28.8.11

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M O M E N T O S

Praia Comprida (Santo Antônio de Lisboa). Foto: Celso Martins

Por Olsen Jr.

(Para Luiz e Neiva do Restaurante “Barba Negra”).

Muitas vezes o melhor que podemos fazer é deixar-nos levar pelos acontecimentos, sem opor-lhes resistência. Na verdade, creio, nunca temos plena consciência do fato. É uma espécie de movimento pela inércia. Semelhante àqueles passageiros que estão em um ônibus, o veículo anda a sessenta quilômetros por hora e de repente freia, as pessoas que estão no seu interior mantém a velocidade e por isso são projetadas para frente. Quem está em pé sofre mais.

Naquele dia, lembro, tínhamos passado uma tarde fagueira (lembra o poeta) no interior da Ilha. Um churrasquinho, muitas risadas e aquela sensação agradável de estar entre amigos e não se confunda alegria com felicidade (porque a felicidade é outra coisa) ao menos compartilhávamos de uma paz coletiva que possibilitava (agora sim) a alegria pelo estar ali dispondo da vida como queríamos.

Dispersivo durante horas, à noite ficou difícil de retomar um trabalho de reflexão mais intimista. Decido visitar um cantinho de balcão na Av. das Rendeiras, aonde sempre vou nestes casos e o “santo costuma baixar”... Quando chego, percebo logo o ambiente carregado, mas ninguém me diz nada. O ar estava pesado. Tento dialogar com o proprietário, o amigo Luiz Monteiro com o qual converso quando vou lá, mas ele parece estar com os pensamentos em outro lugar... Penso logo, o que vim fazer aqui? Os garçons fazem o trabalho rotineiro em silêncio... Nem a vitória do Internacional na Recopa parece motivar um deles, torcedor colorado, pressinto um acordo coletivo de consternação e que só interessa para aqueles que já estavam no local quando cheguei... Peço uma cerveja e tento organizar as minhas ideias... Finjo interesse por um jogo de futebol, não sei dissimular, e tudo aquilo vai me deixando desconfortável... Logo, o Luiz e Neiva, sua mulher, jantam em uma das mesas dos fundos, afastados de todos... Dali a pouco vai começar aquele campeonato de lutas e que, naturalmente não tem nada a ver com o poeta que sou... Tenho de ir embora, digo para mim mesmo... Nesse meio tempo já bebi três cervejas e o “santo não baixou”... Quando estava saindo é que soube da morte da mãe do meu amigo, tinha acontecido na véspera... Então tudo se explicava... Não há o que se fazer com a morte, penso... Estar preparado para “ela”, pura retórica porque “ela” sempre surpreende... De repente, antes de sair, retorno até a mesa dos fundos, preciso dizer que entendo sua tristeza... Na tela da tv aquela profusão de socos e murros e uma energia consentida, o Luiz parece interessado, mas é uma maneira de estar ausente, só... Procuro as palavras, mas elas não vêm, em pensamentos tento dizer que já passei por isso e finalmente, quando me aproximo, apenas estendo-lhe a mão e digo: solidário!

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