13.2.12

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UMA CIDADE DO INTERIOR

Por Olsen Jr.

Freqüentemente quando ouvimos alguém vindo de uma metrópole falar maravilhas das comidas servidas em restaurantes, do baixo custo dos táxis, das opções de lazer e não deixamos de lembrar que estas mesmas pessoas se referem aos pequenos povoados como “o fim do mundo”, ignora que nestas pequenas ilhas de mansidão também existe vida inteligente, lugares pitorescos e uma felicidade implícita que está longe de ser explicada e até atitudes coletivas recheadas de bom humor o que talvez explique a longevidade de seus habitantes.
Rio Negrinho, Norte do estado, o hotel fica numa colina, quem observa de longe, parece ver vários chalés geminados incrustados no mato, mas trata-se de uma construção única. A ilusão criada pelos telhados foi um artifício arquitetônico de grande efeito estético. O café da manhã traz a comida típica alemã, doces variados com salgados e embutidos feitos com o requinte da tecnologia austríaca, sem similar em qualquer outro lugar no Brasil que não ali.
Curioso, todos acordam cedo, a cidade ganha vida, embora alguns lugares, como a livraria que procuro só abrirem às nove horas. Não me apresso porque se pode estacionar o carro quase na frente de onde você precise ir. Não há a praga dos “flanelinhas” e nem o condicionamento das áreas azuis.
Vou até a barbearia, nunca esquecendo a máxima de George Burns “É uma pena que todas as pessoas que sabem como governar o país esteja ocupada dirigindo táxis ou cortando cabelos”. Parabenizo o proprietário pelos inúmeros troféus que ele ganhou expondo os seus pássaros em competições de canto; alguém com a revista Playboy comenta que a tal “mulher melancia” não está com nada, segundo o observador ela não tem o menor charme; fico sabendo que a polícia prendeu um fazendeiro que possuía várias armas sem registro, segundo se apurou, eram armas de coleção herdadas do seu pai, algumas do avô. Pergunto pelo filho, o coiffeur afirma que ele está em Curitiba trabalhando e fazendo cursos. Depois entra um sujeito de óculos escuro, barba bem feita e chama o cara de “meu amor”, observo pelo espelho e ele me dá uma piscadela, penso “era só o que me faltava”. Faço um sinal com a cabeça e o cidadão que está cortando o meu cabelo afirma “ele acha que tem um namorado”... Tudo bem, concordo, contando que não seja eu. Rimos. Quando saí, ainda não eram nove horas. Caminho pela calçada. Comparo os preços do que vejo com os mesmos produtos na minha cidade. É assustadora a diferença. Como somos esnobes, penso. Passa por mim alguém usando uma jaqueta esportiva da Ferrari. Mais adiante observo uma criança e uma mulher, ambas trajando o mesmo modelo de jaqueta, era o automobilismo unindo as pessoas.
Almoço num bistrô, poucas mesas, comida executiva e está tocando jazz. O proprietário parece um clone do cantor Willie Nelson.
De volta ao hotel, encontro mais três pessoas vestindo as tais jaquetas. Imagino que a escuderia italiana tenha virado mania. Estava frio e o recepcionista avisa que já irão acender a lareira. Anexo, um bar em estilo inglês com banquetas altas de couro e um salão com mesas de madeira maciça e cadeiras medievais lembrando àquelas antigas adegas de castelos, bem ao gosto de um viking desgarrado.
Comento o caso das “jaquetas da Ferrari” para o copeiro, ele sorri e pensa que estou brincando. Somente quando me despedi, quatro horas depois, me explica que se tratava de uma liquidação numa loja do centro que só vendia aquilo à R$49,00 cada uma. Rimos e afirmei que não precisava ter se incomodado com a informação. Ele retrucou “devem ser made in Paraguai”... Saio imaginando: e quem é que está preocupado com isso?



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A MÚSICA





A música poderia ser esta, uma pequena animação, acho...
“The Good, The Bad, The Ugly”, de Sergio Leone com música composta por Ennio Morricone, compositor, arranjador e maestro italiano responsável por mais de 500 trilhas sonoras de filmes...
Em 2007 Morricone recebeu (das mãos do ator Clint Eastwood) um Oscar honorário “pelas suas magníficas e multifacetadas contribuições musicais ao cinema”...
Entre tantos, destaque para os westerns da “trilogia dos dólares”: “Fistfull of Dollars” (1964), “For a Few Dollars More” (1965) e “The Good, the Bad, the Ugly” (1966)… (Olsen Jr.)

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Fotos: Celso Martins

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