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A crônica de
Amílcar Neves
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Cerveja Falada no Baiacu
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A crônica de
Amílcar Neves
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O ano 2000
Por Amilcar Neves*
O ano 2000
Por Amilcar Neves*
Para quem nasceu antes de 1980, o distante ano 2000 era visto como uma data mítica, um portal maravilhoso, uma fronteira dúbia, o limiar de áureos tempos.
Recordo que, a certa altura da infância, empreendi uma complexa operação matemática para calcular a idade que teria caso chegasse até lá. Perplexo, descobri que seria mais velho do que o meu pai, ou seja, eu teria em 2000 uma idade superior à que ele tinha por ocasião daqueles meus cálculos sobre o futuro.
Uma fronteira dúbia: ao mesmo tempo em que prenunciava uma fase extraordinária para a humanidade, com progressos científicos inimagináveis (sequer se sonhava com coisas absurdas como computador, celular e internete), a eliminação de todas as doenças, o fim de todas as guerras e a erradicação absoluta da fome e da miséria, 2000 também lançava uma espessa nuvem de preocupação porque, no ano seguinte, trocaríamos não só de século como de milênio - e isto não acontece impunemente nem acontece a toda hora. Quem não viu aquela virada de milênio, porque nasceu depois, não verá outra por mais tempo que consiga viver.
A nuvem referida, espessa e negra, era a iminência concreta, anunciada pelos livros sagrados, do fim do mundo, ou pelo menos da extinção da raça humana sobre o planeta ou, até, da destruição de toda a vida terrestre. Haveria melhor ocasião para se dar um basta a tudo que rolava de errado na Terra? Chega 2000 e, como um comutador automático, apaga-se tudo - pelo fogo, pela água, pela bomba atômica, por qualquer meio. Evidente que as condições naturais não precisariam esperar uma data redonda para dar cabo de tudo, mas para as religiões isso é muito conveniente, tornando fácil a memorização pelos aterrorizados crentes - até não acontecer nada e definir-se uma nova data para ocorrer a inevitável catástrofe universal final.
Hoje, se o mundo durar até o fim do ano, estamos prestes a fechar a primeira década do alvissareiro Século 21, que acabou se revelando, evidentemente, apenas uma continuação do que o planeta e nós próprios vínhamos sendo até então. Ou seja, nessa brincadeira já consumimos 10% do novo século.
Certo, certo, esta crônica caberia melhor daqui a duas semanas. Acontece apenas que, em lá chegando, todo mundo estará falando estas mesmas coisas que aqui vão, que não são nada originais, e, partindo na frente, eu não terei copiado ninguém. Até pelo contrário.
Recordo que, a certa altura da infância, empreendi uma complexa operação matemática para calcular a idade que teria caso chegasse até lá. Perplexo, descobri que seria mais velho do que o meu pai, ou seja, eu teria em 2000 uma idade superior à que ele tinha por ocasião daqueles meus cálculos sobre o futuro.
Uma fronteira dúbia: ao mesmo tempo em que prenunciava uma fase extraordinária para a humanidade, com progressos científicos inimagináveis (sequer se sonhava com coisas absurdas como computador, celular e internete), a eliminação de todas as doenças, o fim de todas as guerras e a erradicação absoluta da fome e da miséria, 2000 também lançava uma espessa nuvem de preocupação porque, no ano seguinte, trocaríamos não só de século como de milênio - e isto não acontece impunemente nem acontece a toda hora. Quem não viu aquela virada de milênio, porque nasceu depois, não verá outra por mais tempo que consiga viver.
A nuvem referida, espessa e negra, era a iminência concreta, anunciada pelos livros sagrados, do fim do mundo, ou pelo menos da extinção da raça humana sobre o planeta ou, até, da destruição de toda a vida terrestre. Haveria melhor ocasião para se dar um basta a tudo que rolava de errado na Terra? Chega 2000 e, como um comutador automático, apaga-se tudo - pelo fogo, pela água, pela bomba atômica, por qualquer meio. Evidente que as condições naturais não precisariam esperar uma data redonda para dar cabo de tudo, mas para as religiões isso é muito conveniente, tornando fácil a memorização pelos aterrorizados crentes - até não acontecer nada e definir-se uma nova data para ocorrer a inevitável catástrofe universal final.
Hoje, se o mundo durar até o fim do ano, estamos prestes a fechar a primeira década do alvissareiro Século 21, que acabou se revelando, evidentemente, apenas uma continuação do que o planeta e nós próprios vínhamos sendo até então. Ou seja, nessa brincadeira já consumimos 10% do novo século.
Certo, certo, esta crônica caberia melhor daqui a duas semanas. Acontece apenas que, em lá chegando, todo mundo estará falando estas mesmas coisas que aqui vão, que não são nada originais, e, partindo na frente, eu não terei copiado ninguém. Até pelo contrário.
*Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior. Crônica publicada na edição de hoje (15.12) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.
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encerra a temporada
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Telhado e beiral
sofrem alterações
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