C R Ô N I C A S
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Para terminar bem o ano
Por Amílcar Neves*
Por Amílcar Neves*
Certo, falta bastante tempo até o fim do ano, o que significa que muito ainda pode acontecer. Até a zero hora do dia 1º tudo pode ficar bem pior, talvez bem melhor. De qualquer forma, apesar dos riscos inerentes ao exercício, tentemos antecipar algo.
Dos 27 governadores que operam no Brasil, um foi filmado em alta definição e som estéreo negociando e embolsando propinas mil. As espetaculares tomadas de cena foram autorizadas pelos tribunais superiores. “Montagem descarada!”, bradou a vítima, indignada. “Não tenho nada com isso, jamais fiz isso, sou o mais angelical dos políticos! Provarei minha inocência na Justiça assim que for chamado a fazê-lo - e, ato seguinte, processarei com o máximo rigor todos os que levantaram a pena contra mim!” Seu vice é cúmplice. Ambos perderão o mandato assim que a Justiça declarar que o processo transitou em julgado - daqui a, aproximadamente, 15 anos, 3 meses e 26 dias. Logo ali.
Dos 27 vice-governadores, outro foi denunciado por receber R$ 100 mil para limpar a barra, na Fazenda, de uma empresa que adulterava combustíveis e sonegou R$ 25 milhões de impostos. As escutas foram autorizadas à Polícia Federal pelo Tribunal de Justiça estadual porque, neste país, delegado de polícia tem filiação político-partidária e coloca a lealdade ao chefe acima do cumprimento do dever. O vice - é regra - declara que é tudo mentira, que vai provar sua inocência nos tribunais, etc., etc.
Um dos 27 prefeitos de Capital não tem verba para implantar o Jardim Botânico, bonito e florido no papel, mas encontra R$ 3,7 milhões para plantar uma única árvore de Natal à beira-mar.
Um secretário de estado aproveita um incêndio para redecorar seu gabinete e equipar o auditório da casa; com dispensa de concorrência pública, as despesas foram superfaturadas.
Na Penitenciária Estadual de São Pedro de Alcântara, onde presos recentemente foram torturados, sabe-se agora que eles também foram roubados - pelo diretor do presídio, que desviou R$ 92,9 mil (hoje, corrigidos, 185,8 mil) do dinheiro ganho pelos detentos com o seu trabalho e dos valores que suas famílias lhes repassavam.
O bom de tudo isso é que, apesar da vergonhosa censura prévia que um tribunal regional impõe há cinco meses a um jornal nacional como O Estado de São Paulo, essas histórias continuam vindo a público pela Imprensa. Sorte nossa (por enquanto).
As celebrações de um novo começo na vida das gentes são tão antigas quanto a própria raça. Nas culturas mais remotas o “recomeço” era celebrado sempre no solstício ou equinócio de primavera (dependendo do hemisfério), quando tudo começa outra vez a florir. É que como o conceito de tempo ainda não havia sido aprisionado nos relógios a vida das comunidades se regia pelas estações. Naqueles dias, o povo se reunia em festivais, cantando, dançando e bebendo em honra da terra. As mulheres engravidavam e a vida florescia. Era a completude do ciclo da existência, sempre se repetindo.
De qualquer forma, na medida em que as culturas foram se complexificando, igualmente encontraram formas de medir o tempo. Os maias, por exemplo, lograram construir um intrincado calendário com 364 dias, e mais um outro, chamado de “dia fora do tempo”. Este, celebrado em 25 de julho, marca o início do novo ciclo. Já nas culturas do médio oriente, a festa era no equinócio de março, por conta da estação. A comunidade judaica comemora sua festa de Ano Novo, ou Rosh Hashaná, uma espécie de dia do julgamento, em meados de setembro ou no início de outubro, onde as pessoas fazem um balanço da vida. Os islâmicos celebram em maio, contando o tempo a partir do aniversário da saída do profeta Maomé de Meca para Medina, a Hégira, cujo marco corresponde ao 622 da era cristã.
