24.10.10

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O Estaleiro OSX e a quebra
do modelo sócio-econômico

Em busca da galinha
dos ovos de ouro


Mais: UFSC debate a ditadura



Por Celso Martins

Antônio Lara Ribas foi autor do primeiro plano turístico de Florianópolis, elaborado a pedido do governador Celso Ramos para ser incluído no Plano de Metas do Governo (Plameg).

Escreveu: "Uma observação, mesmo superficial, nos convencerá de que não só a sua situação geográfica é privilegiada, mas a excelência do seu clima, a enorme variedade de acidentes topográficos e o seu majestoso conjunto hidrográfico representam argumentos irretorquíveis, que nos animam a oferecer esta modesta contribuição ao povo florianopolitano, para que possa ele ter no turismo segura e promissora fonte de recursos".

Lara Ribas destacava que para o bom êxito do empreendimento turístico era de "suma importância que a população local ofereça condições de receptividade, sobretudo aos visitantes estrangeiros, de forma que eles se sintam à vontade e confiantes na hospitalidade que se lhes oferece".


Valores paisagísticos

Paulo Fernando Lago analisa a gênese na atividade turística na cidade em seu clássico Santa Catarina - A transformação dos espaços geográficos. A década de 1970, escreveu, foi "decisiva para a definição do modelo do crescimento de Florianópolis, com o afloramento de novas forças ordenadoras da forma e intensidade do uso do solo". A "visão antecipadora da valorização de ambientes costeiros é perfeitamente demonstrada pela estratégia de pessoas e empresários locais, que foram adquirindo grandes glebas para posteriores loteamentos direcionados, inicialmente, para as planícies setentrionais da Ilha". Foi o tempo da "caça de ilhas e promontórios".

Nos órgãos públicos, por esse tempo, "desenvolviam-se idéias sobre as estratégias de aceleração de uma tendência perfeitamente avaliável, quando se examinava o avanço da 'frente de ocupação turística', das praias riograndenses em direção Norte". Surgem os primeiros loteamentos no Norte da Ilha (Jurerê, Daniela). Nos anos 1970 a tendência se consolida. "A crença no turismo redentor foi, inicialmente, um pacto social, um consensoi, a proclamação da necessidade do desfrute de valores paisagísticos que não tinham significado de mercado". Ou seja, "a proposta de turismo ganhou credibilidade, sensibilizando ainda mais a esfera política na condução de investimentos públicos em campos infra-estruturais, atraindo setores empresariais, internos e externos, representativos do grande capital e, também, cativando os pequenos investimentos".


Matéria-prima

Segundo Lago, "a sinfonia do turismo redentor foi orquestrada pelo Poder Público e tocada por muitos instrumentistas, agarrados às partituras que permitiam melódica evocação das belezas naturais", resume. Em redor da orquestra, "a sociedade formava um coro monumental, e de todas as gargantas, dos pedreiros, carpinteiros, professores universitários, mecânicos, hoteleiros, médicos, comerciantes, juizes e proprietários fundiários, os acordes se ajustavam na alquimia e, ao mesmo tempo, aplaudiam a mais decidida interferência do poder público, na direção das infra-estruturas".

No final de 1981 surgiu o Plano de Desenvolvimento Turístico do Aglomerado Urbano de Florianópolis, elaborado pelo Instituto de Planejamento de Florianópolis. (IPUF) Visava "orientar as entidades públicas e particulares atuantes" na região da Capital.

No item 10, Estratégia de Marketing, lemos que o plano de marketing terá efeito a longo prazo, "porém isto só terá sentido se a matéria-prima do turismo for preservada". A combinação das "belezas naturais situadas nas proximidades da cidade possui um valor turístico especial, concedendo à Ilha de Santa Catarina uma vantagem na concorrência com os demais lugares de paisagens e praias bonitas do Brasil".


“Ilha dos Sonhos”

"A vocação natural da cidade de Florianópolis é, sem dúvida nenhuma, o turismo", afirma o editorial da revista Florianópolis - Um Pólo Turístico (1989/1990), assinada pelo empresário Fernando Marcondes de Mattos. A publicação foi editada pela Fundação Pró-Turismo de Florianópolis (Protur), visando "divulgar o turismo do município", entidade presidida pelo próprio Marcondes de Mattos, tendo como vice o empresário Alaor Tissot.

