31.1.10

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LANÇAMENTO

Periódico foi lançado no último sábado (30.1) durante
a 18ª Gincaponta Mirim, na Ponta do Sambaqui
(Sambaqui, Florianópolis-SC ).
Contatos:
celsodasilveira@gmail.com.


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A CRÔNICA DE OLSEN JR.

Olá, camaradas, salve!

Desvinculado dos periódicos convencionais, estou fazendo essa série "Diário da Provyncia", pequenos textos onde vou revelando o meu aprendizado literário, intercalado com pequenas observaçãoes de nosso cotidiano insolente...

Está claro que até o final do ano teremos um novo livro...

Agradeço aos blogueiros Sérgio Rubim, Carlos Damião, Celso Martins, Amilton Alexandre, Arthur Monteiro, Valério Fabris e Maria Odete Olsen pela acolhida e que me tem dado um bom retorno...

Isso me empresta tempo e fôlego, igualmente, para a introspecção e outro livro de contos em que trabalho nesse mesmo período, um acaba tornando-se contraponto do outro...

A música "Fortunate Son", do Creedence Clearwater Revival é a trilha de muitos filmes que falam do Vietna, o último deles que assisti foi "Forrest Gump"...

Fala da consciência que se vai formando de alguém que está partindo para a guerra, não é filhinho de papai (uma alusão ao neto do ex-presidente Dwight Eisenhower que se casara com a filha de Richard Nixon) e percebe as diferenças em quem age e quem assiste... Os iguais e os "mais iguais", segundo Orwell...




Com o carinho de sempre, o abraço do viking!

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DIÁRIO DA PROVYNCIA III

Por Olsen Jr.
olsenjr@matrix.com.br

CÍNICO, CÉTICO E EFICIENTE!

Foi somente depois que o carro passou sobre a água empossada num desvão (de um trabalho mal feito anteriormente) nas lajotas oitavadas da Avenida das Rendeiras, pulverizando com água barrenta uma família inteira que caminhava no passeio em frente é que me dei conta: tínhamos de ser muito otimistas para acreditar que havia alguma esperança para o ser humano.

O veículo trafegava com o dobro da velocidade permitida naquele trajeto no bairro boêmio da Lagoa da Conceição. Compreende-se que as pessoas de férias possam distrair-se com o ambiente enquanto passeiam, mas é injustificável que um motorista não tenha a dimensão de uma atitude imprudente. Seja pelo excesso de velocidade ou pela visão embotada do percurso. O que é pior, que encare ambas com naturalidade como se estivessem incorporadas ao “seu fazer” e até, a danação, que sequer tenha consciência da imperícia e da infração cometida.

Sei! Alguém pode lembrar que uma ação isolada não serve de parâmetro para avalizar um comportamento humano. De tanto observar atitudes desrespeitosas como essa, me tornei um cético. Então, resta o quê?

Lembrei de um texto do Paulo Fancis na Folha, década de 1970 “Resta o consolo do trabalho. São Paulo estava errado e São João certo. A salvação é pelas obras e não pela fé. Esta matamos há muito tempo”.

Parte do meu aprendizado foi aperfeiçoada num texto do mesmo Paulo Francis (já que mencionei o trabalho) comentando o filme “Mississippi em Chamas”, de Alan Parker e a atuação de Gene Hackman.

O filme é baseado no assassinato em 1964, de três ativistas dos direitos civis no sul segregacionista dos EUA. O foco está na investigação de dois agentes do FBI, o sulista Rupert Anderson (Gene Hackman) e o nortista Alan Ward (William Defoe) e os métodos de cada um para chegar a verdade: o primeiro com suavidade e o segundo agressivo. No fim triunfa a astúcia do primeiro e a perseverança do segundo. Em 2005, um ex-integrante da Ku-Kux-Klan, Edgar Ray Killen, então com 80 anos, foi condenado a 60 anos de prisão pela morte dos ativistas no qual o filme se baseou, corroborando a tese de seu diretor, que acreditava que um filme pode ter funções políticas.

Francis ressaltava que a atuação de Gene Hackman era a expressão pura do que o crítico Edmund Wilson chama de Jobbism num ensaio em afirmava que “só nos resta neste mundo corrupto fazer nosso trabalho bem feito, sem tomar conhecimento de causas e pretensões iluministas”.

No filme, as pessoas se recusam a falar. Quem diz alguma coisa é espancada. Lá como aqui, uma realidade que se repete nomundo e no submundo da impunidade. Mas o Francis afirma que “Hackman olha e ri nos falando uma enciclopédia britânica sobre a natureza humana. Não se vangloria e nem tem ilusões. São pessoas assim que avançam as causas, poucas ainda em que acreditamos, e não ideólogos e idealistas. São céticas, cínicas e eficientes. Nossa única esperança, e Gene Hackman é emblemático de nossa condição”.

Esse “jobbism” que pode ser traduzido como “mãos-à-obra” descoberto pelo Francis no ensaio de Edmund “Bunny” Wilson que ele tomou conhecimento no início da década de 1960 e só foi assimilado na de 1980 pode ter raízes no médico e poeta transcendentalista americano Oliver Wendell Holmes... A uni-los, a descoberta da dignidade profissional enquanto último e inoxidável instrumento de participação social. Não será a pólvora, como lembrou a jornalista Ana Claudia Vicente, mas para mim o jobbism foi um achado. Que funcionará, quando muita gente o achar também.

É isso, desde então, na cabeceira da minha cama, além de um champanhe e do livro que estiver lendo, está o trípdico: cínico, cético e eficiente...

Justifica-se: a bebida, porque como lembrou Zózimo Barroso do Amaral “enquanto houver champanhe, há esperança”; um livro, porque como diz o poeta que habita em mim “é a melhor companhia quando você não quer ver ninguém” e as palavras, para manter uma atitude enquanto não se põe mãos-à-obra!

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No início da noite de hoje (31.1.) iniciaremos as postagens das fotos da 18ª Gincaponta Mirim.

30.1.10

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ESTÁ ROLANDO A
18ª GINCAPONTA


Confira detalhes da prisão de

líderes do MST catarinense



Atividades na manhã de hoje (30.1): passeata ciclística e futebol.












Equipe Baguarinhas.

Equipe Pescadores de Cultura.

Nativus Kids.

Comissão Organizadora.



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Mais de 50 entidades
manifestam apoio ao

MST de Santa Catarina



Mais de 50 entidades sindicais, representantes de universidades, professores, partidos políticos, deputados e juristas participaram, na tarde desta sexta-feira (29), do ato de apoio ao MST de Santa Catarina. A atividade condenou a prisão arbitrária do coordenador do MST de SC, Altair Lavratti, do militante Rui Fernando da Silva Júnior, e da líder comunitária Marlene Borges. Lavratti foi algemado e preso em Imbituba, quando participava de uma reunião com catadores de material reciclado, num galpão, na noite de quinta-feira. Marlene e Rui foram presos na manhã de sexta-feira, depois de se apresentarem voluntariamente. Rui também foi algemado.

As acusações envolvem esbulho possessório (tomada violenta de um bem), formação de quadrilha e incitação à violência, e segundo a PM, foram “preventivas”, ou seja, para evitar que os supostos crimes fossem cometidos. As investigações começaram em dezembro, no entanto, há mais de 10 anos o MST participa de encontros com a comunidade local, informando as famílias sobre seus direitos.

A área de 200 ha, principal motivação das ações, pertence ao Governo Federal e foi cedida ao Governo do Estado para formação de uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE) em 1996, no entanto, desde então está abandonada. “O objetivo das reuniões era informar as pessoas sobre seus direitos e mostrar que o MST está solidário às lutas das famílias exploradas também nas cidades”, explicou o coordenador do MST, Lucídio Ravanello. O problema, segundo a comunidade local, é a privatização dos espaços, sem chance para que as famílias possam utilizar-se de uma área que é pública.


Denúncias descabidas

Uma das acusações que causou revolta ao MST é a denúncia, por parte da PM, de que pessoas estariam recebendo dinheiro para participar de mobilizações na região de Imbituba. “Isso nunca ocorreu. É um absurdo gigantesco que não tem qualquer cabimento. Respeitamos a vontade da comunidade local e é só. Gostaríamos de saber de onde a polícia tirou esse tipo de calúnia”, afirmou Ravanello, que desafiou a PM a apresentar provas de que esse tipo de ação ocorreu.


Prisões arbitrárias e ilegais|

Juristas presentes ao ato destacaram as prisões como arbitrárias e ilegais, pela utilização de escutas consideradas criminosas pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pelo uso indiscriminado de algemas, além do conflito de competências em razão da investigação realizada por uma polícia cuja atividade é amplamente questionada dentro do próprio sistema de segurança – a P2, serviço de inteligência da Polícia Militar de SC. “Acredito que esse é o momento de começarmos aqui uma discussão muito mais ampla, sobre as razões e motivações desses casos de criminalização que se repetem em diversos estados”, afirmou o doutor em direitos humanos e desenvolvimento, advogado Prudente José Silveira Mello, também conselheiro do Comitê de Anistia do Ministério da Justiça.

Em 6 de agosto de 2009, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA divulgou sentença condenando o Brasil pelo uso de interceptações telefônicas ilegais, em 1999, contra associações de trabalhadores rurais ligadas ao MST no Paraná. O Estado brasileiro foi considerado culpado pela instalação dos grampos, pela divulgação ilegal das gravações e pela impunidade dos responsáveis.

Prudente ainda destaca que Altair Lavratti não teve respeitado o direito de contatar um familiar ou qualquer conhecido, para informar sobre sua prisão. Autoridades locais, advogados e representantes do MST somente conseguiram localizar Lavratti às 8h da manhã da sexta-feira, quase 10 horas depois da prisão. “Ele foi isolado de forma ilegal. Ninguém o encontrava em qualquer local e as autoridades não informavam sobre onde ele poderia estar”, disse.

Em nota, o movimento em SC destaca que “a prisão de homens e mulheres ligados ao MST, além de líderes comunitários, quando realizavam uma reunião com integrantes da comunidade, em Imbituba, demonstra uma faceta controversa do Estado, do poder policial e de uma parcela do judiciário. Estas pessoas foram detidas mesmo sem cometer qualquer crime, apenas pelo fato de trabalharem junto às famílias no esclarecimento de seus direitos enquanto cidadãos e cidadãs.”

Outra questão controversa do episódio é a participação do Ministério Público nas investigações. Foi o MP quem solicitou à justiça a quebra do sigilo telefônico de integrantes do MST, e também quem organizou, junto da PM, a prisão preventiva dos representantes do movimento. “O MST, como já ocorreu com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), é vítima de uma ação orquestrada que utiliza como artifício a prisão “preventiva” por “suspeita de invasão”. Para a polícia e para o poder judiciário, pelo que se entende a partir desta ação, reuniões que envolvam sindicalistas e lutadores sociais passam a ser “suspeitas” e, sendo assim, são passíveis de interrupção e prisão”, destaca o movimento na nota divulgada na manhã de sexta-feira.

Durante o ato, os representantes de mais de 50 entidades assinaram uma moção de apoio ao MST, e de repúdio à ação da Polícia Militar e do Judiciário.

29.1.10

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TUDO PRONTO PARA
MAIS UMA GINCAPONTA


PROGRAMAÇÃO


Sábado (30.1)


8h30 - Abertura da Gincana com uma Bicicleata – maior número de pessoas com bicicletas enfeitadas com a cor de cada equipe – saída da frente da Igreja de Santo Antônio.
10h - Futebol feminino
11h - Futebol masculino

14:00 - Procurar a maior quantidade de minhocas

* Corrida de perna de pau masculino
* Corrida de perna de pau feminino
* Corrida de lata feminino – de 11 a 12 anos
* Corrida de lata masculino – de 11 a 12 anos
* Campeonato de bola de gude - feminino
* Biboqué - masculino
* Pião
* Elástico
* Corrida do ovo (fem e masc) – de 8 a 10 anos
* Corrida do Saco (fem e masc) – de 8 a 10 anos
* Calha com componentes das equipes
* Calha com pessoas da comunidade escolhidas pela equipe
* Placas educativas com lixeiras na Ponta

20:30 - Tarefas culturais

* Abertura da parte cultural – Comissão Organizadora
* Apresentação das equipes
* Peça
* Apresentação de uma Dança folclórica (selecionada por equipe – por ordem de comunicação).
* Apresentar uma sátira baseada em um programa humorístico como “Escolinha do Prof. Raimundo”, “A Praça é Nossa”, “A grande Família”, podendo participar pais e/ou apoiadores. No mínimo metade de componentes da equipe.
* Surpresa
* Contar a história da formação da ABS e da preservação da Ponta através de um pão por Deus que será lido no palco.
* Fazer uma serenata na Ponta de Sambaqui – com direito de acompanhamento por músicos convidados – pra cantar e teatralizar, tem que pertencer à equipe.

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NATIVUS KIDS



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PESCADORES DE CULTURA



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BAGUARINHAS


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Polícia catarinense
prende líderes do MST

em “ação preventiva”


Por Elanie Tavares*

Florianópolis-SC, 29.01.2010 – Um dos coordenadores estaduais do MST em Santa Catarina, Altair Lavratti, foi preso na noite desta quinta-feira em Imbituba numa ação que lembra os piores momentos de um estado de exceção. Com uma força de mais de 30 policiais militares, a prisão foi efetuada no momento em que ele realizava uma reunião pública, num galpão de reciclagem de lixo da cidade. A acusação é de que Lavratti, junto com outros sindicalistas e militantes sociais preparava uma ocupação de terras na região. Foi levado sob a alegação de “formação de quadrilha”.

Segundo informações divulgadas no jornal Diário Catarinense, que estava “magicamente” no ato da prisão ao lado da polícia, os integrantes do MST estavam sendo monitorados desde novembro depois que um integrante do Conselho de Segurança Comunitária de Imbituba passou informações sobre a organização de uma suposta ocupação em terras do estado. Outras duas pessoas também foram presas, sendo que uma delas, Marlene Borges, presidente da Associação Comunitária Rural, está grávida. Ela teve a casa cercada na madrugada de sexta-feira e foi levada para Criciúma. Outro militante, Rui Fernando da Silva Junior, foi levado para a cidade de Laguna.

Integrantes do MST, advogados e um deputado estadual estiveram procurando por Lavratti durante a noite toda, mas não haviam conseguido contato até a manhã de sexta-feira, quando souberam que de Imbituba ele havia sido levado para Tubarão.

Ainda segundo informações da polícia, o juiz Fernando Seara Hinckel autorizou gravações telefônicas e determinou a intervenção do Ministério Público. Também teria havido a participação de P-2 (policiais a paisana, disfarçados) infiltrados nas reuniões dos militantes sociais da região de Imbituba.

Usando de um artifício já usado contra o Movimento dos Atingidos das Barragens, que foi o de prender “preventivamente” integrantes do movimento alegando “suspeita de invasão”, o poder repressivo de Santa Catarina repete a dose agora contra o MST. Para a polícia e para o poder público, reuniões que envolvam sindicalistas e lutadores sociais passam a ser “suspeitas” e sendo assim, passíveis de serem interrompidas com prisão. Só para lembrar, este é um tipo de ação agora muito usado nos Estados Unidos, depois de 11 de setembro, quando o presidente George Bush acabou com todas as garantias individuais dos cidadãos. Lá, e agora também aqui, o estado pode considerar suspeita qualquer tipo de reunião que envolva movimentos sociais. Conversar e organizar a luta por uma vida melhor passa a ser coisa de “bandido”.

A acusação de formação de quadrilha não encontra respaldo uma vez que é pública e notória a preocupação do MST com a situação das famílias daquela região, que vem sistematicamente tendo que abandonar a zona rural em função da falta de apoio à agricultura familiar, enquanto o agronegócio recebe generosa ajuda governamental. A reunião na qual estava Lavratti justamente discutia esta situação e levava a solidariedade do movimento às famílias que seguem sendo despejadas de suas terras, ações que fazem parte do cotidiano do MST. A ação do governo se deve ao fato de em Imbituba ter sido criada uma Zona de Processamento e Exportações que tem engolido fatias consideráveis de dinheiro público sendo, portanto, considerada estratégica para os empresários da região.

Para o MST, as prisões foram descabidas, e só reflete a forma autoritária como o governo de Santa Catarina tem conduzido a relação com os movimentos sociais, criminalizando as tentativas dos catarinenses de realizar a luta por uma vida digna. Já para dar respostas aos atingidos pelo desastre em Blumenau, ou aos desabrigados pelas chuvas que tem caído torrencialmente este ano em Santa Catarina, não há a mesma agilidade estatal. Como bem já analisava o sociólogo Manoel Bomfim, no início do século vinte, ao refletir sobre a formação do estado brasileiro: “desde o princípio o Estado foi um aparelho de espoliação e tirania, feroz na opressão, implacável na extorsão. É um parasita”. Sempre aliado aos donos do poder e da riqueza, o Estado abandona as gentes e só existe para o mal do povo. É por conta disso, que, conforme Bomfim, “a revolta contra as autoridades públicas é o processo normal de reclamar justiça” já que as populações são sistematicamente abandonadas pelo Estado e pela Justiça enquanto a minoria predadora dos ricos e poderosos tem seus interesses defendidos, inclusive com o uso do dinheiro e do patrimônio que é de todos.

Como exemplo disso, basta trazer à memória o escândalo da Moeda Verde, quando ricos empresários locais fraudaram laudos ambientais para a construção de grandes empreendimentos na cidade de Florianópolis. Presos sob a luz dos holofotes, não ficaram um dia sequer na cadeia e o governador do Estado segue frequentando suas festas e dizendo ao país inteiro, através da televisão, que os empreendimentos construídos a partir da fraude são os mais bonitos da cidade e necessitam ser conhecidos e consumidos. Outro caso emblemático e atual, que não recebe a mão pesada do poder público, é o que envolve o vice-governador Leonel Pavan, enredado em escândalo de corrupção, e que também muito pouco interesse provoca na mídia. Não precisa ir muito longe para observar que Manoel Bomfim está coberto de razão: “os estadistas devem inquirir das condições sociais, indagar se as populações se sentem mais felizes e as causas dos males que ainda as atormentam, para combatê-las eficazmente”. Mas, em vez disso, lutadores do povo são presos e os direitos coletivos se perdem diante do interesse privado de uma minoria.

* Elaine Tavares é jornalista, titular do Blog da Elaine: www.eteia.blogspot.com.

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Entrevista com Altair Lavratti



27.1.10

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BAIACU NA RETA FINAL

Músicos e artistas mobilizados nos preparativos do Carnaval.
















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Cinema em 61”


Por Amílcar Neves*

O assunto surgiu ao acaso no sábado anterior, durante o jantar de aniversário da Maria Lúcia: o Antônio, marido dela, mostrava-se preocupado com o destino da televisão velha, comprada em 2002, agora substituída por um modelo de, sei lá, plasma, visor de cristal líquido ou diodo emissor de luz, com tela larga feito cinema e capacidade full HD. Aparelho de estimação, o receio dele era que a peça substituída, e ainda em perfeito estado de funcionamento, se deteriorasse rapidamente pela proximidade do mar e pelo fato de ficar parada, às traças, aranhas e baratas, num canto qualquer da espaçosa garagem da casa deles em Jurerê. Comentou que oferecera o receptor de graça mas todos recusavam o mimo: ou porque já tinham produto similar ou por não disporem, em casa, de espaço suficiente para aproveitar os benefícios da telona.

