26.11.09

Depósitos & impressões


Por Amílcar Neves*

“A Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina continua no mesmo endereço, nos altos da Rua Tenente Silveira, no Centro da Capital, mas vai passar por uma mudança radical nos próximos 12 meses. (…) A antiga forma, sisuda, está sendo substituída por espaços mais atrativos, com sofás, poltronas, contação de histórias e outras atividades, mas sempre com o livro como o personagem principal. A revisão prevê reforma do prédio, busca de tecnologia para organização e conservação do acervo, e capacitação de pessoal.”

Com base em informações da Fundação Catarinense de Cultura, a que se subordina a instituição de 155 anos por falta de uma Secretaria de Cultura, as frases acima saem de matéria publicada por este Diário em 17 de setembro de 2008. Contêm, entretanto, um equívoco: o atual governo estadual deliberadamente retirara do nome da Biblioteca a expressão “do Estado”. Sintomático.

Transcorridos 14 meses desde então, a mesma Fundação comunica que “lançou na manhã desta sexta-feira, 20 de novembro, o edital do Concurso Público de Anteprojeto de Readequação e Arquitetura de Interiores para a Biblioteca Pública de Santa Catarina. Na mesma cerimônia foi lançada a licitação para aquisição de 26 aparelhos de ar condicionado para climatizar o edifício onde funciona a biblioteca e foram apresentados os dois projetos aprovados recentemente na Lei Rouanet, que representarão um investimento de mais de R$ 1,3 milhão na aquisição de equipamentos para digitalização, microfilmagem, restauro e guarda do acervo.”

Como capacitação de pessoal foi coisa que também não aconteceu, 14 meses passaram-se em vão para os nossos livros, jornais e revistas, estocados no que parece ser um depósito de papel velho entregue ao apetite de ratos, baratas, traças, cupins, fungos e micro-organismos e aos azares do clima, que são muitos. Dizem que de lá já sumiram os dois únicos exemplares que existiam do número 1 de O Catharinense, de 28 de julho de 1831, primeira folha publicada em Santa Catarina.

A impressão que dá é que, havendo interesse, nossos governantes, pequenos reizinhos absolutistas, arrumam dinheiro para tudo: um show internacional de fim de ano, um festival internacional de mágicos, um novo cartódromo. Se nada acontece nunca com a Biblioteca - que esteve a ponto de ser desativada por esse mesmo governo estadual - é porque não há interesse.


*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (26.11)
do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC)
Reprodução autorizada pelo autor.


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O todo e a parte

Por Murilo Silva

Infelizmente, como já esperado, o projeto de lei que transforma o zoneamento do complexo penitenciário de Florianópolis, foi aprovado, em segundo turno, na Câmara de Vereadores. Portanto, ocorrerá a mudança de Área de Preservação Limitada (APL) para Área de Comunitária Institucional (ACI), permitindo empreendimentos residenciais ou comerciais de até quatro andares, que poderão ser expandidos para alturas maiores, conforme a chamada transferência de índice de construção. E, conforme já dito, a empresa que vencer a licitação DARÁ ESMOLAS para a comunidade, como um campinho de futebol, cultura (?) e uma creche.

VEREADORES CONTRÁRIOS: Cabe aqui destacar e agradecer a postura dos vereadores João Antônio Heinzen Amin Helou; João Aurélio Valente Júnior; Renato Geske; e Ricardo Camargo Vieira. Estes votaram contra o projeto, que visa à privatização de quase todo o espaço.

VEREADOR DESTEMPERADO*: Em determinado momento, o vereador Márcio de Souza (que votou a favor do vergonhoso projeto), numa atitude destemperada, partiu em direção do vereador Dr. Ricardo, tentando agredi-lo, demonstrando não suportar a democracia. Antes disto, com um discurso confuso e contraditório, tentando justificar seu voto e rebater as vaias da "platéia", bateu boca com os que protestavam democraticamente, além de cometer difamação e calúnia.

QUEREMOS INTEIRO E NÃO PELA METADE!!!

Mas a luta não está perdida!!! A mudança de zoneamento prepara uma futura venda, é verdade, mas se a sociedade reagir, o processo pode ser revertido. Portanto, conto com todos, assim como o ERRO GRUPO já assumiu (não com uma performance programada, mas de comparecer e dar uma força), para estarem na próxima sexta-feira (27/11), das 17h às 19h, em frente à penitenciária, nos fundos do CIC. Queremos 100% da área pública para da cultura e do lazer.

* O vereador Márcio de Souza tem espaço garantido no Sambaqui na Rede para apresentar sua versão dos fatos.

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"Autoritarismo na Câmara"
Leia no blog do jornalista Carlos Damião.



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