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BIPOLAR
Emanuel Medeiros Vieira
BIPOLAR
Emanuel Medeiros Vieira
Bipolar
Euforia, melancolia – viva a breve vida!,
E Freud sussurra no meu ouvido:
– Os poetas chegaram antes de nós.
Mas me adverte:
“Não busque álibis compensatórios”.
O que vou fazer da vida?
Quase todo mundo só quer saber de imagens e de engenhocas eletrônicas.
– É o capitalismo, rapaz, te acostuma – grita Bill Gates.
Maria, vamos beber uma cerveja no Miramar?
Ela prefere uma empadinha com guaraná-caçula na Gruta de Fátima.
Antes, passamos na confeitaria Chiquinho – outra empada.
Que tal ir ao Campo da Liga? – me empolgo.
Hoje tem jogo do Avaí!
Vento sul, tainha frita,
O mano Luiz bebe no Catecipes.
Atravesso a Ponte Hercílio Luz.
E não consigo responder: o que farei da vida?
O fantasma de Drummond anda a passos rápidos.
Eu, sei, há duas pedras no meio do caminho.
–Essa “lestada” vai durar muito – garante um pescador
Tantas vendinhas, amendoim torrado – engraxo os sapatos na Praça Quinze,
cafezinho no Ponto Chic, e no final de tarde os pescadores conversam nas vendinhas do interior da Ilha.
Mamãe me dá óleo de rícino, papai colhe ”barbas de velho” para o presépio natalino
Ah, Desterro da minha infância,
Tinha medo da bernunça, e colhia goiabas vermelhas em tantos terrenos baldios.
Fernando Pessoa me abraça: casual na vida como na alma,
estrangeiro aqui como em toda parte.
Caminho para o Catarinense (prova de matemática), e um profeta anuncia:
“Haverá um golpe militar em 64 e a ditadura durará muitos anos.”
Serão os meus anos jovens.
– Mas viverás para veres outras traições.
– Surgirá um dissimulado líder, barbudo, com bafo de 51 e língua presa.
Perdeu um dedo – não na tortura. Era muito “amigo dos homens”. Só amigo?
“Confidente” do finado Tuma (diretor do DOPS)?
É cria do Golbery e dos gorilas. Detesta leitura. Disse que sua mãe nasceu analfabeta.
Ele se acha muito esperto, mas é uma besta!– complementa
– É o anticristo? – indago.
–Um deles!
– Enganará muita gente por ter “vindo de baixo”, e criará um partido para nenhum Maquiavel botar defeito!
– Adora banqueiros e dá migalhas para o povão crédulo.
–Na universidade, o energúmeno terá adoradores! – arremata o profeta.
Alguns dirão: desta vez, o signatário destas mal traçadas linhas, pegou pesado!
E o que “eles” fizeram com o país foi leve?
Freud samba na Felipe.
Marx berra nos altos da Conselheiro Mafra: “Operários de todo mundo, dispersai-vos!”
Bipolar: gangorra mental: de manhã, celebro, à noite, desmorono.
Maria quer andar de roda-gigante, ir ao circo, tomar um banho de mar no Bom Abrigo.
Quem me levará ao cemitério das Três Pontes?
(Me enterrem com a bandeira do Avaí, junto àqueles que o poder não corrompeu.)
Não há cova por que o poder corrompeu a todos?
Para o limbo eu não vou: já fui batizado.
Para o inferno também não: enfrentei a ditadura e o PT.
Quero ir para o céu: Ideli aportou em Santa Catarina – é calvário.
(Salvai-nos, Jesus!)
O Canga, o Mosquito e o Celso, proporão ao papa a minha beatificação.
Santo Vieira: padroeiro dos estóicos!
Quem sabe, o Amilcar ou o Nei escrevam uma crônica!
Por favor, coloquem na lápide: “Aqui jaz um pobre homem do Desterro – ‘menino’ até o fim, que muito amou a Ilha.”
