Revelações surpreendentes
sobre a morte de Víctor Jara
sobre a morte de Víctor Jara
A sua história é um dos capítulos mais dolorosos e emblemáticos do golpe de Estado liderado no Chile pelo general Augusto Pinochet em 11 de setembro de 1973. Ao longo dos anos sucederam-se relatos sobre a prisão, as torturas e a morte do conhecido músico chileno Víctor Jara, assassinado no emblemático estádio de Santiago. Porém, apenas agora, quase 36 anos depois da tragédia, começa-se a se decifrar o quebra-cabeça de sua morte e como foi as últimas horas de sua vida e do impressionante resgate clandestino do seu cadáver. A reportagem é do jornal Clarín, 28-05-2009. A tradução é do Cepat.
No mesmo 11 de setembro do golpe, e da morte do presidente socialista Salvador Allende, cerca de 600 estudantes e professores se amotinaram em protesto na Universidade Técnica do Estado de Santiago. Entre eles, estava Víctor Jara que era professor da universidade e se aproximava dos 41 anos.
Os militares irromperam na Universidade, vários foram presos e levados ao estádio, entre eles Jara, reconhecido músico e símbolo da esquerda chilena, autor de temos como Te recuerdo Amanda e Plegaria del labrador. Segundo a declaração judicial do recruta José Alfonso Paredes, hoje preso pelo caso, uma vez alojado junto a outros presos no estádio transformado em uma gigantesca prisão, um subtenente “começou a jogar roleta-russa encostando o revólver na têmpora do músico. Dali saiu o primeiro tiro mortal que estourou o seu crânio”. “O corpo de Víctor Jara caiu no solo de costas. Paredes observou como convulsionava e escutou do subtenente ordens dadas a ele, e a outros recrutas que descarregassem rajadas de fuzil no corpo do artista”. Segundo a autopsia, o corpo de Jara tinha ao redor de 44 impactos de balas.
O mesmo testemunho indica que meteram o corpo de Jara em uma bolsa e logo o carregaram em um veículo militar. Outras 14 pessoas foram crivadas de balas e seus cadáveres tiveram igual destino. O testemunho de Paredes coincide com o de outros ex-prisioneiros ao assinalar que Jara foi interrogado ao menos duas vezes nos vestiários do estádio e que foi submetido a torturas que incluíram a fratura de suas mãos a golpes de coronhadas, um símbolo do ensandecimento com que agiram os agentes do nascente regime militar ao reconhecer o músico.
Em relatos prévios sobre Jara se menciona a comovedora tentativa de outros presos para tentar despistar os algozes logo após uma sessão de tortura, tentando mudar a sua fisionomia, vestindo-o com outra roupa, cortando o seu cabelo negro com um cortador de unhas. Os últimos que o viram com vida disseram que estava muito machucado, com o rosto inchado e as mãos fraturadas.
O seu cadáver foi transladado como NN ao Instituto Médico Legal (IML). Depois de guardar silêncio por 35 anos, Héctor Herrera Olguín, ex-funcionário do Registro Civil e radicado na França, relatou a Justiça de que maneira ajudou a viúva de Jara, Joan Turner, a chegar até os restos mortais do seu esposo e assim lhe dar uma sepultura. Herrera Olguín disse que foi enviado no dia 16 de setembro ao IML, onde se ordenou que tomasse as impressões digitais dos corpos perfilados no estacionamento do local. O ex-funcionário calcula que havia uns 300 mortos, entre os quais havia crianças e mulheres. Um empregado o alertou que entre os corpos enfileirados estava o de Víctor Jara e lhe mostrou sigilosamente. Estava muito sujo, com terra nas feridas, o cabelo endurecido pela terra e o sangue. Notavam-se a olhos vistos as feridas profundas em ambas as mãos e na cara e tinha os olhos abertos, “mas com um olhar tranquilo”, disse Herrera, quem anotou às escondidas o número de sua ficha e de suas impressões digitais. Para isto teve que abrir as suas mãos que as tinha empunhado, muito rígidas.
No dia seguinte foi à secção dactiloscópica do Registro Civil e com a cumplicidade de uma funcionária, buscaram a ficha de Jara e comprovaram que haviam assassinado o músico. Anotou os dados de sua esposa e o endereço. Na madrugada do dia 18 de setembro, Herrera chegou até a casa dos Jara em Las Condes e relatou a sua esposa o que havia visto. Pouco depois, partiram juntos até o IML e iniciaram a busca que acabou no segundo andar do edifício. O corpo de Jara tinha o n. 20. Joan abraçou o cadáver e chorou em silêncio.
Herrera invocou sua qualidade de funcionário para poder retirar o corpo em um dia feriado e ajudou a preencher o certificado de óbito onde consta que Jara morreu por ferida de bala no dia 14 de setembro às 5hs. Depois conseguiram dinheiro para comprar o caixão para colocar o corpo.
Herrera e um amigo que o ajudou com o dinheiro para comprar o caixão, entraram e pegaram o cadáver, o transladaram em uma maca metálica com sua roupa dobrada aos pés. Cobriram o corpo com um poncho e uma mortalha e o depositaram no caixão. Joan esteve por uma hora sozinha com o cadáver de seu marido. Enterraram-no Cemitério Geral, próximo ao IML, apenas porque a empregada encarregada viu o nome do morto e permitiu. Foi enterrado em um modesto lugar e sem flores, no mesmo lugar em que se encontram ainda hoje os seus restos mortais.
No mesmo 11 de setembro do golpe, e da morte do presidente socialista Salvador Allende, cerca de 600 estudantes e professores se amotinaram em protesto na Universidade Técnica do Estado de Santiago. Entre eles, estava Víctor Jara que era professor da universidade e se aproximava dos 41 anos.
Os militares irromperam na Universidade, vários foram presos e levados ao estádio, entre eles Jara, reconhecido músico e símbolo da esquerda chilena, autor de temos como Te recuerdo Amanda e Plegaria del labrador. Segundo a declaração judicial do recruta José Alfonso Paredes, hoje preso pelo caso, uma vez alojado junto a outros presos no estádio transformado em uma gigantesca prisão, um subtenente “começou a jogar roleta-russa encostando o revólver na têmpora do músico. Dali saiu o primeiro tiro mortal que estourou o seu crânio”. “O corpo de Víctor Jara caiu no solo de costas. Paredes observou como convulsionava e escutou do subtenente ordens dadas a ele, e a outros recrutas que descarregassem rajadas de fuzil no corpo do artista”. Segundo a autopsia, o corpo de Jara tinha ao redor de 44 impactos de balas.
O mesmo testemunho indica que meteram o corpo de Jara em uma bolsa e logo o carregaram em um veículo militar. Outras 14 pessoas foram crivadas de balas e seus cadáveres tiveram igual destino. O testemunho de Paredes coincide com o de outros ex-prisioneiros ao assinalar que Jara foi interrogado ao menos duas vezes nos vestiários do estádio e que foi submetido a torturas que incluíram a fratura de suas mãos a golpes de coronhadas, um símbolo do ensandecimento com que agiram os agentes do nascente regime militar ao reconhecer o músico.
Em relatos prévios sobre Jara se menciona a comovedora tentativa de outros presos para tentar despistar os algozes logo após uma sessão de tortura, tentando mudar a sua fisionomia, vestindo-o com outra roupa, cortando o seu cabelo negro com um cortador de unhas. Os últimos que o viram com vida disseram que estava muito machucado, com o rosto inchado e as mãos fraturadas.
O seu cadáver foi transladado como NN ao Instituto Médico Legal (IML). Depois de guardar silêncio por 35 anos, Héctor Herrera Olguín, ex-funcionário do Registro Civil e radicado na França, relatou a Justiça de que maneira ajudou a viúva de Jara, Joan Turner, a chegar até os restos mortais do seu esposo e assim lhe dar uma sepultura. Herrera Olguín disse que foi enviado no dia 16 de setembro ao IML, onde se ordenou que tomasse as impressões digitais dos corpos perfilados no estacionamento do local. O ex-funcionário calcula que havia uns 300 mortos, entre os quais havia crianças e mulheres. Um empregado o alertou que entre os corpos enfileirados estava o de Víctor Jara e lhe mostrou sigilosamente. Estava muito sujo, com terra nas feridas, o cabelo endurecido pela terra e o sangue. Notavam-se a olhos vistos as feridas profundas em ambas as mãos e na cara e tinha os olhos abertos, “mas com um olhar tranquilo”, disse Herrera, quem anotou às escondidas o número de sua ficha e de suas impressões digitais. Para isto teve que abrir as suas mãos que as tinha empunhado, muito rígidas.
No dia seguinte foi à secção dactiloscópica do Registro Civil e com a cumplicidade de uma funcionária, buscaram a ficha de Jara e comprovaram que haviam assassinado o músico. Anotou os dados de sua esposa e o endereço. Na madrugada do dia 18 de setembro, Herrera chegou até a casa dos Jara em Las Condes e relatou a sua esposa o que havia visto. Pouco depois, partiram juntos até o IML e iniciaram a busca que acabou no segundo andar do edifício. O corpo de Jara tinha o n. 20. Joan abraçou o cadáver e chorou em silêncio.
Herrera invocou sua qualidade de funcionário para poder retirar o corpo em um dia feriado e ajudou a preencher o certificado de óbito onde consta que Jara morreu por ferida de bala no dia 14 de setembro às 5hs. Depois conseguiram dinheiro para comprar o caixão para colocar o corpo.
Herrera e um amigo que o ajudou com o dinheiro para comprar o caixão, entraram e pegaram o cadáver, o transladaram em uma maca metálica com sua roupa dobrada aos pés. Cobriram o corpo com um poncho e uma mortalha e o depositaram no caixão. Joan esteve por uma hora sozinha com o cadáver de seu marido. Enterraram-no Cemitério Geral, próximo ao IML, apenas porque a empregada encarregada viu o nome do morto e permitiu. Foi enterrado em um modesto lugar e sem flores, no mesmo lugar em que se encontram ainda hoje os seus restos mortais.
Veja também
* Justiça do Chile reabre processo que acusa ex-militar de matar Víctor Jara - Folha Online
* Site da Fundação Victor Jara.
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