30.12.09

C R Ô N I C A S


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Para terminar bem o ano

Por Amílcar Neves*

Certo, falta bastante tempo até o fim do ano, o que significa que muito ainda pode acontecer. Até a zero hora do dia 1º tudo pode ficar bem pior, talvez bem melhor. De qualquer forma, apesar dos riscos inerentes ao exercício, tentemos antecipar algo.

Dos 27 governadores que operam no Brasil, um foi filmado em alta definição e som estéreo negociando e embolsando propinas mil. As espetaculares tomadas de cena foram autorizadas pelos tribunais superiores. “Montagem descarada!”, bradou a vítima, indignada. “Não tenho nada com isso, jamais fiz isso, sou o mais angelical dos políticos! Provarei minha inocência na Justiça assim que for chamado a fazê-lo - e, ato seguinte, processarei com o máximo rigor todos os que levantaram a pena contra mim!” Seu vice é cúmplice. Ambos perderão o mandato assim que a Justiça declarar que o processo transitou em julgado - daqui a, aproximadamente, 15 anos, 3 meses e 26 dias. Logo ali.

Dos 27 vice-governadores, outro foi denunciado por receber R$ 100 mil para limpar a barra, na Fazenda, de uma empresa que adulterava combustíveis e sonegou R$ 25 milhões de impostos. As escutas foram autorizadas à Polícia Federal pelo Tribunal de Justiça estadual porque, neste país, delegado de polícia tem filiação político-partidária e coloca a lealdade ao chefe acima do cumprimento do dever. O vice - é regra - declara que é tudo mentira, que vai provar sua inocência nos tribunais, etc., etc.

Um dos 27 prefeitos de Capital não tem verba para implantar o Jardim Botânico, bonito e florido no papel, mas encontra R$ 3,7 milhões para plantar uma única árvore de Natal à beira-mar.

Um secretário de estado aproveita um incêndio para redecorar seu gabinete e equipar o auditório da casa; com dispensa de concorrência pública, as despesas foram superfaturadas.

Na Penitenciária Estadual de São Pedro de Alcântara, onde presos recentemente foram torturados, sabe-se agora que eles também foram roubados - pelo diretor do presídio, que desviou R$ 92,9 mil (hoje, corrigidos, 185,8 mil) do dinheiro ganho pelos detentos com o seu trabalho e dos valores que suas famílias lhes repassavam.

O bom de tudo isso é que, apesar da vergonhosa censura prévia que um tribunal regional impõe há cinco meses a um jornal nacional como O Estado de São Paulo, essas histórias continuam vindo a público pela Imprensa. Sorte nossa (por enquanto).

*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (30.12.2009)
do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC).
Reprodução autorizada pelo autor.



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Feliz despertar...

Por Elaine Tavares

As celebrações de um novo começo na vida das gentes são tão antigas quanto a própria raça. Nas culturas mais remotas o “recomeço” era celebrado sempre no solstício ou equinócio de primavera (dependendo do hemisfério), quando tudo começa outra vez a florir. É que como o conceito de tempo ainda não havia sido aprisionado nos relógios a vida das comunidades se regia pelas estações. Naqueles dias, o povo se reunia em festivais, cantando, dançando e bebendo em honra da terra. As mulheres engravidavam e a vida florescia. Era a completude do ciclo da existência, sempre se repetindo.

De qualquer forma, na medida em que as culturas foram se complexificando, igualmente encontraram formas de medir o tempo. Os maias, por exemplo, lograram construir um intrincado calendário com 364 dias, e mais um outro, chamado de “dia fora do tempo”. Este, celebrado em 25 de julho, marca o início do novo ciclo. Já nas culturas do médio oriente, a festa era no equinócio de março, por conta da estação. A comunidade judaica comemora sua festa de Ano Novo, ou Rosh Hashaná, uma espécie de dia do julgamento, em meados de setembro ou no início de outubro, onde as pessoas fazem um balanço da vida. Os islâmicos celebram em maio, contando o tempo a partir do aniversário da saída do profeta Maomé de Meca para Medina, a Hégira, cujo marco corresponde ao 622 da era cristã.

Na China, o “recomeço” é celebrado em datas nem sempre fixas, mas entre final de janeiro e início de fevereiro. Lá, o calendário está relacionado ao movimento da lua e conta cada mês como o mês de um dos 12 animais que se apresentaram na frente de Buda e o ciclo da vida segue esta dinâmica, sempre começando na primavera.

O mundo ocidental também institui o seu “recomeço” a partir de um deus, que não é o cristão. Foi o imperador Julio César, no ano 46 antes de cristo, que determinou o primeiro de janeiro como o dia do início do ano, em homenagem a Jano, o cuidador dos portões. Depois, mais tarde, com a oficialização do calendário gregoriano, esta data permaneceu. Os franceses deram o toque romântico chamando-o de réveillon, que vem do verbo réveiller, cujo significado é "despertar".

E assim as gentes escolhem seus momentos de despertar, de balanço, de julgamento de suas vidas. Vemos que tudo depende da cultura onde se está inserido embora a idéia seja sempre a mesma: recomeçar, jogar fora o que foi ruim, esquecer, olvidar. Começar de novo, dar-se novas chances. E assim, vai avançando a raça, buscando aquilo que os filósofos gregos insitiram em chamar de “felicidade”. Pois eu, que reverencio a terra, os animais, as forças da natureza, que amo Jesus, Maomé e Buda, também vou comemorar. Que venha mais um ciclo, e que seja bom. Que floresça a vida, o amor e a paz. E que todos os povos possam vibrar na mesma onda cósmica. Eu te convido a dançar nesta bela noite de lua cheia, com os deuses e deusas, sob as estrelas. Para receber o ano novo, recomeçar... despertar! Ah, quanta bênção em se viver neste grande grande jardim!

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OLSEN Jr.

Olá, camaradas, salve!
Tirar férias das férias dá nisso...
Essa crônica deveria ter sido enviada na sexta-feira passada... Enfim, está aí, e na sexta agora, tudo volta ao que era antes...
O texto fala de retomada, de consciência... Então, a música pode ser essa...
"My Way"





Que vem a ser a versão inglesa/americana feita por Paul Anka da música (original) que é francesa e se chama "Comme d'habitude" de Claude François e Jacques Revaux lançada em 1967 na França...
Paul Anka fez a versão em inglês e só manteve a melodia, a letra é completamente diferente da original... Lá como aqui, lembra-se do Renato e Seus Blue Caps fazendo versão dos Beatles?
Frank Sinatra gravou-a em 1968...
Tudo ia bem até o senhor Elvis Presley decidir gravá-la... Matou a pau... É a minha interpretação favorita...
Isso que foi gravada ao vivo no Hawaii em 1971, confiram aí...
Vai o texto da crônica como carinho de sempre do poeta!
Se 2010 for como esse que passou, estou "ferrado"...
Até!


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FECHADO PARA BALANÇO

Por Olsen Jr.

Supondo que se pudesse emprestar este “recurso administrativo” de gerenciamento de empresas para uma causa humana e individual, quando interrogado sobre como me sinto nesse final de ano, respondo: “fechado para balanço”.

Não que tenha demasiados produtos para fazer o tal recenseamento, tampouco que “eles” valham muito, mas é o que disponho e com esses que devo contar. Tenho consciência de que se fosse uma loja de artesanato, de manufatura morosa e acima do poder aquisitivo mundano, já estaria trabalhando no prejuízo há muito tempo.

O que tenho a meu favor nesse empreendimento é o fato de não precisar despender recursos com mão de obra de terceiros e também não dispor de funcionários para trabalhar na área, a menos que se considerem os ditos “fantasmas” do ofício, mas esses são generosos, sempre aparecem em grande número e se divertem com o meu empenho em tentar entendê-los e, mais ainda quando me percebem buscando tirar algum proveito dessas incursões malogradas que fazem imaginando talvez, que com isso, sabotem o “meu fazer”.

Alguma coisa tem de ser feita, penso, senão enlouqueço.

Lembro do Scott Fitzgerald e naquela série de textos que publicou com o título “A Derrocada” (em inglês, “The Crack-up”), falando de sua vida, como ela era (glamourosa, rica e bem sucedida) e de como ela estava no momento em que se confessava publicamente (no semi-anonimato, pobre e fracassada)... Ernest Hemingway achou tudo aquilo um horror porque um homem não poderia se revelar daquela maneira para o mundo, ainda mais sendo um artista porque tinha consciência de que tudo o que acontece para um escritor pode ser-lhe útil, mas isso requer um processo de maturação que só um distanciamento cronológico possibilita e desde que o acontecido seja (re)criado com arte... Mas é outra história.

