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A CRÔNICA DO VIKING
E O LABOR DA GRALHA
A CRÔNICA DO VIKING
E O LABOR DA GRALHA
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NUNCA MAIS
Por Olsen Jr.
Por Olsen Jr.
Estou em casa, tendo a minha frente à imensa varanda, e aos fundos, a Lagoa da Conceição. Fim de tarde, a placidez daquela água ali em frente me empresta uma sensação de paz. Estou pensando em como é bom ser brasileiro, catarinense, morar em Florianópolis, na Lagoa da Conceição, Avenida das Rendeiras, beco dos Poetas... Quando descubro que estou sentindo algo que nunca havia sentido, embora nada tenha mudado na minha vida nos últimos cinco anos, a não ser, claro, o que de fato me prostrou ali, como um exilado em minha própria terra, mas isso já passou, penso, ou deveria ter passado. Subitamente, uma sensação de que tenho uma casa, um lar, uma família, pô! Mas o que se passa? Lembro de Ortega Y Gasset - "no sabemos lo que nos pasa y eso es lo que pasa" - e tenho a consciência de que estou sendo enganado pelos meus próprios sentidos.
Alguma coisa mudou, sinto, é só isso, mas o que? De repente, meus olhos se detêm em uma cadeira solitária ali na varanda. Acredito, minha filha deve tê-la trazido enquanto lia o indefectível Stephen King (é duro competir com a "rapaziada" que detém a fórmula, o marketing e o monopólio do "gosto" universal, mas é a vida) e esqueceu-a ... não podia ser outra coisa. O fato é que a cadeira vazia num ângulo de 45 graus, voltada para a Lagoa da Conceição, como se alguém a tivesse abandonado recentemente, talvez, para buscar um café, um chá, ou simplesmente para ir a algum lugar com a intenção de voltar logo... Aquela cadeira estava fazendo toda a diferença. Nunca tinha percebido o quanto de "doméstico" tem uma cadeira sozinha numa varanda num final de tarde, é como diria o Sartre, é preciso que se repita de uma só vez "uma cadeira sozinha, numa varanda, num final de tarde, num domingo" poderia acrescentar-se na casa do "poeta" na Lagoa da Conceição... Mas é outra história, desgraçada de cadeira, tinha que me fazer lembrar que já tive uma casa, um lar, uma família... pô! Por que nós humanos temos essa coisa de "sermos" o somatório de nossas lembranças? Por que temos que carregar o "nosso" passado para onde vamos? Por que diabos uma desgraçada de uma cadeira sozinha numa varanda evoca toda uma vida? E por que tinha de ser comigo? Por que não é com aquele bestalhão que entra de moto aqui no beco todos os dias, fazendo barulho e acabando com a harmonia do dia? Talvez porque ele seja apenas um bestalhão... a noite vai tomando conta de tudo e continuo ali na varanda contemplando aquela cadeira, não tenho iniciativa para arredar o pé dali, sua presença já evocou toda a minha vida, o som do último CD de George Martin com as músicas dos Beatles me mantém ligado, a canção "Ticket to Ride" com as "Meninas de Petrópolis" alimenta a minha nostalgia. Fecho a porta porque já não suporto mais aquela viagem solitária. Desligo o som porque preciso me sentir, saber que existo, além daquele passado que não me abandona... Depois sinto baterem na vidraça ali na sala, aproximo-me com temor, estou no segundo andar, vejo um vulto escuro, parece uma ave negra, um bico insistente no vidro da janela... Penso em Edgar Allan Poe, na felicidade, e percebo um ruflar de asas e um grasnar repetindo... "Leonor" ou "never more!"
Alguma coisa mudou, sinto, é só isso, mas o que? De repente, meus olhos se detêm em uma cadeira solitária ali na varanda. Acredito, minha filha deve tê-la trazido enquanto lia o indefectível Stephen King (é duro competir com a "rapaziada" que detém a fórmula, o marketing e o monopólio do "gosto" universal, mas é a vida) e esqueceu-a ... não podia ser outra coisa. O fato é que a cadeira vazia num ângulo de 45 graus, voltada para a Lagoa da Conceição, como se alguém a tivesse abandonado recentemente, talvez, para buscar um café, um chá, ou simplesmente para ir a algum lugar com a intenção de voltar logo... Aquela cadeira estava fazendo toda a diferença. Nunca tinha percebido o quanto de "doméstico" tem uma cadeira sozinha numa varanda num final de tarde, é como diria o Sartre, é preciso que se repita de uma só vez "uma cadeira sozinha, numa varanda, num final de tarde, num domingo" poderia acrescentar-se na casa do "poeta" na Lagoa da Conceição... Mas é outra história, desgraçada de cadeira, tinha que me fazer lembrar que já tive uma casa, um lar, uma família... pô! Por que nós humanos temos essa coisa de "sermos" o somatório de nossas lembranças? Por que temos que carregar o "nosso" passado para onde vamos? Por que diabos uma desgraçada de uma cadeira sozinha numa varanda evoca toda uma vida? E por que tinha de ser comigo? Por que não é com aquele bestalhão que entra de moto aqui no beco todos os dias, fazendo barulho e acabando com a harmonia do dia? Talvez porque ele seja apenas um bestalhão... a noite vai tomando conta de tudo e continuo ali na varanda contemplando aquela cadeira, não tenho iniciativa para arredar o pé dali, sua presença já evocou toda a minha vida, o som do último CD de George Martin com as músicas dos Beatles me mantém ligado, a canção "Ticket to Ride" com as "Meninas de Petrópolis" alimenta a minha nostalgia. Fecho a porta porque já não suporto mais aquela viagem solitária. Desligo o som porque preciso me sentir, saber que existo, além daquele passado que não me abandona... Depois sinto baterem na vidraça ali na sala, aproximo-me com temor, estou no segundo andar, vejo um vulto escuro, parece uma ave negra, um bico insistente no vidro da janela... Penso em Edgar Allan Poe, na felicidade, e percebo um ruflar de asas e um grasnar repetindo... "Leonor" ou "never more!"
Sobre “Without You”
A música é esta “Without You”, do Badfinger (Peter Ham e Tom Evans), na interpretação mais intimista, altamente emocional num crescente, de Harry Nilsson...
Em 1966 o jovem compositor Harry Nilson já tinha músicas interpretadas por Fred Astaire,
Yardbirds e também pela banda americana The Monkees...
Também fez várias trilhas para filmes, na televisão e cinema. Destaque para “Midnight Cowboy” com “Everybody’s Talkin” (1969).
Quando os Beatles lançaram em 1968 a “Apple Corp.” John Lennon
foi instigado em uma entrevista a citar o seu artista americano favorito e não hesitou, disse logo Harry Nilsson...
Na mesma entrevista, Paul McCartney quando indagado sobre qual era sua banda americana favorita, afirmou: Harry Nilsson...
A interpretação de Nilsson nesta música lhe rendeu o segundo
Grammy Award considerado o Melhor Vocal Pop por “ Whitout You”, de 1972. (Por Olsen Jr.)
A música é esta “Without You”, do Badfinger (Peter Ham e Tom Evans), na interpretação mais intimista, altamente emocional num crescente, de Harry Nilsson...
Em 1966 o jovem compositor Harry Nilson já tinha músicas interpretadas por Fred Astaire,
Yardbirds e também pela banda americana The Monkees...
Também fez várias trilhas para filmes, na televisão e cinema. Destaque para “Midnight Cowboy” com “Everybody’s Talkin” (1969).
Quando os Beatles lançaram em 1968 a “Apple Corp.” John Lennon
foi instigado em uma entrevista a citar o seu artista americano favorito e não hesitou, disse logo Harry Nilsson...
Na mesma entrevista, Paul McCartney quando indagado sobre qual era sua banda americana favorita, afirmou: Harry Nilsson...
A interpretação de Nilsson nesta música lhe rendeu o segundo
Grammy Award considerado o Melhor Vocal Pop por “ Whitout You”, de 1972. (Por Olsen Jr.)
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O labor das gralhas
Outubro chega e as gralhas-azuis começam a preparar seus ninhos para a reprodução. Os galhos são escolhidos com paciência, quebrados e levados até as copas das árvores.
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