Á g u a s
t u r v a s
t u r v a s
Por Amílcar Neves*
Assim como navegar em águas turvas: sabe-se que o perigo ronda a cada passo, isto é, a cada avanço, pois não há farol, não há sequer lua. Mesmo de dia a visibilidade do fundo, das ciladas submersas, perde-se apesar do sol esfuziante e da brisa refrescante, nada mais, o sol e a brisa, do que ardis para desviar a atenção, relaxar os cuidados, induzir à catástrofe.
No entanto, é necessário navegar, e há que ter perícia, competência e determinação para fazê-lo em águas turvas. Porque não te adiantam cartas náuticas, não te franqueiam mapas geográficos, não te apontam os acidentes geológicos, a alteração das marés e o trabalho dos ventos: apenas te advertem, genericamente, de perigos, riscos e adversidades que, por certo, hão de abater-se com fúria impiedosa sobre a tua cabeça. Estás avisada. Depois não reclames, não venhas com choros, ameaças e lamentações.
Só te falta dizerem: a vida é assim mesmo, não é não? Uma questão de mercado, afinal: se o povo quer telenovelas, por que insistir com novelas? Se busca a adulação da autoajuda, por que perturbá-lo com os prazeres elaborados do texto literário? Se ambiciona apenas ver, qual a lógica de teimar com o ler? Se deseja unicamente esperar o tempo passar, qual a graça de incomodá-lo com sofisticações e sutilezas? Por que não deixar as pessoas em paz, fazendo aquilo que estão há décadas acostumadas a fazer, ainda que seja isso nada mais do que fazer nada?
Assim como navegar em águas turvas é levar cultura para perto das pessoas. Estimule qualquer pessoa a ler (coisa que preste), coloque um livro (decente) em suas mãos, e ela... lerá. Descobrirá o prazer irreversível da literatura.
É isso o que faz a Barca dos Livros - uma biblioteca. Iniciativa privada (abnegada), é procuradíssima por muita gente da Lagoa da Conceição, da Costa da Lagoa, do Canto da Lagoa, do Rio Tavares. Gente que sai de longe, imaginem!, em busca de livro.
É uma vergonha uma cidade que não tenha uma biblioteca pública municipal em cada bairro - e querem nos enfiar mais vereadores na folha de pagamento. É uma vergonha não haver um único milionário nessa cidade que resolva bancar (com recursos próprios, pois incentivo fiscal é dinheiro público, nosso e não dele) um investimento social como a Barca.
A qual, teimosamente, navega em águas turvas. Prestes a ir a pique. Levando junto um bocado de gente: os seus usuários.
No entanto, é necessário navegar, e há que ter perícia, competência e determinação para fazê-lo em águas turvas. Porque não te adiantam cartas náuticas, não te franqueiam mapas geográficos, não te apontam os acidentes geológicos, a alteração das marés e o trabalho dos ventos: apenas te advertem, genericamente, de perigos, riscos e adversidades que, por certo, hão de abater-se com fúria impiedosa sobre a tua cabeça. Estás avisada. Depois não reclames, não venhas com choros, ameaças e lamentações.
Só te falta dizerem: a vida é assim mesmo, não é não? Uma questão de mercado, afinal: se o povo quer telenovelas, por que insistir com novelas? Se busca a adulação da autoajuda, por que perturbá-lo com os prazeres elaborados do texto literário? Se ambiciona apenas ver, qual a lógica de teimar com o ler? Se deseja unicamente esperar o tempo passar, qual a graça de incomodá-lo com sofisticações e sutilezas? Por que não deixar as pessoas em paz, fazendo aquilo que estão há décadas acostumadas a fazer, ainda que seja isso nada mais do que fazer nada?
Assim como navegar em águas turvas é levar cultura para perto das pessoas. Estimule qualquer pessoa a ler (coisa que preste), coloque um livro (decente) em suas mãos, e ela... lerá. Descobrirá o prazer irreversível da literatura.
É isso o que faz a Barca dos Livros - uma biblioteca. Iniciativa privada (abnegada), é procuradíssima por muita gente da Lagoa da Conceição, da Costa da Lagoa, do Canto da Lagoa, do Rio Tavares. Gente que sai de longe, imaginem!, em busca de livro.
É uma vergonha uma cidade que não tenha uma biblioteca pública municipal em cada bairro - e querem nos enfiar mais vereadores na folha de pagamento. É uma vergonha não haver um único milionário nessa cidade que resolva bancar (com recursos próprios, pois incentivo fiscal é dinheiro público, nosso e não dele) um investimento social como a Barca.
A qual, teimosamente, navega em águas turvas. Prestes a ir a pique. Levando junto um bocado de gente: os seus usuários.
*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (7.10.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (7.10.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
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