20.5.11

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BIPOLAR
Emanuel Medeiros Vieira


Bipolar

Euforia, melancolia – viva a breve vida!,

E Freud sussurra no meu ouvido:

– Os poetas chegaram antes de nós.

Mas me adverte:

“Não busque álibis compensatórios”.

O que vou fazer da vida?

Quase todo mundo só quer saber de imagens e de engenhocas eletrônicas.

– É o capitalismo, rapaz, te acostuma – grita Bill Gates.

Maria, vamos beber uma cerveja no Miramar?

Ela prefere uma empadinha com guaraná-caçula na Gruta de Fátima.

Antes, passamos na confeitaria Chiquinho – outra empada.

Que tal ir ao Campo da Liga? – me empolgo.

Hoje tem jogo do Avaí!

Vento sul, tainha frita,

O mano Luiz bebe no Catecipes.

Atravesso a Ponte Hercílio Luz.

E não consigo responder: o que farei da vida?

O fantasma de Drummond anda a passos rápidos.

Eu, sei, há duas pedras no meio do caminho.

–Essa “lestada” vai durar muito – garante um pescador

Tantas vendinhas, amendoim torrado – engraxo os sapatos na Praça Quinze,

cafezinho no Ponto Chic, e no final de tarde os pescadores conversam nas vendinhas do interior da Ilha.

Mamãe me dá óleo de rícino, papai colhe ”barbas de velho” para o presépio natalino

Ah, Desterro da minha infância,

Tinha medo da bernunça, e colhia goiabas vermelhas em tantos terrenos baldios.

Fernando Pessoa me abraça: casual na vida como na alma,

estrangeiro aqui como em toda parte.

Caminho para o Catarinense (prova de matemática), e um profeta anuncia:

“Haverá um golpe militar em 64 e a ditadura durará muitos anos.”

Serão os meus anos jovens.

– Mas viverás para veres outras traições.

– Surgirá um dissimulado líder, barbudo, com bafo de 51 e língua presa.

Perdeu um dedo – não na tortura. Era muito “amigo dos homens”. Só amigo?

“Confidente” do finado Tuma (diretor do DOPS)?

É cria do Golbery e dos gorilas. Detesta leitura. Disse que sua mãe nasceu analfabeta.

Ele se acha muito esperto, mas é uma besta!– complementa

– É o anticristo? – indago.

–Um deles!

– Enganará muita gente por ter “vindo de baixo”, e criará um partido para nenhum Maquiavel botar defeito!

– Adora banqueiros e dá migalhas para o povão crédulo.

–Na universidade, o energúmeno terá adoradores! – arremata o profeta.

Alguns dirão: desta vez, o signatário destas mal traçadas linhas, pegou pesado!

E o que “eles” fizeram com o país foi leve?

Freud samba na Felipe.

Marx berra nos altos da Conselheiro Mafra: “Operários de todo mundo, dispersai-vos!”

Bipolar: gangorra mental: de manhã, celebro, à noite, desmorono.

Maria quer andar de roda-gigante, ir ao circo, tomar um banho de mar no Bom Abrigo.

Quem me levará ao cemitério das Três Pontes?

(Me enterrem com a bandeira do Avaí, junto àqueles que o poder não corrompeu.)

Não há cova por que o poder corrompeu a todos?

Para o limbo eu não vou: já fui batizado.

Para o inferno também não: enfrentei a ditadura e o PT.

Quero ir para o céu: Ideli aportou em Santa Catarina – é calvário.

(Salvai-nos, Jesus!)

O Canga, o Mosquito e o Celso, proporão ao papa a minha beatificação.

Santo Vieira: padroeiro dos estóicos!

Quem sabe, o Amilcar ou o Nei escrevam uma crônica!

Por favor, coloquem na lápide: “Aqui jaz um pobre homem do Desterro – ‘menino’ até o fim, que muito amou a Ilha.”

(Salvador, maio de 2011)

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