10.2.11

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Três textos de
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA


Lembrando Prestes
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Saint Exupéry: Aviador por profissão,
escritor por vocação (e devoção)

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Paráfrase do padre Antônio Vieira

Foto: Celso Martins

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LEMBRANDO PRESTES

Arte de Uelinton Silva com foto de Celso Martins
(São Paulo, Teatro Ruth Escobar, 1980)

Por Emanuel Medeiros Vieira

Agildo Barata estava numa cela com Luiz Carlos Prestes, em 1945. Notou um opúsculo de capa verde. Na capa: “Pensamentos de Augusto Comte”. No interior: aforismas estóicos, que Prestes traduzia do grego para passar o tempo. E dizia que como a capa era de Comte, os milicos não iriam tomá-la.

Conclusão de Barata: quando penso em Prestes, penso sempre num livro de máximas estóicas e de capa positivista.

“Que sacada, hein”, interpreta o meu velho amigo Flávio Aguiar (desde 1962, no Colégio Anchieta, em Porto Alegre, companheiro da AP nos seus tempos românticos e heróicos), editor do boletim “Carta Maior”, e que agora vive em Berlim.

Quando me lembro de Berlim me emociono: é que a conheci antes da queda do Muro, e lá varei noites conversando com Luiz Travassos, tomando muito vinho. existente.

Eu, ele e o também saudoso Alberto Albuquerque - a neve caindo - caminhávamos até perto do Muro.

Ele lá exilado. Eu fugido da “ditabranda”, segundo a Folha.

Voltando ao líder comunista: quando penso em Prestes penso mais num pensamento granítico e positivista de um homem íntegro, profundamente digno (às vezes equivocado, mas nunca desonroso).

Por exemplo: sua aliança (“Constituinte com Getúlio”) com Getúlio Vargas (que o deixaria muitos anos preso nas mãos do perverso Filinto Miller) foi um erro ou uma necessidade naquele momento, em função de um projeto político maior?

Em termos éticos não se justifica. Foi Filinto quem entregou Olga, a mulher de Prestes, para a Gestapo.

Sim, para a Gestapo.

Prestes era mais positivista que comunista. Estou equivocado?

David Nasser escreveu um livro chamado “Falta Alguém em Nuremberg”.

Esse alguém era Filinto “carrasco” Miller, que foi presidente da ARENA, o “maior partido do Ocidente”, segundo o inesquecível Francelino Pereira.

Francelino foi quem fez a nunca respondida indagação: “Que país é esse?”

Lembrando: a polícia política do Estado Novo (1937-1945), chefiada por Filinto Miller, arrancou com torquês um dente de Carlos Marighella.

Marighella, segundo o juízo insuspeito de Jarbas Passarinho (que fez a célebre proclamação no dia da promulgação do AI-5, 13 de dezembro de 1968: “às favas com os escrúpulos, Senhor Presidente”), teria sido o homem mais corajoso que existiu no Brasil no enfrentamento da tortura.

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Saint Exupéry:
Aviador por profissão,

escritor por vocação

(e devoção)


Por Emanuel Medeiros Vieira

Antoine de Saint Exupéry (1900-1944) deve estar no vasto Mediterrâneo. Nunca acharam o corpo deste aviador por profissão e escritor por vocação (e devoção).

Não importa. Ele é do mar e de todos nós.

O grande Antoine um dia desceu em Florianópolis – na Ilha de Santa Catarina –, no Campeche (felizmente, antes de sua favelização).

Não, não é, como muitos pensam, um escritor das misses que, com suas curtas massas encefálicas, nunca o entenderam. É maior. Leiam o final de “Terra dos Homens”, na tradução de Rubem Braga.

Traduzi trechos do livro de Saint Éxupery.

Mas a versão do maior cronista brasileiro de todos os tempos é perfeita.

Leiam: “O que me atormenta, as sopas populares não remedeiam. O que me atormenta não são essas faces escavadas nem essas feiúras. É Mozart assassinado, um pouco, em cada um desses homens. Só o Espírito, soprando sobre a argila, pode criar o homem.”

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PARÁFRASE
DO PADRE

ANTÔNIO VIEIRA


Por Emanuel Medeiros Vieira

O ladrão que furta para comer não vai para o
inferno, mas para a cadeia.

Os outros, de maior calibre, furtam sem temor nem
perigo.

Os elevados, furtam e enforcam.

Os que roubam e despojam povos – e esperanças –
recebem comendas e prebendas.

São promovidos, enaltecidos, empregam a prole,
festejam e são festejados – e sorriem.

O anônimo rouba um homem.

O maior – íntimo dos palácios – rouba cidades e reinos.

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