"Florianópolis, a capital do estado, é o centro do turismo de verão", onde o "espírito açoriano, herdado dos imigrantes que povoaram a região há 250 anos, personaliza a Ilha". Ou seja, "os barcos de pesca, as rendeiras, o folclore, a culinária, a arquitetura colonial e fortalezas históricas qualificam o turismo e atraem recursos que compensam a falta de indústria de porte". As afirmações estão em um folheto de meados dos anos 90 do século passado, editado pela Santur e pelo Governo do Estado. Com o título Florianópolis, Ilha dos sonhos, anuncia a existência de "vilarejos envoltos em tradição e história", como Santo Antônio de Lisboa e Ribeirão da Ilha, e praias de "águas calmas e boa infra-estrutura", como Jurerê, Canasvieiras e Ingleses", as mais procuradas pelos argentinos.


Vai um x-salada?

Os esforços para consolidar esse perfil são muitos e vamos citar alguns.

Documento da Diretoria de Desenvolvimento Econômico/Governo do Estado, de julho de 1997, intitulado Por que Santa Catarina e voltado a investidores externos, assegura: "A pesca, sobretudo a artesanal, tem presença marcante na formação da economia regional [litoral catarinense], tendo o turismo se consolidado como a atividade mais importante".

Nos dias 27 e 28 de janeiro de 1999, a Protur e o Convention Bureau de Florianópolis organizam o Seminário estratégico da área de eventos de Florianópolis, visando "aumentar o nível de sinergia entre as entidades ligadas à área de eventos" na Capital. São alguns dos esforços visando a quebra da sazonalidade do turismo com a ampliação do setor de eventos. Por outro lado, os organizadores do seminário "O planejamento e a imagem das cidades turísticas: grandes transformações urbanas", realizado no mesmo ano, buscavam criar instrumentos para habilitar o setor turístico local de olho na "concorrência global".

O setor empresarial de Florianópolis que apóia a implantação do Estaleiro OSX, fazendo vista grossa aos danos ambientais irreversíveis, se interessa pela viabilização de um porto turístico. O projeto havia sido abandonado devido aos altos custos com a dragagem de um canal para o acesso das embarcações. Como parte do canal poderá ser dragada pela OSX, o empreendimento se tornaria viável. O projeto cria uma contradição profunda, pois querem misturar navios de cruzeiros com plataformas de petróleo e petroleiros num mesmo espaço.

Resta indagar sobre o que esses turistas vão apreciar na cidade, já que não poderão andarde escuna pelas fortalezas e a Baía dos Golfinhos ou percorrer os trechos restantes de nossas praias, que estarão cobertos de piche. E mais: o que vamos oferecer no jantar? Camarão branco, filé de pescada, ostras e mariscos das nossas baías, ou congeladas postas de salmão e merlusa importadas? Bem, restará a alternativa de levar todos para uma visita às dependências do Estaleiro OSX, onde poderão partilhar um x-salada com seus gerentes e diretores.

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Seminário na UFSC
reúne especialistas
para discutir ditadura


Começa nesta segunda-feira (25.10) o Seminário Direito e Ditadura – PET Direito, prosseguindo até o dia 29 (sexta-feira) no auditório do Fórum do Norte da Ilha localizado no campus UFSC (bairro da Trindade), junto ao Centro de Ciências Jurídicas. Os trabalhos começam às 17 horas com o credenciamento dos participanres, seguido de abertura oficial. O primeiro palestrante será o historiador Carlos Fico, abordando o tema 1964 e ditadura militar: versões e controvérsias, à partir das 18h30, tendo como debatedor o historiador Alexandre Busko Valim (UFSC).

Ás 20h começa a intervenção do jurista João Luiz Duboc Pinaud, sobre o tema Geração Mutilada, tendo como debatedora a senhora Gertrud Mayr. mãe do desaparecido político catarinense Frederico Eduardo Mayr.

Mais informações aqui.

Um comentário:

Afonso Coutinho de Azevedo disse...

Celso,
Parabéns por esta análise de extrema licidez em relação a todo esforço de se fazer do turismo a vocação de Florianópolis e de nosso belissimo Estado de santa Catarina. Querem rasgar tudo que que planejaram, escreveram e assinaram sobre a vocação turistica de Florianópolis.
Como os políticos e os empresários são levados apenas por cifrõe$, e não cumprem o que prometem, relembro tão falado WTTC - World Travel & Tourism Council - ocorrido em Florianópolis no mês de maio/2009 onde concluiram que o TURISMO EM SANTA CATARINA TEM GRANDE POTENCIAL DE CRESCIMENTO.
Sugiro aos "político" e aos "empresarios" sem compromisso com a sociedade a comeram mais ostras e peixes de em Santo Antonio. Quem sabe não recuperam suas "fracas" memórias.
Um grande abraço.
Afonso Coutinho de Azevedo