20.2.11

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LUIS ALBERTO WARAT

Fonte da imagem: Blog Recortes Críticos

Por Olsen Jr.

Morreu em Buenos Aires no dia 12 de dezembro de 2010 o escritor, pensador, filósofo e professor Luis Alberto Warat, argentino de nascimento, brasileiro por adoção.

Nunca abandonou o sotaque que lhe emprestava charme e que não o impediu de amar o país (que também o adotou) algumas mulheres, o carnaval, a comida farta e essa liberdade anárquica capaz de transformar todo o comportamento ortodoxo em uma heresia.

Começou lecionando Teoria Geral do Direito, depois criou outras disciplinas, Direito e Ecologia Política, Direito e Psicanálise, Cinesofia e Direito... Estava à frente do seu tempo. Ele internacionalizou o quanto pôde o CPGD – Curso de Pós-Graduação em Direito da UFSC.

As cadeiras optativas que disponibilizava no mestrado eram disputadas porque na condição de Mestre, aglutinava, conseguia coletivizar a sua paixão por tudo em que se envolvesse.

Costumava encontrá-lo na Livraria Catarinense, na Rua Tiradentes ainda, de onde saía invariavelmente sobraçado de livros.

Lembro de um seminário sobre Roland Barthes, os livros “Fragmentos de um Discurso Amoroso” (a peça com Antônio Fagundes estava em cartaz no CIC) e “A Câmara Clara”... De repente todo um grupo de mestrandos estava cultuando o Barthes, mas também a linguística, Saussure, Lacan, Derrida, Bordieu, Castoriadis, Backtin, Foucault, Lefort, sem desurar do bom e velho Kelsen , Freud, e os escritores Umberto Eco, Cortazar, Jorge Amado, Artaud, Roberto Da Matta, Clarice Lispector, Edgar Morin e até Muniz Sodré.

Warat era um mundo em ebulição permanente. Gostava de dar suas aulas, verdadeiras trocas de informações em bares, no velho estilo sartriano. Filmes também, se ajudassem. Lembro do “Blade Runner, O Caçador de Andróides”, após a exibição, o jantar que se seguiu, surpreendo o Mestre lavando um prato, ensaboava lentamente o dito com a mão direita enquanto o cigarro pendia no canto da boca, na foto clássica do Camus, a cinza se avolumando e a agonia nos expectadores, enfim, deixa tudo, pega o pacote de pão próximo, deixa os pães na mesa, e começa a escrever na embalagem a ideia que lhe ocorrera enquanto passava detergente na louça. Coisa de louco. Não ocorreu a ninguém perguntar sobre o texto, sequer sobre a ideia, mas foi registrada.

Não seguiu “escolas”, detestava os padrões, apostava no amor, fazia pouco da carnavalização do direito e lembrava os versos finais do poema “Cântigo Negro”, de José Régio “Não sei para onde vou, não sei para onde vou --- Sei que não vou por aí!”

Com cerca de 40 obras escritas professor Warat foi o mais próximo do gênio que conheci em alguém que se diz humano. A Universidade através do CPGD lhe deve uma despedida digna.

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