6.12.10

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Emanuel com Santa Bárbara,
um recado de Alcides Buss e

o viking Olsen
Entre amigos



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Santa Bárbara

Momento da procissão do último sábado. Foto: Jornal A Tarde (Salvador-BA)

A CELEBRAÇÃO DE SANTA BÁRBARA NA BAHIA:
MISSA FESTIVA, PROCISSÃO E CARURU


Por EMANUEL MEDEIROS VIEIRA*

Mais de 12 mil pessoas no Largo do Pelourinho.

Sábado, 4 de dezembro, bem cedinho.

Milhares de pessoas celebram Santa Bárbara, a maioria vestida de vermelho.

É uma belíssimo momento do sincretismo religioso na Bahia.

Bárbara é santa católica.

E Iansã, do candomblé ketu, ou Bamburucema do angola.

Mas todos a conhecem como Bárbara ou Yansã, padroeira dos bombeiros.

Emociona a intensa participação popular, a devoção dos fiéis, a força interior daquelas pessoas, muitas descendentes de escravos.

A missa festiva celebrada no Pelourinho é bela e tocante.

É completa a integração entre a liturgia católica da missa e os cânticos das religiões afro-brasileiras, tão fortes na Bahia, apesar do fundamentalismo de algumas seitas evangélicas, que procuram destruir – até com violência – tais tradições.

Arrepia escutar aqueles cânticos das religiões afro-brasileiras escoando no Pelourinho, junto com a devoção e a liturgia católica, que marcaram tanto a minha vida – de um menino a um sexagenário.

(É como se a energia de uma força maior atravessasse aquelas pedras de tantos séculos, enquanto o povo todo cantava, contra a violência, o individualismo, a carência de compaixão, e a sensação de que a vida vale cada vez menos.)

Vou mais longe: assistindo à missa, com aquele povo todo reunido no Pelourinho, tive a sensação da recuperação do Sagrado num mundo cada vez mais dessacralização e materialista.)

O candomblé faz a associação entre Santa Bárbara e Iansã.

A homenageada tem o domínio do fogo.

“É a mulher indomável, guerreira e que briga pelo que quer, por quem protege”, ensinam os especialistas em catolicismo popular e os adeptos do candomblé.

Bárbara teria nascido onde hoje conhecemos por Turquia, no século III.

Sua lenda conta que, por se converter ao cristianismo, provocou a ira do pai, Dióscoro, foi julgada pelos romanos e condenada à morte.

Depois de ter a cabeça decapitada, o céu se fechou em nuvens e raios atingiram seu pai.

Já Iansã – que quer dizer “mãe nove vezes” – é apresentada como uma divindade que comanda os ventos e, depois de engolir um preparado mágico que o marido, Xangó, tinha encomendado – acará – também teve poderes sobre os raios e os fogos.

Os ilhéus da minha geração e os mais antigos devem lembrar que quando ocorriam trovoadas nossas mãe apelavam à Santa Bárbara (e são Gerônimo), tapando espelhos e tesouras.

Bárbara e Iansã enobrecem o perfil feminino, e nos remetem ao arquétipo da guerreira.

O tríduo em louvor à santa católica, na Igreja da Ordem Terceira do Carmo, teve como tema “A devoção à Santa Bárbara, filha de Nossa Senhora do Rosário, nesses 325 anos de fé e resistência.”

Depois da missa, ocorre a procissão e é servido um caruru feito com 8 mil quiabos.

Pelo mercado que leva o nome da santa, localizado na Baixa dos sapateiros e aberto desde às 6 horas, passaram 12 mil pessoas até o final do dia.

Viva Santa Bárbara! Viva Iansã!

*Emanuel Medeiros Vieira é escritor catarinense e reside em Salvador.
O texto foi encaminhado ao Sambaqui na Rede e distribuído a outros veículos.


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A área das Letras
no Plano de Cultura


Colegas

O Conselho Municipal de Políticas Culturais, no qual o Dennis, o Valdemir Klamt e eu representamos a área de letras, está elaborando o Plano Municipal de Cultura para os próximos dez anos.

Como podem imaginar, este Plano será da maior importância, pois norteará as ações culturais em Florianópolis, especialmente as ligadas à Fundação Franklin Cascaes.

Pedimos, assim, a presença de todos em reunião expandida, da área de Letras, nesta quarta-feira, dia 8, às 19 horas, na Casa da Memória, com o objetivo de levantar as sugestões do segmento: escritores, editores, livreiros, bibliotecários.
Por favor, ajudem a divulgar e mobilizar a categoria.

Abraços,
Alcides Buss

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ENTRE AMIGOS

Por Olsen Jr.*


Foi necessária a morte da mulher que amei quando tinha 13 anos para fazer aquela catarse. “Baixou o santo” - como se diz – e o livro se escreveu em menos de três meses. Precisava dizer o que disse sob pena de não escrever mais. Dê liberdade para os personagens e “eles” se definem.

Well, estou autografando o romance “Memórias de um Fingidor”, na verdade eu deveria conseguir um “sósia” para fazer isso. O que gostaria mesmo era de estar misturado com toda aquela gente, espiando um grupo aqui e outro ali, dando uns “pitacos” nesse ou naquele assunto, beliscando um salgadinho, bebericando um chope, experimentando o espumante, provando da cachaça açoriana ou a mineira, testando o uísque ou até, se duvidassem, tomando um gole de água para não confundir os sabores. A presença dos amigos era um tributo ao trabalho do artífice e o autógrafo o reconhecimento deste vínculo afetivo que se multiplica de maneira inexplicável.

Num gesto de grandeza recebo um abraço de Péricles Prade, uma amizade de 35 anos que havia sido interrompida por um mal entendido. Efeito da reconciliação - sinto-me mais leve. Repito as palavras de Nelson Rodrigues “Nada mais doce, nada mais terno do que a amizade de um ex-inimigo”... O jurista me corrige afirmando que “nesse caso o “Ex” não se aplicava uma vez que nunca fomos inimigos”... Depois daquele aperto de mão, a vida seguiu melhor...

Sigo o protocolo de receber os convidados: “Estou aqui representando o restaurante Estação Lagoa” - disse alguém; “venho em nome da Confraria das Artes” – afirma outro; e assim vão desfilando os emissários das Instituições Boêmias que frequento, Cantina da Freguesia, Café da Lagoa, Empório Mineiro, Chico’s Bar, Marina do Fedoca, Kibelândia... Quando não eram os proprietários, os garçons se encarregavam de se fazer presentes...

Lembrei da morte de Jean-Paul Sartre em 1980, quando o féretro acompanhado por mais de 50 mil pessoas, fora do trajeto normal até o Cemitério de Montparnasse, passando em frente dos bares que ele freqüentava, encontrava as portas à meia altura e os garçons perfilados prestando a derradeira homenagem ao seu mais famoso cliente...

Menos pela notoriedade, passageira e enganadora, mas por toda aquela gente leal, educada, fraterna, uma compensação pela indigência do cotidiano do qual – naquele momento – estávamos ausentes. Por isso já teria valido a pena, mas eram os garçons ali, adquirindo o livro – prova inequívoca de apreço – que me sensibilizou mais... Aliás, aos garçons, os únicos homens da minha vida, meu agradecimento e dedicação eterna!

*Crônica publicada na ediçãode hoje (6.12) do
jornal Notícias do Dias (Florianópolis-SC).
Reprodução autorizadapelo autor.

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