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Emanuel Medeiros Vieira
em dois textos inéditos
Emanuel Medeiros Vieira
em dois textos inéditos
SABER LER
A maior parte das imagens que circulam hoje são frutos de um impulso econômico, para criar produtos e mercados de consumo, não para celebrar o espírito humano ou para aprendermos mais ou sermos melhores.
É pura e simplesmente para fazer mais dinheiro.
Então, neste sistema, se você lê profundamente uma imagem publicitária, você a destrói, como diz Alberto Manguel.
A publicidade – é claro que não digno nada de novo – é feita para “convencer”, manipular as emoções mais primárias e, muitas vezes, para enganar.
E para tapear um povo prostrado e sem cultura não é difícil.
Vejam as tantas igrejas (o super-mercado universal da fé), os tantos políticos, os tantos bingos camuflados, os tantos sindicalistas, os tantos banqueiros, os tantos usineiros, os tantos grileiros, os tantos marqueteiros: todos impunes. Enfim, é o reino da trambicagem.
Então – seguindo as pegadas do autor citado – é fundamental que possamos novamente recuperar a dignidade humana de ler imagens para buscar as verdadeiras, para voltarmos a ser criaturas da memória.
Precisamos “saber ler”.
Sabendo ler, aprendemos com as gerações passadas e com a nossa própria.
O que quero dizer?
Uma mulher não é solitária porque não usa o sabonete tal, o perfume daquela marca. Não vai ser “amada”’ se usar aquele jeans.
O sorriso da “felicidade plena” (que você obterá se conseguir tal produto) é pura enganação. Todos os carros são maravilhosos, cada banco é melhor do que o outro.
Quando vemos as propagandas de mil cervejas, com mulheres gostosonas, malhadas e sorridentes, a mensagem é essa: se bebermos tais produtos, viveremos naquele clima de festa eterna. E tudo isso vai entrando no inconsciente. É subliminar, é lavagem cerebral.
Na segunda-feira temos o resultado no noticiário: carros que viraram ferro retorcido dirigidos por motoristas bêbados.
Não, não é moralismo: é defesa da vida.
E atores famosos, que já tem muito dinheiro, fazem as tais propagandas de bebida alcoólica.
Exagero? Não creio.
Acho, no mínimo, anti-ético. É pura cobiça.
Quem faz propaganda de remédio, deveria ingerir antes o produto e só depois fazer a publicidade.
A Xuxa, Luciano Hulk e tantos outros que ganham muito dinheiro fazendo publicidade, usam aqueles serviços dos quais dizem mil maravilhas?
A partir deste aprendizado, poderemos enfrentar as imagens da Coca-Cola e de todas as marcas.
Lendo “Madame Bovary”, de Flaubert, você percebe que a infelicidade da mulher não deriva do fato dela não usar o perfume tal.
As razões são outras, muito mais profundas.
O problema é que estamos vivendo um momento de enorme velocidade e de pouca concentração. (Emanuel Medeiros Vieira)
É pura e simplesmente para fazer mais dinheiro.
Então, neste sistema, se você lê profundamente uma imagem publicitária, você a destrói, como diz Alberto Manguel.
A publicidade – é claro que não digno nada de novo – é feita para “convencer”, manipular as emoções mais primárias e, muitas vezes, para enganar.
E para tapear um povo prostrado e sem cultura não é difícil.
Vejam as tantas igrejas (o super-mercado universal da fé), os tantos políticos, os tantos bingos camuflados, os tantos sindicalistas, os tantos banqueiros, os tantos usineiros, os tantos grileiros, os tantos marqueteiros: todos impunes. Enfim, é o reino da trambicagem.
Então – seguindo as pegadas do autor citado – é fundamental que possamos novamente recuperar a dignidade humana de ler imagens para buscar as verdadeiras, para voltarmos a ser criaturas da memória.
Precisamos “saber ler”.
Sabendo ler, aprendemos com as gerações passadas e com a nossa própria.
O que quero dizer?
Uma mulher não é solitária porque não usa o sabonete tal, o perfume daquela marca. Não vai ser “amada”’ se usar aquele jeans.
O sorriso da “felicidade plena” (que você obterá se conseguir tal produto) é pura enganação. Todos os carros são maravilhosos, cada banco é melhor do que o outro.
Quando vemos as propagandas de mil cervejas, com mulheres gostosonas, malhadas e sorridentes, a mensagem é essa: se bebermos tais produtos, viveremos naquele clima de festa eterna. E tudo isso vai entrando no inconsciente. É subliminar, é lavagem cerebral.
Na segunda-feira temos o resultado no noticiário: carros que viraram ferro retorcido dirigidos por motoristas bêbados.
Não, não é moralismo: é defesa da vida.
E atores famosos, que já tem muito dinheiro, fazem as tais propagandas de bebida alcoólica.
Exagero? Não creio.
Acho, no mínimo, anti-ético. É pura cobiça.
Quem faz propaganda de remédio, deveria ingerir antes o produto e só depois fazer a publicidade.
A Xuxa, Luciano Hulk e tantos outros que ganham muito dinheiro fazendo publicidade, usam aqueles serviços dos quais dizem mil maravilhas?
