23.12.09

Crônicas
OLSEN Jr. e
AMILCAR NEVES

*

Olá, camaradas, salve!

Está aí o texto da semana passada, sorry pela demora...

Estas férias são de matar...

Nada de leite hoje, diz a música...
http://www.youtube.com/watch?v=ClQepFF-Sr0&feature=fvw

Com o abração e o carinho de sempre, despede-se o viking!
*

DURÕES,
ALCÓOLATRAS
E GENIAIS

Por Olsen Jr.

O poeta Castro Alves encontrou num sebo um livro que ele havia dedicado a um amigo. Não teve dúvidas. Comprou a obra e acrescentou à dedicatória que lá estava, a observação: “Por favor, eu insisto” e com nova data, remeteu-a outra vez ao desavisado.Lembrei do fato porque todas às sextas-feiras envio a crônica para um seleto grupo denominado “Os Velhos de Guerra”, atualmente com 166 membros, e apenas um reclamou que ainda não recebeu o texto da última semana.Deixa pra lá, também insisto.

Chegou às livrarias na semana passada (e já li) a obra “Guia de Drinques dos Grandes Escritores Americanos”. Como lembrou Truman Capote “Esta profissão é uma longa caminhada entre um drinque e outro”. Mas o livro vem assinado por Edward Hemingway (ilustrador/caricaturista e neto do escritor Ernest Hemingway) e Mark Bailey. A ideia da obra nasceu quando ambos estavam num bar no Greenwich Village, véspera de natal, enquanto bebiam cerveja e sentindo-se um pouco nostálgicos. Some-se aí a beleza da neve caindo em Nova York e o desânimo que pairava no ambiente onde se encontravam repleto de escritores. Foi quando eles lembraram que “nos bons e velhos tempos as coisas teriam sido muito diferentes”. Porque os escritores gostam de beber, nem todos – eles observam – mas a grande maioria.

Francamente, a exceção de Kafka, acredito que todos os escritores que admiro e que me “fizeram a cabeça” eram alcoólatras. E não se trata de “beber socialmente”, eles bebiam mesmo.

O livro relaciona 43 autores (homens e mulheres), entre eles, cinco ganhadores do Nobel e l5 do prêmio Pulitzer sem contar os vencedores do National Book Award, uma espécie de ”Who’s who” dos mais celebrados romancistas, contistas, poetas, dramaturgos, jornalistas e críticos americanos. Todos beberrões inveterados.

Bem diagramado, em capa dura, traz uma caricatura do escritor, alguma curiosidade de sua vida, um rodapé com as principais obras publicadas em negrito, e em seguida o seu drinque favorito com a maneira de prepará-lo destacada e por fim, um trecho de uma de suas obras em que fala de alguma bebida.

Se servir de consolo para os puritanos, o livro traz duas advertências, uma de Abraham Lincoln “Aprendi com a experiência que as pessoas que não têm vícios têm muito poucas virtudes” e a outra, dos próprios autores “lembrem-se de que alguns coquetéis não fazem de você um bêbado, e de que nenhuma quantidade de bebida pode fazer de você um escritor”, então estamos conversados.

Para os consumidores vale o alerta do poeta Raymond Carver “Ninguém começa na vida com a intenção de se tornar um falido ou um alcoólatra”. Curiosamente, o seu drinque favorito (e meu também) era o Blood-Mary. Diz a lenda que o drinque foi inventado por Fernand “Pete” Petoit no Harry’s New York bar em Paris no final dos anos 20 e levado para os Estados Unidos depois da Lei Seca. Há controvérsias. Li em uma revista Status (uma edição especializada em drinques) na década de 1970 e que deve estar em alguma caixa aqui em casa, que o drinque foi criado para “curar” a ressaca (e isso é coisa de inglês, lembram-se do inventor do sandwich? Então?). Os três principais sintomas da ressaca: sede, inapetência e ausência do paladar. O suco de tomate hidrata, a vodka devolve o apetite e os condimentos (limão, pimenta, sal e molho inglês) deixam o paladar em forma. Se fosse um francês o inventor, teria posto angostura no lugar do molho inglês, não é verdade?

O escritor Raymond Chandler afirmava “Acho que um homem deveria ficar bêbado pelo menos duas vezes por ano, apenas por princípios”.

Apesar de cervejeiro, H. L. Mencken orgulhava-se de ser onibíbulo, ou seja, de beber todas as bebidas alcoólicas conhecidas - e “gostar de todas elas”. ...

O livrinho é divertido e interessante. Em matéria de beber, cada um, cada um... “Prosit!” Porque já são quase oito horas da manhã e ainda não bebi nada hoje!

*

Preventivas

Por Amilcar Neves*

Compulsando-se um mapa da Ilha de Santa Catarina, observa-se com facilidade a existência de um apetitoso enclave de terra desocupada junto às águas da Baía Norte. A área fica dentro da cidade que domina a ilha, a qual, cidade, vem a ser, justamente, a capital do Estado de Santa Catarina.

Dito território permanece verde, posto que arbustos e árvores mais grandes vicejam por ali, dominando o espaço que se encrava entre os bairros da Trindade, pelo lado Sul, Itacorubi, ao Norte, e Córrego Grande, a Leste (a Oeste, o Oceano Atlântico espreme-se numa estreita língua líquida entre a ilha e o continente fronteiro ao longo de 80 quilômetros). O Google, hoje, não nos permite mais mentir a respeito de evidências geográficas, e é esta precisamente a configuração do local em foco.

Analisando-se mais de perto esse vasto império, percebe-se que ele se constitui de mangues em franco processo de extinção, um habitat povoado por jacarés, tartarugas, peixes vermelhos, garças, biguás, caranguejos, vermes, larvas, lagartos verdes, marrons e prateados, alevinos, camarões, aves em geral e seres menores e mais variados ainda - uma coisa enervante e horrorosa que só serve para travar o desenvolvimento da cidade e de toda a microrregião socioeconômica. Um atraso de vida, enfim.

A coisa já foi maior e mais drástica. Felizmente, governos iluminados, inspirados pela ditadura, cortaram o mangue longitudinalmente com a Avenida Beira-Mar, beirando o pântano fedorento, e a Avenida Madre Benvenuta, a Leste. Dos lados do Itacorubi, o avanço progressista vem vindo pela gradual ocupação que se faz através de inúmeros edifícios e condomínios que nascem lá das bandas do cemitério.

A situação é clara: como Florianópolis se tornou o objeto de desejo de uma classe média desvairada e enriquecida sabe-se lá por quais meios, mister se faz liquidar o mangue de vez, aterrando-o para a construção de milhares de “unidades de lucro” (fácil). O dinheiro farto assim arrecadado será aplicado na serra, em terras altas, à espera desses desesperados executivos e profissionais qualificados - esses mesmos que hoje ocupam as áreas de preservação que terão de abandonar assim que o aumento inexorável e brutal do nível dos mares o exigir.

Não é por menos que Manoel Osório comprou uma casinha em Alfredo Wagner e já mandou levar para lá sua imensa e valiosa coleção de elefantes azuis

*Amilcar Neves, escretor.
Crônica publicada na edição de hoje (23.12)
do jornal Diario Catarinense (Florianopolis-SC).
Reprodução autorizada pelo autor.

Nenhum comentário: