31.8.11

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O meu canto para escrever

Ilustração: Uelinton Silva

Por Amílcar Neves*

Não é que eu cante para poder escrever, ou para melhor escrever, nada disso. Mesmo porque, se dependesse dos meus dotes desenvolvidos nas aulas de Canto Orfeônico, no ginásio, eu jamais conseguiria enfileirar três palavras que fizessem algum nexo, que tivessem alguma lógica, que construíssem algum sentido.

Não é, também, que o meu texto seja assim melhor do que a minha desafinação orfeônica. A qual é crônica e incurável. Daí, talvez, o meu apreço incurável pela crônica em geral. Mas, confesso, o que prefiro mesmo é ler a crônica dos outros, escrita por escritores de verdade. Ainda mais porque, reconfesso, essas que eu faço leio-as exaustivamente até dá-las por findas. Ou até dar-me a mim por exausto, o que ocorrer primeiro. Depois não mais ponho os olhos sobre elas, a menos quando um ou outro leitor - e isto é raríssimo acontecer - resolve me confortar (a troco de nada, nada tenho para dar de troco além de palavras) dizendo que gostou demais dessa ou daquela crônica, o que me força a ir atrás dela, meio desconfiado, para tentar descobrir o que poderia tê-lo ou tê-la seduzido. Nesses casos ímpares, leio uma crônica impressa de minha autoria. E somente em tais casos.

Nada disso, entretanto, me exime de escrevê-las, às crônicas. E, para tarefa de tamanho esforço, concentração e dedicação, conto com o segredo do meu canto, um local sossegado, tranquilo e retirado, quando o estabeleci como tal.

Trata-se do meu escritório doméstico na casa térrea que um dia consegui comprar num loteamento rural que foi a chácara dos padres do Colégio Catarinense e que ficou emperrado por uns tempos, questão de dois ou três anos, por conta de entraves burocráticos associados ao desenho das ruas que não casava com o limite dos lotes.

Mas aí eu já estava instalado e tudo, com um amplo janelão à minha frente dando-me a visão dos campos em volta, o odor das vacas pastando e o eco das assombrações que, diziam os nativos do lugar, por ali abundavam. Eis o local aprazível, ideal para trabalhar, cogitei eu lá comigo: o meu canto para escrever!

Isso foi já faz um tempo. É claro que, se eu cheguei aqui, muitos também lograram semelhante façanha. E a fazendola foi-se povoando à custa da expulsão gradativa dos lobisomens, bruxas e boitatás, com casas (por enquanto apenas casas) por todos os lados. Mas eu persisti, mantive a minha trincheira, o meu canto de guerra (pois escrever é uma batalha sem fim).

Hoje, tenho os feriados e finais de semana como períodos mais propícios à atividade. O janelão da frente muitas vezes precisa ser fechado porque as pessoas que passam pela calçada são loucas para conversar com quem está sem fazer nada (pois escrever é fazer nada). Mas então, nos feriados e finais de semana, os vizinhos resolvem cortar a grama com máquinas barulhentas ou varrer as calçadas, limpar os muros e polir os portões de aço com potentes máquinas de pressão de água. Ao terminar a minuciosa tarefa semanal, por três minutos e meio a paz desce à terra e inunda de felicidade o coração dos homens de boa vontade. Três minutos e meio é o tempo que um cidadão leva para ir ao banheiro, beber um copo d'água e trazer para a rua o carro da família. Ato contínuo, começa a lavá-lo. Com sua potente máquina. Bem na cara do meu janelão.

Não é brincadeira não, mas sabem onde melhor consigo escrever nos dias de hoje? Com mais calma, tranquilidade e paz de espírito? Nas arquibancadas da Ressacada, enquanto o jogo não começa. Palavra de honra.

*Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 01.08.2011, é um dos seis candidatos à Cadeira nº 32 da Academia Catarinense de Letras. Crônica publicada na edição de hoje (31.8) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.

30.8.11

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As gotas e o Sol tímido

Fotos: Celso Martins (29/30.8)







28.8.11

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M O M E N T O S

Praia Comprida (Santo Antônio de Lisboa). Foto: Celso Martins

Por Olsen Jr.

(Para Luiz e Neiva do Restaurante “Barba Negra”).

Muitas vezes o melhor que podemos fazer é deixar-nos levar pelos acontecimentos, sem opor-lhes resistência. Na verdade, creio, nunca temos plena consciência do fato. É uma espécie de movimento pela inércia. Semelhante àqueles passageiros que estão em um ônibus, o veículo anda a sessenta quilômetros por hora e de repente freia, as pessoas que estão no seu interior mantém a velocidade e por isso são projetadas para frente. Quem está em pé sofre mais.

Naquele dia, lembro, tínhamos passado uma tarde fagueira (lembra o poeta) no interior da Ilha. Um churrasquinho, muitas risadas e aquela sensação agradável de estar entre amigos e não se confunda alegria com felicidade (porque a felicidade é outra coisa) ao menos compartilhávamos de uma paz coletiva que possibilitava (agora sim) a alegria pelo estar ali dispondo da vida como queríamos.

Dispersivo durante horas, à noite ficou difícil de retomar um trabalho de reflexão mais intimista. Decido visitar um cantinho de balcão na Av. das Rendeiras, aonde sempre vou nestes casos e o “santo costuma baixar”... Quando chego, percebo logo o ambiente carregado, mas ninguém me diz nada. O ar estava pesado. Tento dialogar com o proprietário, o amigo Luiz Monteiro com o qual converso quando vou lá, mas ele parece estar com os pensamentos em outro lugar... Penso logo, o que vim fazer aqui? Os garçons fazem o trabalho rotineiro em silêncio... Nem a vitória do Internacional na Recopa parece motivar um deles, torcedor colorado, pressinto um acordo coletivo de consternação e que só interessa para aqueles que já estavam no local quando cheguei... Peço uma cerveja e tento organizar as minhas ideias... Finjo interesse por um jogo de futebol, não sei dissimular, e tudo aquilo vai me deixando desconfortável... Logo, o Luiz e Neiva, sua mulher, jantam em uma das mesas dos fundos, afastados de todos... Dali a pouco vai começar aquele campeonato de lutas e que, naturalmente não tem nada a ver com o poeta que sou... Tenho de ir embora, digo para mim mesmo... Nesse meio tempo já bebi três cervejas e o “santo não baixou”... Quando estava saindo é que soube da morte da mãe do meu amigo, tinha acontecido na véspera... Então tudo se explicava... Não há o que se fazer com a morte, penso... Estar preparado para “ela”, pura retórica porque “ela” sempre surpreende... De repente, antes de sair, retorno até a mesa dos fundos, preciso dizer que entendo sua tristeza... Na tela da tv aquela profusão de socos e murros e uma energia consentida, o Luiz parece interessado, mas é uma maneira de estar ausente, só... Procuro as palavras, mas elas não vêm, em pensamentos tento dizer que já passei por isso e finalmente, quando me aproximo, apenas estendo-lhe a mão e digo: solidário!

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24.8.11

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Hiperinflação e
hipercorrupção


Ilustração: Uelinton Silva


Por Amílcar Neves*

Houve época em que era assim, mas muita gente não lembra disso por esquecimento ou por não ter vivido aquele período ou por preguiça de se informar sobre os fatos da História: houve uma época em que os preços disparavam todos os dias (e isto não é mera figura de retórica) e em que os homens roubavam impunes todos os dias.

A diferença é que, por um lado, as informações (dos roubos, no caso) não circulavam por obra de uma censura brutal e intransigente (não havia internet na ocasião, para dizer o mínimo) e, por outro, a inflação, dita escorchante (também uma forma de roubo), pesava no bolso a tal ponto que não se podia guardar na carteira de um dia para outro o troco de mil dinheiros quaisquer, o que era apenas uma esmola, sem amargar prejuízos horríveis.

Em poucas palavras: sentia-se a inflação e ignorava-se a corrupção.

Agonizante a ditadura, exausta ao cabo de 21 anos de arbitrariedades, os véus se romperam mas os costumes se mantiveram à luz do sol: o notório Maluf foi candidato a presidente pela dita "revolução", enquanto corria a vice pelas oposições o notório Sarney, até a véspera presidente do partido do governo que sucumbia - no que já se pode chamar de corrompimento ético.

Escolhido em 1985 em eleições indiretas, Tancredo, espertamente, decide começar a morrer na véspera da posse, falecendo em questão de semanas. Assumindo o cargo, Sarney, que era rico, ficou riquíssimo e tentou debelar a inflação com planos mirabolantes que só agravaram a situação.

O notório Collor o sucedeu e conseguiu ser mais mirabolante ainda. Hasteou a bandeira da caça aos corruptos e não deixou ninguém roubar - ninguém, dizem, que não fosse da sua notória República das Alagoas. Acabou caindo, dizem, por criar um monopólio de causar inveja. E causou. Inflação e corrupção, revigoradas, permaneceram intocadas e ele ficou muito rico.

Entra Itamar, o excêntrico, que não roubou, cria mais um plano econômico e uma nova moeda com o Plano Real e, num passe de mágica, acaba com a inflação. Os corruptos, no entanto, permanecem impunes, e esta, a impunidade, constitui-se certamente na mais grave das nossas doenças sociais, a qual permeia Executivo, Legislativo, Judiciário, empresas privadas e quaisquer poderes que se imagine, alimentando a corrupção, dela se alimentando e abolindo de vez a preocupação com o bem público, com o interesse nacional e com os direitos da cidadania.

Chega Fernando Henrique, que não rouba, mas precisa de apoio, chamado de maioria no Congresso, para poder governar, consolidar o real e implantar a reeleição em todos os níveis. A corrupção não se intimida, antes pelo contrário, e floresce viçosa enquanto ele faz de conta que nada vê e nada sabe.
Surge Lula, que tampouco mete a mão na cumbuca mas precisa de apoio para governar e dar ao País um destaque internacional inusitado e altamente positivo. Partidários, aliados, lobistas e até opositores apresentam a conta na forma de mensalões, mensalinhos e mesadas e ele finge que não vê nem sabe, pois precisa levar a bom termo o mandato.

Então aparece Dilma e resolve virar a mesa: não rouba e não quer que ninguém roube, que absurdo! Como é que ela pensa que vai governar? Só com o apoio popular, cuja voz nas ruas brada por decência e honestidade? Quem ela pensa que é, o Super-Homem?

Partidários, aliados, lobistas e até opositores andam muito desconfiados com ela e com suas malévolas intenções. Terá baixado nela o espírito do Itamar, que recém se foi daqui?


*Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 01.08.2011, é um dos seis candidatos à Cadeira nº 32 da Academia Catarinense de Letras. Crônica publicada na edição de hoje (24.8) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.

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C O N V I T E


22.8.11

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O corrupto e o pregador
Por Emanuel Medeiros Vieira e Olsen Jr.

Aves da Praia Comprida
Fotos: Celso Martins

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C O R R U P Ç Ã O

Por Emanuel Medeiros Vieira

Segundo estudo da Federação da Indústria do Estado de São Paulo, citado por um jornalista, a corrupção custa ao país pelo menos R$ 50,8 bilhões por ano, dinheiro suficiente para construir 78 aeroportos ou 57 mil escolas ou redes de esgoto para 15 milhões de domicílios.

O assunto é obsessão do escriba? É.

Para diminuir a miséria, como diz querer a presidente, só diminuindo a corrupção, através da punição exemplar.

Ninguém agüenta mais tanta impunidade!

João Ubaldo Ribeiro diz que (...) “além de desonestos, ficamos cínicos e apáticos. Contando que algo não nos atinja direitamente, pior para quem foi atingido.”

Lógico: é uma generalização.

Ficamos apáticos, mas nem todos ficaram desonestos.

“Os políticos, não são marcianos, não vieram de outra galáxia. São como nós, têm a mesma história comum, vieram, enfim, do mesmo lugar que os outros brasileiros.”

Nossos olhos já estão entorpecidos? Creio que sim.

São escândalos de corrupção, prevaricação, desvio de verbas, estelionato, tráfico de influência, negligência criminosa “e o que mais se possa imaginar de trambique ou falcatrua.”

A Polícia Federal realiza operações, prende alguns corruptos

E o ritual é sempre o mesmo. Tais indivíduos, no mesmo dia, no dia seguinte ou dois dias depois, são soltos através de “habeas corpus”.

A voz do povo já sabe: aqui, quem tem dinheiro e poder pagar advogados caríssimos, não vai para a cadeia.

Sempre a mesma coisa. Sempre.

Depois tudo é esquecido. O escândalo de ontem fará esquecer o de hoje. E assim continuará.

E muitos ficam inebriados com Copa do Mundo e com as Olimpíadas no Brasil.

Era para arrepiar.

Não precisamos disso: a verdade é essa.

Mais dinheiro será roubado: só isso (nada digo de novo).

O escritor baiano arremata: “Ou seja, é para roubar mesmo e não há o que fazer, tanto assim que não fazemos. Acho que é uma questão cultural, nós somos desse jeito mesmo, ladravazes por formação e tradição.”

Pessimismo? Respondam por si mesmos.

(Salvador, agosto de 2011)

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O PREGADOR

(Para Moacir Loth)

Por Olsen Jr.

Não se sabe até o presente momento o que aconteceu com o cidadão. Podem-se aventar algumas explicações buscando sustentação teórica em áreas alheias ao ofício a que estava vinculado o nosso distinto e dedicado pregador. Até a mais simplória das conclusões não poderia ser desprezada considerando como tudo se encaminhou naquele dia.

Ele subiu ao púlpito como fazia todos os domingos. Não foi diferente neste. Está certo era um dia de inverno, mas não estava frio. Um solzinho tênue tocava o mundo. Dava vontade de caminhar assim não pretendendo nada, só para se permitir iluminar por aquela claridade mundana que deixava a consciência irrequieta... Ou era sua presença que insuflava a modorra lá fora da igreja, ou então a sua ausência instigando a imaginação e motivando a fala do pregador ali dentro.

O fato é que após dardejar o ambiente com um olhar que deixou o mais puritano dos presentes inquieto, ouviram-se as primeiras palavras do que poderia ter ficado como a reconciliação do homem com o pragmatismo da vida moderna onde a noção da existência do Criador certamente jamais interferiu.

“... E assim caminhamos, afirmava com voz segura, no meio desta parafernália tecnológica que põe o mundo do avesso dentro de nossas casas. Junto com ele todo um comportamento subjugado por metas de consumo. Buscando apenas o prazer e a satisfação momentânea de necessidades primárias destituídas de qualquer suporte espiritual capaz de nos distinguir de outros animais na natureza...

“... Assim avançamos inapelavelmente rumo a uma solidão coletiva que não faz inveja a nenhum dos condenados da terra ergastulados em qualquer de nossas prisões... Buscamos apoio de uma força superior para melhorar a nossa vida material, quando deveríamos enriquecer o nosso interior para melhor suportar o assédio de tudo que não melhore a nossa convivência...

“O que vou provar agora: vocês gostariam de morar em ricas mansões, não gostariam? Respondam... Ouviu-se um tímido “sim” coletivo; vocês gostariam de possuir carros luxuosos? “Sim” reforçaram o apelo do pregador; e vocês gostariam de ganhar bons salários? “Sim”... E tudo o que o conforto possa dar: televisão, telefones, transportes, viagens, férias... “Sim”... “Sim”... “Sim”... Aquele monossílabo ainda reverberava no templo quando a voz rouca do arauto da grande notícia varreu a indolência de um milhão de palavras vazias por um instigante: “pois então, meus caros, vão trabalhar... Porque sem trabalho não se chega a lugar nenhum (a não ser na política, e isso nada tem a ver com a presença de um Criador) e vocês vão conseguir”...

Diante do silêncio que se seguiu ainda se pode ouvir... “Senhores e senhoras, muito obrigado!”

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18.8.11

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Corrida de Canoa só depende
da boa vontade de São Pedro


Tudo pronto para a primeira Corrida de Canoa a Vela – Travessia Baía Norte – De Ponta a Ponta, que acontece neste domingo (21.8), pela manhã, com largada da Ponta do Leal (Continente) e chegada na Ponta do Sambaqui (Sambaqui, Ilha de Santa Catarina).

Caso o vento não seja favorável a largada será feita na Ponta do Sambaqui, até a Ponta do Leal (neste caso as canoas serão rebocadas de volta a Sambaqui para a solenidade de premiação, almoço e apresentações musicais). O grupo Gente da Terra abre a programação às 13 horas. Depois se apresentam as bandas Sambará e outras.

O evento é organizado pelas entidades comunitárias do distrito de Santo Antônio de Lisboa (Sambaqui, Barra do Sambaqui, Cacupé e Santo Antônio) e Associação de Canoa a Vela da Costa da Lagoa, com o apoio da Prefeitura de Florianópolis.

Confira abaixo todas as informações sobre a Corrida.

Olho no tempo
Os organizadores da Corrida estão apreensivos com relação ao tempo e monitoram os institutos de previsão. O Ciram (Epagri), por exemplo, trás previsões alarmantes: fortes chuvas entre esta quinta-feira (18.8) e sexta (19.8) e no sábado (20.8) a chegada de um frio polar com ventos de SW/S entre 50 e 80 km/h. O sol volta no domingo (21.8), “mas gelado”. O Ceptec-INPE destaca a chegada do frio no sábado (20.8) com um Estado de Atenção. Em outro Aviso Meteorológico o mesmo órgão indica Estado de Atenção para as fortes chuvas que devem se concentrar na região Oeste catarinense.



CORRIDA DE CANOA A VELA
TRAVESSIA BAÍA NORTE - DE PONTA A PONTA
21 DE AGOSTO DE 2011

INSTRUÇÕES DE CORRIDA – REGRAS

1. Só participarão da competição canoas-de-um-pau-só.

2. O tamanho da vela é livre assim como o tecido da vela é livre, mas deve ter o formato clássico, quadrangular.

3. O governo da canoa poderá ser feito tanto com remo quanto com leme.

4. As canoas só podem ter com no máximo dois tripulantes.

5. Não pode ser usado lastro de nenhuma espécie, como saco de areia ou outro.

6. É obrigatório o uso de colete salva-vidas por todos os tripulantes.

7. A juria da prova – árbitro e seus auxiliares - será feita pela Comissão Organizadora

8. Nenhum tripulante menor de idade poderá competir sem a devida declaração de responsabilidade assinada pelos pais ou responsáveis.

9. O percurso será a travessia da Baía Norte: da Ponta de Sambaqui à Ponta do Leal

- Com ventos do quadrante Norte : largada Ponta do Sambaqui – chegada na Ponta do Leal

- Com ventos do quadrante Sul: largada na Ponta do Leal – chegada na Ponta do Sambaqui

10. Em caso de largada na Ponta do Leal (vento sul) as canoas de Sambaqui serão rebocadas até o Continente pelos barcos de apoio da Comissão Organizadora.

- Cada canoa que completar a travessia receberá uma ajuda de custo no valor de R$ 80,00

- Em caso de impedimento técnico ou de segurança para alguma canoa durante o percurso a Comissão Organizadora e o Árbitro decidirão se a canoa continua ou não classificada (ajuda de custo) .

- O percurso será de cerca de 6,5 milhas náuticas ou 12 Km.

+

Largada

Largada autorizada a partir das 10:30 HORAS na Ponta do Sambaqui

Largada autorizada a partir das 11:00 HORAS na Ponta do Leal

- Todas as canoas alinhadas na areia com sua tripulação pronta para embarcar

1º sinal sonoro – buzina - aviso de 10 minutos para a largada

2º sinal sonoro - buzina - aviso de 5 minutos para a largada

3º sinal sonoro - buzina - aviso de 1 minuto para a largada

4º sinal sonoro – buzina - largada

- Percurso livre até o outro lado da Baía – sem bóias ou marcações.

+

Segurança e disciplina

* Haverá barcos de apoio em todo o percurso, incluindo apoio do bote do Corpo de Bombeiros e Capitania dos Portos.

*A Capitania dos Portos através de seus canais oficiais emitirá um Aviso aos Navegantes comunicando a realização da travessia e alertando de que embarcações lentas e de manobrabilidade limitada estarão na Baía Norte nesse período.

*As condições climáticas – condições de segurança - poderão alterar tanto o percurso como também cancelar a travessia – decisão que ficará a cargo da Juria da Prova – árbitro de prova e seus e auxiliares.

*Todo participante deve contribuir para o espírito esportivo, de camaradagem e de ética no mar.

*Comportamentos considerados pela Juria de Prova como inapropriados ao espírito do evento desclassificará a canoa, sem direito à ajuda de custo.

*A Juria de Prova é soberana e suas decisões em prol da segurança de todos os participantes e deverão ser acatadas sem restrições.

+

Inscrições

A inscrição é gratuita e poderá ser feita nos seguintes locais e de várias formas:

- Na Ponta do Sambaqui – no dia do evento até as 9h da manhã, com a Comissão Organizadora.

- Por telefone:

Santo Antônio de Lisboa, Barra do Sambaqui e Sambaqui: Cláudio Andrade – 8419 0108 e Rodrigues ( Lindão) 9135 3055

Secretaria do Continente: Adriano Stoeterau –9936 0011

Costa da Lagoa: Jackie Goulart –9952 0010 / 91781477 e Newton Ney - 9976 6622

- Por e-mail: engenhoandrade@gmail.com ou velaeventos@terra.com.br

No momento da inscrição cada canoa receberá ficha de inscrição para ser preenchida na hora; 2 camisetas; adesivo para cada lado da vela; cópia resumida dessa instrução.

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Programação após a travessia

Na praia da Ponta do Sambaqui, após a chegada da última canoa:

SOLENIDADE DE PREMIAÇÃO
TROFÉUS ESPECIAIS PARA:\
Campeão / Vice-Campeão / 3º Lugar
Troféus de Participação para todos os canoeiros
Entrega da ajuda de custo no valor de R$ 80,00
Almoço para os canoeiros e pessoal de apoio.

Comissão Organizadora
Jackie Goulart / Cláudio Andrade/ Adriano Stoeterau

+

Um pouco sobre as canoas

Os Carijós usavam duas espécies de canoas. Uma, era esculpida em um pau só, inteiriço, o monóxilo, que cavavam a frio quando a madeira era mole ou por meio do fogo no caso contrario; e chamavam a este tipo igára, de y-gára (a que flutua). As grandes canoas deste sistema eram chamadas de igára-oçu ou igára-tê (canoa de vulto ou verdadeira), que comportavam, muitas vezes, de 40 a 60 pessoas.

Os Carijós empunhavam o remo com rara mestria e o manejavam com cadência. Remavam, em geral, de pé.

Enquanto remavam cantavam suas cantigas nheengareçava. Faziam também uma espécie de regata Mo nheenga que por muito tempo existiu entre nós, com o nome de Morenga. Murú ou Mururú eram as denominações das aos naufrágios.

Os açorianos chegados à ilha de Santa Catarina passaram a usar as canoas indígenas na pesca e no transporte, promovendo algumas adaptações e sofisticações como pintura, borda, breque, banco e vela. A necessidade obrigou carpinteiros açorianos a se tornar exímios canoeiros, grandes construtores de canoas de garapuvu.

Com o advento da tecnologia e leis ambientais mais rigorosas, as canoas de garapuvu foram substituídas por embarcações de fibras ou alumínios, motorizadas.

Os velhos canoeiros que detinham o conhecimento do oficio não puderam transmitir as técnicas aos mais novos, levando ao recente desaparecimento das tradicionais canoas de um pau só de nosso litoral.

Promover a Corrida de Canoa foi a forma que encontramos, enquanto entidades comunitárias, de provocar uma reflexão sobre essa questão tão importante da cultura indígena-açoriana. E colocar o evento de forma definitiva no calendário cultural de Florianópolis.

Texto: Claudio Andrade
Pesquisa – Edson Luiz da Silva/Velho Bruxo

17.8.11

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De serviços e não serviços
(Amílcar Neves) e
Emanuel Medeiros Vieira
com Novas cartas baianas


Maré seca dificulta trabalho dos pescadores. Fotos: Celso Martins

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A C I N T E

Novas cartas baianas

CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE
E INVERSÃO DE VALORES


(E o triste governo da Bahia)


Por Emanuel Medeiros Vieira


A presidente Dilma considerou um “acinte” a prisão dos quadrilheiros do Ministério do Turismo, o vice-presidente se disse “chocado”, o líder do governo na Câmara alega que houve “abuso” da Polícia Federal e do Ministério Público em relação às prisões.

(Não falo do saque nos outros ministérios.)

Alguém do governo ficou “chocado” com a roubalheira? Com a impunidade? Com o saque contumaz aos cofres públicos?

Com o desrespeito ao povo brasileiro?

Alguém do Executivo ficou “chocado” com a ganância, o abuso e o acinte dos ladrões?

Algema pode: mas só para pobre e negro – é a lição que fica.

Aqui em Salvador, há uma semana, duas senhoras, mobilizaram pessoas, via internet, para uma marcha pela paz, conseguindo reunir umas quinhentas pessoas.

Dirigiram-se ordeiramente ao Palácio de Ondina (do Governo do Estado).

Queriam apenas pedir ações ao governador (Jacques Wagner, do PT) ou, como disse um colega de ofício, uma palavra de conforto.

Esbarraram num cerrado bloqueio, a autoridade não apareceu, não foram ouvidas pelo governador, nem por algum representante.

A alegação: o encontro não havia sido agendado. Era um domingo. Ele estava no palácio.

Meu colega escreveu: “Vi na televisão o semblante abatido de homens e mulheres que portavam faixas. Não havia sinas da outrora heroica União Nacional dos Estudantes, hoje parte da base aliada do governo.”

Se fosse um cantor de pagode ou jogador de futebol, o governador certamente receberia.

O governo da Bahia é só virtual: apenas marketing.

Nisso, ele sabe gastar. E muito!

Não oferece segurança, não oferece saúde, não oferece justiça.

Não acena com a esperança.

Os fins de semana acumulam cadáveres na primeira capital do Brasil.

As pessoas estão com medo.

