T r a n s p a r ê n c i a s
Por Amílcar Neves*
Algo cruzou a sua frente, poucos metros adiante, indo chocar-se contra o ponto de ônibus no Córrego Grande. O projétil caiu ao chão como fruta madura ou casca de banana arremessadas com precisão e velocidade ao encontrarem um anteparo intransponível qualquer. Ouviu com absoluta nitidez o barulho do impacto, talvez os barulhos num intervalo tão pequeno que ouvidos humanos certamente não conseguiriam perceber, de tão próximos, a duplicidade dos sons.
Instintivamente procurou identificar com os olhos, do outro lado da rua, o autor de disparos tão certeiros feitos contra um bem público: não logrou flagrar ninguém, os quintais em frente imersos no silêncio e quietude plácidos das manhãs de feriado no auge do verão, com todo mundo esbaforindo-se nos carros em busca do mar nas praias congestionadas da Ilha.
Mais três passos e alcançava o abrigos dos passageiros. E ali estavam, emborcados no chão, um canário de penas amarelo-ouro da cor da camisa da Seleção e uma canária cinza claro com reflexos e luzes de um apaixonado tom amarelo canário em penas selecionadas do peito. Ele morto e inerte, ela despedindo-se ainda da vida com um derradeiro meneio de pés antes de imobilizar-se definitivamente, um voo nupcial na primeira manhã do ano abortado por uma parede transparente de vidro temperado como tantas que começam a usar-se no lugar dos muros das casas, as quais costumam fincar alicerces em zonas de maior densidade de árvores, perto dos morros ainda cobertos de florestas povoadas por pequenos pássaros encantados, encantadores e cantores que, cada vez mais, esborracham-se contra tantas transparências que deixam passar a luz, mas não o vento, o que só serve para comprovar que, não raras vezes, transparências servem para fazer com que alguns de nós deem com a cara no vidro, caindo duros para trás.
Por outro lado, é estranha e inquietante a reação nervosa das elites militares deste País ainda hoje sempre que alguém advoga o esclarecimento histórico dos fatos ocorridos durante a ditadura de 1964 a 1985 para apurar se foram, mesmo, cometidos crimes pelos usurpadores do poder à luz das suas próprias leis e dos princípios mais elementares dos direitos humanos e das garantias individuais. Ao rechaçarem preliminarmente quaisquer investigação e abertura dos arquivos secretos, lançam uma suspeição generalizada e injusta sobre toda a tropa.
Instintivamente procurou identificar com os olhos, do outro lado da rua, o autor de disparos tão certeiros feitos contra um bem público: não logrou flagrar ninguém, os quintais em frente imersos no silêncio e quietude plácidos das manhãs de feriado no auge do verão, com todo mundo esbaforindo-se nos carros em busca do mar nas praias congestionadas da Ilha.
Mais três passos e alcançava o abrigos dos passageiros. E ali estavam, emborcados no chão, um canário de penas amarelo-ouro da cor da camisa da Seleção e uma canária cinza claro com reflexos e luzes de um apaixonado tom amarelo canário em penas selecionadas do peito. Ele morto e inerte, ela despedindo-se ainda da vida com um derradeiro meneio de pés antes de imobilizar-se definitivamente, um voo nupcial na primeira manhã do ano abortado por uma parede transparente de vidro temperado como tantas que começam a usar-se no lugar dos muros das casas, as quais costumam fincar alicerces em zonas de maior densidade de árvores, perto dos morros ainda cobertos de florestas povoadas por pequenos pássaros encantados, encantadores e cantores que, cada vez mais, esborracham-se contra tantas transparências que deixam passar a luz, mas não o vento, o que só serve para comprovar que, não raras vezes, transparências servem para fazer com que alguns de nós deem com a cara no vidro, caindo duros para trás.
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Por outro lado, é estranha e inquietante a reação nervosa das elites militares deste País ainda hoje sempre que alguém advoga o esclarecimento histórico dos fatos ocorridos durante a ditadura de 1964 a 1985 para apurar se foram, mesmo, cometidos crimes pelos usurpadores do poder à luz das suas próprias leis e dos princípios mais elementares dos direitos humanos e das garantias individuais. Ao rechaçarem preliminarmente quaisquer investigação e abertura dos arquivos secretos, lançam uma suspeição generalizada e injusta sobre toda a tropa.
*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (6.1.2010)
do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC).
Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (6.1.2010)
do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC).
Reprodução autorizada pelo autor.
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Jornalista Vladimir Herzog, morto na cela do DOI-CODI paulista em outubro de 1975. Na época o Exército alegou que ele havia se enforcado.
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Ingleses
Audiência Pública sobre
o emissário submarino
Atendendo a Política Nacional de Meio Ambiente bem como Resoluções nº 001/86 e 009/87 do CONAMA e 01/2006 do CONSEMA/SC, tornando obrigatório para atividades potencialmente geradoras de significativo Impacto Ambiental a elaboração do EIA/RIMA, o Secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, ONOFRE SANTO AGOSTINI e o Presidente da Fundação do Meio Ambiente - FATMA, MURILO XAVIER FLORES, convidam Vossa Senhoria a participar da Audiência Pública para apresentação e discussão do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, Para Emissários Submarinos de Esgoto Tratado do SES Ingleses (Praia dos Ingleses), Florianópolis.
DATA: 02 de Fevereiro de 2009
HORÁRIO: 19:00 horas
LOCAL: Albino Disco Club
ENDEREÇO: Rodovia SC, 403 – Praia dos Ingleses – Florianópolis
O documento RIMA continua à disposição para consulta na Biblioteca da FATMA, Rua Felipe Schmidt, 485, Centro, Florianópolis; na Biblioteca Pública de Santa Catarina, Rua Tenente Silveira, 343, Centro, Florianópolis; na Escola Intendente José Fernandes, Rodovia João Gualberto Soares, 324, Ingleses do Rio Vermelho, Florianópolis; na Intendência Distrital dos Ingleses, Rua Três Marias, snº, Ingleses, Florianópolis e na Biblioteca da Procuradoria Geral do Município, junto a Prefeitura Municipal de Florianópolis, Rua Conselheiro Mafra, 656, Centro, Florianópolis.
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