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Baía Norte de Florianópolis. Foto: Celso Martins (29.10.2011)


C H A M A

Por EMANUEL MEDEIROS VIEIRA


“Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?” (Mário Quintana)


Havia um Professor Xavier

(era meu pai)

Havia Nenê – a mãe

Luiz, com seus olhos azuis – meu irmão,

Chico Barriga D’Água – maltrapilho, embriagado – entoando melancólicas melodias na gaita de boca

Quintais, parreirais, goiabeiras, fogão de lenha, pão feito em casa, tainha frita.

Havia Curvina, bravo, com seu machado.

“Seu nome é seu Domingos, dizia papai, que não gostava de apelidos.

E todos passavam lá em casa – não só um prato de comida: uma conversa, um afeto.

Antúrios, samambaias, prova de Matemática, o avião que matou nossos políticos em 1958.

Marcelo: já não poderemos mais acampar, andar de bicicleta, rir, éramos tão amigos, ir à Lagoinha.

Também já não estás aqui, e passeamos tanto pela velha Ilha.

É só memória – e memória.

Novamente nostálgico?
É mais que isso: não aspiro à perfeição, mas a plenitude.

João discursa.

Pepe: nossas conversas foram interrompidas, como as caminhadas, mas ainda escuto tua risada.

Giocondinha: a última cerveja ficará para depois.

Alfredo David: aquela casinha azul e branca (que tanto amavas) na Lagoinha da Ponta das Canas, ainda existe, mas a praia foi invadida, nada mais é como antes – nós também.

Mas o mar ainda me abençoa,

E o olvido não apagará essa emoção – essa memória, na manhã que nasce (dia sendo fundado), o canto de um pássaro, a gaivota no mar , um menino e um velho – dois laços além do pó que serei.

(Salvador, novembro de 2011)

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito lindo. Muito triste.