A crônica
Por Amílcar Neves*
Numa conversa de adultos, comentei que hoje eu não poderia (ir a algum lugar, fazer alguma coisa, não importa aonde ou o que) porque teria que escrever minha crônica semanal. Afinal, a data limite para mandar o texto para o jornal é hoje, o que, sistematicamente, tem me rendido segundas-feiras dedicadas à tarefa e ao dever de escrever, ocupação esta - escrever - que vive sendo pressionada para depois, para mais tarde, para quando der tempo, como se escrever fosse apenas sentar e ligar o botão que o texto sai como numa impressora. Mesmo neste caso a impressora necessita do computador, o qual tem de acionar seus recursos e capacidades de lógica, técnica e memória para gerar a crônica, o conto, o romance, o poema. Só depois disso tudo é que o material surge impresso. O trabalho da impressora, sem menosprezar a sua importantíssima função, é muito rápido, comparado ao processo inteiro, e nada acrescenta a tudo já feito até aquele ponto: ela se limita a transcrever bytes no disco em letras no papel - quando não acaba a tinta, o que só ocorre nos momentos agudos em que se precisa imprimir algo muito importante e muito urgente e nos esquecemos de ter um cartucho sobressalente.
Escrever é atividade que, no mais das vezes, é acuada nos cantos do dia, atropelada pelas obrigações exigentes do cotidiano. Mas este não é o assunto que pretendia abordar.
Queria só dizer que, depois daquela conversa de adultos, o Caio, de sete anos e meio e testemunha do diálogo despretensioso, perguntou, enquanto seguíamos para sua escola, se crônica podia ser engraçada, se podia ter uma piada no meio dela.
- A crônica toda às vezes pode ser uma piada.
- Bem, vou te contar então uma piada. É a mais longa que conheço.
Caio gosta de contar piadas. Ele interpreta vozes e situações, dá entonações e cria suspenses. Penso que ele tem jeito para a coisa. Contou uma história do Joãozinho, o nosso eterno personagem para todo tipo de graça, o nosso Peter Pan tupiniquim, o grande contestador, especialista em perguntas desconcertantes porque óbvias, um verdadeiro subversivo, o que sempre é bom ser.
Queria falar um pouco sobre a crônica e sobre o ofício de fazê-la, mas tempo e espaço esgotam-se inapelavelmente. Acho que a crônica funciona mais ou menos como a piada do Caio:
- Quando contei esta piada no “show de talentos” da escola - ele considera -, alguns alunos riram.
Escrever é atividade que, no mais das vezes, é acuada nos cantos do dia, atropelada pelas obrigações exigentes do cotidiano. Mas este não é o assunto que pretendia abordar.
Queria só dizer que, depois daquela conversa de adultos, o Caio, de sete anos e meio e testemunha do diálogo despretensioso, perguntou, enquanto seguíamos para sua escola, se crônica podia ser engraçada, se podia ter uma piada no meio dela.
- A crônica toda às vezes pode ser uma piada.
- Bem, vou te contar então uma piada. É a mais longa que conheço.
Caio gosta de contar piadas. Ele interpreta vozes e situações, dá entonações e cria suspenses. Penso que ele tem jeito para a coisa. Contou uma história do Joãozinho, o nosso eterno personagem para todo tipo de graça, o nosso Peter Pan tupiniquim, o grande contestador, especialista em perguntas desconcertantes porque óbvias, um verdadeiro subversivo, o que sempre é bom ser.
Queria falar um pouco sobre a crônica e sobre o ofício de fazê-la, mas tempo e espaço esgotam-se inapelavelmente. Acho que a crônica funciona mais ou menos como a piada do Caio:
- Quando contei esta piada no “show de talentos” da escola - ele considera -, alguns alunos riram.
*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (5.8.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (5.8.2009)
do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário