30.5.11

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Duas vezes Emanuel

As Novas Cartas Baianas e
os demônios da depressão


Com fotos da
Ponta do Sambaqui
(30.5.2011)
Por Celso Martins





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Sindicalistas
Novas Cartas Baianas

QUEM MATOU
PAULO COLOMBIANO
E CATARINAGALINDO?


Por Emanuel Medeiros Vieira

(Uma recompensa de R$10mil oferecida pela família das vítimas.

Um crime não desvendado, envolvendo um dirigente do poderoso Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários da Bahia e de sua esposa, secretária do PCdoB.

Porque as investigações não vão para frente? Quais os interesses em jogo?

Querem proteger os mandantes de um duplo homicídio?)

Paulo Roberto Colombiano era diretor-tesoureiro do sindicato, e sua mulher, Catarina Ascensão Galindo, militante e secretária do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Ambos tinham 53 anos,quando em 29 de junho de2010, foram assassinados na Rua Teixeira de Barros, no bairro de Brotas, um dos maiores e mais populosos de Salvador – um lugar de classe média, muito conhecido.

Comparando –- para situar os leitores que não conhecem Salvador ou as suas especificidades –, é como se um duplo assassinato fosse cometido na Trindade, no começo da noite.

O casal foi mortos por volta das 19h30, quando voltavam para casa.

Dois homens numa motocicleta abordaram o Kia Sportage de Colombiano, quando ele se aproximava de um quebra-molas e desferiram sete tiros no sindicalista e um na cabeça de sua esposa.

Às 20h45 o trânsito da área foi bloqueado.

A polícia iniciava as investigações para tentar desvendar um mistério que ainda não tem resposta.

Vai fazer um ano do duplo assassinato.

A polícia realmente investigou?

O que há por trás?

Quem quer que o assassinato seja esquecido?

Crime de mando? De quem?

Por que o alto escalão da Secretaria de Segurança do Estado da Bahia mantêm-se em silêncio?

A quem beneficia o esquecimento?

Em abril, rodoviários, familiares e amigos do casal fizeram uma manifestação em frente à Secretaria da Segurança Pública para que o crime fosse desvendado com mais rapidez.

Rapidez? Até agora, nada.

Insisto: interesses em jogo bloqueiam as investigações?

Enquanto o crime não é esclarecido, muros de diversas avenidas de Salvador, estampam uma pichação: “Quem matou Paulo Colombiano e Catarina Galindo?”

(Salvador, maio de 2011)

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Depressão
O DEMÔNIO DO MEIO DIA*

Por Emanuel Medeiros Vieira

OUVINDO BEETHOVEN - “SONATA AO LUAR”

(E sem respeitar as concordâncias verbais e sem pontuação)


Para a Cida e a Miriam – minhas irmãs e amigas –, com todo o carinho
“Os que atravessam os mares mudam seu firmamento, não sua alma.”
(Horácio – 65 a.C – 8 a.C)

De mansinho, sorrateira

sempre devagar – sempre

cupim, traça

Ela bate à porta

não é preguiça, não é desânimo

motosserra furando os ossos

o azul do céu não consola,

nem o “Livro de Jó”

é o Demônio do Meio Dia

melodramático – não, não vais chorar

frouxo, maricas

ah, meu pai

Ela – a Malvada – é herança não disputada pela família

não há tribunais

genética,

Ela, sempre ela – melancolia, depressão

assombra, não quer que saias da cama,

te levantas: rosto lavado, dentes escovados,

o pão com geléia, o leite quente, o café forte

ah, meu pai

sem apetite, sem libido

só se morre uma vez?

Pai (o outro, o Maior): se não havia respostas, por que tantas perguntas?

Pai: me abandonastes?

és menino

trapiche da Praia de Fora,Campo da Liga, Avaí,

rapaz

Parque da Redenção

jogo do Grêmio

fugindo dos cassetetes da polícia

“abaixo a ditadura”

o recurso do álcool, o faroeste de John Ford

o amor de tranças

ciclotímico, bipolar

maníaco: só quem passou sabe o que é isso

(dirão: “te anima”, baterão nos teus ombros, não entenderão, e oferecerão livros de auto-ajuda – nessas horas, só a solidão e um bom cobertor te ajudarão)

tarja preta ou banho de mar?

é tudo mentira: este poema

és apenas estuário, médium, sismógrafo

“que cara chato” – acorda, menino(a), vai à luta

a pipa,o mar, a mãe, morangos na grama,

(Precisamos aceitar que o destino deu a alguns de nós uma forte vulnerabilidade à depressão.)

Recordação de Rainer Maria Rilke (1875-1926): será a morte que carregamos na alma que outorga sabedoria?

Dá valor à existência?

Sorrateira – cupim

mas o sol está se abrindo*

“O Demônio do Meio Dia” – “Uma Anatomia da Depressão”, é o título de um livro de Andrew Salomon.

(Salvador, maio de 2011)








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