“Dissemina-se a cultura dos obituários, o catecismo dos homicídios, a rotina dos assaltos.”

E o governador? Impávido, frio, circulando apenas com o seu carro blindado ou com seu helicóptero. Fazendo “reuniões políticas”: altaneiro, parecendo completamente indiferente a dor do povo baiano (que não é só axé, carnaval, Ivete Sangalo ou macumba para turista).

Sim, ele (amigão de Lula) é de um partido dito dos trabalhadores...

(Salvador, agosto de2011)

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Biografia de Emanuel Medeiros Vieira ganha destaque no site da Associação nacional de Escritores (ANE). Confira.


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De serviços e não serviços


Por Amílcar Neves*


Toda manhã ela está lá, toda de preto, os cabelos acinzentados de grisalhos, umas trouxas socadas em mochilas pardas e uma placa de papelão que segura nas mãos, voltada para a rua movimentada: "Faxina - R$ 30,00". A mulher é branca, beira os 50 anos para cima ou para baixo e acomoda-se sentada junto ao meio-fio da calçada. Exibe sem ostentação um ar e um porte de certa dignidade que confessam um passado mais confortável.

Dir-se-ia meio louca. Houve ocasião em que ela vinha de longe, a pé, seguida por um fiel cachorrinho vira-lata, sua companhia devotada, a quem alimentava como podia. O cão sumiu, por algum motivo. Seria interessante perguntar a ela pela história do animalzinho de estimação, de pelo tão descuidado quanto parecem estar os cabelos da mulher, os quais, de tempos em tempos, ela coça enfiando os dedos por entre os fios sempre presos num coque para trás até aliviar o desconforto no couro cabeludo.

Trinta reais parece ser um preço baixo demais para o serviço de faxina, supostamente em casas e apartamentos. Tão barata e desvalorizada, a tarefa que ela apregoa, que decerto assusta muitos clientes potenciais. É mais razoável pensar que ela visa como público-alvo da sua propaganda os estudantes das universidades próximas, sempre tão necessitados, em geral, tanto de dinheiro como de serviços de limpeza, higienização e organização em seus aposentos de jovens recém-saídos de casa, subitamente lançados no meio da correria de uma cidade tão pouco conhecida quanto de escassos conhecidos.

O fato é que, se ela está lá toda manhã, junto à sarjeta da rua movimentada, e permanece viva, com saúde e disposição para o seu trabalho, é porque algum mercado existirá para o serviço que ela oferece.

Perto dali, o homem branco de fartos cabelos pretos e viçosos, aos 45 anos mais ou menos, vestindo uns tênis de marca, novíssimos e coloridos, e um abrigo para exercícios físicos com blusas e camisas sobrepondo-se em camadas desordenadas por fora da calça, apresenta-se mais uma vez à recepcionista.

- Bom dia, minha querida! Como passaste o final de semana? Mais uma série de fisioterapias começaremos hoje, meu amor.

- E o pé, tem melhorado com o tratamento?

- Que nada, menina! Quando penso que vai ficar bom, volta tudo de novo.

- Há quantos meses estás tratando do pé? Mais de ano, já, se bem me lembro.

- Mais de ano? Muito mais, minha criança! Deves lembrar que estive muito perto de uma terrível fratura, e isso não se cura assim, de uma hora para outra.

- Olhando ninguém dirá que tens problema, não dá para perceber incômodo maior, nem mesmo uma pequena falta de chão. Vejo-te por aí a andar de um lado para outro, a subir e descer essas escadas sem dificuldade alguma.

- É verdade, meu doce, isso o tratamento tem feito por mim. Sabes qual é o problema? Parece coincidência, mas é só se aproximar a data da perícia médica que vai me liberar para eu voltar ao trabalho que dores intensas, cruéis, tomam conta de mim, a ponto de eu não conseguir apoiar o pé no chão sem sofrer horrivelmente.

- Coitado! Tenho muita pena de ti.

- E eu então, fofa? Mas não achas que parece mesmo uma grande coincidência? Isso me obriga a viver encostado - e o homem, de voz sempre tão sonora e positiva, dá uma bruta gargalhada sacana.

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Lúcia informa: segunda-feira, 15 de agosto, foi feriado municipal em Jundiaí, SP, por respeito ao dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora do Desterro.


*Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 01.08.2011, é um dos seis candidatos à Cadeira nº 32 da Academia Catarinense de Letras. Crônica publicada na edição de hoje (17.8) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.

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Confira outras fotos da maré seca na Praia Comprida/Caminho dos Açores e Santo Antônio de Lisboa. (Florianópolis-SC)


15.8.11

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A escolha do nome

(Olsen Jr.)
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Alento aos desolados com a Igreja
(L. Boff)
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Agendão:
Geografia, Yara canta Poweel,
Damião no Círculo, Dinos na Kibelândia


Santo Antônio de Lisboa em julho de 2011. Foto: Celso Martins

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A ESCOLHA DO NOME


Por Olsen Jr.

Escolher um nome para um lugar público sempre enseja dificuldades. Depois de pronto parece simples, mas até se chegar lá, muito “campo precisa ser queimado” como dizem no Sul. Claro está que se precisa de arte, de conhecimentos extraídos do marketing, da sociologia e isso envolve a intuição e o comportamento e por trás de tudo, naturalmente, a credibilidade de quem se propõe em tentar o empreendimento.

Tem situações que se tornam hilariantes, talvez pela falta de propósito ou então, como sugerem os nativos aqui na Lagoa da Conceição, “era só pra inticar mesmo”. Lembro de um bar que abriu na região e começou mal. O proprietário deu o nome do estabelecimento de “Bar McMané” e como se não bastasse ainda, copiou o logotipo da poderosa cadeia de lanchonetes “McDonald’s”... Teve de fechar em menos de um mês...

Um caso singular, entretanto, aconteceu com um cidadão que saiu de Chapecó para tentar a vida nos Estados Unidos. Ele era alfaiate, e dos bons. Acreditou que podia triunfar na terra do “Tio Sam” e depois de muito relutar, finalmente pôs os pés na estrada. O que assistimos foi comunicado através de cartas (na época – década de 1960 – não havia internet) e foi uma questão de adaptação à nova cultura, mas não deixou de ser motivo de muita graça entre os amigos que acompanharam tudo de longe.

Denominar o seu estabelecimento de “Tailor’s Shop” (alfaiataria) parecia demasiadamente comum, ele optou por combinar algo de origem francesa com o seu nome de batismo. Todos o conheciam pelo nome de “Piva” e mandou fazer a placa “Pivas’s Atelier”...

Logo percebeu que nos EUA tudo parecia ser diferente. Os primeiros clientes começaram a chamá-lo de “Mr. Paiva”... “Mr. Paiva pra cá e Mr. Paiva pra lá...” Acreditando que aquela nova nomenclatura poderia ser um sinal de futuro êxito, não teve dúvidas, mandou alterar a placa para “Paiva’s Atelier”...

Para sua surpresa, a par de novos clientes, começou a cansar de ouvir “Mr. Peiva” e tudo se repetiu com “Mr. Peiva pra cá e Mr. Peiva pra lá”... Pensou que era um novo indicativo de mudança para melhor e não hesitou, pediu para se confeccionar outra placa, deixando como “Peiva’s Atelier”...

E não demorou em ouvir o que sempre pretendeu, pelo menos quando chegou o seu nome de batismo claramente pronunciado, desta vez com indelével sotaque ianque, “Mr. Piva”... Supondo que era tudo uma questão de adaptação mesmo, instalou nova placa “Pivas’s Atelier” e tudo recomeçou... Paiva, Peiva, Piva... Cansado daquela busca, decidiu tirar o seu nome da placa e deixou simplesmente “Tailor’s Atelier” (atelier do alfaiate)...

Não fosse a mulher, teria desistido do negócio nos “Steits” quando o primeiro cliente (depois da instalação da nova placa) o chamou de “Mr. Tailor”...

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Alento aos
desolados
com a Igreja


Por Leonardo Boff*

Atualmente há muita desolação com referência à Igreja Católica institucional. Verifica-se uma dupla emigração: uma exterior, pessoas que abandonam concretamente a Igreja e outra interior, as que permanecem nela mas não a sentem mais como um lar espiritual. Continuam a crer apesar da Igreja.

E não é para menos. O atual Papa tomou algumas iniciativas radicais que dividiram o corpo eclesial. Assumiu uma rota de confronto com dois importantes episcopados, o alemão e francês, ao introduzir a missa em latim; elaborou uma esdrúxula reconciliação com a Igreja cismática dos seguidores de Lefebvre; esvaziou as principais intuições renovadoras do Concílio Vaticano II, especialmente o ecumenismo, negando, ofensivamente, o título de “Igreja” às demais Igrejas que não sejam a Católica e a Ortodoxa; ainda como Cardeal mostrou-se gravemente leniente com os pedófilos; sua relação para com a AIDs beira os limites da desumanidade. A atual Igreja Católica mergulhou num inverno rigoroso. A base social de apoio ao modelo velhista do atual Papa é constituída por grupos conservadores, mais interessados nas performances mediáticas, na lógica do mercado, do que propor uma mensagem adequada aos graves problemas atuais. Oferecem um “cristianismo-prozac”, apto para anestesiar consciências angustiadas, mas alienado face à humanidade sofredora.

Urge animar estes cristãos em vias de emigração com aquilo que é essencial ao Cristianismo. Seguramente não é a Igreja que não foi objeto da pregação de Jesus. Ele anunciou um sonho, o Reino de Deus, em contraposição com o Reino de César, Reino de Deus que representa uma revolução absoluta das relações desde as individuais até as divinas e cósmicas.

O Cristiansimo compareceu primeiramente na história como movimento e como o caminho de Cristo. Ele é anterior a sua sedimentação nos quatro evangelhos e nas doutrinas. O caráter de caminho espiritual é um tipo de cristianismo que possui seu próprio curso. Geralmente vive à margem e, às vezes, em distância crítica da instituição oficial. Mas nasce e se alimenta do permanente fascínio pela figura e pela mensagem libertária e espiritual de Jesus de Nazaré. Inicialmente tido como “heresia dos Nazarenos” (At 24,5) ou simplesmente “heresia” (At 28,22) no sentido de “grupelho”, o Cristianismo foi lentamente ganhando autonomia até seus seguidores, nos Atos dos Apóstolos (11,36), serem chamados de “cristãos.”

O movimento de Jesus certamente é a força mais vigorosa do Cristianismo, mais que as Igrejas, por não estar enquadrado nas instituições ou aprisionado em doutrinas e dogmas. É composto por todo tipo de gente, das mais variadas culturas e tradições, até por agnósticos e ateus que se deixam tocar pela figura corajosa de Jesus, pelo sonho que anunciou, um Reino de amor e de liberdade, por sua ética de amor incondicional, especialmente aos pobres e aos oprimidos e pela forma como assumiu o drama humano, no meio de humilhações, torturas e da execução na cruz. Apresentou uma imagem de Deus tão íntima e amiga da vida, que é difícil furtar-se a ela até por quem não crê em Deus. Muitos chegam a dizer: “se existe um Deus, este deve ser aquele que traz os traços do Deus de Jesus”.

Esse cristianismo como caminho espiritual é o que realmente conta. No entanto, de movimento, ele muito cedo ganhou a forma de instituição religiosa com vários modos de organização. Em seu seio se elaboraram as várias interpretações da figura de Jesus que se transformaram em doutrinas e foram recolhidas pelos atuais evangelhos. As igrejas, ao assumirem caráter institucional, estabeleceram critérios de pertença e de exclusão, doutrinas como referência identitária e ritos próprios de celebrar. Quem explica tal fenômeno é a sociologia e não a teologia. A instituição sempre vive em tensão com o caminho espiritual. Ótimo quando caminham juntas, mas é raro. O decisivo é, no entanto, o caminho espiritual. Este tem a força de alimentar uma visão espiritual da vida e de animar o sentido da caminhada humana.

O problemátio na Igreja romano-católica é sua pretensão de ser a única verdadeira. O correto é todas as igrejas se reconhecerem mutuamente, pois todas revelam dimensões diferentes e complementares do Nazareno. O importante é que o cristianismo mantenha seu caráter de caminho espiritual. É ele que pode sustentar a tantos cristãos e cristãs face à mediocridade e à irrelevância em que caiu a Igreja atual.

*Leonardo Boff é teólogo e filósofo. Texto encaminhado pela escritora Urda Alice Klueger.

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A G E N D Ã O


Geografia completa

A Editora Insular e o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina convidam para o lançamento do livro Bibliografia Geográfica de Santa Catarina 1500-1960, escrito pela professora Marly Mira. Será nesta quarta-feira (1.8), às 17 horas, na Casa José Boiteux (av Hercílio Luz, 523, ao lado do Clube 12). O livro tem 464 páginas e custa R$ 56,00.
Trata-se da mais completa bibliografia geográfica já publicada sobre Santa Catarina no perído indicado, com uma precisa e concisa sistematização através de índices que orientam a busca de estudantes, professores, pesquisadores e demais interessados.
A autora - Marly Anna Fortes Bustamante Mira - foi professora da UFSC e é sócia emérita do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.
Contatos: Editora Insular (Rodovia João Paulo, 226). Florianópolis SC, CEP 88030-300. Fone: (48) 3232-9591. E-mail: editora@insular.com.br. Site. Twitter.

