13.11.11

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T R A B A L H I S M O

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No túmulo de Marighella

Por Emanuel Medeiros Vieira


Irani-SC. Novembro de 2011. Foto: Celso Martins

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T R A B A L H I S M O

Por Emanuel Medeiros Vieira


Para Paulão (Paulo Roberto Cardoso de Miranda), compadre, amigo, trabalhista digno, e para Bailon Taveira Vila Nova – que faz parte dos quadros honrados do PDT


OS “PAIS FUNDADORES” DO TRABALHISMO NÃO MERECIAM ISSO!

“Mais vale o pão da dignidade que o banquete da corrupção”.

A frase não é minha e pode soar pomposa como mais um lugar-comum.

Serei direto: Getúlio, Pasqualini, Jango, Brizola e os outros “pais fundadores” do trabalhismo não mereciam isso!

O PTB virou PDT, pelo maquiavelismo da senhora Ivete Vargas e do Dr. Golbery (que também “criou” o Pequeno Napoleão que chamam de Lula).

Mas muitos combatentes não desistiram e tentaram fazer do novo partido algo digno e merecedor de respeito.

A gula pelo poder, o deslumbramento, a corrupção interior de muitos quadros, levou o partido à base aliada do governo. O que essas pessoas queriam era só poder. “Queriam dar-se bem” – no sentido mais fisiológico da expressão – mesmo desonrando as tradições trabalhistas.

“Não se apaixonem pelo poder”, reivindicava Michel Foucault (1926-1984).

Não adiantou. Muitos quadros se apaixonaram por ele e venderam a alma ao diabo.

São geneticamente oportunistas, pelegos, incultos, analfabetos funcionais (não é força de expressão!) sem base teórica, e negaram as raízes do PTB original.

E chamavam o velho Joaquinzão de pelego...

Na cidade mítica de São Borja, Getúlio, Jango e Brizola devem estar se virando nos túmulos.

Sendo suave: ter um ministro como Carlos Lupi não enobrece qualquer partido.

Ele quis falar grosso, dar uma de machão de cabaré, e depois de receber um pito da ministra da Casa Civil por ordem da presidente, precisou pedir desculpas e dizer, da maneira mais infeliz (sórdida?): “Dilma, eu te amo”.

Só faltou gritar, como os malandros do morro: “Está tudo dominado”.

Vergonha!

Como disse alguém, virou prática na Esplanada dos Ministérios, a montagem de balcões de propina para cobrar “pedágio” das empresas que assinam contratos com o governo.

“É uma corrupção desenfreada que, quando o dinheiro público não vai direto para o bolso de ministros e assessores, acaba parando no caixa dois do partido”, reiterou outro.

No Congresso, há 100 projetos engavetados que combatem a corrupção.

Minha filha Clarice nasceu em Brasília e é um exemplo de dignidade e cultura (perdoem a corujice de pai, mas é verdade). Lucas, outro filho, também veio ao mundo na capital.

Eles não merecem isso! Nem as outras pessoas de bem que trabalham da maneira mais digna.

Outros também honram a (ex) chamada “capital da esperança” – assim chamada por André Malraux.

E o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) lava as mãos no “Plano Pilatus”. Por onde anda? Não fala nada? Seu vão narcisismo não permite que ele tome posições autênticas.

Se houvesse dignidade e não apenas sede de poder, o ministro Carlos Lupi pediria demissão.

Não, não vai pedir.

Não. Há pessoas que amam as sinecuras.

E para as novas gerações, sobram o desencanto e a carência de utopias.

Termino com o Padre Antônio Vieira: “Mais afronta o cortejo de um adulador do que a bofetada de um inimigo.”

(Salvador, novembro de 2011)

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MARIGHELLA2

NO TÚMULO DE MARIGHELLA



Por Emanuel Medeiros Vieira


“Quando se perde o respeito pela verdade, nem que
seja só um pouco, tudo se torna duvidoso.” (
Santo Agostinho)


“Os que atravessam os mares mudam se
firmamento, não sua alma.” (
Horácio)


Faz 42 anos (em 5 de novembro de 1969) que Carlos Marighella (1911-1969) foi executado pela ditadura, numa emboscada das forças repressoras do regime militar.

Baiano de Salvador, ele está enterrado no Cemitério Quinta dos Lázaros.

Na cidade em que nasceu, foram abertas as comemorações pelo centenário de nascimento do guerrilheiro, numa cerimônia que reuniu familiares, amigos e ex-presos políticos em torno de seu túmulo.

Flores foram depositadas na urna em cuja lápide de mármore – desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer – está escrito: “Não tive tempo de ter medo.”

Mesmo que alguém possa discordar de seus métodos, não se pode questionar sua enorme coragem e seu idealismo – a devoção à causa.

Não podemos esquecer que vivíamos o período mais duro e repressor da ditadura.

Seu filho, Carlos Augusto Marighella, também ex-preso político, defendeu o tombamento do túmulo como patrimônio da municipalidade.

Peço que seja lido com atenção o trecho abaixo.

Na cerimônia, foi realizado um protesto contra a corrupção, feito por um homem que se identificou apenas como “um combatente político”.

Após depositar uma sobre o túmulo de Carlos Marighella, ele pediu “perdão” ao ex-guerrilheiro por muitos dos que lutaram a seu lado, e que, estando hoje no poder, “envergonham a sua memória e a sua luta.”

Posso repetir: ENVERGONHAM A SUA MEMÓRIA E A SUA LUTA.

Imagino Marighella, remexendo-se no túmulo e pensando no legado de sua luta, com os orlandos (Silva), os agnelos (Queiroz) e tantos outros. Ele não merecia.

Ao contrário dele, quase toda essa gente- – diversamente do que reivindicou Michel Foucault (1926-1984) – ele não se apaixonou pelo poder. Ou melhor – não vendeu a sua alma, em troca da pecúnia e da corrupção *.

*Algumas informações deste texto foram retiradas de matéria
da jornalista Patrícia França, publicada em jornal de Salvador.


(Salvador, novembro de 2011)


Irani-SC. Novembro de 2011. Foto: Celso Martins

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