20.2.11

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Carlinhos Cunha navega pela Ponta do Sambaqui. Foto: Celso Martins

Briga de Gaúchos

Por Amílcar Neves*

Criou-se toda uma mitologia em torno da Ilha de Santa Catarina, o que é natural. Afinal, a Ilha, a cidade e arredores são a moda internacional do momento. Praias, shows, bares-clubes-restaurantes-boates atraem pessoas do mundo todo, e agora não mais apenas famílias de classe média remediada que abarrotavam o táxi do dono da casa com comida e água mineral e despencavam de toda a Argentina para acampar no primeiro terreno baldio que encontrassem perto do mar.

Depois, começou a aparecer gente do Rio Grande do Sul, do Paraná, de São Paulo. O rico interior paulista tomou conta do pedaço por uns tempos, foi aparecendo o povo dos Matos Grossos, das Minas Gerais, os ruralistas de Goiás. Uruguaios, paraguaios, chilenos, peruanos e até venezuelanos desfilaram seus carros pelas estradas catarinenses e caminhos ilhéus. Europeus, asiáticos, australianos foram chegando de mansinho, sem levantar bandeiras - apenas chegando e tomando posse de um cantinho para si. Rebeldes e desajustados dos Estados Unidos (rebeldes e desajustados para o seu país, que ainda não tolera maiores diferenças) também se foram estabelecendo.

De repente, o estouro, o que seria inevitável pelas belezas e pelo ineditismo do lugar: revoada incessante de astros e estrelas do cinema mundial, modelos, atletas, artistas, milionários ocupando hotéis, casas e resorts de luxo, cercados por uma nuvem densa de DJs, essa gente que ganha dinheiro com o suor e o trabalho dos outros.

Jurerê verdadeiramente Internacional consolida-se como o ponto de convergência da Ilha neste 2011: grandes bandas e prestigiados cantores e cantoras apresentam-se ali - há anos, a cidade queixava-se que tudo passava por Curitiba e Porto Alegre e, nela, só passava pelo alto, de avião. Hoje, um show internacional com apenas duas apresentações no Brasil terá uma delas em Florianópolis.

Festas, baladas e badalações são tantas e tais por esta Ilha que o Ronaldinho Gaúcho vive por aqui a toda hora, desde quando era jogador na Europa. Não nos incomodamos nada que ele (ou qualquer outro) gaste na Ilha uns poucos milhões que lhe sobram na conta bancária. O que não fica muito legal é um pessoal inconformado porque ele não assinou contrato com o seu time vir para cá hostilizá-lo: isso é briga caseira, para ser resolvida (ou não) na terra dos Gaúchos. Aqui, não temos nada a ver com a roupa suja dos outros.

*Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 32 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior. Em breve, Se Te Castigo É Só Porque Eu Te Amo (teatro) chegará às prateleiras das livrarias. Crônica publicada na edição de 12.2.2011 do jornal Diário Catarinense (Florionópolis-SC). Reprodução autorizada pelo autor.

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