Sem tortura, por favor
Por Amílcar Neves*
Antes que me torturem, devo confessar que, muitas vezes, este espaço foi preenchido com textos escritos na Ressacada.
Desculpem-me, sei muito bem que estádio de futebol é lugar para se torcer ensandecidamente, desarrazoadamente, com paixão e sem razão. Pelo menos, sem lógica alguma, pois torcedor não é um ser racional. Se for, ele abandona seu time e vai criar peixinhos de aquário, onde certamente haverá relação mais direta entre causa e efeito. Praças esportivas por natureza repelem toda manifestação cultural, desde quadros a livros, da leitura à escritura.
Por outro lado, também sei à exaustão que crônicas para jornal, ou quaisquer outros textos literários, devem ter sua gestação e parto restritos ao local apropriado: o sacrossanto gabinete do escritor, o refúgio da sua resplandecente torre de marfim - jamais os assentos de concreto de um campo de futebol, nunca em meio ao tumulto popular, seja das torcidas, seja do cotidiano enlouquecido e barulhento das cidades grandes.
Claro que, se me torturarem, confessarei de pronto tudo que me ditarem dizer, assinarei de imediato todo papel que me colocarem à frente, a começar por cheques em branco, declarações racistas, promissórias impagáveis e promessas impagáveis (impagáveis de tão ridículas, feito aquelas que os políticos nos fazem, nos pregam a cada dois anos, pelas eleições).
Assim, antes que me torturem (sabe-se lá o que andam tramando contra mim, tantas já que me aprontaram parentes colaterais e ascendentes imediatos, um advogado que contratei e até ilustres desconhecidos, afora os bancos, uma multinacional que me contratou, a Receita Federal, parlamentares e os governos em geral), para tentar evitar a tortura, reconfesso que escrevo esta crônica na refulgente Ressacada, com arquibancadas, cadeiras e camarotes entupidos de gente à espera do jogo entre Avaí e Flamengo.
Além de confessar, prometo aqui, solenemente, que deixarei para redigir a derradeira linha deste texto daqui a três horas, a fim de que possa dar notícia, aos dois ou três caridosos amigos que me leem, moram longe e não acompanham o Campeonato Brasileiro, do resultado do jogo.
Agora, por favor, permitam-me a devida pausa neste domingo para curtir o clima das torcidas e, a seguir, o futebol em si.
Pois então, depois dos 3 a 0 deste início de noite, o Avaí passou a ser o quarto melhor time do Brasil.
Desculpem-me, sei muito bem que estádio de futebol é lugar para se torcer ensandecidamente, desarrazoadamente, com paixão e sem razão. Pelo menos, sem lógica alguma, pois torcedor não é um ser racional. Se for, ele abandona seu time e vai criar peixinhos de aquário, onde certamente haverá relação mais direta entre causa e efeito. Praças esportivas por natureza repelem toda manifestação cultural, desde quadros a livros, da leitura à escritura.
Por outro lado, também sei à exaustão que crônicas para jornal, ou quaisquer outros textos literários, devem ter sua gestação e parto restritos ao local apropriado: o sacrossanto gabinete do escritor, o refúgio da sua resplandecente torre de marfim - jamais os assentos de concreto de um campo de futebol, nunca em meio ao tumulto popular, seja das torcidas, seja do cotidiano enlouquecido e barulhento das cidades grandes.
Claro que, se me torturarem, confessarei de pronto tudo que me ditarem dizer, assinarei de imediato todo papel que me colocarem à frente, a começar por cheques em branco, declarações racistas, promissórias impagáveis e promessas impagáveis (impagáveis de tão ridículas, feito aquelas que os políticos nos fazem, nos pregam a cada dois anos, pelas eleições).
Assim, antes que me torturem (sabe-se lá o que andam tramando contra mim, tantas já que me aprontaram parentes colaterais e ascendentes imediatos, um advogado que contratei e até ilustres desconhecidos, afora os bancos, uma multinacional que me contratou, a Receita Federal, parlamentares e os governos em geral), para tentar evitar a tortura, reconfesso que escrevo esta crônica na refulgente Ressacada, com arquibancadas, cadeiras e camarotes entupidos de gente à espera do jogo entre Avaí e Flamengo.
Além de confessar, prometo aqui, solenemente, que deixarei para redigir a derradeira linha deste texto daqui a três horas, a fim de que possa dar notícia, aos dois ou três caridosos amigos que me leem, moram longe e não acompanham o Campeonato Brasileiro, do resultado do jogo.
Agora, por favor, permitam-me a devida pausa neste domingo para curtir o clima das torcidas e, a seguir, o futebol em si.
Pois então, depois dos 3 a 0 deste início de noite, o Avaí passou a ser o quarto melhor time do Brasil.
* Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (26.8.2009) do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (26.8.2009) do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
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