Diferencial
Por Amílcar Neves*
Curitiba, PR - Donizete é vendedor de pneus. Vendedor de pneus, de palhetas para limpador de para-brisas e de acessórios automotivos variados. Coisas que nem se imagina existir. Trabalha numa grande empresa nacional de autopeças, com ênfase em pneus. Conversa com os clientes na loja do Portão, bairro da capital paranaense. De ascendência italiana, Donizete honra as origens: conversa um bocado enquanto vai vendendo. E não é só conversa fiada, não. Aliás, nem chega a entrar muito em conversa fiada. Nada de falar do tempo ou das agruras do trânsito. Nem mesmo de política, assunto arriscado; de religião, assunto delicado; ou de futebol, assunto fácil se o time for comum. Nem de mulher, pois a possibilidade de resvalar para a deselegância é razoável. E nunca convém ser deselegante com um cliente. Nem mesmo para tentar ser engraçado. Ou simpático. O tiro sempre pode sair pela culatra. De mulher fala-se com os amigos e conhecidos, gente da casa. Ou com a mulher quando, na intimidade, fala-se dela própria.
Donizete é curioso, portador da saudável curiosidade que transpira interesse sincero por aprender coisas, por saber de usos e costumes. Na loja, onde é funcionário, gerente ou dono da franquia, vá-se lá saber, ele também faz cadastros. Cadastros importam em desnudar um pouquinho a vida dos clientes. Isso lhe dá um monte de assunto. Ao receber um engenheiro, envolve-se com as atividades da fábrica e seus processos de controle e qualidade. Com autores de livros de ficção (contistas, romancistas, esse pessoal, até cronistas), pergunta como é ser escritor num país como o Brasil, tido como de parcas leituras. Descarta da categoria os redatores dos livros de cunho profissional, das obras de autoajuda e dos textos místicos. Pergunta, enfim, sem formular objetivamente a questão, como é que vive um sujeito que desenvolve um produto pelo qual escassas pessoas estão interessadas.
Piedoso, Donizete conta que tem duas filhas. A de 14 anos vive grudada nos livros. Recusa outros programas em favor do prazer maior de ler uma boa obra literária. A irmã, com 16, filha do mesmo pai e da mesma mãe, fruto da mesma educação e do mesmo lar, não passa nem perto de um livro. Nem história em quadrinhos ela lê.
- A menor é excelente aluna em todas as matérias. A outra sofre dificuldades permanentes na escola. A diferença são os livros, não tenha dúvida.
Donizete é curioso, portador da saudável curiosidade que transpira interesse sincero por aprender coisas, por saber de usos e costumes. Na loja, onde é funcionário, gerente ou dono da franquia, vá-se lá saber, ele também faz cadastros. Cadastros importam em desnudar um pouquinho a vida dos clientes. Isso lhe dá um monte de assunto. Ao receber um engenheiro, envolve-se com as atividades da fábrica e seus processos de controle e qualidade. Com autores de livros de ficção (contistas, romancistas, esse pessoal, até cronistas), pergunta como é ser escritor num país como o Brasil, tido como de parcas leituras. Descarta da categoria os redatores dos livros de cunho profissional, das obras de autoajuda e dos textos místicos. Pergunta, enfim, sem formular objetivamente a questão, como é que vive um sujeito que desenvolve um produto pelo qual escassas pessoas estão interessadas.
Piedoso, Donizete conta que tem duas filhas. A de 14 anos vive grudada nos livros. Recusa outros programas em favor do prazer maior de ler uma boa obra literária. A irmã, com 16, filha do mesmo pai e da mesma mãe, fruto da mesma educação e do mesmo lar, não passa nem perto de um livro. Nem história em quadrinhos ela lê.
- A menor é excelente aluna em todas as matérias. A outra sofre dificuldades permanentes na escola. A diferença são os livros, não tenha dúvida.
*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (12.8) do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (12.8) do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
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