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A notícia mais
importante
da semana
Por Amílcar Neves*
importante
da semana
Por Amílcar Neves*
Para um bom punhado de gente, tanto contra como a favor, a melhor notícia da semana foi a informação de que o Ministério Público Federal trabalha há tempos para indiciar acusados por crimes cometidos durante a ditadura como autores de sequestro e ocultação de cadáver. Sequestro e ocultação de cadáver são crimes permanentes, ou seja, continuam a ser cometidos até que os corpos apareçam ou que se saiba o que de fato aconteceu. Como a Lei da Anistia abrange o período de 1961 a 1979, os responsáveis pelos desaparecimentos ocorridos naqueles anos estariam ainda hoje cometendo os crimes e, portanto, colocando-se ao desabrigo da referida Lei que tanto lhes vale.
A turma de pijama - oficiais da reserva, militares reformados e civis aposentados - está esfregando as mãos: "Se somos agredidos e atacados, temos o direito divino de nos defender", e pensa em sequestrar, eliminar e ocultar mais arquivos da época e acelerar os planos de um novo 1º de Abril redentor. "Vamos botar ordem na tropa! Ou isto aqui é uma manada?"
Mas estão todos redondamente enganados (redondamente enganado é expressão muitíssimo anterior às campanhas publicitárias que rolam por aí). A notícia mais promissora da semana é uma fria: vem da Groenlândia.
Erik, o Vermelho, um viquingue da gelada Islândia, exilado do seu país por ter assassinado um vizinho, foi condenado a passar três anos naquelas terras hostis - melhor, naqueles gelos hostis, já que o gelo cobre 84% do território da maior ilha do mundo; será a segunda maior se considerarmos ilha a Austrália, praticamente um continente inteiro.
O islandês assassino chegou ao destino em 985 com uma tal caravana que lhe permitiu pensar na colonização do pedaço. Se vai haver colonização, dois requisitos são indispensáveis: braço colono para amanhar as terras e nome da colônia para todo mundo saber onde é que ela fica. Em atenção a esta segunda necessidade saiu o nome que Erik, o Vermelho, deu à ilha: Terra Verde, que é o que significa Groenlândia. Sendo verde a terra, ficava mais fácil convencer, ou induzir, ou ludibriar o candidato a colono a empreender enorme viagem pelos mares gelados vizinhos ao Ártico.
Como se vê, data de mais de milênio o uso de propaganda enganosa.
Mas o que nos veio de tão bom esta semana lá da gélida Verdelândia?
Veio a notícia, no domingo, de que a Groenlândia está derretendo e que o derretimento completo - completo! - da sua camada de gelo se fará com temperaturas mais baixas do que antes se pensava (só isto causará o aumento do nível do mar em 6,4 metros). Estimava-se que essa liquefação total da cobertura groenlandesa aconteceria quando a temperatura global subisse de 1,9 a 5,1 graus acima daquela que se media quando não havia indústrias sobre a face da terra. Recentes estudos rebaixaram essa faixa para 0,8 a 3,2 graus, com robustas estimativas de que o ponto de fusão total ocorra aos 1,6 graus - hoje, o aquecimento global já atingiu 0,8 graus desde a Revolução Industrial.
O bom da história, além de virmos a ter no futuro mais água para navegar, é que vastos territórios se abrirão para a Engenharia brasileira, conduzida pelas caçambas das grandes empreiteiras nacionais que vivem a vasculhar o planeta: a Groenlândia mede um quarto da superfície do Brasil e, descascada, verde, revelará paisagens de tirar o fôlego, nunca dantes vistas, virgens para a construção de um inferno de obras no atacado.
É ou não é coisa de se comemorar com júbilo empreendedor?
A turma de pijama - oficiais da reserva, militares reformados e civis aposentados - está esfregando as mãos: "Se somos agredidos e atacados, temos o direito divino de nos defender", e pensa em sequestrar, eliminar e ocultar mais arquivos da época e acelerar os planos de um novo 1º de Abril redentor. "Vamos botar ordem na tropa! Ou isto aqui é uma manada?"
Mas estão todos redondamente enganados (redondamente enganado é expressão muitíssimo anterior às campanhas publicitárias que rolam por aí). A notícia mais promissora da semana é uma fria: vem da Groenlândia.
Erik, o Vermelho, um viquingue da gelada Islândia, exilado do seu país por ter assassinado um vizinho, foi condenado a passar três anos naquelas terras hostis - melhor, naqueles gelos hostis, já que o gelo cobre 84% do território da maior ilha do mundo; será a segunda maior se considerarmos ilha a Austrália, praticamente um continente inteiro.
O islandês assassino chegou ao destino em 985 com uma tal caravana que lhe permitiu pensar na colonização do pedaço. Se vai haver colonização, dois requisitos são indispensáveis: braço colono para amanhar as terras e nome da colônia para todo mundo saber onde é que ela fica. Em atenção a esta segunda necessidade saiu o nome que Erik, o Vermelho, deu à ilha: Terra Verde, que é o que significa Groenlândia. Sendo verde a terra, ficava mais fácil convencer, ou induzir, ou ludibriar o candidato a colono a empreender enorme viagem pelos mares gelados vizinhos ao Ártico.
Como se vê, data de mais de milênio o uso de propaganda enganosa.
Mas o que nos veio de tão bom esta semana lá da gélida Verdelândia?
Veio a notícia, no domingo, de que a Groenlândia está derretendo e que o derretimento completo - completo! - da sua camada de gelo se fará com temperaturas mais baixas do que antes se pensava (só isto causará o aumento do nível do mar em 6,4 metros). Estimava-se que essa liquefação total da cobertura groenlandesa aconteceria quando a temperatura global subisse de 1,9 a 5,1 graus acima daquela que se media quando não havia indústrias sobre a face da terra. Recentes estudos rebaixaram essa faixa para 0,8 a 3,2 graus, com robustas estimativas de que o ponto de fusão total ocorra aos 1,6 graus - hoje, o aquecimento global já atingiu 0,8 graus desde a Revolução Industrial.
O bom da história, além de virmos a ter no futuro mais água para navegar, é que vastos territórios se abrirão para a Engenharia brasileira, conduzida pelas caçambas das grandes empreiteiras nacionais que vivem a vasculhar o planeta: a Groenlândia mede um quarto da superfície do Brasil e, descascada, verde, revelará paisagens de tirar o fôlego, nunca dantes vistas, virgens para a construção de um inferno de obras no atacado.
É ou não é coisa de se comemorar com júbilo empreendedor?
*Amílcar Neves é escritor e membro da Academia Catarinense de Letras (ACL).
Crônica publicada na edição de hoje (14.2) do jornal
Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (14.2) do jornal
Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.
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RADICAIS NA ÁREA
Erich Grosner, na prancha, e Gustavo Dorneles Raffler, piloto, praticando o wake surf (foto) e o wake board na praia da Flores (Sambaqui). Foto: Celso Martins. Mais detalhes no Portal de Notícias Daqui na Rede.
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