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C H A M A
Por EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
“Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?” (Mário Quintana)
Havia um Professor Xavier
(era meu pai)
Havia Nenê – a mãe
Luiz, com seus olhos azuis – meu irmão,
Chico Barriga D’Água – maltrapilho, embriagado – entoando melancólicas melodias na gaita de boca
Quintais, parreirais, goiabeiras, fogão de lenha, pão feito em casa, tainha frita.
Havia Curvina, bravo, com seu machado.
“Seu nome é seu Domingos, dizia papai, que não gostava de apelidos.
E todos passavam lá em casa – não só um prato de comida: uma conversa, um afeto.
Antúrios, samambaias, prova de Matemática, o avião que matou nossos políticos em 1958.
Marcelo: já não poderemos mais acampar, andar de bicicleta, rir, éramos tão amigos, ir à Lagoinha.
Também já não estás aqui, e passeamos tanto pela velha Ilha.
É só memória – e memória.
Novamente nostálgico?
É mais que isso: não aspiro à perfeição, mas a plenitude.
João discursa.
Pepe: nossas conversas foram interrompidas, como as caminhadas, mas ainda escuto tua risada.
Giocondinha: a última cerveja ficará para depois.
Alfredo David: aquela casinha azul e branca (que tanto amavas) na Lagoinha da Ponta das Canas, ainda existe, mas a praia foi invadida, nada mais é como antes – nós também.
Mas o mar ainda me abençoa,
E o olvido não apagará essa emoção – essa memória, na manhã que nasce (dia sendo fundado), o canto de um pássaro, a gaivota no mar , um menino e um velho – dois laços além do pó que serei.
(era meu pai)
Havia Nenê – a mãe
Luiz, com seus olhos azuis – meu irmão,
Chico Barriga D’Água – maltrapilho, embriagado – entoando melancólicas melodias na gaita de boca
Quintais, parreirais, goiabeiras, fogão de lenha, pão feito em casa, tainha frita.
Havia Curvina, bravo, com seu machado.
“Seu nome é seu Domingos, dizia papai, que não gostava de apelidos.
E todos passavam lá em casa – não só um prato de comida: uma conversa, um afeto.
Antúrios, samambaias, prova de Matemática, o avião que matou nossos políticos em 1958.
Marcelo: já não poderemos mais acampar, andar de bicicleta, rir, éramos tão amigos, ir à Lagoinha.
Também já não estás aqui, e passeamos tanto pela velha Ilha.
É só memória – e memória.
Novamente nostálgico?
É mais que isso: não aspiro à perfeição, mas a plenitude.
João discursa.
Pepe: nossas conversas foram interrompidas, como as caminhadas, mas ainda escuto tua risada.
Giocondinha: a última cerveja ficará para depois.
Alfredo David: aquela casinha azul e branca (que tanto amavas) na Lagoinha da Ponta das Canas, ainda existe, mas a praia foi invadida, nada mais é como antes – nós também.
Mas o mar ainda me abençoa,
E o olvido não apagará essa emoção – essa memória, na manhã que nasce (dia sendo fundado), o canto de um pássaro, a gaivota no mar , um menino e um velho – dois laços além do pó que serei.
(Salvador, novembro de 2011)
Um comentário:
Muito lindo. Muito triste.
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