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Iara&Powell

"Iara Germer canta Baden Powell" na próxima sexta-feira (19.8), as 21 horas, no café Coisas de Maria João (no novo endereço à rua Conego Serpa em Santo Antônio de Lisboa, em frente ao clube Avante).

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Damião no Círculo

"Queridos Colegas
Por favor, coloquem nas suas agendas. No proximo dia 25, quinta-feira, teremos mais um encontro de Círculo de Leitura, do qual vocês têm sido importantes colaboradores. Teremos como convidado especial o poeta e jornalista Carlos Damião. O encontro iniciará às 18 horas, na Sala
Harry Laus da Biblioteca Universitária. Abraços, Alcides Buss, Coordenador".

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Dinos na Kibelândia

"O encontro dos dinossauros do ex-jornal O Estado no mês de agosto será na Kibelândia, reduto dos jornalistas há muitos anos e que agora abre suas portas para receber nosso grupo.

DATA: Dia 25 de agosto de 2011 (quinta-feira)
HORÁRIO: a partir das 19 horas
ENDEREÇO: Rua Victor Meirelles, nº 98 – Centro de Floripa

ATRAÇÃO ESPECIAL: Bolo dos aniversariantes do mês de agosto - Julieta La Rosa, Denise Christians, Moacir Pereira, Angelita Corrêa, Luciane Grillo, Lena Obst, Heron Domingues, Frank, Adalgisa Frantz, Giovana Kindlein, Ademar Vargas e Eduardo Paredes (Ling-Ling), entre muitos outros dinos que a gente não sabe a data de aniversário, mas que também comemoram no chamado 'mês do cachorro louco'. Você não vai faltar, né?"

11.8.11

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RÉQUIEM PARA UMA ILHA




(Para aqueles que a conheceram – no fundo)


Foto: Celso Martins


Por Emanuel Medeiros Viera


Já é tarde para consertar.

Não, não serei nostálgico.

Não falarei de quintais, de árvores.

Já é tarde para consertar – repito.

O modelo urbano foi esse: poeira, pó e ganância.

A cobiça dos teus alcaides, dos teus “construtores”, dos teus políticos, sempre foi mais forte.

Teus homens públicos não te mereceram.

É claro: nunca te amaram

E muitos resolveram silenciar: é um réquiem o que queria escrever.

Mas um réquiem deve ter nobreza trágica.

Minhas palavras não: são pálidas, conscientes de sua inutilidade.

O tempo já não cabe dentro de mim.

Uma ilha habita o meu coração, mas não existe mais.

Já é tarde para consertar – caio na redundância.

(Qualquer palavra será inútil.)

Um dia, talvez, ela seja lembrada.

Minha ilha é nevoeiro.

(Com suas gaivotas, com seus meninos, com seus trapiches, com suas casas, com seus terrenos, com os seus verdes, com os seus pássaros, com suas praias – sem turistas deslumbrados.)

E nos teus morros, a gente poderia subir a qualquer hora do dia.

E morro (morremos): de doenças crônicas, de omissão, de complacência com a corrupção, de vaidades vãs.

Quem se lembrará dessa gente tão pequena que se apossou de ti, ilha natal?

É como se visse uma iluminada fogueira num junho qualquer – que nunca se apaga.

(Missa do Galo, tainha frita, o orvalho daquela manhã, e aquela praia chamada Lagoinha – no extremo Norte de ti –, ainda silenciosa e sem abutres.)

Ela, a Ilha (perpétua, imanente) continuará: para sempre:

Em um ser que ainda está sendo gestado – contemplando um álbum de fotografias num domingo à tarde.

Pai: Dissipa essa cerração!

Eu sei: “Todo ser humano tem dentro de si um vazio do tamanho de Deus.”

(Fiódor Dostoievski)

(Salvador, agosto de 2011)


Lagoa da Conceição (atual av. Osní Ortiga. Foto: Casa da Memória/FC-FFC

Lagoinha (Norte da Ilha). Foto: Casa da Memória/FC-FFC

8.8.11

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SERES HUMANOS NA
CRISE DO CAPITALISMO



Ilustração: Uelinton Silva

Por Emanuel Medeiros Vieira

(Modesta meditação dedicada em favor do pessimismo
da inteligência e do otimismo da vontade.)



André Gide escreveu: “Todas as coisas já estão ditas, mas como ninguém escuta, é preciso recomeçar sempre.”

E o ofício de escrever é um eterno recomeçar: lutar com palavras mal rompe a manhã, para usar a expressão de

Drummond.

Creio que travamos, através da linguagem, o que T.S.Eliot chamou de “combate intolerável com as palavras” que “se estiram, racham, escorregam, perecem.”

Mas a batalha da vida não é formal. O que percebemos é a banalização do mal e não do bem. A mercantilização das relações, a hegemonia do ter e do parecer, o estímulo à futilidade e ao egoísmo, geraram um ilhamento entre as pessoas, onde muitos seres parecem apenas fingir e camuflar os seus sentimentos.

O modelo vigente acreditava que éramos meros números.

Minha geração não viu crise maior do capitalismo.

Crise ou colapso? O “Muro de Berlim” dos neoliberais?

Onde estão aqueles que exigiam Estado mínimo e nos chamavam de dinossauros?

Eles tinham verdades consagradas. Diziam que o capitalismo havia vencido.

Como disse Cesar Benjamin num artigo intitulado “Karl Marx manda lembranças”, os “Estados tentarão salvar o capitalismo da ação predatória dos capitalistas”.

O que se vê não é erro nem acidente. O projeto todo estava centrado na acumulação do capital.

Tantos anos de falso consenso resultaram neste quadro dantesco.

Resultado?

Desigualdade social obscena.

E assim por diante.

Os concílios acabaram com o limbo e com o purgatório. Com o inferno não...

Formou-se uma geração de políticos espertos, inebriados pelo marketing, não pela verdade.

E a degradação ética, internalizada em muitas almas, parece não ter fim.

Só unidos, poderemos recuperar o núcleo do humano.

(Não digo nada de novo. Eu sei. Mas nossa força é essa: nossa união, forjada em tantas lutas.)

Como observou Boris Pasternak, “viver a vida até o fim não é tarefa para crianças.”


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O PALHAÇO SEM GRAÇA

Ilustração: Uelinton Silva

Por Olsen Júnior

Na casa lotérica perguntei se podia pagar com o cartão. O atendente disse que sim, depois – como se lembrasse de alguma coisa – pediu pelo nome do banco e finalmente concordou. Pego uma senha e fico esperando a minha vez. O lugar vai sendo tomado. Metade da manhã, dia ensolarado de inverno, acredito, todos querem livrar-se logo dos encargos para aproveitar aquela energia solar providencial e necessária.

A conta, tudo somado (água, luz, internet, telefone fixo e móvel, mais o IPTU) deu pouco menos de R$ 800,00 e a moça que me atendeu afirma que o limite para o pagamento com o cartão é de R$ 500,00... Digo que não tem problema e que eu completo com dinheiro...

Alguém que tinha acabado de chegar e ouviu a conversa vociferou: “Limite com o cartão só de R$ 500,00... A minha conta dá quase mil e eu aqui na fila fazendo o papel de palhaço”...

Amarfanha a senha que tinha nas mãos e joga o papel no chão, saindo em seguida, como um touro espumando pelas ventas, diria o gaudério.

Fico pensando na expressão “fazendo o papel de palhaço”... Uma injustiça... Para ser um verdadeiro palhaço o sujeito precisa de talento. Talento este cultivado na observação do cotidiano, um duro aprendizado da vida, isso demanda tempo e muita dedicação. Assim mesmo, com todas as características definidas, o indivíduo corre o risco de não ter graça nenhuma. Um palhaço sem graça é desnecessário e inútil, lembrei do Scott Fitzgerald “Nada mais supérfluo do que uma bíblia no apartamento de um hotel cinco estrelas.”

Há indivíduos (gosto desta categoria sartriana para nomear o Ser que ainda não é, mas pode vir a ser) que gastam demasiada energia, despropositada mesmo, para mostrar que estão vivas. Curioso é que sempre “sobra” para quem não tem nada a ver com isso. Algumas pessoas não deveriam levar-se demasiadamente a sério. A vida é muito curta e custa muito emprestar-lhe um sentido, a consciência do fato já deveria bastar para não se dilapidar energia de maneira inútil.

Manifestações irascíveis, gratuitas, quase sempre carregam vestígios de carência afetiva que, naturalmente não podem ser “curadas” com mais violência, mas é outro papo...

I pagliacci, como dizem os italianos... Fazer pilhérias, momices, gracejos, trejeitos, malabarismos com graça requer muito talento e ainda por cima fazer rir o que é curioso, porque nos espelhamos no ridículo que todo o humano carrega consigo e quando rimos, de certa maneira, estamos rindo de nós mesmos... Mas é preciso fazê-lo com arte e não com fúria como o indivíduo da casa lotérica, porque com esta, até um touro babão faz melhor.





3.8.11


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Gigante adormecido no Tabuleiro. Foto: Celso Martins

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Houve protestos e insatisfação

Por Amílcar Neves*

O povo ficou indignado, revoltado mesmo. No caso, o pessoal que mora na Servidão Santa Maria Magdalena do Cordeiro Santíssimo de Deus, Serva Humilíssima de Jesus, nome absurdamente extenso que Omero Luíz dos Anjos Santo, professor de Português lá residente, sugeriu, só para implicar com o vizinho de cima, cuja devoção religiosa faz questão de tornar patente com volumosa e frequente sonoridade doméstica, que fosse abreviado para Servidão Agnus Dei. Dita via pública localiza-se no subdistrito de Trindade, que até o último dia do ano de 1943 foi o distrito de Santíssima Trindade.

O fato é que muita gente se sentiu arbitrariamente alijada da matéria sobre a viela que saiu semana passada no jornal. Quando o repórter lá esteve, todo mundo colaborou, deu seu recado, contou suas histórias, lembrou casos do passado, reviveu personagens marcantes do pedaço, trouxe objetos e lembranças, posou para fotos fora e dentro de suas casas e das casas dos outros, fez tudo, enfim, para que o assunto fosse veiculado em todas as suas nuanças e sutilezas. Mas não. Ao sair o artigo, é aquela, digamos assim, broxura total. Uma enorme decepção com "esses exploradores que usam nossa realidade para, manipulando-a vergonhosamente, ganhar o seu rico salário no fim do mês." "Falta de respeito" foi a tônica dos protestos à medida em que, ao longo dos dias, as pessoas iam tomando conhecimento da reportagem.

Um dos mais inconformados é o Zé Bode, apelido de Carlos Heinrich Bodenmüller da Silva, fruto de uma escaldante noite de amor entre uma frágil alemãzinha do Centro e um robusto negrão do subdistrito, dono de um boteco eternamente decadente ali na servidão (o Bode mora num cômodo pouco arejado aos fundos do negócio). Esbraveja: "Só porque eu uso a banca de jogo do bicho camuflada no bar como fachada para uma boca de fumo e um ponto de tráfico, não significa que eu não possa aparecer no jornal, cacilda! Afinal, eu nunca matei ninguém, nunca roubei e respeito crianças e adolescentes, ao contrário de gente boa por aí que, pra piorar, é político de carreira! Um deles, na eleição passada, até veio aqui pedir uns votos em troca de uma menininha virgem."

Margarida Maria Madalena Matilda também não gostou de ter sido descartada. Sua façanha, jovem ainda: andar de um lado para outro com sua flácida barriga dependurada para fora de roupas multicoloridas, com um olhar azul de trucidar quem lhe cruzar o passo, e manter despercebida, até a última semana, a gravidez que trazia à vista de todos.

E tem o Cruz. Esse está inconsolável! Formado em Farmácia e Bioquímica, o douto senhor (como exige ser chamado) José António de Aragão y Cruz pesquisa há anos as propriedades do Fedra, um sabonete fabricado nas cercanias de Tessalônica, cuja embalagem apregoa virtudes de assegurar "pele firme e flexível, sempre jovem, e cabelos fortes, fartos e viçosos, crescendo sem parar". Isso lhe pareceu uma charada esfíngica à moda de Tebas (grega, portanto, assim como a procedência do sabonete azul). Lembram da história do "decifra-me ou te devoro"? Pois então, essa associação com comida aguçou-lhe ainda mais a atenção sobre o Fedra, do qual acabou se tornando, para fins de suas pesquisas acadêmicas, o maior importador da região.

Sua grande insatisfação com a omissão da imprensa em relação a si e ao seu trabalho brota da circunstância (a cor azul do sabonete, recordemo-nos) de que ele acredita estar na pista de uma espécie de viagra para uso externo.

*Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 1.8.2011, é um dos seis candidatos à Cadeira nº 32 da Academia Catarinense de Letras. Crônica publicada na edição de hoje (3.8) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.

Filhote do gigante adormecido no Tabuleiro. Foto: Celso Martins

2.8.11

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VENTANIA,
CHUVA E
GAIVOTAS


Fotos: Celso Martins