados
no retângulo luminoso de todas as noites.
O tempo é apenas dos alpinistas sociais?
Sou bom porque apareço, não apareço porque sou bom.

Na internet a solidão é planetária.,
mas do abismo – fragmento – irrompe um menino eterno,
e sentes o cheiro de uma manhã fundadora.
(A Morada do Ser é mais importante que o poder/glória.)

E o poema resiste,
singra a eternidade,
despista a morte,
seu estatuto não é mercantil.

Já não esqueces o essencial:
Na estrada de pó e de esperança, acolhes o outro.



*Este texto obteve o Primeiro Lugar no Concurso Nacional de Poemas, promovido pela Associação de Cultura Luso-Brasileira, de Juiz de Fora, Minas Gerais, sendo contemplado com a Medalha de Ouro “Jacy Thomaz Ribeiro.” O tema do concurso foi “Solidariedade: Por um Mundo Melhor.”






 Fotos: Celso Martins