18.1.10

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V E L H O
B R U X O

Segundo Paulo Clóvis Schmitz

e


Duas crônicas de
Amílcar Neves



Confira jornal
Notícias do Dia
de
hoje (18.1.2010)


(Clique para ampliar)

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FOTÓGRAFO EM AÇÃO

O personagem da matéria do jornalista Paulo Clóvis Schmitz é visto com freqüência nas festas e outros acontecimentos do distrito de Santo Antônio de Lisboa e em outras partes da Ilha e Continente - região de Florianópolis. Está sempre a caça de imagens de manifestações culturais, práticas religiosas e habilidades profissionais: pau de fita, pesca, Festa do Divino, farinhada, rendeiras, benzedeiras, culinária, Procissão do Senhor dos Passos, maricultura, boi de mamão, terno de reis, artesãos, futebol de várzea e o patrimônio histórico-arquitetônico, entre outros. Parabéns ao jornal Notícias do Dia pelo reconhecimento do esforço de Edson Luiz 'Velho Bruxo' da Silva em favor da memória material e imaterial das coisas da cidade. Além de produzir fotos, ele busca e armazena as já existentes. Possui também gravadas umas duas centenas de canções produzidas na região.







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C R Ô N I C A S

"Meus fantasmas". Por Uelinton Silva.

O sucesso e
a maldição

da Ressacada


Por Amilcar Neves*

Aconteceu de novo na última rodada do Brasileirão: o Avaí precisava de quatro resultados para subir da nona para a sexta posição no campeonato. Em caso de derrota azurra, dos onze times que estavam atrás do Leão nenhum conseguiria mais ultrapassá-lo, sequer alcançá-lo, tal a distância que já havia posto sobre os demais. Pois no sábado o Eltinho nos fez 1 a 0 no Náutico, lá mesmo em Recife, e o Atlético Mineiro perdeu em casa por 3 a 0 para o Corinthians, que ocupava a décima posição e por ali mesmo ficou; no domingo, o Goiás usou nosso placar predileto - 2 a 2 - com o Vitória, em Salvador, enquanto no Maracanã o time misto do Grêmio não conseguiu se impor ao Flamengo, caindo por 2 a 1. Com isso, os cariocas sagraram-se campeões brasileiros de 2009 e, mais importante, o Avaí consagra-se como uma das seis melhores equipes de futebol do país do futebol. Nenhum clube catarinense alcançou jamais tamanho realce. Nem catarinense nem de muitos estados brasileiros.

O Avaí fez assim por diversas vezes: somou pontos preciosos sem entrar em campo; não foi raro ganhar três ou quatro partidas numa mesma rodada. A isso se dá o nome de competência, não de sorte. Uma competência que nasce do planejamento realista e da estrutura interna do clube. Méritos do presidente Zunino, sem qualquer dúvida. Silas, com todo o seu trabalho sério e profissional durante 19 ou 20 meses, foi apenas uma consequência desse quadro: mesmo com a equipe amargando a última posição na tabela (embora jogando um futebol primoroso), o técnico foi mantido em nome de um projeto com objetivos e etapas muito claros.

Reconhecido como um time simpático, com muitos gols a favor e poucos cartões contra, a recuperação do Avaí foi marcante, tornando-o o fenômeno futebolístico cantado em prosa e verso. A receita da volta por cima, aliás, foi passada aqui na Ressacada para o próprio Flamengo, que depois de tomar 3 a 0 com Adriano e tudo (que não jogou nada naquele dia) foi crescendo até chegar ao título. Que, com um ou outro resultado um pouco melhor aqui e ali, poderia ter sido nosso, como não?

E a maldição? A maldição da Ressacada é que nossos grandes jogadores brilham com a camisa azul e branca. Defendendo outras cores, pouco lhes acontece de bom, até retornarem ao clube para novamente atingirem destaque nacional (isto também vale para técnicos). O que significa que o Avaí dispõe de um estoque de craques espalhados por aí sem lhe custar nada.

*Amilcar Neves é avaiano, escritor e autor, entre outros, do livro Dança de Fantasmas (contos de amor). Crônica de dezembro de 2009, Revista do Avaí nº 6.


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M e r i t í s s i m o

Por Amílcar Neves*

1

Chegou em casa e, para variar, a mulher não estava.

- Foi ao dentista.

Mandíbula de tubarão, pensou, com sete fieiras de dentes que se renovam progressivamente.

- Tinha hora no salão.

Podia, pois, chegar com os cabelos úmidos e a maquiagem fresquinha.

- Precisava de umas coisas do súper.

E, com certeza, ia passar no supermercado e largar o comprovante do cartão em sua mesa, com um gesto de estudado, mudo desafio. Como quem diz, aqui está a prova, insira-a nos autos.

- Chegou o sapato que encomendou no shopping.

Diria que a cor não era bem aquela, que imaginava o modelo bem diferente. E lhe mostrará a pulseira que comprou ao invés de.

- Hoje é dia de chá da turma da faculdade.

E só isso já será suficiente para justificar algum desalinho na roupa, no cabelo, na compostura. Uísque, seu aperitivo preferido.

- Foi buscar a criança na escola.

Desprendida com o filho dos outros: da irmã, da cunhada, das vizinhas, de uma amiga subitamente adoentada. Embora sempre tivesse adiado o projeto de um filho deles.

- Foi buscar o carro na oficina.

E sempre o mais fácil: furou o pneu. Muito buraco nas ruas desta cidade, uma vergonha!, justificava. Justificava pneus sem câmara que esvaziavam sem furar.

- Foi levar a prima no médico.

Vivia no hospital atendendo a prima distante, pobre e etérea. Ele dificilmente a via, a esta prima podre.

- Disse que ia ao cinema.

Sim, precisava espairecer um pouco, distrair-se um pouco. A culpa é sua, que nunca me leva. Sempre com serviço para fazer em casa, nunca tem um tempinho assim para mim. Embora jamais soubesse precisar o diretor ou o nome dos atores, sequer a cena do crime, digo, o local da ação. Não vou ocupar minha cabeça com coisas sem a mínima importância, fui lá para me divertir, passar o tempo, não para presidir um inquérito.

- Dia de trabalho no Centro.

Verdade, sua ação social, o trabalho espírita de amparo aos carentes e necessitados, os sofridos da periferia social. Nesses dias chegava com os olhos brilhantes de fervor, uma certa compunção mística a convulsionar-lhe a face, uma discreta febre a tomar-lhe todo o rosto.

Como a roupa, dificilmente repetia desculpa na mesma quinzena.
- Um cafezinho, Meritíssimo? Acabei de coar...


2

Jonas Negreiros, 36 anos, brasileiro, amasiado, residente na localidade conhecida como Morro da Covanca, etc.,

N.S.Desterro, abril de 1999


*Amilcar Neves, escritor. O texto acima foi premiado no 2o. Concurso de Contos Ler&Cia, promovido pelo Grupo Livrarias Curitiba, e publicado na revista Ler&Cia número 30, de janeiro/fevereiro de 2010, em edição de 220 mil exemplares disponíveis gratuitamente nas lojas das Livrarias Curitiba, Livrarias Catarinense e Livrarias Porto nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom dia companheiro, estamos de casa nova. Será que podes atualizar tua lista de indicações com nosso novo endereço? www.fotoflagrante.com.br Esperamos tua visita em nossa nova casa e quem sabe nossa próxima pauta da revista do Avaí a gente faz juntos? Espero que tenhas gostado do material. Abraços, Rubinho