O que fazer com o material que se tem? É isso. Tenho dado um duro danado, mas não tem sido fácil. Tem horas que parece, tudo está conspirando contra. Pessoas que não conseguem ser dissimuladas sofrem mais. Sim, é necessário não perder de vista o objetivo, custe o que custar. Poucos conseguem. É preciso ter “cojones”, com o perdão pela vulgaridade, a expressão hardboiled (calejado) é mais elegante. Uma minoria chega lá de fato e por isso são poucos os escritores contemporâneos que admiro.

Estamos vivendo uma outra espécie de ditadura, nessa se pode tudo, paradoxalmente ninguém está conseguindo fazer nada. Hoje a ditadura se manifesta de maneira mais sutil: é a covardia em se definir diante da vida, quando esta nova posição implica em perda; é o silêncio diante da barbárie; é a omissão ante a sacanagem quando acontece com os outros; é a falta de diálogo; é o medo de estarmos sendo observados em nosso medo; é a agonia da testemunha que teme o mesmo destino do crime que presenciou...

De repente é aquela grande amizade de 34 anos e você acaba descobrindo que nem era grande e sequer era amizade; aquele amor impossível que te aniquila um pouco todos os dias, mas também de conforta com o simples fato de existir; aquela dor que te mata um pouco gradativamente, sem pressa, mas que você precisa dela para criar (lembra-se do conto “O Rouxinol” de Oscar Wilde?); é a insolência do cotidiano que temos a impressão de que só nós que estamos vendo... Tudo isso massacra, faz você perder as esperanças, e nos versos de um poema do bom e velho Bertolt Brecht, no “Apêlo Endereçado Aos Pósteros”, se descobre que essa percepção do mundo vem de longe:

"... Entretanto sabíamos:/
o ódio contra a baixeza/ também endurece os rostos!/
a ira contra a injustiça/ faz a voz ficar rouca./
Infelizmente, nós, que queríamos preparar o terreno para a amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos/
Mas vocês, quando chegar o tempo/ em que o homem for amigo do homem,/
pensem em nós com um pouco de simpatia”.

De qualquer maneira, nessa jornada chamada vida, a sensação que tenho é a mesma do viajante que se vai desapegando de suas tralhas durante a jornada, e quanto mais se livra dos objetos e das lembranças que lhe parecem inúteis e dispensáveis, mais pesado fica para seguir em frente e tenho a consciência de que jamais vamos nos libertar desse gosto amargo das coisas perdidas... É o que redime os poetas!

29.12.09

E S P E C I A L


Por Amauri Soares*

Semana passada, o Congresso Nacional aprovou a lei que concede anistia para praças de nove estados, incluindo os militares catarinenses que participaram do movimento reivindicatório de dezembro de 2008. Agora só falta o presidente Lula assinar.

Começo dizendo que ninguém precisa engolir nada! E começo assim justamente para provocar um susto. A intenção aqui é traçar linhas que nos permitam continuar caminhando para vitórias. Mais do que um jogo de engolir ou deixar de engolir, precisamos é refletir sobre tudo, e nos fazermos amanhã melhores do que éramos ontem, todos nós, de todas as graduações e de todos os postos.

Os comandantes de amanhã serão outros, e também os comandados serão outros. Isso vai acontecer objetivamente, trocando mesmo as pessoas com o passar dos tempos. Mas, buscando lá nos primórdios do conceito de dialética, encontramos a seguinte afirmativa como verdadeira: "Um mesmo homem não consegue mergulhar duas vezes no mesmo rio, pois, na segunda vez que mergulhar, tanto o homem quanto o rio já não serão os mesmos.” A afirmativa do filósofo é mais ou menos essa, se não no texto, pelo menos na idéia.

Significa que todos os homens e as mulheres, assim como todas as outras coisas, estão em constante movimento, em constante processo de mudança. A mesma coisa, por ser composta por seres humanos, vale para as instituições. Portanto, desde o dia 22 de dezembro de 2008, não somos os mesmos. A instituição mudou e buscou reconstituir seus princípios (ou o princípio da cabeça de alguns vários da cúpula) usando os regulamentos disponíveis para castigar com rigor aqueles que julgaram (e vários ainda julgam) ter atentado contra tais princípios. E partiram para uma cruzada, na cabeça deles a cruzada para restabelecer as normas e os comportamentos dos tempos que eles consideram ser os “bons tempos”. E os bons tempos para eles é aquele tempo em que “soldado não pensava”, ou, noutros termos, “praça não pensava”.

O movimento patrocinado pela cúpula ao longo de 2009 foi um movimento de retrocesso a tempos passados, portanto, um movimento no sentido de fazer a história retroagir. Em termos políticos, um movimento reacionário. Já o projeto aprovado pela Câmara Federal e pelo Senado em apenas dois dias, joga tudo para o futuro, e contrapõe o movimento interno da cúpula. Aliás, de várias cúpulas.

E não é correto dizer que os deputados e senadores agiram de modo casuístico, oportunista, político no mal sentido da palavra. Não, eles não agiram assim! É claro que foi uma decisão política, mas de um calibre bem maior. Começa que o projeto teve origem no Senado, depois de pleiteado pelos companheiros do Rio Grande do Norte, onde 1.300 praças foram excluídos por deserção, porque ficaram concentrados em um mesmo quartel durante mais de oito dias, numa “quartelada”.

O Senado é uma casa legislativa formada por uma maioria de ex-governadores. Será que os senadores, começando pelo senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), autor do projeto, não refletiram sobre isso? Será que todos os outros senadores, um bocado de ex-governadores, que já o aprovaram no ano passado pela primeira vez, não refletiram sobre o que estavam fazendo? Claro que refletiram, e sabem mais ou menos bem como são as coisas nas casernas estaduais de todo o Brasil.

Aliás, eles sabem que muita coisa tem que mudar na estrutura das instituições militares estaduais. Não é por acaso que tem propostas de emendas à Constituição no Senado propondo desmilitarizar as polícias e os bombeiros. E o autor é o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB). Eles percebem que a coisa como está não pode melhorar muito para além da realidade atual.

Então, a virulência no uso de instrumentos de coerção acaba firmando convicções de que é preciso um "basta" a certas coisas. Esses choques de conceitos provocam mudanças na forma de pensar de todos os diretamente envolvidos nestas situações e, inclusive, na sociedade que se preocupa com segurança e presencia tais episódios.

Os praças do século XXI não são mais os mesmos do século XIX, e nem do XX. Já não dá mais para tratar os soldados de hoje como tratavam os soldados da Guerra do Paraguai, e muitos ainda não perceberam. Começa que todos entram por concurso, portanto, não ficam devendo nada a ninguém. Mas tem muitas outras coisas que mudaram na sociedade, inclusive o acesso a informação. Quem diria, há 20 anos, que em 2009 os praças debateriam seus problemas, quase em tempo real, em um fórum na internet, público e democrático?

Então as alternativas são apenas duas: ou a coisa muda pelo diálogo, pelo consenso, pelo convencimento, pela racionalidade, ou então mudará de outro modo, não muito convencional. Claro que, se ambos os lados firmarem o pé na sua forma, na sua velocidade, no seu ritmo, aí a coisa estoura e as convulsões continuarão, até que os poderes da República resolvam mudar meio que no empurrão.

Peguemos o exemplo da revolução burguesa. A nobreza da Inglaterra, depois de muito espernear, depois de muitas revoltas populares, percebeu o rumo do mundo, e resolveu se aliar a burguesia nascente, constituindo governos constitucionais e eleitos pelo povo, mas mantendo o Estado nas mãos da nobreza. Com isso, ainda hoje se canta o “Deus salve a rainha” no hino inglês. Já a nobreza da França não entendeu! Não quis nem saber, mandou ver com Luiz XIV, com Luiz XV e sua turma, mandando prender na bastilha todos os opositores, fossem burgueses radicais, camponeses ou os líderes do nascente movimento operário. E assim foi, até que a burguesia, aporrinhada com tantas regras retrógradas, aliou-se aos operários a aos camponeses, derrubou a bastilha e cortou a cabeça da nobreza, literalmente.

Pego esse exemplo apenas como método, sem nenhuma intenção de dar recado. Se a nossa questão não se resolver pelo diálogo, pelo consenso, pela racionalidade, vai se resolver de outra forma. Nós, os que estamos ou que vamos para a linha de frente, ou seja, os manifestantes do dia 22 de dezembro, somos apenas instrumentos dessa mudança que precisa existir. Mesmo o massacre contra alguns (ou vários) é um elemento de elevação da consciência geral, dos praças, dos oficiais e da sociedade. João cândido, “o navegante negro”, comandou a Revolta da Chibata, apontando os canhões dos navios de guerra contra a cidade do Rio de Janeiro, em 1910. Nunca mais um praça foi punido com castigo físico, embora punições severas tenham continuado. Sim, até então apanhávamos de chibata, assim como hoje ficamos até 30 dias presos, muitas vezes por uma bobagem!

Evidente que nenhum de nós preferia que se chegasse ao ponto que se chegou em dezembro do ano passado! Queríamos apenas que o governo nos respeitasse, e parasse de enrolar, e fizesse uma proposta objetiva, colocando na mesa datas e números. O governo não fez isso, e usou a desgraça do povo do Vale do Itajaí para continuar nos ignorando de forma vil. Isso foi o que mais irritou, pois já nos primeiros dias de dezembro do ano passado começaram a anunciar festas de natal em Blumenau e em Florianópolis. Nosso movimento deu uma segurada na “alegria” deles, mas realizaram as duas festas: em Blumenau nas vésperas do natal (lá, por respeito ao povo atingido, não fizemos movimento); em Florianópolis, na virada do ano. Só não tinha árvore de 3,7 milhões, como agora, mas por certo gastaram um bom dinheiro em fogos!

Não esperávamos aquele comportamento da cúpula. O movimento que era para pressionar o governo foi entendido pela cúpula como um movimento contra ela. O processo adquiriu dinâmica que não foi a escolhida por nós. O movimento prolongou-se pára além do esperado, em resposta ao comportamento obtuso do governo. Só faltou irmos para a bala! Mas armas em punho foram vistas, não da nossa parte! Naturalmente, não queríamos aquilo,e até tentamos, de nossa iniciativa, uma negociação na véspera do natal. O governador desautorizou qualquer negociação, justamente porque nunca quis negociar nada! Esperamos nunca precisar repetir tal situação. Mas, se por infelicidade tiver que acontecer, agiremos diferente, antes, durante e depois.

A saída digna para a instituição militar estadual seria o diálogo. Mas o governador mandou punir de forma exemplar, e vários gostaram. Teve gente exultando, comemorando mesmo, pois iam, enfim, voltar pelo menos 50 anos na história! Ainda antes de terminar 2008 o comandante disse que ia prender mil e excluir trinta, ao invés de dizer que lamentava e que buscaria superar os fatos da forma menos traumática possível. Se tivesse agido assim, a segurança pública estaria muito melhor em Santa Catarina, todos teríamos nos comportado de forma diferente nos longos meses de 2009. Mas, não, o comandante resolveu ir à desforra. O mesmo comandante que no dia 26 de dezembro ameaçava (supostamente) aqueles que queriam provocar um combate armado nos quartéis, contra o nosso movimento, dois dias depois estava dizendo que prenderia mil e excluiria trinta, para tentar agradar a parte mais reacionária da cúpula e o governador, um “desequilibrado”. Sim, ele agiu como um desequilibrado, como a nobreza da França em 1789.

Mas nós não estávamos para a guerra, e nem tínhamos nos preparado para isso. Queríamos o pagamento da Lei 254, e voltar a trabalhar normalmente. Fizemos vigílias, uma tática quase religiosa, mas mesmo assim usaram imagens das vigílias para ferrar gente no Conselho de Disciplina, como se as imagens fossem do período entre 22 e 27 de dezembro. Queriam castigo, severo, à qualquer custo, mesmo ao custo de mentiras e construção ilegal de provas, ou, ainda, sem provas.

Agora o Congresso Nacional aprova, de forma célere, a anistia. Do lado de cá, comemoramos, é claro, e nem poderia ser de outro modo. Se, do lado de lá entenderem como uma espiga amarga, enfiada goela abaixo, estaremos caminhando para mais longe da resolução de nossos problemas. Quanto mais for obstruída a vontade cristalina decretada pelo Poder Legislativo nacional, maior será o desgaste interno das instituições. Quanto mais nós acharmos que agora podemos fazer e dizer o que quisermos, mais caminharemos para longe do objetivo.

Anistia é sinônimo de concórdia, e não de mais discórdia! Ambos os lados do processo devem entender dessa forma, e não de nenhuma outra. Significa que temos que restabelecer as pontes, não com as pessoas, e sim em relação às instituições e seus objetivos maiores, que é fazer segurança pública para a população, e não para os fins políticos de uns e de outros. As pessoas passam; os objetivos sociais e institucionais são permanentes.

Em 22 de dezembro fez um ano do início desse processo. Podemos prolongar mais tempo o sofrimento mútuo, as máculas da instituição, o prejuízo para a sociedade. Ou podemos começar um novo período, de mais entendimento, mais respeito mútuo, mais igualdade no tratamento. O comandante vai embora logo, e eu também quero ir assim que possível. No tempo que me resta, quero falar de segurança pública, de justiça compartida, de projetos institucionais mais amplos, de direitos sociais efetivos.

A Associação dos Oficiais (ACORS) fez um outdoor reclamando da discriminação contra os oficiais. A Associação dos Praças (APRASC) fez o seu reclamando a perseguição e da discriminação contra os praças. E ambos juramos que estamos certos! E ambos afirmamos que defendemos o conjunto da instituição. Por que será que não fizemos um único outdoor, defendendo R$ 2 mil de abono para os coronéis, R$ 500 reais o soldado de um ano de serviço e a proporção adequada para todos os outros postos e graduações? Respondo: porque continua prevalecendo a política da “farinha pouca, meu feijão primeiro”!

A hora é de comemorar, pela aprovação do projeto de anistia, sim! Mas, na questão salarial, não continuamos apanhando? Enquanto brigamos internamente, outros avançam, e parabéns para eles! Enquanto o comandante continuar sendo submisso à vontade do governador, estamos todos em uma situação complicada, e a população mais ainda. Luiz Henrique usa e descarta tantos quantos acreditam nele. Ele atende com respeito só aqueles dos quais precisa, e quando sua necessidade está satisfeita, ignora olimpicamente. Quem ainda não percebeu isso?

Enfim, que venha a anistia! Ainda mantenho aquele velho sonho de que as coisas se resolvam da melhor forma possível. Mas não perdi a bússola, e sei que a realidade é nua e crua. Sejamos pelos menos racionais, e continuemos marchando na nossa cadência. Já esteve mais errado nosso passo. Hoje, um ano depois, podemos dizer que a APRASC continua existindo, e que sobreviverá a Luiz Henrique a aos seus.

Precisamos de todos os homens justos e honestos do nosso lado, ou melhor, do lado da justiça, que é o lado onde temos buscado estar.

*2º Sargento Amauri Soares. Presidente da Aprasc. Deputado Estadual.

28.12.09

FRONTEIRA
IMAGENS DO EXTREMO OESTE (1)
Na outra ponta do Estado de Santa Catarina


Amanhecer de 26.12.2009. Guaraciaba-SC.
Árvores retorcidas pelo tornado de 7 de setembro de 2009.


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Anoitecer de 27.12.2009








Localidade de Linha Sete (Guaraciaba-SC).

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Amanhecer de 28.12.2009



Imediações de São Miguel d'Oeste-SC.

27.12.09

(Especial de Natal)

MOSCOU 1985
Ex-União Soviética

Fotos e outras imagens





















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Cartão (acima) para ingresso no hotel (detalhe abaixo).


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Revista da antiga URSS divulgando o Festival Internacional da Juventude e dos Estudantes, realizado em meados de 1984 (verão) em Moscou. Uma delegação com cerca de 120 brasileiros participou do evento (quatro de Santa Catarina).

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Ilustrações em caixas de fósforos.

Gorbachov participou da abertura do
Festival realizada no antigo Estádio Lenin.

25.12.09


(Especial de Natal)

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nascente
(2)

Anúncios de 1910


Publicidade na edição de 1910 do Almanach Sta Catharina. Biblioteca Pública de Santa Catarina (Florianópolis). Reproduções: Celso Martins.


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