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M I S T I F I C A Ç Õ E S
M I S T I F I C A Ç Õ E S
Por Amílcar Neves**
Era para ser apenas uma eleição presidencial. Muitos querem que seja uma guerra civil.
Uma eleição simples, tranquila, num segundo turno que contrasta dois candidatos com posições bem claras, pelo passado dos seus partidos e coligações, e fundamentalmente distintas. No entanto, quando se tiram as campanhas eleitorais das mãos de políticos hábeis (que ainda os há) e as entregam aos malabarismos criativos de publicitários, a tendência é que elas se assemelhem a embalagens de iogurte: vistosas, coloridas, parecidíssimas entre si - embora de marcas concorrentes - e com informações decisivas impressas em letras miúdas. E, todavia, as informações nutricionais são o que verdadeiramente importam para uma decisão ponderada e consciente.
Tem-se então o despropósito de vir alguém se declarar mais católico do que o outro, e de carregar a santa na procissão há muito mais tempo do que o outro, como se isso tivesse alguma importância para a escolha do(a) próximo(a) governante; como se um budista, no Brasil, estivesse eliminado a priori da disputa pela presidência exatamente por ser budista, como se um ateu, um judeu, um espírita ou um muçulmano não pudesse ser presidente.
Ou então traz-se à baila uma falsa discussão do aborto, como se a possibilidade de aborto, já prevista em lei, fosse uma imposição a todas as grávidas para abortar, algo como se a aprovação do casamento homossexual me obrigasse a separar-me da minha mulher para casar com o meu motorista e a ela, separada, juntar os panos com sua manicure.
O que se tem em disputa, mais do que Dilma contra Serra ou as sombras de Lula contra as de FHC, são concepções distintas e antagônicas de Estado: ou um governo presente, de cunho humanista, que apoie preferencialmente os seus cidadãos, dando-lhes condições de vida mais dignas (dito de esquerda), ou um governo mínimo (dito de direita) que entregue especialmente às grandes empresas a decisão sobre o que fazer - e como fazer - com as pessoas, acreditando que o mercado, como juiz eficaz, premiará os capazes e, aos outros... bem, os outros que se virem, certamente estão aí assim porque não aproveitaram as oportunidades que tiveram. Fora isso, o resto é perfumaria em embalagem cara, sofisticada e vazia.
Com o espírito maniqueísta que impera, não é de estranhar que uns se digam serem do bem - o que implica em dizer que os outros são do mal.
Uma eleição simples, tranquila, num segundo turno que contrasta dois candidatos com posições bem claras, pelo passado dos seus partidos e coligações, e fundamentalmente distintas. No entanto, quando se tiram as campanhas eleitorais das mãos de políticos hábeis (que ainda os há) e as entregam aos malabarismos criativos de publicitários, a tendência é que elas se assemelhem a embalagens de iogurte: vistosas, coloridas, parecidíssimas entre si - embora de marcas concorrentes - e com informações decisivas impressas em letras miúdas. E, todavia, as informações nutricionais são o que verdadeiramente importam para uma decisão ponderada e consciente.
Tem-se então o despropósito de vir alguém se declarar mais católico do que o outro, e de carregar a santa na procissão há muito mais tempo do que o outro, como se isso tivesse alguma importância para a escolha do(a) próximo(a) governante; como se um budista, no Brasil, estivesse eliminado a priori da disputa pela presidência exatamente por ser budista, como se um ateu, um judeu, um espírita ou um muçulmano não pudesse ser presidente.
Ou então traz-se à baila uma falsa discussão do aborto, como se a possibilidade de aborto, já prevista em lei, fosse uma imposição a todas as grávidas para abortar, algo como se a aprovação do casamento homossexual me obrigasse a separar-me da minha mulher para casar com o meu motorista e a ela, separada, juntar os panos com sua manicure.
O que se tem em disputa, mais do que Dilma contra Serra ou as sombras de Lula contra as de FHC, são concepções distintas e antagônicas de Estado: ou um governo presente, de cunho humanista, que apoie preferencialmente os seus cidadãos, dando-lhes condições de vida mais dignas (dito de esquerda), ou um governo mínimo (dito de direita) que entregue especialmente às grandes empresas a decisão sobre o que fazer - e como fazer - com as pessoas, acreditando que o mercado, como juiz eficaz, premiará os capazes e, aos outros... bem, os outros que se virem, certamente estão aí assim porque não aproveitaram as oportunidades que tiveram. Fora isso, o resto é perfumaria em embalagem cara, sofisticada e vazia.
Com o espírito maniqueísta que impera, não é de estranhar que uns se digam serem do bem - o que implica em dizer que os outros são do mal.
*O Sambaqui na Rede está autorizado a publicar os trabalhos de Pedro Alcantara.
**Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior. Crônica publicada na edição de hoje (26.10) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.
Um comentário:
sou seguidora do seu blog, e por isto mesmo gostaria de deixar um cotnraponto à opinião postada aqui, convido-o a visitar o meu blog, onde coloco as razões pelas quais não quero PT (tudo bem fundamentado com vídeos e textos):
http://moradadevenus.blogspot.com/
maniqueísta? acho que devemos pensar bem quem está sendo maniqueísta...
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