17.7.11

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UM MORTO QUE
VOLTOU À VIDA

Olsen Jr
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Santo Antônio
com neblina

Ensaio em 14.7.2011


Fotos: Celso Martins








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UM MORTO QUE
VOLTOU À VIDA


Por Olsen Jr.

(Para Eduardo, Sérgio e Ricardo da loja
“Aguiar Materiais de Construção” que
acompanharam esta desventura).


No meu tempo de guri quando alguém se envolvia em uma atividade fora de sua área profissional e não se dava bem, costumava-se justificar o fracasso com a frase “Quem mandou se meter de pato a ganso”.

Abstraindo o fato de termos dois jogadores na seleção brasileira que atendem por ambos os codinomes, o assunto aqui é outro.

É inverno, são 06h da manhã, estou no banho e ouço o estalo de que rompeu a resistência do chuveiro... Por experiências anteriores, sei que é tudo muito rápido. Num gesto mecânico jogo a cabeça para baixo da água e mal consigo remover a espuma e ela já está fria, depois foi no sacrifício mesmo.

Visito várias lojas antes de encontrar uma peça para reposição (ainda bem que alguns locais abrem aos domingos) e compro logo duas. Em casa, faço tudo como manda a técnica: desligo os disjuntores, substituo a peça queimada, deixo encher o bulbo de água e depois ligo o dito cujo. Não funciona. Abro tudo novamente e ponho ambas as mãos para ver se a resistência (com aquele carinho) resolve dar sinais de vida. Nada. Só então me dou conta que se estivesse funcionando mesmo eu estaria morto.

Volto até a loja, compro um chuveiro novo e ligo para o eletricista que me indicaram. Ele chega no horário combinado (deduzo que, com aquela pontualidade, não pode ser um nativo) e vou cuidar dos meus afazeres enquanto faz a troca do equipamento. Pouco tempo depois ele pede para eu ligar o disjuntor. Digo que está tudo ligado. Ele afirma que não, daí eu vou verificar... Para surpresa minha, de fato, estava desligado aquele que atendia ao chuveiro. Só então cai a ficha. Depois que troquei a resistência, por uma ação dos deuses que amparam os poetas e boêmios, inexplicavelmente, o disjuntor que era o do chuveiro ficou desligado. Comento com o eletricista e ele diz que sou um homem de sorte. Por outro lado, se na hora em que troquei a peça, o chuveiro estivesse funcionando eu não iria por as mãos lá dentro, mas também não iria pagar para ver. Pergunto como ele sabia que estava desligado, ele me mostra uma chave que mede a passagem da corrente elétrica, era um profissional...

Depois que ele foi embora, mais calmo, comecei a pensar em como a vida pode ser boa... Eu que já andava meio descrente... Altruisticamente vou perdoar aqui todas as pessoas para as quais emprestei dinheiro e nunca me devolveram (vocês não iriam devolver mesmo)... Porque “meus caros” a partir de hoje, já estou no lucro e, palavra de escoteiro, alô C. Ronald (o poeta ermitão, uma pessoa generosa, pena que nem todos o entendam, eu inclusive), mas preciso fazer uma confissão: de todos os males, é melhor viver, nem que seja em Biguaçu!



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