(Salvador, maio de 2011)
Euforia, melancolia – viva a breve vida!,
E Freud sussurra no meu ouvido:
– Os poetas chegaram antes de nós.
Mas me adverte:
“Não busque álibis compensatórios”.
O que vou fazer da vida?
Quase todo mundo só quer saber de imagens e de engenhocas eletrônicas.
– É o capitalismo, rapaz, te acostuma – grita Bill Gates.
Maria, vamos beber uma cerveja no Miramar?
Ela prefere uma empadinha com guaraná-caçula na Gruta de Fátima.
Antes, passamos na confeitaria Chiquinho – outra empada.
Que tal ir ao Campo da Liga? – me empolgo.
Hoje tem jogo do Avaí!
Vento sul, tainha frita,
O mano Luiz bebe no Catecipes.
Atravesso a Ponte Hercílio Luz.
E não consigo responder: o que farei da vida?
O fantasma de Drummond anda a passos rápidos.
Eu, sei, há duas pedras no meio do caminho.
–Essa “lestada” vai durar muito – garante um pescador
Tantas vendinhas, amendoim torrado – engraxo os sapatos na Praça Quinze,
cafezinho no Ponto Chic, e no final de tarde os pescadores conversam nas vendinhas do interior da Ilha.
Mamãe me dá óleo de rícino, papai colhe ”barbas de velho” para o presépio natalino
Ah, Desterro da minha infância,
Tinha medo da bernunça, e colhia goiabas vermelhas em tantos terrenos baldios.
Fernando Pessoa me abraça: casual na vida como na alma,
estrangeiro aqui como em toda parte.
Caminho para o Catarinense (prova de matemática), e um profeta anuncia:
“Haverá um golpe militar em 64 e a ditadura durará muitos anos.”
Serão os meus anos jovens.
– Mas viverás para veres outras traições.
– Surgirá um dissimulado líder, barbudo, com bafo de 51 e língua presa.
Perdeu um dedo – não na tortura. Era muito “amigo dos homens”. Só amigo?
“Confidente” do finado Tuma (diretor do DOPS)?
É cria do Golbery e dos gorilas. Detesta leitura. Disse que sua mãe nasceu analfabeta.
Ele se acha muito esperto, mas é uma besta!– complementa
– É o anticristo? – indago.
–Um deles!
– Enganará muita gente por ter “vindo de baixo”, e criará um partido para nenhum Maquiavel botar defeito!
– Adora banqueiros e dá migalhas para o povão crédulo.
–Na universidade, o energúmeno terá adoradores! – arremata o profeta.
Alguns dirão: desta vez, o signatário destas mal traçadas linhas, pegou pesado!
E o que “eles” fizeram com o país foi leve?
Freud samba na Felipe.
Marx berra nos altos da Conselheiro Mafra: “Operários de todo mundo, dispersai-vos!”
Bipolar: gangorra mental: de manhã, celebro, à noite, desmorono.
Maria quer andar de roda-gigante, ir ao circo, tomar um banho de mar no Bom Abrigo.
Quem me levará ao cemitério das Três Pontes?
(Me enterrem com a bandeira do Avaí, junto àqueles que o poder não corrompeu.)
Não há cova por que o poder corrompeu a todos?
Para o limbo eu não vou: já fui batizado.
Para o inferno também não: enfrentei a ditadura e o PT.
Quero ir para o céu: Ideli aportou em Santa Catarina – é calvário.
(Salvai-nos, Jesus!)
O Canga, o Mosquito e o Celso, proporão ao papa a minha beatificação.
Santo Vieira: padroeiro dos estóicos!
Quem sabe, o Amilcar ou o Nei escrevam uma crônica!
Por favor, coloquem na lápide: “Aqui jaz um pobre homem do Desterro – ‘menino’ até o fim, que muito amou a Ilha.”
(Salvador, maio de 2011)
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