20.3.12

.

Afeto e Abusos
(Emanuel Medeiros Vieira)
.
Primeiro
amanhecer
do outono

(Fotos de Celso Martins)
.
Ato em defesa
da Ponta do Coral

.


*

A F E T O

Por Emanuel Medeiros Vieira

"Se não for pela poesia, como crer na eternidade?”.
(Alphonsus de Guimaraens Filho)

Sobra este afeto
(a muralha que me resta).

Sim, é este patrimônio que me cabe-
sem valor contábil,
o que amo,
contra o ruído, o mal e a bofetada.

Tribo perdida,
só queremos saber de nós mesmos.

Minha verdadeira cidadela é o território dos afetos.
transformado estou: no guerreiro que não me
imaginava mais, exaurido: ainda assim combatente.

Restaurado o menino que viu a regata:
é esta matéria mnemônica que tento re-fundar aqui,
papel em branco, nova manhã.

O latim do colégio ensinava que “recordar” vem de:
“recordis”:
tornar a passar pelo coração.
(A poesia perpetuará esta fugaz manhã, despistando a
morte?),
vem, menino, sossega o coração na manhã azul,
me legitima na palavra escrita,
eterniza o poema para os que vierem depois:
é minha oferenda (o sentido desta peregrinação).

*



*

A B U S O S

Por EMANUEL TADEU MEDEIROS VIEIRA

GRIFES DO ESPORTE SÃO ACUSADAS DE ABUSO
(TRABALHADORES DE FORNECEDORES DE NIKE, ADIDAS E PUMA NA ÁSIA RELATAM MAUS-TRATOS E ASSÉDIO SEXUAL)


Matéria publicada no “Guardian”, assinada por Gethin Chamberlain, revela que operários que produzem material esportivo para Adidas, Nike e Puma, patrocinadoras de várias equipes olímpicas, “são surrados, sofrem abusos verbais, recebem salários medíocres e são forçados a trabalhar por períodos excessivos em fábricas de Bangladesh, revelou uma chocante investigação”.
O texto informa também que “operários das três companhias foram espancados, empurrados ou tiveram seus cabelos puxados pelos chefes”.
Mulheres que trabalham em fábricas da Adidas e da Nike em Bangladesh teriam sofrido assédio sexual, e operários das três empresas tiveram que trabalhar por períodos superiores ao máximo permitido pela lei e por salários inferiores ao mínimo.
Trabalho quase igual ao escravo?
Trabalhando com a organização “War on Want” e pesquisadores de Bangladesh, o jornal “Observer” constatou que operários já haviam sido espancados e humilhados.
A Adidas é fornecedora oficial de material esportivo para a Olimpíada de Londres e produzirá para a equipe britânica uniformes criados por Stella MccCartney. Também fornecerá uniformes dos 70 mil voluntários dos jogos.
A Adidas planeja vender 100 milhões de libras de material com tema olímpico.
A Nkke patrocina 25 equipes olímpicas, como Alemanha, China e EUA.
A Puma fornece material para Usain Bolt, ouro nos 100 e 200 metros em Pequim–2008.
Greg Muttitt, diretor e campanhas na “War ou Want”, declarou que “companhias como Adidas, Nike e Puma têm imensos lucros com esses abusos e açulam o estandarte olímpico com o qual se cobrem”.
As grifes do esporte se defenderam das acusações, mas a Adidas disse ter identificado, em 2011, “questões críticas” em uma fábrica em relação à jornada de trabalho e salários, o que resultou em medidas disciplinares”.
A Puma afirmou que teria encontrado provas de horas extras ilegais em um de seus fornecedores, mas que a fábrica havia oferecido garantias de que corrigiria o problema.
Mas a “War ou Want” afirma ter provas de que os operários não ganham o que mandaa lei.
Seria esse o tão decantado espírito olímpico, de respeito, fraternidade e união entre os povos?


AZIS AB’SABER

Os legisladores brasileiros – principalmente os envolvidos na discussão do novo Código Florestal –, deveriam ler a biografia de Azis Nacib Ab’Saber, pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), falecido em 16 e março.
“Sua vida foi dedicada à biodiversidade do país e à preservação ambiental”, disse alguém.
Humanista, foi presidente durante anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC (cujos congressos na década de 70 – e outros – foram uma lição de cidadania e de esperança na nossa luta e de tantos companheiros contra a ditadura militar).
Morreu, sem ver protegido o meio ambiente,assistindo o crescimento desordenado do agronegócio, e vendo o nosso país na primeira posição no uso de agrotóxicos.
Mas sua luta não foi em vão. Numa época – como disse alguém –, em que “a maioria se envergonha com o dia a dia da vida pública, onde os culpados são cada vez mais ostensivos, e os justos cada vez mais raros”, ele deixou um nobre e belo legado de honradez, dedicação, extrema competência e humanismo.

(BRASÍLIA, MARÇO DE 2012)




*

ATO SEXTA-FEIRA,
23 de março de 2012



Nenhum comentário: