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Emanuel fatura
prêmio da UBE
Leia o útimo texto de Emanuel Medeiros Vieira ("Vietnã") e confira o sucesso do lançamento do documentário Impasse por Raquel Wandelli.
Emanuel fatura
prêmio da UBE
Leia o útimo texto de Emanuel Medeiros Vieira ("Vietnã") e confira o sucesso do lançamento do documentário Impasse por Raquel Wandelli.
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Emanuel é premiado
com "Olhos Azuis"
Emanuel é premiado
com "Olhos Azuis"
O escritor catarinense
Emanuel Medeiros Vieira
acaba de obter a primeira
colocação no Concurso Internacional
de Literatura UBE-RJ 2010,
Categoria Romance, com
a obra "Olhos Azuis- Ao Sul do Efêmero" (Thesaurus Editora/FAC, Brasília, 2009).
Confira mais detalhes da premiação.
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V I E T N Ã
(E o “desfolhante laranja”)
(E o “desfolhante laranja”)
Ah, Porto Alegre, anos 60. Conversávamos na Praça da Matriz: eu, Flávio, Alberto, Edgar, Aydos, Paulo, Sá Brito e outros. O que fazer? Havia a ditadura, cassetetes, mimemógrafo, apostilas. E a notícia de que Glauber e outros artistas haviam sido presos no Rio por protestarem contra a Guerra do Vietnã. Era preciso fazer alguma coisa. Sabíamos o que o Império estava fazendo. Não, mais uma vez não era possível ficar calado, como se nada estivesse acontecendo lá longe, sim, bem longe, do outro lado do mundo.
(A luta continuou depois, já na década de 70, em São Paulo e Florianópolis.)
A guerra terminou. Acordo assinado em 1975. Mas ela guerra não acaba com o armistício: ficam as sequelas, as viúvas, as muletas, os órfãos, as cidades destruídas.
Éramos poucos? Sim. Mas parecíamos muitos.
Queríamos mudar o mundo.
A gente já escrevia para jornais do centro acadêmico, da faculdade de Direito, de Filosofia. Os verbos eram “ampliar”, “engajar”.
Ou: “nossa força é a nossa união, não passarão, polícia também é povo.”
(Hoje, quem ler, talvez sorria.)
Iríamos “fundar a utopia.” Líamos tudo. Queríamos saber, conhecer, viajar.. A livraria do Arnaldo e do Brutus (“Coletânea), no coração da cidade, era ponto de encontro. E vendia a crediário. Andávamos quase sempre “duros”. A livraria, o centro acadêmico, a Praça da Matriz, o “Mateus”, o “Rian”, as casas dos amigos, as repúblicas, os restaurantes universitários, os cine-clubes eram os locais agregadores.
E havia o Vietnam, para quebrar a nossa cabeça.
A turma tem hoje, aproximadamente, 60 anos, 60 e poucos. Enternecer sem perder a dureza.... A vida pode ter colocado espaço, distâncias. Vários amigos já estão encantados, tentando decifrar os enigmas da eternidade.
Não, não estamos em 1967. Estamos em 2010.
Trinta e cinco anos depois do final da guerra e da maior derrota militar dos EUA, os efeitos da dioxina usada no desfolhante laranja continuam a afetar regiões que compreendem áreas do Vietnã, do Laos e do Camboja. Os resíduos se entranharam na terra e nas sementes das plantas , e as pessoas que as consumiram e consomem, transmitiram e transmitem seus efeitos aos descendentes.
35 anos depois! Crianças sem olhos, sem braços, sem ouvidos, como revela Mauro Santayana. Recém-nascidos com os órgãos genitais na face.
Escreve ele: “São milhares de seres humanos e, enquanto viverem e continuarem a nascer, representam o libelo mais ácido contra os piores terroristas: os senhores estadunidenses da guerra.”
A história do desfolhante laranja começou na Segunda Guerra Mundial, quando os encarregados das armas químicas sugeriram seu emprego maciço sobre os arrozais japoneses.
Mas maiores empresas químicas do EUA, estimuladas pelo Pentágono – tendo à frente a Monsanto (não esqueçamos este nome) e a Dow Chemical passaram a pesquisar os efeitos do agente laranja contra os seres vivos, não só os da deformação genética genética, como também os da indução ao câncer. Em 1960 passaram a produzir para a guerra. Em 1961, o glorificado presidente Kennedy autorizou o uso do produto no Vietnã.
Naquele país, além das crianças deformadas a incidência do câncer no útero é 30 vezes maior do que no resto da Ásia.
Os acordos de Genebra proíbem rigorosamente o uso de armas químicas nas batalhas.
A morte pode ser um processo técnico lucrativo, observa Mauro.
“Não lhes importa a possibilidade de que os transgênicos venham a matar os consumidores ou a condenar as almas da crianças a habitar coros deformados nas próximas gerações. O que importa é o preço das ações, os dividendos aos acionistas, e a elevada remuneração de seus quadros executivos”, arremata.
Porto Alegre. Rapazes de 20 anos. Os inseguros amores, os esperançosos amores. Contos, poesias, curta-metragens.
Meu barro é mnemônico: não esqueço. Eu me lembro: Vietnã. Talvez, o exemplo que conhecemos de maior bravura e de maior coragem de uma gente. Tal luta vale mais que mil teses que falem em auto-determinação dos povos.
(Queria dedicar esta memória a todos os amigos que estiveram juntos naquele “campo de sonhos”, nos anos de Porto Alegre – cidade, também florida, das faculdades tão agitadas, do Guaíba do pôr-do-sol, das ladeiras, do “Rian”, do Cine Rex, do Quintana, do Gastal, do Appel, do Gerd e de tantos outros que, generosamente, nos ensinaram o valor da amizade, do pluralismo e da democracia (sim, que vá o lugar-comum necessário) como valor universal.
(A luta continuou depois, já na década de 70, em São Paulo e Florianópolis.)
A guerra terminou. Acordo assinado em 1975. Mas ela guerra não acaba com o armistício: ficam as sequelas, as viúvas, as muletas, os órfãos, as cidades destruídas.
Éramos poucos? Sim. Mas parecíamos muitos.
Queríamos mudar o mundo.
A gente já escrevia para jornais do centro acadêmico, da faculdade de Direito, de Filosofia. Os verbos eram “ampliar”, “engajar”.
Ou: “nossa força é a nossa união, não passarão, polícia também é povo.”
(Hoje, quem ler, talvez sorria.)
Iríamos “fundar a utopia.” Líamos tudo. Queríamos saber, conhecer, viajar.. A livraria do Arnaldo e do Brutus (“Coletânea), no coração da cidade, era ponto de encontro. E vendia a crediário. Andávamos quase sempre “duros”. A livraria, o centro acadêmico, a Praça da Matriz, o “Mateus”, o “Rian”, as casas dos amigos, as repúblicas, os restaurantes universitários, os cine-clubes eram os locais agregadores.
E havia o Vietnam, para quebrar a nossa cabeça.
A turma tem hoje, aproximadamente, 60 anos, 60 e poucos. Enternecer sem perder a dureza.... A vida pode ter colocado espaço, distâncias. Vários amigos já estão encantados, tentando decifrar os enigmas da eternidade.
Não, não estamos em 1967. Estamos em 2010.
Trinta e cinco anos depois do final da guerra e da maior derrota militar dos EUA, os efeitos da dioxina usada no desfolhante laranja continuam a afetar regiões que compreendem áreas do Vietnã, do Laos e do Camboja. Os resíduos se entranharam na terra e nas sementes das plantas , e as pessoas que as consumiram e consomem, transmitiram e transmitem seus efeitos aos descendentes.
35 anos depois! Crianças sem olhos, sem braços, sem ouvidos, como revela Mauro Santayana. Recém-nascidos com os órgãos genitais na face.
Escreve ele: “São milhares de seres humanos e, enquanto viverem e continuarem a nascer, representam o libelo mais ácido contra os piores terroristas: os senhores estadunidenses da guerra.”
A história do desfolhante laranja começou na Segunda Guerra Mundial, quando os encarregados das armas químicas sugeriram seu emprego maciço sobre os arrozais japoneses.
Mas maiores empresas químicas do EUA, estimuladas pelo Pentágono – tendo à frente a Monsanto (não esqueçamos este nome) e a Dow Chemical passaram a pesquisar os efeitos do agente laranja contra os seres vivos, não só os da deformação genética genética, como também os da indução ao câncer. Em 1960 passaram a produzir para a guerra. Em 1961, o glorificado presidente Kennedy autorizou o uso do produto no Vietnã.
Naquele país, além das crianças deformadas a incidência do câncer no útero é 30 vezes maior do que no resto da Ásia.
Os acordos de Genebra proíbem rigorosamente o uso de armas químicas nas batalhas.
A morte pode ser um processo técnico lucrativo, observa Mauro.
“Não lhes importa a possibilidade de que os transgênicos venham a matar os consumidores ou a condenar as almas da crianças a habitar coros deformados nas próximas gerações. O que importa é o preço das ações, os dividendos aos acionistas, e a elevada remuneração de seus quadros executivos”, arremata.
Porto Alegre. Rapazes de 20 anos. Os inseguros amores, os esperançosos amores. Contos, poesias, curta-metragens.
Meu barro é mnemônico: não esqueço. Eu me lembro: Vietnã. Talvez, o exemplo que conhecemos de maior bravura e de maior coragem de uma gente. Tal luta vale mais que mil teses que falem em auto-determinação dos povos.
(Queria dedicar esta memória a todos os amigos que estiveram juntos naquele “campo de sonhos”, nos anos de Porto Alegre – cidade, também florida, das faculdades tão agitadas, do Guaíba do pôr-do-sol, das ladeiras, do “Rian”, do Cine Rex, do Quintana, do Gastal, do Appel, do Gerd e de tantos outros que, generosamente, nos ensinaram o valor da amizade, do pluralismo e da democracia (sim, que vá o lugar-comum necessário) como valor universal.
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Estréia de documentário Impasse
na UFSC mobiliza público inédito
na UFSC mobiliza público inédito
Auditório da Reitoria da UFSC lotado. Foto: Ivanir França
Exibição do esperado documentário sobre o movimento do passe livre em Florianópolis fez público vibrarar como a torcida de um estádio de futebol.
Por Raquel Wandelli*
O lançamento do documentário Impasse levou cerca de 700 pessoas ao auditório da Reitoria da UFSC, na noite do dia 16 de setembro. A estreia transformou-se em um ato público de apoio ao Movimento Passe Livre e protesto contra a repressão dos manifestantes. Mais da metade do público ficou do lado de fora, no hall, acompanhando o documentário por um telão, interagindo com gestos de apoio ou indignação, lágrimas e gargalhadas do discurso primário e reacionário das autoridades responsáveis pelo transporte público e pela repressão policial.
Foram 80 minutos de comoção. Aglomerados nos corredores, em cima de mesas improvisadas, nas entradas de portas para garantir um lugar, estudantes, professores e trabalhadores em geral aplaudiram de pé o registro histórico e cinematográfico das manifestações ocorridas em maio e junho deste ano contra o aumento da tarifa do transporte coletivo. A resposta ao resultado político e estético do trabalho dos jornalistas Fernando Evangelista e Juliana Kroeger vídeo foi inequívoca: ao final, a plateia se levantou e centenas de pessoas partiram espontaneamente em passeata até a avenida Beira-Mar Norte. “Foi incrível porque não podíamos prever uma reação tão forte”, assinalou Evangelista.
Além de entrevistar estudantes e policiais, protagonistas dos atos de rua, os documentaristas entrevistaram também empresários, usuários e especialistas do transporte. Desse modo, embora posicionado, o documentário não fugiu à polêmica e à pluralidade de vozes que envolvem a questão, mostrando a complexidade e as tensões de todos os lados. Segundo o técnico de som e imagem da UFSC, Joel Cordeiro Filho, o evento bateu recorde de público no local.
A platéia riu, gritou, aplaudiu e ficou chocada com muitas cenas e depoimentos, com destaque para os flagrantes de violência policial e para as afirmações do Secretário de Segurança Pública do Estado. Ele justificou o uso da arma taser (armas de choque) em movimentos sociais e disse que a polícia militar entrou na UDESC para pegar pessoas que cometeram crimes, mas sem especificar quais crimes seriam estes.
O jornalista Cacau Menezes, em sua coluna no Diário Catarinense, relatou que “a platéia reagia a cada cena como se fosse um jogo de futebol”. E, de fato, quase ninguém parece ter ficado indiferente assistindo ao documentário, que tem cenas inesquecíveis, como a de um morador de rua que pega o megafone no final de uma das manifestações e canta No Woman No Cry, música de Bob Marley, sendo acompanhado por dezenas de estudantes.
Para o jornalista e sambista Artur de Bem, presente no lançamento, “Impasse apresenta cenas raras, com um impacto violento, algo que nunca havia sido mostrado em lugar nenhum”. O estudante de geografia Victor Khaled, integrante da Frente de Luta pelo Transporte Público, escreveu no Passa Palavra, site luso-brasileiro, que “o filme é simplesmente fantástico, é engraçado, muito informativo, sério, bem feito e empolgante. Tudo muito mágico e emocionante”.
“O mais gratificante da produção”, afirma a diretora Juliana Kroeger, “foi ter trabalhado com uma equipe muito talentosa e dedicada”. Quase todos os integrantes do documentário são estudantes da UFSC e da Faculdade Estácio de Sá. Impasse, que teve o apoio de 16 entidades, entre elas a Secretária de Arte da UFSC, Secarte, está sendo vendido a R$15 no Diretório Central dos Estudantes (DCE). Maiores informações no site www.impasse.com.br
Foram 80 minutos de comoção. Aglomerados nos corredores, em cima de mesas improvisadas, nas entradas de portas para garantir um lugar, estudantes, professores e trabalhadores em geral aplaudiram de pé o registro histórico e cinematográfico das manifestações ocorridas em maio e junho deste ano contra o aumento da tarifa do transporte coletivo. A resposta ao resultado político e estético do trabalho dos jornalistas Fernando Evangelista e Juliana Kroeger vídeo foi inequívoca: ao final, a plateia se levantou e centenas de pessoas partiram espontaneamente em passeata até a avenida Beira-Mar Norte. “Foi incrível porque não podíamos prever uma reação tão forte”, assinalou Evangelista.
Além de entrevistar estudantes e policiais, protagonistas dos atos de rua, os documentaristas entrevistaram também empresários, usuários e especialistas do transporte. Desse modo, embora posicionado, o documentário não fugiu à polêmica e à pluralidade de vozes que envolvem a questão, mostrando a complexidade e as tensões de todos os lados. Segundo o técnico de som e imagem da UFSC, Joel Cordeiro Filho, o evento bateu recorde de público no local.
A platéia riu, gritou, aplaudiu e ficou chocada com muitas cenas e depoimentos, com destaque para os flagrantes de violência policial e para as afirmações do Secretário de Segurança Pública do Estado. Ele justificou o uso da arma taser (armas de choque) em movimentos sociais e disse que a polícia militar entrou na UDESC para pegar pessoas que cometeram crimes, mas sem especificar quais crimes seriam estes.
O jornalista Cacau Menezes, em sua coluna no Diário Catarinense, relatou que “a platéia reagia a cada cena como se fosse um jogo de futebol”. E, de fato, quase ninguém parece ter ficado indiferente assistindo ao documentário, que tem cenas inesquecíveis, como a de um morador de rua que pega o megafone no final de uma das manifestações e canta No Woman No Cry, música de Bob Marley, sendo acompanhado por dezenas de estudantes.
Para o jornalista e sambista Artur de Bem, presente no lançamento, “Impasse apresenta cenas raras, com um impacto violento, algo que nunca havia sido mostrado em lugar nenhum”. O estudante de geografia Victor Khaled, integrante da Frente de Luta pelo Transporte Público, escreveu no Passa Palavra, site luso-brasileiro, que “o filme é simplesmente fantástico, é engraçado, muito informativo, sério, bem feito e empolgante. Tudo muito mágico e emocionante”.
“O mais gratificante da produção”, afirma a diretora Juliana Kroeger, “foi ter trabalhado com uma equipe muito talentosa e dedicada”. Quase todos os integrantes do documentário são estudantes da UFSC e da Faculdade Estácio de Sá. Impasse, que teve o apoio de 16 entidades, entre elas a Secretária de Arte da UFSC, Secarte, está sendo vendido a R$15 no Diretório Central dos Estudantes (DCE). Maiores informações no site www.impasse.com.br
*Raquel Wandelli é jornalista. www.secarte.ufsc.br - www.ufsc.br
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