13.7.11

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AMÍLCAR NEVES E
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA



Entardeceres no Sambaqui. 11.7.2011. Fotos: Celso Martins

Então vejamos

Por Amílcar Neves*

A notícia é deprimente: "O desmatamento na Amazônia em maio aumentou 144,4% em relação ao mesmo mês de 2010. Foram 268 km² de área desmatada contra 109,6 km² no mesmo período do ano passado." Isso dá dois terços da Ilha de Santa Catarina (424,4 km² de superfície) só num mês de devastação. Mantida a média, serão sete ilhas e meia de floresta erradicada em um ano. Nuvens sobre a região, porém, permitiram que satélites observassem e comparassem menos da metade, apenas, de toda a Amazônia.
Mato Grosso, Pará e Rondônia têm sido os grandes campeões dessa corrida sinistra. Pará vai perder o posto assim que o estado for dividido em três. Tapajós e Carajás, maiores do que o Pará remanescente, vão incrementar esse ritmo alucinante, pois terão que construir, em suas capitais, muitos prédios públicos e privados a fim de abrigar os novos serviços indispensáveis às suas estruturas; e estender muitos quilômetros de asfalto a fim de unir entre si suas cidades perdidas no meio da mata; e emancipar dezenas de novos municípios a fim de supostamente melhor assistir aos seus sequiosos habitantes e, na verdade, criar mais prefeituras, secretarias, câmaras de vereadores e assessorias; e implantar muitas fazendas mais para a criação de gado e a plantação de grãos a fim de alimentar a sua gente e exportar o excedente, pois suas populações crescerão de maneira vertiginosa e famélica mas também exigirão renda e salário. "Precisamos progredir!", bradarão ufanosos, ufanistas, reclamando verbas federais sem fim, os governadores dos novos estados.
Se, depois disso, sobrar pouco espaço para a saudosa Floresta Amazônica, paciência!: o progresso vem mesmo a galope e nem pede passagem, atropela tudo o que se puser em seu caminho.
Pior ainda é que sobe a 60% o desperdício da madeira nativa da Amazônia, extraída de áreas de manejo autorizado ou por desmatamento ilegal: devido a um beneficiamento ineficiente, perde-se esse volume imenso que não chega à construção civil nem à fabricação de móveis.
Ruralistas e evangélicos, gente que costuma prezar ao extremo os seus respectivos negócios, altamente lucrativos, em regra relegando a último plano o interesse social e o bem coletivo, são os grandes impulsionadores da retalhação do Pará - para melhor dizimá-lo. Pouco importa a destruição da inestimável riqueza que é a diversidade biológica da Amazônia (mas também do Pantanal, da Mata Atlântica, do cerrado e da caatinga), o que é preciso é botar abaixo o que for possível de matagal confiando num suposto perdão que será, ou seria, concedido àqueles que desmataram antes da aprovação do novo Código Florestal Brasileiro. Daí a fúria incansável com que são tracionadas feito navalhas traiçoeiras grossas correntes presas a possantes tratores num arrasto impiedoso e indiscriminado, criminoso, como se árvores da floresta fossem tainhas no mar.
Temos culpa, aqui, e damos péssimo exemplo, quando permitimos a aprovação do malsinado Código Ambiental de Santa Catarina, que submete o meio ambiente ao interesse econômico, que compromete o futuro e a sobrevivência em nome de uma autonomia irresponsável, egoísta e imediatista. Aqueles que deveriam representar os interesses da população e lutar até o fim pelo bem comum, vendem-se a conveniências partidárias e, especialmente, a projetos personalistas - e, cada vez mais, deixam de lado o sentido figurado da palavra e vendem-se por dinheiro mesmo.
Há 30 anos já advertia Ignácio de Loyola Brandão: Não verás país nenhum.

*Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 1.7.2011, é candidato à Cadeira nº 32 da Academia Catarinense de Letras. Crônica publicada na edição de hoje (13.7) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.




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SÓRDIDO E IGNÓBIL
ATAQUE À UnB EM
MATÉRIA DE ESGOTO
DA DIREITA BRASILEIRA

Por Emanuel Medeiros Vieira

Para a minha filha Clarice, que com sensibilidade, garra e talento estudou na humanística e digna UnB
E em memória de Honestino Guimarães -asassinado pela ditadura militar

POR FAVOR, DIVULGUEM!

As ideias que gestaram a UnB são das mais generosas que a América do Sul já conheceu.
Era um sonho maior.
Mesmo interrompido pelo Golpe de 1964, ele não morreu.
E continua crescendo.
Da maneira mais sórdida, vil e ignóbil, em matéria escrita no esgoto da direita brasileira, pela revista "Veja" - cada vez mais reacionária, rancorosa, fundamentalista, beirando o fascismo - a universidade é atacada.
Em verdade, quem é atacado é o humanismo.
E a esperança
Os ratos não sabem conviver com o humanismo.
Os fascistas não querem a diminuição da desigualdade.
Só falta, a "Veja" berrar - como o general fascista na Guerra Civil Espanhola: "Abaixo, a inteligência! Viva a morte!"
Não me alongarei.
Doi ver que jovens jornalistas estão vendendo tão cedo as suas almas aos podres poderes, em troca de pecúnia ou de desonrosas intenções.

Quem me lê, conhece minhas viscerais diferenças em relação ao PT.
Condeno o partido por outros motivos e razões, como a negação dos princiípios republicanos.
É outra coisa.
Uma matéria contra a UnB é muito perigosa para quem desconhece sua história, ainda mais em tempos tão áridos, medíocres, individualistas e pós-utópicos.
(Brizola dizia que os fundadores da editora que publica a revista eram mafiosos fugidos da Itália.)
É preciso não se calar!
É preciso dizer não!
Reitero: disseminem a mensagem para mostrar que a UnB não está só. E que enfrentou períodos mais ásperos.

Salvador, jullho de 2011



Um comentário:

Júlio Gomes disse...

Fazia algum tempo em que eu não visitava o blog. Parabéns pelo teu ótimo trabalho, são verdadeiros cartões da ilha.