A partir deste aprendizado, poderemos enfrentar as imagens da Coca-Cola e de todas as marcas.
Lendo “Madame Bovary”, de Flaubert, você percebe que a infelicidade da mulher não deriva do fato dela não usar o perfume tal.
As razões são outras, muito mais profundas.
O problema é que estamos vivendo um momento de enorme velocidade e de pouca concentração. (Emanuel Medeiros Vieira)
INSPIRAÇÃO E
TRANSPIRAÇÃO
TRANSPIRAÇÃO
Me perguntaram numa escola em Brasília: “Como se faz um bom livro?”
Eu sorri, sala cheia, jovens de 20 anos.
Sabia de cor a resposta de Somerset Maugham: “Há três regras para se escrever um bom livro. Infelizmente, ninguém sabe quais são.”
Porque escrever não tem receita. Tem inspiração sim. Mas tem muito trabalho. “Transpiração”, disciplina. Há que começar a faina diária mal rompe a aurora.
Todos os dias, todos.
E ler, muito. Reler. Ler mais. Sempre. Até o último suspiro.
Se pararmos de ler, vamos morrer.
O aprendizado da escrita é misterioso.
“O processo de aprender a escrever é desanimador porque é inexplicável”, afirma Alberto Manguel.
Ele complementa: “A leitura é uma atividade pela qual os governos sempre manifestaram um limitado entusiasmo”
É claro. A leitura abre os espíritos.
A literatura “revela”.
A verdade liberta. Com ela no seu coração, você não votaria mais por ter recebido uma esmola, um saco de cimento ou algumas telhas.
Ler sempre incomoda os ditadores, os napoleões tupiniquins, desagrada os poderosos, os idiotas e medíocres de plantão.
E, no geral, eles estão nos órgãos ditos culturais, com o seu vasto número de funcionários entediados, seus burocratas mesquinhos e seus lanches vespertinos, suas panelinhas burlescas, que querem camuflar o seu enorme vazio com roupas chics ou retóricas e preciosismos. Não enganam. Não adianta. São figuras que merecem a piedade. Serão varridos por qualquer vento sul.
Podem receber prebendas, se acham “sérios”, às vezes assinam colunas diárias.
Mas serão sempre figuras menores: aquelas que morrerão sem a solidariedade de si mesmas.
Manguel lembra que Pinochet proibiu “Dom Quixote”, de Cervantes.
Lógico, o leitor lendo Quixote descobriria a alma nazista do facínora sanguinário que foi o ditador chileno, uma besta do Apocalipse sul-americano.
Penso no que disse um republicano espanhol (pai de um escritor) que passou muitos anos numa prisão política:
“Até na cadeia vocês serão mais felizes se gostarem de ler.” (Emanuel Medeiros Vieira)
Eu sorri, sala cheia, jovens de 20 anos.
Sabia de cor a resposta de Somerset Maugham: “Há três regras para se escrever um bom livro. Infelizmente, ninguém sabe quais são.”
Porque escrever não tem receita. Tem inspiração sim. Mas tem muito trabalho. “Transpiração”, disciplina. Há que começar a faina diária mal rompe a aurora.
Todos os dias, todos.
E ler, muito. Reler. Ler mais. Sempre. Até o último suspiro.
Se pararmos de ler, vamos morrer.
O aprendizado da escrita é misterioso.
“O processo de aprender a escrever é desanimador porque é inexplicável”, afirma Alberto Manguel.
Ele complementa: “A leitura é uma atividade pela qual os governos sempre manifestaram um limitado entusiasmo”
É claro. A leitura abre os espíritos.
A literatura “revela”.
A verdade liberta. Com ela no seu coração, você não votaria mais por ter recebido uma esmola, um saco de cimento ou algumas telhas.
Ler sempre incomoda os ditadores, os napoleões tupiniquins, desagrada os poderosos, os idiotas e medíocres de plantão.
E, no geral, eles estão nos órgãos ditos culturais, com o seu vasto número de funcionários entediados, seus burocratas mesquinhos e seus lanches vespertinos, suas panelinhas burlescas, que querem camuflar o seu enorme vazio com roupas chics ou retóricas e preciosismos. Não enganam. Não adianta. São figuras que merecem a piedade. Serão varridos por qualquer vento sul.
Podem receber prebendas, se acham “sérios”, às vezes assinam colunas diárias.
Mas serão sempre figuras menores: aquelas que morrerão sem a solidariedade de si mesmas.
Manguel lembra que Pinochet proibiu “Dom Quixote”, de Cervantes.
Lógico, o leitor lendo Quixote descobriria a alma nazista do facínora sanguinário que foi o ditador chileno, uma besta do Apocalipse sul-americano.
Penso no que disse um republicano espanhol (pai de um escritor) que passou muitos anos numa prisão política:
“Até na cadeia vocês serão mais felizes se gostarem de ler.” (Emanuel Medeiros Vieira)
Um comentário:
Parabéns, caro Vieira, quer pela pertinência e tempestividade dos seus textos, quer pela riqueza literária dos mesmos - informa sem deformar. Abraços, Pedro.
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