18.2.11

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Vultos do Tempo

Por Carlos Miguel Torres

No início da semana, como faço todas as segundas-feiras, visito as livrarias do Centro de Florianópolis, para saber das últimas novidades de lançamentos de livros. Até aí, tudo bem, não fosse um caso inusitado que aconteceu comigo. Estava folheando um exemplar do romance “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marques, obra esta que li pela primeira vez em 1975, em espanhol, quando um senhor aproximou-se de mim e disse: “você não é aquele barbudo que distribuía panfletos contra a ditadura militar na década de 1970?” Eu, meio sem jeito, disse que sim, que muitas vezes fazia esse trabalho, como forma de combater o regime militar. Perguntei-lhe então como se lembrou do fato, uma vez que já faz tanto tempo, e ele respondeu-me que o panfleto que mais chamou a sua atenção foi sobre a ditadura Franquista, na Espanha.

Interessante: ele revelou que na época trabalhava numa repartição pública federal, no centro, e que apoiava o governo. Pegava o ônibus todos os dias, e que, a partir da leitura do panfleto, começou a questionar o governo militar, votando no MDB, e com o decorrer do tempo, passou a se interessar pela leitura de obras de escritores de esquerda. Para minha surpresa, disse que acompanhou a nossa campanha para Prefeito do município de São José, em 1988, pela PCB – Partido Comunista Brasileiro. Trocamos mais algumas ideias e o referido senhor se despediu e saiu caminhando lentamente, como se fosse um personagem da história que veio me fazer uma visita de cortesia.

Chamei os arquivos de longa duração da minha memória, e eis que me veio um fato que talvez seja esse que o tal cidadão se referiu: em 1975, em plena ditadura militar, ao lermos a página sobre política internacional do jornal O Estado, que informava o assassinato de cinco estudantes espanhóis, através do sistema medieval do garrote vil, juntamente com o militante comunista, Sérgio Uliano, redigimos uma nota e distribuímos nos pontos de ônibus da Capital.

Lembro-me perfeitamente que as pessoas davam uma olhada na nota e guardavam para ler em casa. Outras, questionavam sobre democracia e ditadura, e, ali mesmo, no ponto de ônibus, fazíamos uma pequena reunião mostrando o significado da palavra ditadura. Para a época que vivíamos, anos de chumbo no Brasil, entregar uma nota de protesto contra o assassinato de militantes que defendiam a derrubada do General Francisco Franco, era considerado coisa de subversivo.

Tentei correr atrás das pegadas daquele senhor, para conhecer melhor a sua trajetória, mas não consegui, ele se misturou aos transeuntes do calçadão da Felipe Schmidt, carregando com ele alguns pontos da nossa história. Nesse momento percebi que está na hora de alguém escrever sobre a época da ditadura militar em Santa Catarina, não só no contexto político, como também sobre as consequências na vida das pessoas. Como a ditadura influenciou no dia-a-dia dos catarinenses e, principalmente, dos florianopolitanos. Acredito sinceramente que há muita história que está perdida na névoa do tempo que precisa ser contada.

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A G E N D A

Baiacu de Alguém
Pré-Carnaval
Avant Première

Dia 26 de fevereiro, 20h30, na sede do bloco, em Santo Antônio de Lisboa. Presença da Banda Carnavalesca do Baiacu, formada pelos seguintes: Fidel Pinero (trumpete), Pedro Pereira (sax tenor), Ney Platt (sax alto), Elói Mello (guitarra), Rafael (violão de sete), Marcelo Frias (bateria), Julio e Jane (vocais), Guima e Denilson (percussão).

Ingressos a R$15,00 (com a camiseta do Baiacu 2011, que podem ser adquiridas na hora, R$5,00).

Agenda da bateria

Segunda e quarta, das 20 às 23 horas (ensaio técnico).

Sexta, das 20 às 23 horas (ensaio normal, seguido de roda de samba).

Tem comes e bebes no local. Entrada é gratuita.

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