Na China, o “recomeço” é celebrado em datas nem sempre fixas, mas entre final de janeiro e início de fevereiro. Lá, o calendário está relacionado ao movimento da lua e conta cada mês como o mês de um dos 12 animais que se apresentaram na frente de Buda e o ciclo da vida segue esta dinâmica, sempre começando na primavera.
O mundo ocidental também institui o seu “recomeço” a partir de um deus, que não é o cristão. Foi o imperador Julio César, no ano 46 antes de cristo, que determinou o primeiro de janeiro como o dia do início do ano, em homenagem a Jano, o cuidador dos portões. Depois, mais tarde, com a oficialização do calendário gregoriano, esta data permaneceu. Os franceses deram o toque romântico chamando-o de réveillon, que vem do verbo réveiller, cujo significado é "despertar".
E assim as gentes escolhem seus momentos de despertar, de balanço, de julgamento de suas vidas. Vemos que tudo depende da cultura onde se está inserido embora a idéia seja sempre a mesma: recomeçar, jogar fora o que foi ruim, esquecer, olvidar. Começar de novo, dar-se novas chances. E assim, vai avançando a raça, buscando aquilo que os filósofos gregos insitiram em chamar de “felicidade”. Pois eu, que reverencio a terra, os animais, as forças da natureza, que amo Jesus, Maomé e Buda, também vou comemorar. Que venha mais um ciclo, e que seja bom. Que floresça a vida, o amor e a paz. E que todos os povos possam vibrar na mesma onda cósmica. Eu te convido a dançar nesta bela noite de lua cheia, com os deuses e deusas, sob as estrelas. Para receber o ano novo, recomeçar... despertar! Ah, quanta bênção em se viver neste grande grande jardim!
Dos 27 governadores que operam no Brasil, um foi filmado em alta definição e som estéreo negociando e embolsando propinas mil. As espetaculares tomadas de cena foram autorizadas pelos tribunais superiores. “Montagem descarada!”, bradou a vítima, indignada. “Não tenho nada com isso, jamais fiz isso, sou o mais angelical dos políticos! Provarei minha inocência na Justiça assim que for chamado a fazê-lo - e, ato seguinte, processarei com o máximo rigor todos os que levantaram a pena contra mim!” Seu vice é cúmplice. Ambos perderão o mandato assim que a Justiça declarar que o processo transitou em julgado - daqui a, aproximadamente, 15 anos, 3 meses e 26 dias. Logo ali.
Dos 27 vice-governadores, outro foi denunciado por receber R$ 100 mil para limpar a barra, na Fazenda, de uma empresa que adulterava combustíveis e sonegou R$ 25 milhões de impostos. As escutas foram autorizadas à Polícia Federal pelo Tribunal de Justiça estadual porque, neste país, delegado de polícia tem filiação político-partidária e coloca a lealdade ao chefe acima do cumprimento do dever. O vice - é regra - declara que é tudo mentira, que vai provar sua inocência nos tribunais, etc., etc.
Um dos 27 prefeitos de Capital não tem verba para implantar o Jardim Botânico, bonito e florido no papel, mas encontra R$ 3,7 milhões para plantar uma única árvore de Natal à beira-mar.
Um secretário de estado aproveita um incêndio para redecorar seu gabinete e equipar o auditório da casa; com dispensa de concorrência pública, as despesas foram superfaturadas.
Na Penitenciária Estadual de São Pedro de Alcântara, onde presos recentemente foram torturados, sabe-se agora que eles também foram roubados - pelo diretor do presídio, que desviou R$ 92,9 mil (hoje, corrigidos, 185,8 mil) do dinheiro ganho pelos detentos com o seu trabalho e dos valores que suas famílias lhes repassavam.
O bom de tudo isso é que, apesar da vergonhosa censura prévia que um tribunal regional impõe há cinco meses a um jornal nacional como O Estado de São Paulo, essas histórias continuam vindo a público pela Imprensa. Sorte nossa (por enquanto).
*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (30.12.2009)
do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC).
Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (30.12.2009)
do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC).
Reprodução autorizada pelo autor.
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Feliz despertar...
Por Elaine Tavares
Por Elaine Tavares
As celebrações de um novo começo na vida das gentes são tão antigas quanto a própria raça. Nas culturas mais remotas o “recomeço” era celebrado sempre no solstício ou equinócio de primavera (dependendo do hemisfério), quando tudo começa outra vez a florir. É que como o conceito de tempo ainda não havia sido aprisionado nos relógios a vida das comunidades se regia pelas estações. Naqueles dias, o povo se reunia em festivais, cantando, dançando e bebendo em honra da terra. As mulheres engravidavam e a vida florescia. Era a completude do ciclo da existência, sempre se repetindo.
De qualquer forma, na medida em que as culturas foram se complexificando, igualmente encontraram formas de medir o tempo. Os maias, por exemplo, lograram construir um intrincado calendário com 364 dias, e mais um outro, chamado de “dia fora do tempo”. Este, celebrado em 25 de julho, marca o início do novo ciclo. Já nas culturas do médio oriente, a festa era no equinócio de março, por conta da estação. A comunidade judaica comemora sua festa de Ano Novo, ou Rosh Hashaná, uma espécie de dia do julgamento, em meados de setembro ou no início de outubro, onde as pessoas fazem um balanço da vida. Os islâmicos celebram em maio, contando o tempo a partir do aniversário da saída do profeta Maomé de Meca para Medina, a Hégira, cujo marco corresponde ao 622 da era cristã.
Na China, o “recomeço” é celebrado em datas nem sempre fixas, mas entre final de janeiro e início de fevereiro. Lá, o calendário está relacionado ao movimento da lua e conta cada mês como o mês de um dos 12 animais que se apresentaram na frente de Buda e o ciclo da vida segue esta dinâmica, sempre começando na primavera.
O mundo ocidental também institui o seu “recomeço” a partir de um deus, que não é o cristão. Foi o imperador Julio César, no ano 46 antes de cristo, que determinou o primeiro de janeiro como o dia do início do ano, em homenagem a Jano, o cuidador dos portões. Depois, mais tarde, com a oficialização do calendário gregoriano, esta data permaneceu. Os franceses deram o toque romântico chamando-o de réveillon, que vem do verbo réveiller, cujo significado é "despertar".
E assim as gentes escolhem seus momentos de despertar, de balanço, de julgamento de suas vidas. Vemos que tudo depende da cultura onde se está inserido embora a idéia seja sempre a mesma: recomeçar, jogar fora o que foi ruim, esquecer, olvidar. Começar de novo, dar-se novas chances. E assim, vai avançando a raça, buscando aquilo que os filósofos gregos insitiram em chamar de “felicidade”. Pois eu, que reverencio a terra, os animais, as forças da natureza, que amo Jesus, Maomé e Buda, também vou comemorar. Que venha mais um ciclo, e que seja bom. Que floresça a vida, o amor e a paz. E que todos os povos possam vibrar na mesma onda cósmica. Eu te convido a dançar nesta bela noite de lua cheia, com os deuses e deusas, sob as estrelas. Para receber o ano novo, recomeçar... despertar! Ah, quanta bênção em se viver neste grande grande jardim!
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OLSEN Jr.
Olá, camaradas, salve!
Tirar férias das férias dá nisso...
Essa crônica deveria ter sido enviada na sexta-feira passada... Enfim, está aí, e na sexta agora, tudo volta ao que era antes...
O texto fala de retomada, de consciência... Então, a música pode ser essa...
"My Way"
Paul Anka fez a versão em inglês e só manteve a melodia, a letra é completamente diferente da original... Lá como aqui, lembra-se do Renato e Seus Blue Caps fazendo versão dos Beatles?
Frank Sinatra gravou-a em 1968...
Tudo ia bem até o senhor Elvis Presley decidir gravá-la... Matou a pau... É a minha interpretação favorita...
Isso que foi gravada ao vivo no Hawaii em 1971, confiram aí...
Vai o texto da crônica como carinho de sempre do poeta!
Se 2010 for como esse que passou, estou "ferrado"...
Até!
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FECHADO PARA BALANÇO
Por Olsen Jr.
Por Olsen Jr.
Supondo que se pudesse emprestar este “recurso administrativo” de gerenciamento de empresas para uma causa humana e individual, quando interrogado sobre como me sinto nesse final de ano, respondo: “fechado para balanço”.
Não que tenha demasiados produtos para fazer o tal recenseamento, tampouco que “eles” valham muito, mas é o que disponho e com esses que devo contar. Tenho consciência de que se fosse uma loja de artesanato, de manufatura morosa e acima do poder aquisitivo mundano, já estaria trabalhando no prejuízo há muito tempo.
O que tenho a meu favor nesse empreendimento é o fato de não precisar despender recursos com mão de obra de terceiros e também não dispor de funcionários para trabalhar na área, a menos que se considerem os ditos “fantasmas” do ofício, mas esses são generosos, sempre aparecem em grande número e se divertem com o meu empenho em tentar entendê-los e, mais ainda quando me percebem buscando tirar algum proveito dessas incursões malogradas que fazem imaginando talvez, que com isso, sabotem o “meu fazer”.
Alguma coisa tem de ser feita, penso, senão enlouqueço.
Lembro do Scott Fitzgerald e naquela série de textos que publicou com o título “A Derrocada” (em inglês, “The Crack-up”), falando de sua vida, como ela era (glamourosa, rica e bem sucedida) e de como ela estava no momento em que se confessava publicamente (no semi-anonimato, pobre e fracassada)... Ernest Hemingway achou tudo aquilo um horror porque um homem não poderia se revelar daquela maneira para o mundo, ainda mais sendo um artista porque tinha consciência de que tudo o que acontece para um escritor pode ser-lhe útil, mas isso requer um processo de maturação que só um distanciamento cronológico possibilita e desde que o acontecido seja (re)criado com arte... Mas é outra história.
O que fazer com o material que se tem? É isso. Tenho dado um duro danado, mas não tem sido fácil. Tem horas que parece, tudo está conspirando contra. Pessoas que não conseguem ser dissimuladas sofrem mais. Sim, é necessário não perder de vista o objetivo, custe o que custar. Poucos conseguem. É preciso ter “cojones”, com o perdão pela vulgaridade, a expressão hardboiled (calejado) é mais elegante. Uma minoria chega lá de fato e por isso são poucos os escritores contemporâneos que admiro.
Estamos vivendo uma outra espécie de ditadura, nessa se pode tudo, paradoxalmente ninguém está conseguindo fazer nada. Hoje a ditadura se manifesta de maneira mais sutil: é a covardia em se definir diante da vida, quando esta nova posição implica em perda; é o silêncio diante da barbárie; é a omissão ante a sacanagem quando acontece com os outros; é a falta de diálogo; é o medo de estarmos sendo observados em nosso medo; é a agonia da testemunha que teme o mesmo destino do crime que presenciou...
De repente é aquela grande amizade de 34 anos e você acaba descobrindo que nem era grande e sequer era amizade; aquele amor impossível que te aniquila um pouco todos os dias, mas também de conforta com o simples fato de existir; aquela dor que te mata um pouco gradativamente, sem pressa, mas que você precisa dela para criar (lembra-se do conto “O Rouxinol” de Oscar Wilde?); é a insolência do cotidiano que temos a impressão de que só nós que estamos vendo... Tudo isso massacra, faz você perder as esperanças, e nos versos de um poema do bom e velho Bertolt Brecht, no “Apêlo Endereçado Aos Pósteros”, se descobre que essa percepção do mundo vem de longe:
Não que tenha demasiados produtos para fazer o tal recenseamento, tampouco que “eles” valham muito, mas é o que disponho e com esses que devo contar. Tenho consciência de que se fosse uma loja de artesanato, de manufatura morosa e acima do poder aquisitivo mundano, já estaria trabalhando no prejuízo há muito tempo.
O que tenho a meu favor nesse empreendimento é o fato de não precisar despender recursos com mão de obra de terceiros e também não dispor de funcionários para trabalhar na área, a menos que se considerem os ditos “fantasmas” do ofício, mas esses são generosos, sempre aparecem em grande número e se divertem com o meu empenho em tentar entendê-los e, mais ainda quando me percebem buscando tirar algum proveito dessas incursões malogradas que fazem imaginando talvez, que com isso, sabotem o “meu fazer”.
Alguma coisa tem de ser feita, penso, senão enlouqueço.
Lembro do Scott Fitzgerald e naquela série de textos que publicou com o título “A Derrocada” (em inglês, “The Crack-up”), falando de sua vida, como ela era (glamourosa, rica e bem sucedida) e de como ela estava no momento em que se confessava publicamente (no semi-anonimato, pobre e fracassada)... Ernest Hemingway achou tudo aquilo um horror porque um homem não poderia se revelar daquela maneira para o mundo, ainda mais sendo um artista porque tinha consciência de que tudo o que acontece para um escritor pode ser-lhe útil, mas isso requer um processo de maturação que só um distanciamento cronológico possibilita e desde que o acontecido seja (re)criado com arte... Mas é outra história.
O que fazer com o material que se tem? É isso. Tenho dado um duro danado, mas não tem sido fácil. Tem horas que parece, tudo está conspirando contra. Pessoas que não conseguem ser dissimuladas sofrem mais. Sim, é necessário não perder de vista o objetivo, custe o que custar. Poucos conseguem. É preciso ter “cojones”, com o perdão pela vulgaridade, a expressão hardboiled (calejado) é mais elegante. Uma minoria chega lá de fato e por isso são poucos os escritores contemporâneos que admiro.
Estamos vivendo uma outra espécie de ditadura, nessa se pode tudo, paradoxalmente ninguém está conseguindo fazer nada. Hoje a ditadura se manifesta de maneira mais sutil: é a covardia em se definir diante da vida, quando esta nova posição implica em perda; é o silêncio diante da barbárie; é a omissão ante a sacanagem quando acontece com os outros; é a falta de diálogo; é o medo de estarmos sendo observados em nosso medo; é a agonia da testemunha que teme o mesmo destino do crime que presenciou...
De repente é aquela grande amizade de 34 anos e você acaba descobrindo que nem era grande e sequer era amizade; aquele amor impossível que te aniquila um pouco todos os dias, mas também de conforta com o simples fato de existir; aquela dor que te mata um pouco gradativamente, sem pressa, mas que você precisa dela para criar (lembra-se do conto “O Rouxinol” de Oscar Wilde?); é a insolência do cotidiano que temos a impressão de que só nós que estamos vendo... Tudo isso massacra, faz você perder as esperanças, e nos versos de um poema do bom e velho Bertolt Brecht, no “Apêlo Endereçado Aos Pósteros”, se descobre que essa percepção do mundo vem de longe:
"... Entretanto sabíamos:/
o ódio contra a baixeza/ também endurece os rostos!/
a ira contra a injustiça/ faz a voz ficar rouca./
Infelizmente, nós, que queríamos preparar o terreno para a amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos/
Mas vocês, quando chegar o tempo/ em que o homem for amigo do homem,/
pensem em nós com um pouco de simpatia”.
o ódio contra a baixeza/ também endurece os rostos!/
a ira contra a injustiça/ faz a voz ficar rouca./
Infelizmente, nós, que queríamos preparar o terreno para a amizade,
não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos/
Mas vocês, quando chegar o tempo/ em que o homem for amigo do homem,/
pensem em nós com um pouco de simpatia”.
De qualquer maneira, nessa jornada chamada vida, a sensação que tenho é a mesma do viajante que se vai desapegando de suas tralhas durante a jornada, e quanto mais se livra dos objetos e das lembranças que lhe parecem inúteis e dispensáveis, mais pesado fica para seguir em frente e tenho a consciência de que jamais vamos nos libertar desse gosto amargo das coisas perdidas... É o que redime os poetas!
Um comentário:
Celso, camarada, salve!
Cumprimento-o pelo blog, bonito, inteligente, útil, necessário...
Mas também, pelas parcerias...
Oportuna a lembrança do Amilcar...
Despojada e lírica a intervenção da Elaine...
Vamos continuar atentos...
Um abração do poeta extensivo a família, até!
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