24.7.11

.

Sessão Olsen Jr.

A cigarra e
a formiga,
revisitadas

*
Nosso viking
na Academia


Gravura: François Chauveau (1613 – 1676)

*


NOSSO VIKING
NA ACADEMIA



Por Celso Martins

Dois frequentadores assíduos do Sambaqui na Rede pleiteiam vagas na Academia Catarinense de Letras (ACL): Amílcar Neves, cujas crônicas semanais são aqui reproduzidas, e que já se apresentou como candidato; e Olsen Jr., candidato a uma cadeira na ACL pela sexta vez, cuja "Carta aos Acadêmicos" reproduzimos aqui.

Apoiando integralmente o pleito de Amílcar Neves, chamo a atenção para o caso de Olsen Jr., preterido por periclitantes prados ocultos e quejandos sob argumentos pueris e obtusos, nunca claros, sempre obscuros.

É importante destacar que interessa o que está expresso no artigo 8º do Estatuto da ACL: "Poderá postular Cadeira de Membro Efetivo ou Perpétuo da Academia Catarinense de Letras qualquer pessoa de nacionalidade brasileira, de expressão no meio cultural do Estado, com livros publicados, que tenha tradição com a terra catarinense e comprove conhecida cultura literária". Tudo o que estiver fora dos parâmetros alinhados no artigo é picuinha, inveja, rancor e mágoa, sentimentos próprios dos arrenegados com a vida, a exaltação do viver, o olhar crítico e aguçado, a criatividade.

Formar grupinhos é difundir fidalguias de um dimanar anfibológico, eivados de importunidades, tão quanto ser o mecenas de uma Jônia imaginária. Devemos lembrar que no caldeirão elástico agregado sob o estro e iniciativa de José Boiteux e jovens intelectuais e literatos coevos, a ACL emergiu como instituição influente em diferentes momentos de sua trajetória desde 1922 quando soube representar a sombra e o fulgor, o odorífero e o inodoro.

Ou seja, a diversidade da produção cultural, o amplo leque das possibilidades, os diferentes olhares sobre um mesmo objeto, momento, personagem. Uma Academia de Letras onde só entram protegidos tende a se depauperar, a perder a gusa, a fibra, a capacidade de atração, o incitar permanente, o incitamento como preceito e o estímulo imperativo.

Tive o cuidado de olhar quem ocupa as cadeiras da ACL e verificar que, a maioria esmagadora, merece estar agatanhando a laca dos assentos com seus conjugados de glúteos.

Se Olsen Jr. não chegar agora, chegará noutra ocasião. O que não podem fazer é delongar um reconhecimento já existente da parte do público leitor. Tanto aqui no Sambaqui na Rede, quanto no Portal de Notícias Daqui na Rede, os escritos de Olsen são lidos, relidos e comentados. Assim como os de Emanuel Medeiros Vieira (mas aí já é outra história).

*


A CIGARRA E
A FORMIGA,
REVISITADAS


Por Olsen Jr.

Depois que se aprendeu a administrar impulsos, controlar emoções, absorver indelicadezas sem revidar, ser paciente com o aprendizado dos outros, tolerante com as deficiências ao redor e com as próprias, em suma, aceitar os seres vivos como eles foram feitos e como se formaram... Então começamos a tirar o melhor que a vida oferece porque isso é sabedoria, a súmula de uma existência.

Penso nisso enquanto ouço várias estultices vindas da mesa próxima. Percebo tudo como parte da vida... Por que “eles” deveriam estar conversando sobre o que eu gostaria de ouvir? E quem sugere que este meu silêncio também não pode estar causando constrangimento na mesa em que estão?

Estava me sentindo como a cigarra, duvidando da própria arte... Na fábula “A cigarra e a formiga”, em sua versão clássica.

Durante o ano, enquanto a formiga trabalhava, a cigarra cantava. Quando chegou o inverno, a cigarra foi pedir auxílio para a formiga. Esta indagou “o que você fez o tempo todo?”... “Eu cantei” responde a cigarra... “Então - responde a formiga – Pois agora, dance!”...

Aquela era a concepção obtusa do que deve ser o trabalho. A arte que não possui um sentido prático imediato nunca é considerada na visão mundana e faz o artista duvidar do “seu fazer” ou de que alguém prescinda de sua arte.

Mas o escritor Monteiro Lobato criou uma versão moderna para a mesma fábula.

Enquanto passavam a primavera, verão e outono a cigarra cantava e a formiga trabalhava como sempre. Quando chegou a estação do frio e do recolhimento, a cigarra foi pedir ajuda para a formiga. Esta indagou “o que você fez durante o ano?” e a formiga respondeu “Eu cantei o tempo todo”... E a formiga mostrando reconhecimento diz “então era você que nos alegrava durante o trabalho, que amenizava com o seu canto a dureza do dia-a-dia... Olha só, não acredito, tens toda a nossa admiração e carinho, pode entrar que vamos abrigá-la”...

Na condição de escritor nestes “Tristes Trópicos”, como diria Claude Lévi-Strauss, tinha passado boa parte da vida abraçando causas coletivas, os interesses sociais sempre em detrimento do universo particular do indivíduo, o bem estar do grupo e não de uma unidade de sua composição...

Os verões, as primaveras, os outonos e agora chega à vez dos invernos... E é este Ser que avança pelas ruas desertas das cidades vazias buscando um laivo de reconhecimento, de uma voz que o conforte, mesmo vinda das profundas entranhas do anonimato, basta apenas que num sussurro breve, mas honesto, diga com clareza: seja bem vindo em nosso meio, meu caro, porque você é um escritor, e um escritor sempre fará com que este nosso mundo seja melhor!





Nenhum comentário: