CONFIRA
Sobre negócios e revoltas
Por Amílcar Neves e
Emanuel Medeiros Vieira
Sobre negócios e revoltas
Por Amílcar Neves e
Emanuel Medeiros Vieira
*
Combate do Irani,
início do Contestado
início do Contestado
Iniciamos a publicação de uma série de seis “Crônicas do Irani” discutindo alguns momentos do Combate de 1912 no Banhado Grande do Irani, marco inicial da Guerra do Contestado.
Não se trata de (mais) uma compilação de informações publicadas em outras fontes. As bases da série são 30 entrevistas com antigos moradores do Meio Oeste catarinense e do Sudoeste do Paraná, um depoimento do Sr. Antônio Martins Fabrício das Neves ao Museu Histórico de Concórdia e o Processo do Irani (518 páginas) cedido pelo professor Paulo Pinheiro Machado (UFSC).
O uso destas fontes levou à construção de outra “história” do Combate do Irani, revelando personagens quase absolutamente desconhecidos e ausentes da historiografia do Contestado, e os elementos motivadores: a luta pela terra e não por questões de limites entre Santa Catarina e Paraná.
Não se trata de (mais) uma compilação de informações publicadas em outras fontes. As bases da série são 30 entrevistas com antigos moradores do Meio Oeste catarinense e do Sudoeste do Paraná, um depoimento do Sr. Antônio Martins Fabrício das Neves ao Museu Histórico de Concórdia e o Processo do Irani (518 páginas) cedido pelo professor Paulo Pinheiro Machado (UFSC).
O uso destas fontes levou à construção de outra “história” do Combate do Irani, revelando personagens quase absolutamente desconhecidos e ausentes da historiografia do Contestado, e os elementos motivadores: a luta pela terra e não por questões de limites entre Santa Catarina e Paraná.
Grato
Celso Martins
celsodasilveira@gmail.com
*
A Revolta dos Búzios (1)
Novas Cartas Baianas
A REVOLTA DOS BÚZIOS
(OU REVOLTA DOS
ALFAIATES) NA BAHIA
Por Emanuel Medeiros Vieira*
Novas Cartas Baianas
A REVOLTA DOS BÚZIOS
(OU REVOLTA DOS
ALFAIATES) NA BAHIA
Por Emanuel Medeiros Vieira*
Na madrugada de 12 de agosto de 1798, as ruas de Salvador foram tomadas por cartazes que diziam: “Está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade, tempo em que todos seremos iguais”.
Como registram os historiadores, era o início do movimento que entrou para a história como a Revolta dos Búzios (ou dos Alfaiates), tendo como bandeira cinco pontos principais: a Proclamação da República, a diminuição dos impostos, a abertura dos portos, o fim da escravidão e o aumento de salário de todos os trabalhadores.
A revolta foi esmagada.
Seus líderes principais – João de Deus, Lucas Dantas, Manuel Faustino e Luís das Virgens – foram delatados por antigos companheiros e condenados à morte.
A execução aconteceu em 8 de novembro de 1799, em plena Praça da Piedade – coração da cidade.
Exemplificando, é como tivesse ocorrido na Praça XV, em Florianópolis.
Segundo João Jorge Rodrigues, diretor do Olodum e mestre em direito público pela Universidade de Brasília (UnB), “a revolta dos Búzios é o primeiro movimento brasileiro que tem como pauta os direitos humanos. E essa história nos foi ocultada. Por isso, começamos a resgatar a importância desses homens que deram as vidas em nome da liberdade do Brasil. A Revolta dos Búzios foi um movimento que combatia todas as formas de opressão”.
A decisão em de homenagear os líderes do movimento é fruto de atividades organizadas nos últimos anos por entidades do movimento negro baiano.
Os líderes do movimento são lembrados durante o Mês da Consciência Negra, celebrado em novembro.
A presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.391, que inscreve o nome dos líderes da Revolta no livro dos heróis nacionais.
Os líderes do movimento são os primeiros baianos a compor o conjunto de nomes do Livro dos Heróis da Pátria.
Este livro faz o registro perpétuo do nome de “personalidades históricas ou grupos de brasileiros que tenham oferecido as vidas para a defesa da pátria, com excepcional dedicação e heroísmo.
Quem passa pela super-movimentada Praça da Piedade, em Salvador, talvez não perceba os quatros bustos de bronze com os nomes e uma breve biografia dos líderes da Revolta dos Búzios.
Eles foram instalados na mesma praça no qual eles foram decapitados.
São, merecidamente, credores de todas as homenagens.
Termino com um pensamento de Tancredo Neves: “O povo é a substância da república, como prova a raiz latina da palavra. A República deve, pois, ser o compromisso fundamental do Estado para a solução dos problemas do povo.”
Como registram os historiadores, era o início do movimento que entrou para a história como a Revolta dos Búzios (ou dos Alfaiates), tendo como bandeira cinco pontos principais: a Proclamação da República, a diminuição dos impostos, a abertura dos portos, o fim da escravidão e o aumento de salário de todos os trabalhadores.
A revolta foi esmagada.
Seus líderes principais – João de Deus, Lucas Dantas, Manuel Faustino e Luís das Virgens – foram delatados por antigos companheiros e condenados à morte.
A execução aconteceu em 8 de novembro de 1799, em plena Praça da Piedade – coração da cidade.
Exemplificando, é como tivesse ocorrido na Praça XV, em Florianópolis.
Segundo João Jorge Rodrigues, diretor do Olodum e mestre em direito público pela Universidade de Brasília (UnB), “a revolta dos Búzios é o primeiro movimento brasileiro que tem como pauta os direitos humanos. E essa história nos foi ocultada. Por isso, começamos a resgatar a importância desses homens que deram as vidas em nome da liberdade do Brasil. A Revolta dos Búzios foi um movimento que combatia todas as formas de opressão”.
A decisão em de homenagear os líderes do movimento é fruto de atividades organizadas nos últimos anos por entidades do movimento negro baiano.
Os líderes do movimento são lembrados durante o Mês da Consciência Negra, celebrado em novembro.
A presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.391, que inscreve o nome dos líderes da Revolta no livro dos heróis nacionais.
Os líderes do movimento são os primeiros baianos a compor o conjunto de nomes do Livro dos Heróis da Pátria.
Este livro faz o registro perpétuo do nome de “personalidades históricas ou grupos de brasileiros que tenham oferecido as vidas para a defesa da pátria, com excepcional dedicação e heroísmo.
Quem passa pela super-movimentada Praça da Piedade, em Salvador, talvez não perceba os quatros bustos de bronze com os nomes e uma breve biografia dos líderes da Revolta dos Búzios.
Eles foram instalados na mesma praça no qual eles foram decapitados.
São, merecidamente, credores de todas as homenagens.
Termino com um pensamento de Tancredo Neves: “O povo é a substância da república, como prova a raiz latina da palavra. A República deve, pois, ser o compromisso fundamental do Estado para a solução dos problemas do povo.”
*(Algumas informações colhidas para a redação deste texto foram extraídas de matéria de Maíra Azevedo, publicada em jornal de Salvador).
(Salvador, novembro de 2011)
*
Rede de negócios
(l u c r a t i v o s)
Por Amílcar Neves*
Rede de negócios
(l u c r a t i v o s)
Por Amílcar Neves*
Sejamos francos: o título aí desta crônica é uma lamentável redundância, um desnecessário pleonasmo, uma detestável tautologia. Obra, possivelmente, de algum abominável homem das Neves. Perdão: das neves. Afinal, pode-de perfeitamente admitir a existência de negócios, mais ou menos pequenos, que sejam deficitários. Quando isto acontece, o que sucede? O dono ou os sócios mudam de negócio, não ficam, idiotas, bancando um prejuízo que não acabará jamais.
Decorre daí a verdade cristalina que, se o negócio não é bom, ou não se revelou bom na prática, ninguém pensará em expandi-lo em rede, multiplicando as perdas pelo número de locais de atuação. A menos que se trate - aí sim! - de uma lavanderia, da fachada conveniente para "legalizar" dinheiro escuso, para "esquentar" a grana polpuda (caixas dois incluídos) da contravenção, do crime, da sonegação e colocá-lo a circular. Nestes casos, o prejuízo é excelente negócio, altamente lucrativo. Fora isso, não.
Portanto, por definição, qualquer negócio em rede sempre será lucrativo.
Mas por que cargas d'água, afinal, esta longa introdução que já comeu metade do espaço disponível?
Porque a imprensa sai por aí a denunciar um sujeito que tinha uma ONG e pôs-se a negociar com ministros, senadores e até deputados. Aquelas coisas que os governos deveriam fazer e não fazem passam a ser feitas por organizações não governamentais, as tais ONGs, as quais podem arrecadar recursos da iniciativa privada mas também podem assinar opulentos convênios com os governos, que não fazem as coisas que deveriam fazer e pagam para ONGs executarem as tarefas. Dizem que muitas vezes esse dinheirão todo, que ninguém fiscaliza, some sem que se possa dizer onde foi parar.
Pois o tal sujeito da ONG acima (ONG acima não é o nome da ONG) foi tirar visto num consulado dos Estados Unidos e a mulher, funcionária pública à beira da aposentadoria, dura, seca e com cara de poucos amigos, apesar das ordens vindas de cima para aliviar com o pessoal da terrinha porque brasileiro está levando muito dinheiro para eles e eles precisam que cada vez mais brasileiros embarquem para Orlando e gastem lá uma bela de uma grana, ativo de que estão muito necessitados por conta da crise que vivem, perguntou-lhe a profissão.
