13.2.10

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O cronista Olsen

Olá, camaradas, salve!

Estou sem muito ânimo...

Tudo a ver, diria o velho amigo Horácio Braun, se aqui estivesse...

Fora das marchinhas de carnaval, tem quatro músicas que poderiam embalar a crônica aqui...

"A Marcha da Quarta-Feira de Cinzas", do Viniícius de Moraes e Carlos Lyra...

O Carlinhos Lyra, conheci no Rio, assunto para outro dia...

"Retalhos de Cetim", do Benito de Paula... Lembra o conto "A Morte da Porta Estandarte", do Anibal Machado...

"Felicidade", do Vinicius de Moraes e Tom Jobim, gravado pela Ella Fitzgerald...
Mas preferi Porta Estandarte*, do Geraldo Vandré...

Conheci o compositor, não deveria ter conhecido, mas conheci... Tem gente que é bom só imaginar, como fiz com o Vinícius, melhor assim... Guardamos as nossas decepções para coisas mais sérias e não para aqueles a quem devotamos admiração...



Vai, com o carinho de sempre, do poeta!

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DIÁRIO DA PROVYNCIA V

Por Olsen Jr.

olsenjr@matrix.com.br


C A R N A V A L

Desfile do Baiacu de Alguém. Santo Antônio de Lisboa (12.2.2010).

Todo o ano parece a mesma coisa, mas não é. Sim, tenho uma vaga lembrança de um carnaval em que, com menos de dez anos, saí fantasiado de chinês, junto com o meu irmão. Naquele tempo o lança-perfume era permitido e, com exceção de um ardor nas vistas porque um filho da mãe me borrifou a cara, não me lembro de outro efeito colateral.

Por que, chinês? A escolha não foi minha. Talvez, arrisco, para sair do lugar comum.

Fugir de um estereótipo criando outro. Paradoxal. Cretino. Ridículo.

Hoje, se tivesse a mesma energia, sairia de palhaço. Está certo, tem de ter talento para ser palhaço. O estereótipo novamente. Não me sinto engraçado e nem fazendo graça, mas não sei por que, tenho a sensação de que alguém está rindo... Tem sempre alguém rindo ali nos bastidores...

Está bem, moro em um lugar aonde as pessoas vêm passar as férias. Estou tão habituado que nem percebo mais. Quer dizer, deixei de me assombrar, aparentemente. Sei que não é verdade, mas preciso me atochar de heroísmo para manter tudo funcionando. Para parecer ser um cidadão normal – como diria o Raul Seixas - Sei como tudo funciona e isso é chato.

O trânsito flui dos dois lados, se por um acaso o fluxo parar porque alguém está manobrando o carro no meio da pista, sei que a placa do veículo é de São Paulo; se dois automóveis andarem no mesmo sentido, lado a lado, com alguém de um veículo conversando com o outro como se estivessem sozinhos na rua, os dois carros tem a placa do Rio de Janeiro; se houver uma fila quilométrica atrás de um carro à 20km/h, a placa é da Argentina; metade do carro em cima da calçada e aparentemente perdido, é baiano; parado no meio da pista e querendo uma informação, mas sem pressa, é mineiro; estacionado embaixo de uma árvore e procurando um lugar para fazer um fogo, é gaúcho; dois veículos parados com os porta-malas aberto e tocando músicas diferentes aporrinhando todo o mundo, é goiano... Os famosos agro-boys (ou será bois?) do cacete... Ah! Se a mulher estiver toda paramentada, como se fosse indo para uma festa, embora esteja na praia, com direito a jóias e tornozeleira, well, 100 contra um, é do Paraná, vai, de Curitiba...

Tristes Trópicos diria o Levi Strauss... Dura punição para quem mora no paraíso, digo eu...

A mulher que penso, saiu da capa de uma revista da moda, liga dizendo que está com saudades... Um dos filhos foi para uma praia, o outro saiu com os amigos para outra praia e o marido foi pescar... Puta que os pariu penso, o que está acontecendo com o mundo? Ninguém mais tem consciência do “estar aqui”... Lamento não possuir sensibilidade para este apelo (vai acento aí ou não?), mas gostaria de me apaixonar, palavra, gostaria mesmo... Pouca coisa me comove... Depois que tive a certeza de que não há saída (a não ser, como se dizia na época da estratocracia, o Galeão ou no caso aqui, o aeroporto Hercílio Luz)... A última vez que me enterneci, foi com a morte de um amigo do meu filho... Porque eles são jovens, a juventude me comove... Mas nós não conseguimos melhorar o mundo para eles, aliás, acredito que o pioramos...

Na Academia Catarinense de Letras, um desembargador aposentado forja o voto (de um acadêmico que não foi votar, não enviou o voto e nem poderia por estar como mal de Alzheimer), o cara faz isso depois de estar aposentado, imagine o que fez quando estava na ativa... A prefeitura de São José faz uma licitação para a decoração de carnaval de um clube, uma casa e um camarote... Dois dias antes de se abrir os envelopes, a “empresa” de um funcionário da mesma prefeitura já está trabalhando na área... Espera aí, os envelopes sequer foram abertos e já se sabe quem levou o “presente” superfaturado, para variar, foram R$280 mil desta vez... Como é que eu sei? Antes de ser escritor, sou jornalista...

Em qual patife vamos votar para presidente do País? Quero dizer, para governador do Estado? Digo, para prefeito? Não, para diretor do clube? ... Pô! Desculpem, estou me repetindo!


*Porta Estandarte. 1º lugar no Festival Nacional de MPB da TV Excelsior em 66, foi defendida pela cantora Tuca e por Airto Moreira. Esta é a versão de um dos seus autores: Geraldo Vandré.

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