14.7.11

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Troca-troca na SC 401
Loja no lugar de O Estado
e o DC onde estava a loja
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Especial: MARCELO, por
Emanuel Medeiros Vieira

Ostras nativas na orla. Foto: Celso Martins

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TROCA-TROCA NA SC 401



O prédio em que funcionou o jornal O Estado, nas margens da SC-401, está sendo transformado em uma loja da DellAnno. A guarita de entrada foi posta abaixo nesta quarta-feira (13.7). Outras pequenas modificações serão feitas, mas a estrutura original, ao que parece, será mantida.

Por outro lado, o imóvel na mesma SC 401 ocupado atualmente pela DellAnno, será adaptado para receber até o final do ano toda a estrutura do jornal Diário Catarinense, com cerca quase 800 funcionários. (Por Celso Martins, texto e fotos)


Fotos em 13.7.2011. Hoje de manhã (14.7) já não restava mais nada da antiga guarita, apenas os fantasmas do Aranha e do Sérgio.


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M A R C E L O

(Em memória do meu sobrinho, afilhado de Crisma e
querido amigo Marcelo Tadeu Vieira de Córdova)

Por Emanuel Medeiros Vieira


Querido Marcelo

Estava me lembrando de uns acampamentos que fizemos juntos.

De tantas andanças, peregrinações. Quanta coisa para contar!

Valerá apenas acumular? Acho que não.

Eu que lido, diariamente, com as palavras mal rompe a aurora, observo pela janela umas crianças brincando.

Já escrevi sobre tantos mortos amados e não sei mais o que podem significar as palavras.

Recordo dos nossos passeios de bicicleta. As idas à Lagoinha, aos Ingleses, à Imbituba, os passeios todos numa ilha (será a idade que me deixa mais nostálgico?) mais amorosa.

Ah, as viagens a Porto Alegre.

Quantas conversas! Muitos já escreveram sobre a tua partida.

Por mais que tente, racionalmente dizer, que a maturidade nos prepara mais para as perdas, sei que não é verdade, mas defesa, truque mental, mecanismo compensatório.

Acho que a gente nunca vai estar preparado plenamente para as perdas.

Quando contaram, não “quis acreditar!

Os tragos no “Roda Bar”, nos bares perto de ruas vividas por ti e a tua família: Alves de Brito, Rafael Bandeira, depois na Artista Bittencourt.

E em tantos outros lugares.

Ias ao Bom Abrigo, Chácara da Espanha e nas duas casas em que vivi na Lagoa, quando morei aí.

Marcelo, Marcelo.

Para mim, o que mais ficará? Não sei. Talvez o teu jeito solidário, prestativo, fraterno, aquela “contenção” que não camuflava o humanismo e a generosidade.

Me doi falar no passado.

Poderia cair em lugares-comuns. Não, não quero isso. Nos reencontraremos? Não sei, não sabemos. Ninguém voltou para contar.

Fica essa memória tão intensa.

E penso em ti, na tua família original, na formada, na Cassinha, no João, nas tuas irmãs Rosângela, Raquel e Mirinha. E nos teus filhos Enzo e Júlia.

Que buraco enorme sentem os vivos!

Que luto danado! Que sensação perturbadora!

O tempo nos ajudará? Sim. Mas a saudade sempre fica.

A vida não foi fácil, Marcelo?

Falemos francamente: ela nunca é.

Eu era um tio – mas te sentia mais como grande amigo.

Os que são teus contemporâneos poderão dizer outras palavras.

O s que vieram depois , também.

Ou antes, como eu, o tio Tadeu, de 1945...

Celebrações, bodas, cemitérios, festas, casamentos, separações. O que dá certo. O que não dá certo.

Que nos conhece verdadeiramente?

Conhecemos os outros?

Nossa meta não deve ser a perfeição, mas a plenitude.

Um indivíduo, na sua inteireza, não é sempre inatacável, sem culpa, puro, mas é aquele em que , não se sabe como, todos os aspectos foram integrados num ser total.

Meu amigo Marcelo foi assim.

Estou lendo um calhamaço de 734 páginas, “Fernando Pessoa – uma quase autobiografia”, de João Paulo Cavalcanti Filho.

Antes da tua passagem, já começara a ler.

E em muitos versos de Pessoa me lembrei de ti.

Queria te dedicar um livro.

“Ofereço-te este livro porque sei que ele é belo, inútil e absurdo. Que seja teu como a tua Hora”.

Palavras do heterônimo de Fernando Pessoa – Bernando Soares, no “Livro do desassossego”.

Eu sei: somos mil, tantos, múltiplos. E haverá para toda essa hora da Revelação.

Queria mais fundo, falar de outros acontecimentos vividos juntos, mas não consigo.

Paro, penso na família, olho novamente as crianças brincando – uma solta uma pipa, e um pássaro pousa na janela.

Alegrias, tristezas, decepções, depressões, esperanças.

Tudo passa.

Mas não esquecerei daquela sinuca numa tarde nos Ingleses, eu, tu e o César – sim, uma outra ilha, e éramos mais novos.

Teu papel foi cumprido.

O sobrinho e amigo alcançou aquilo que mais amo no ser humano: a generosidade e a compaixão

Farás muita falta. Estás fazendo.

Beija os teus avós por nós todos.

Abraça o Pepe, a Giocondinha, o Alfredo David, a Patrícia: os outros sobrinhos que já partiram. Pensando bem não é correto os sobrinhos irem antes dos tios, os filhos antes do pais. Dá um beijão na Cassinha e um abração no João Córdova, no Luiz, no José. Na Gioconda, na Rosa, no Pedro, na Ornilda. Em todos que já se “encantaram”.

A vida. Ela é.

Ah, naquele dia remoto na Lagoa, o Luiz te deu o carro para dirigires. Conhecias todas as marcas. Tinhas 14 anos (creio). Era dezembro de 1970.

Vou terminar com duas citações:

“Quando o fim chegar, deixarei a minha vida do mesmo modo, como se estivesse deixando uma hospedaria, e não o meu lar, porque penso que minha estada nesta vida é temporária. E que a morte é apenas uma mudança para outro estado.”

(Cícero – 106 a.C – 43. a.C)

“Tudo passa – sofrimento, dor, sangue, fome, peste. A espada também passará, mas as estrelas ainda permanecerão quando as sombras de nossa presença e nossos feitos se tiverem desvanecido da Terra. Não há homem que não saiba disso. Por que estão não voltamos nossos olhos para as estrelas? Por quê?”

(Mikhail Bulgakow (1891-1940).

Marcelo: um beijo no teu coração: do Tio Tadeu – também teu xará...

(Salvador, julho de 2011)

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