21.6.11

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Emanuel Medeiros Vieira:
Violência,
agronegócio e
desmatamento

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A Bahia não é
só Ivete Sangalo



Foz do rio Ratones (Florianópolis-SC).
Outono de 2011. Foto: Celso Martins


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Desmatamento1
VIOLÊNCIA,
AGRONEGÓCIO E
DESMATAMENTO


Por Emanuel Medeiros Vieira

Que seja um lugar-comum, mas é preciso repetir (já que poucos escutam): a terra está doente e ameaçada.

É preciso cuidar do ser humano e do planeta inteiro.

Como lembra Dom Tomás Balduíno, a violência não acontece apenas nas chamadas áreas do “atraso” brasileiro.

O professor Carlos Walter Porta Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense (UFF) – citado pelo prelado –afirma que “ela é mais intensa nos estados onde a dinâmica sociogeográfica está fortemente marcada pela influência da expansão dos modernos latifúndios (autodenominados agronegócios). É no Centro Oeste e no Norte que as últimas fronteiras agrícolas são conquistadas ás custas do sofrimento e do sangue dos trabalhadores e dos que os apóiam.”

Ele lembra que o agronegócio necessita permanentemente incorporar novas terras e para isso “lança mão de todos os mecanismos de que dispõe: os de mercado, os políticos e a violência.”

E, é claro, a violência é alimentada pela impunidade – fenômeno plenamente assimilado pelas instâncias do poder judiciário.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) tem uma tabela dos assassinatos e julgamentos de 1985 a 2011: são 1580. Só um mandante se encontra na prisão.

O desmatamento da Floresta Amazônica em maio deste ano foi de 165 quilômetros quadrados.

Se comparado com os 96 quilômetros quadrados desmatados no mesmo mês do ano passado, o dado representa um aumento de 72%.

As informações são do Boletim Transparência Florestal, divulgado no dia 17 de junho, pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

O documento também apontou a emissão de 2,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

De acordo com a pesquisadora Sanae Hayashi, o aumento do desmatamento se deveu à expectativa de aprovação da reforma do Código Florestal.

A anistia aos desmatadores, proposta pelo novo texto, p ode implicar em maior destruição da floresta ao flexibilizar as regras para as áreas de preservação permanente nas propriedades rurais.

Não, não é um problema de “ecochatos”. Mas do Brasil e da humanidade inteira.

Um planeta não cuidado é um planeta doente. Faz diminuir a biosfera.

Mesmo que corra o risco de parecer alarmista, creio que é a própria espécie humana que está em jogo,

(Salvador, junho de 2011)

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Novas Cartas Baianas
POBRE BAHIA

Por Emanuel Medeiros Vieira

Não, não se enganem com a visão estereotipada e midiática: a Bahia não é só Ivete Sangalo, Daniela Mercury, bandas de pagode e de axé, carnaval, “macumba para turista”, e à pasteurização dos melhores valores.

Essa visão falsa serve ao turismo banalizado e à própria exploração sexual de crianças e de adolescentes.

A real? A BAHIA VERDADEIRA? É a da concentração de renda. Da desigualdade. Da miséria.

(Lógico, há o “sagrado” e a beleza não comercializados – que poucos enxergam.)

Exagero?

Dados divulgados pelo IBGE, de 2010, informam que 2,4 milhões de baianos, ou 17,7% da população do Estado, estão em situação de miséria, pois vivem com uma renda mensal per capita de até R$ 70.

É o Estado com maior contingente de pessoas com essa faixa de renda: 14,8% dos miseráveis do País estão na Bahia, de acordo com informações do site Bahia notícias.

A Bahia é a sétima economia brasileira.

E grande parte de sua população vive abaixo da linha da pobreza.

Os mais pobres temem perder o Bolsa-Família.

Nessa época de São João – festa tão enraizada no Nordeste – lembro do grande sanfoneiro Luiz Gonzaga: uma esmola para o homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.

A esmola não gera dignidade.

Não querendo ideologizar minha fala, não seria melhor para população do semi-árido baiano e de outras regiões se o governo criasse programas para facilitar o desenvolvimento?

E quando, nos meus textos, insisto na condenação à corrupção, qualificando-a de crime contra a vida, muitos dizem que é visão de pequeno burguês ou de moralismo “udenista”.

É que não conhecem a região.

(Salvador, junho de 2011)

Um comentário:

Eduardo Luchini Vieira disse...

Para o texto: "Violência, agronegócio e desmatamento".


Às custas dos interesses dos gananciosos (ambição é necessária para o crescimento do ser humano e sou a favor, mas a ganância que "quer tudo" a "todo custo" é cruel, nefasta!) o Brasil vai se perdendo... em si mesmo, pela violência infligida aos pequenos e pela impunidade que protege os poderosos dos agronegócios!!!

Lamentável e muito triste o que o ser humano faz, se destruindo...

Parabéns, querido amigo escritor Emanuel Medeiros Vieira, pelo texto!

Abraços,

Eduardo Luchini Vieira