- Ôngster - ele disse.
- Gângster?! - ela foi à loucura. - Já temos os nossos por lá, e são suficientes para o gasto. Não permitimos concorrência desleal, que vai tirar empregos e renda do nosso Cidadão!
Ele teve que explicar, sob olhares ameaçadores, que não era nada disso, tratava-se apenas do fato de que ele é dono de uma rede de ONGs de todos os tipos, profissões de fé e objetivos que se possam imaginar, desde a ONG da preservação dos jacarés do Rio do Sertão e a ONG do levantamento e guarda de toda a documentação histórica dos Osórios até ONGs pela valorização da saúde, da educação, da cultura e da segurança, passando por ONGs em defesa dos mangues e das águas, contra o desmatamento e a favor do florestamento (que consiste, ele esclareceu, em propugnar pelo confinamento nas florestas de toda e qualquer pessoa que tenha traços de sangue índio nas veias a fim de abrir espaço nas cidades para os não índios), sem contar uma HONG, quer dizer, uma holding das ONGs todas, senão ninguém segura a barra. Ressabiada, a mulher quis saber o seu hobby predileto.
- Quando estou muito tenso, dou-me ao luxo de me ausentar dos negócios e saio a abater ministros. De vez em quando derrubo um espécimen.
Decorre daí a verdade cristalina que, se o negócio não é bom, ou não se revelou bom na prática, ninguém pensará em expandi-lo em rede, multiplicando as perdas pelo número de locais de atuação. A menos que se trate - aí sim! - de uma lavanderia, da fachada conveniente para "legalizar" dinheiro escuso, para "esquentar" a grana polpuda (caixas dois incluídos) da contravenção, do crime, da sonegação e colocá-lo a circular. Nestes casos, o prejuízo é excelente negócio, altamente lucrativo. Fora isso, não.
Portanto, por definição, qualquer negócio em rede sempre será lucrativo.
Mas por que cargas d'água, afinal, esta longa introdução que já comeu metade do espaço disponível?
Porque a imprensa sai por aí a denunciar um sujeito que tinha uma ONG e pôs-se a negociar com ministros, senadores e até deputados. Aquelas coisas que os governos deveriam fazer e não fazem passam a ser feitas por organizações não governamentais, as tais ONGs, as quais podem arrecadar recursos da iniciativa privada mas também podem assinar opulentos convênios com os governos, que não fazem as coisas que deveriam fazer e pagam para ONGs executarem as tarefas. Dizem que muitas vezes esse dinheirão todo, que ninguém fiscaliza, some sem que se possa dizer onde foi parar.
Pois o tal sujeito da ONG acima (ONG acima não é o nome da ONG) foi tirar visto num consulado dos Estados Unidos e a mulher, funcionária pública à beira da aposentadoria, dura, seca e com cara de poucos amigos, apesar das ordens vindas de cima para aliviar com o pessoal da terrinha porque brasileiro está levando muito dinheiro para eles e eles precisam que cada vez mais brasileiros embarquem para Orlando e gastem lá uma bela de uma grana, ativo de que estão muito necessitados por conta da crise que vivem, perguntou-lhe a profissão.
- Ôngster - ele disse.
- Gângster?! - ela foi à loucura. - Já temos os nossos por lá, e são suficientes para o gasto. Não permitimos concorrência desleal, que vai tirar empregos e renda do nosso Cidadão!
Ele teve que explicar, sob olhares ameaçadores, que não era nada disso, tratava-se apenas do fato de que ele é dono de uma rede de ONGs de todos os tipos, profissões de fé e objetivos que se possam imaginar, desde a ONG da preservação dos jacarés do Rio do Sertão e a ONG do levantamento e guarda de toda a documentação histórica dos Osórios até ONGs pela valorização da saúde, da educação, da cultura e da segurança, passando por ONGs em defesa dos mangues e das águas, contra o desmatamento e a favor do florestamento (que consiste, ele esclareceu, em propugnar pelo confinamento nas florestas de toda e qualquer pessoa que tenha traços de sangue índio nas veias a fim de abrir espaço nas cidades para os não índios), sem contar uma HONG, quer dizer, uma holding das ONGs todas, senão ninguém segura a barra. Ressabiada, a mulher quis saber o seu hobby predileto.
- Quando estou muito tenso, dou-me ao luxo de me ausentar dos negócios e saio a abater ministros. De vez em quando derrubo um espécimen.
*Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. Em 26.09.2011 foi eleito em primeiro turno, com 24 votos de 29 possíveis, para a Cadeira nº 32 da Academia Catarinense de Letras. Crônica publicada na edição de hoje (16.11) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário