20.7.11

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Dividir para
dominar -
e destroçar


Por Amílcar Neves*

Coisas desta Ilha cosmopolita, tradição que vem desde sempre quando cansavam de passar por aqui navegantes do mundo inteiro, tradição que se manteve com o porto existente no Centro da cidade, tradição que prossegue mesmo depois que, por incrível que pareça, o porto foi aterrado: aqui se encontra gente de todos os lugares.

Na terça-feira passada a Regina Carvalho estava lançando na Academia da Cerveja o livro Gregório de Matos - Poemas, organizado por ela. No térreo do bar, encontro o Edir Vidal, amigo de longa data, que me apresenta à Angélica e ao Jorge, amigos seus que passavam uns dias no frio catarinense, num roteiro que incluiu os altos de Urubici. Paraenses, eles moram no Amapá, lá em cima, já no Hemisfério Norte, onde reina o verão.

Como me pareceu lógico, comentei que a coluna Contexto do DC do dia seguinte publicaria uma crônica minha tratando exatamente da pretendida divisão do Pará em três estados, com plebiscito marcado para dezembro próximo.

- É verdade - comentou o Jorge -, há vantagens e desvantagens nessa divisão. Só não sei ainda qual lado pesa mais.

- Com os novos estados - arrisquei - a destruição da floresta amazônica será acelerada.

- Destruição da floresta? - admirou-se a Angélica. - Mas isso já está acontecendo há muito tempo, com ou sem divisão.

Fiquei chocado: a destruição da floresta não parece ser um dado da questão, não conta como vantagem nem desvantagem, simplesmente é um fato que fica por conta do inevitável: fatalmente a floresta será destruída, ou está sendo francamente devastada, é o que eles me dizem, não há o que se fazer com relação a isso.

Assim, jogamos fora, por pura ganância das nossas elites, a riquíssima biodiversidade da floresta, nossa fábrica de oxigênio global e a valiosíssima e abundante água potável, fatores que nos garantiriam a sobrevivência e a supremacia mundial.

* * *

Não poderia deixar de fazer dois rápidos registros sobre fatos do último final de semana.

O primeiro refere-se ao profundo senso de solidariedade que une os povos do Brasil e da Argentina em todas as suas manifestações. Inclusive no futebol. No ano passado, caímos nas quartas de final da Copa do Mundo realizada na África do Sul: no dia 2 de julho perdemos para a Holanda por 2 a 1. No dia seguinte, solidários, mas exagerados, os argentinos também saem nas quartas, frente à Alemanha, tomando 4 a 0. No sábado agora, eles empatam com o Uruguai inclusive na prorrogação e são eliminados, nas quartas de final da Copa América que estão sediando, na decisão por pênaltis. No dia seguinte, solidários, mas exagerados, empatamos com o Paraguai e, na decisão, conseguimos errar os 4 pênaltis que batemos - aos guaranis foi suficiente marcar duas das três penalidades que cobraram. Terminamos em oitavo lugar numa competição com 12 seleções.

O outro registro é sobre jogadores brasileiros: no ano passado, o técnico Dunga, da Seleção, foi crucificado por não ter convocado Neymar, Pato, Ganso e outros bichos mais, nossos garotos de ouro, imbatíveis, novos Pelés que trariam a Taça pra casa. O técnico disse que os meninos ainda não estavam maduros para uma Copa, para a Seleção. Com a desclassificação, Dunga foi degolado por ter sido burro, teimoso e porque não trouxe o título. Agora, os três eram titulares e a Taça também não veio. Curiosamente, nenhum deles terminou a partida contra o Paraguai: foram todos substituídos, dois deles na prorrogação. Será que alguém já pediu desculpas ao Dunga?


*Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 1.7.2011, é candidato à Cadeira nº 32 da Academia Catarinense de Letras. Crônica publicada na edição de hoje (20.7) do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC). reprodução autorizada pelo autor.

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