Havia ainda a questão do peso, o Antônio não deixava de esclarecer: precisou de quatro homens jovens, na plena força dos músculos, para baixar pelas escadas a enorme estrutura, muito fácil de ser deslocada sobre superfícies planas horizontais graças à existência de sólidas rodinhas, recurso, porém, inútil nas transposições entre planos. O que não podia era conceber que sua tevê de 61 polegadas de tela plana se perdesse de forma tão inglória e melancólica, podre e esquecida pelos cantos.

O primo do Antônio e a mulher do primo se entreolharam e, quase ao mesmo tempo, perguntaram se era verdade mesmo que ele pensava entregar o aparelho de graça e qual seria o perfil do eventual beneficiário. Na sexta-feira seguinte, definidos todos os detalhes, a máquina foi transportada, instalada e testada, com leitores de DVD e de fita VHS conectados a ela. A sala que recebeu a maravilha foi redecorada, com todos os móveis mudados de lugar (paradoxalmente, deixando o espaço mais livre do que antes da chegada da televisão).

De repente, bateu no casal uma febre de cinema e musicais: da sexta até o domingo, muita coisa desfilou pelas 61 polegadas: astros e estrelas, cantores e cantoras, músicos e músicas. Filmes venerados saltaram de gavetas e armários, outros foram baixados da Internet e gravados em DVD.

Consta que já organizam uma programação de dar inveja a muito cinéfilo de carteirinha. E, enquanto aguardam a Copa do Mundo, fazem o esquenta assistindo aos jogos do Avaí numa tela finalmente compatível com o futebol do time.

*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (27.1.2010)
do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC).
Reprodução autorizada pelo autor.

26.1.10



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GINCAPONTA
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Crônica de Olsen Jr.

Detalhe de um dos carros alegóricos do bloco Engenho de Dentro.

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18ª GINCAPONTA MIRIM


CONVOCAÇÃO
G E R A L



Rodrigues Viana (Lindão), membro da Comissão Organizadora da 18ª Gincaponta Mirim, que acontece no próximo final de semana (dias 30 e 31), convoca @s interessad@s para uma reunião na próxima quinta-feira (28.1), às 20 horas, na sede da Associação do Bairro de Sambaqui. Segundo Lindão (candidato à presidência da ABS), "a Gincaponta está aí e precisamos do apoio e colaboração das pessoas para finalizarmos as pendências referentes as tarefas e estrutura".

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Olsen, o viking

Olá, camaradas, salve!

Well, com este texto já cheguei até a última sexta-feira...

Nessa, portanto, tudo volta ao seu ritmo...

É tem de manter essa rotina para o cérebro não atrofiar enquanto se espera para um vôo maior...

Um livro de contos, por exemplo...

A música está aí, explicada na crônica, acho...





É isso, por enquanto, com o carinho de sempre,

Um abraço nórdico do viking!


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DIÁRIO DA PROVYNCIA II


Por Olsen Jr.
(olsenjr@matrix.com.br)

A INFÂNCIA QUE
NOS PERSEGUE


Já está virando moda por aqui. Lugares públicos tocando discos de vinil. Pode ser bizarro num primeiro momento, mas é um diferencial. Sei disso porque não abri mão dos meus discos, tenho dois aparelhos para tocá-los e estou namorando um terceiro que vi em um antiquário.

O “Canto do Noel” é um boteco situado na Rua Tiradentes, no centro de Florianópolis, onde funcionava o “Pettit” e que volta a ser um ponto de intelectuais que resolveram dar um tempo no disque-me-disque do Mercado Público com o seu cheiro de peixe característico e os pedintes e bordejadores de sempre. Pois é, o “Canto do Noel” tem produzido alguns diferenciais, um deles é este, precisamente, você ouve grandes intérpretes nacionais, começando logicamente pelo que empresta o nome ao local, em discos de vinil, claro tem outros compositores brasileiros de qualidade, mas também a história ou parte dela é mantida com as imagens, fotografias, recortes de jornal emoldurados e dispostos nas paredes criando verdadeiros nichos de saudades onde se vê como essa cidade era bonita. Desde o casario antigo até uma população que parecia mais romântica e pacata. O fotógrafo Édio Melo certamente tem muito a ver com todo aquele acervo.

Parte da memória da cidade está ali naquelas paredes zelosamente guardada pelo carinho dos novos proprietários Edson e Sônia. O Rio de Janeiro e Florianópolis irmanadas por reminiscências, composições musicais, talentos e o que cada um dos clientes acrescenta com a própria experiência.

No Empório Mineiro no Boulevard da Lagoa da Conceição, outro lugar aconchegante, vejo o disco de vinil rodando no toca-disco de cor alaranjada onde o poeta Vinicius de Moraes e o violonista Toquinho acabam de cantar “Meu Pai Oxalá” que tinha sido uma das músicas da trilha sonora da novela “O Bem Amado”...

O disco terminou e continuou girando, a agulha acompanhava as voltas do vinil naquela faixa neutra que não tinha nada gravado nela e somente se ouvia o rodar do acetato. Ao invés de ir até lá e erguer a agulha, trocar o disco ou quem sabe por o mesmo para tocar novamente, fiquei observando o brilho da luz refletido no vinil rodando ali na minha frente e logo aquele aparelho é substituído pela eletrola lá de casa, em Chapecó quando os discos caiam um a um após tocarem naquele pino automático onde estavam empilhados (até cinco recomendavam os especialistas, para não arranharem uns com os outros)... E já não era mais o Vinicius de Moraes e sim o Billy Vaughn tocando “Look for a Star”. Composta por Buzz Cason, nascido em Nashville (Tennessee) e que passou a assinar com o psudônimo de Garry Miles e, em 1960 compôs a música que o consagraria.

“Look For a Star” que, aliás, está completando em 2010, 50 anos, era uma das preferidas da minha mãe. Também andei assobiando uma versão interpretada pelo Roberto Carlos “... Duas noites são teus lindos olhos, onde estrelas estão a brilhar, que ternura olhar mil estrelas, em teu olhar”...

Outro dia assisti ao filme “Circus of Horrors” e a trilha sonora era Look for a Star na composição original de Garry Miles, e viajei novamente ouvindo aquilo associado a minha infância enquanto lia um dos 30 volumes da obra do Karl May, naquela edição encadernada da Ed. Globo de Porto Alegre e que vinha em caixas retratando em maravilhosos bicos de pena os personagens e o mundo criado pela mente prodigiosa do escritor alemão que marcou a minha juventude (minha, do Fernando Sabino, do Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, entre outros)...

Num dos filmes do Harry Potter, a música Look for a Star também aparece de fundo, está muito impregnada na minha infância e parece que de muito mais gente...

Em fração de segundos lembro de tudo isso enquanto observo ainda o disco de vinil ali sem que ninguém tome uma providência, acredito que foram aquelas faixas girando que me transportaram, como uma máquina do tempo...

Alguém passou em frente e cortou o meu fluxo de pensamentos, mas ainda tive a sensação de ver por ali, a minha mãe com um pano tirando o pó de cima do móvel e afirmando que gostava muito daquela música!

24.1.10

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SONS E LUZES

Erich DJ no aniversário da Angelita










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Três imagens dominicais


Fundos da residência de Elias Andrade.


Canário no Pontal de Jurerê/Daniela.