Os caminhos da cucaracha 1
DE SIMÓN BOLÍVAR
A CHE GUEVARA E
MANUEL ZELAYA:
O que nos aproxima
no espaço e no tempo?
DE SIMÓN BOLÍVAR
A CHE GUEVARA E
MANUEL ZELAYA:
O que nos aproxima
no espaço e no tempo?
Por Raul Longo*
Em As Veias Abertas da América Latina, Eduardo Galeano demonstra como, desde os primórdios da colonização, os Impérios de Espanha e Portugal planejaram e executaram as mais sórdidas e minuciosas providências para fracionar um continente de um único idioma, possibilitando um mesmo método brutal de domínio e espoliação.
Para entendermos as propícias condições para a América Latina em breve se sobressair à Europa, não basta lembrarmos apenas que lá os povos se dividem em infinidade de etnias de origens bárbaras nos mais diversos estágios culturais e que se guerreavam entre si, impossibilitados de compreensão por uma inconciliável variedade idiomática. Mas é um indício.
“Habla en Cristiano hombre!” – costumavam pedir os anarquistas espanhóis aos integrantes das brigadas internacionais que, de todo o mundo, vinham ajudá-los a combater o nazi-fascismo de Franco, considerando os voluntários norte-americanos, ingleses, eslavos, etc., apesar de aliados, de diversa cultura e religião. Mesmo que todos anticlericais e identificados pelo ateísmo.
Já na idêntica catequização jesuítica nas Américas, se acirrava históricas animosidades provenientes de diferenças territoriais e culturais entre tapuias e guaranis, aimarás e quéchuas, zapotecas e astecas. E assim se iniciou o dividir para governar, sob a égide das coroas européias que, evidentemente, apenas protegiam os interesses colonialistas.
Os naturais da terra não demoraram tanto para perceber a necessidade de aliança para derrotar o inimigo comum. Foi o que ocorreu, por exemplo, na união entre paiaguás e guaicurus onde cada qual concorreu com suas especialidades: a canoagem e o cavalgar. E assim por mais de uma vez tomaram o instransponível Forte de Corumbá, tanto de portugueses quanto de espanhóis.
Se o poderio das armas não fosse tão superior, talvez nem mesmo a capacidade de renovação de contingente bélico se imporia. Mas foi a eficiência da estratégia divisionista dos dois maiores impérios europeus de então, aliado ao terceiro: o Britânico, o que permitiu o difícil domínio do continente. E quem acredita que bastou a chegada de Pizarro, Cortez ou Martim de Sá para se impor a colonização, nada conhece de história.
Totalmente destruída pelos mapuches (gente da terra), Buenos Aires foi construída duas vezes. A primeira república socialista da história foi a dos Povos das Missões Guaranis, estendendo-se do norte da Argentina por Uruguai, Paraguai e sul do Brasil.
Apesar das nações africanas serem subdividas em lotes dispersos pelas diferentes províncias do amplo território brasileiro, do Rio Grande do Sul à Pernambuco, da Bahia aos sertões das Minas Gerais; misturando elementos de diferentes grupos lingüísticos para evitar identificação entre ketus, bantos, jejes, etc; tivemos um dos mais longos movimentos libertários de toda a história da humanidade na centenária resistência do Quilombo dos Palmares.
A primeira revolução realmente comandada por líderes populares desde Espártaco, e não por intelectuais como Robespierre ou Lênin, foi a Mexicana. Assumida pelos camponeses Emiliano Zapata e Pancho Villa, um ao sul e outro ao norte de um extenso país na fronteira com o grande império dos Estados Unidos.
Esses exemplos deveriam ser suficientes para desmistificar nossa pretensa passividade que, associada ao mito de uma latinidade inexistente mesmo em Europa, confunde grupo lingüístico com etnia para justificar o domínio europeu neste continente, isolando-nos de nós mesmos para falsear uma identificação com os que nos espoliam pela história. Inversos a Teseu, adentramos o labirinto para nos oferecer em auto-imolação a um Minotauro que não nos deseja senão como escravos ou mão-de-obra barata.
A percepção de que unidos somos indomináveis e impossíveis de ser espoliados não é dos últimos anos, não advém dos governos populares que neste princípio de século democraticamente foram alçados à liderança dos países das Américas do Sul e Central.
Em Simón Bolívar e quase todos os que lutaram pelas independências coloniais do México ao Chile e Argentina, havia idêntica percepção de que, como um único povo com tão pequenas diferenças e estreita similaridade à porção de expressão portuguesa, poderíamos formar gigantesco e imbatível bloco. Muito mais coeso do que o europeu.
Mais de um século depois foi Che Guevara quem percebeu na união do continente a possibilidade de total independência a quaisquer das grandes potências que então controlavam o planeta. Che enxergou nos potenciais naturais e humanos de uma única ilha caribenha, as condições de auto-suficiência necessária para enfrentarmos imposições colonialistas vindas de onde viessem.
Qual a relação entre Bolívar, Guevara e Manuel Zelaya, o presidente deposto pelo golpe promovido pelos de seu próprio partido, em Honduras? Aparentemente nenhuma. Embora de origem aristocrata, Bolívar se torna um guerreiro pela liberdade do continente. Empresário, Zelaya apenas pretendeu ajustar em seu país as relações entre povo e governo, atendendo as exigências democráticas de um novo século e um mundo em crise econômica sem precedentes. Se impossível compará-los, ainda menos com Guevara, jovem de classe média que no marxismo e na luta armada encontra orientação para a profunda indignação perante a desumanidade praticada contra a gente latino-americana.
No entanto, os três se unem na única conclusão de que o fio da meada de Ariadne, a nos indicar a saída do labirinto armado para nos dividir, está em nossa união como um único povo por Honduras ou Paraguai, por El Salvador ou Suriname, por Equador ou Barbados.
A realidade apontada pela atual situação mundial é muito clara: a América chamada Latina produz a maior parte do que de mais necessário ao mundo: alimento. Além de concentrar as maiores reservas internacionais de minério e fontes energéticas: do biodiesel ao petróleo in natura. Isso sem contar com nossa pródiga produção aqüífera.
Enfim: não precisamos de Bolívares, Guevaras ou Zelayas, mas se nossos demais políticos e militares compreenderem a lição do golpe de Honduras e souberem valorizar a resistência e coragem de nossos povos, se tornarão os personagens do futuro do mundo.
Para entendermos as propícias condições para a América Latina em breve se sobressair à Europa, não basta lembrarmos apenas que lá os povos se dividem em infinidade de etnias de origens bárbaras nos mais diversos estágios culturais e que se guerreavam entre si, impossibilitados de compreensão por uma inconciliável variedade idiomática. Mas é um indício.
“Habla en Cristiano hombre!” – costumavam pedir os anarquistas espanhóis aos integrantes das brigadas internacionais que, de todo o mundo, vinham ajudá-los a combater o nazi-fascismo de Franco, considerando os voluntários norte-americanos, ingleses, eslavos, etc., apesar de aliados, de diversa cultura e religião. Mesmo que todos anticlericais e identificados pelo ateísmo.
Já na idêntica catequização jesuítica nas Américas, se acirrava históricas animosidades provenientes de diferenças territoriais e culturais entre tapuias e guaranis, aimarás e quéchuas, zapotecas e astecas. E assim se iniciou o dividir para governar, sob a égide das coroas européias que, evidentemente, apenas protegiam os interesses colonialistas.
Os naturais da terra não demoraram tanto para perceber a necessidade de aliança para derrotar o inimigo comum. Foi o que ocorreu, por exemplo, na união entre paiaguás e guaicurus onde cada qual concorreu com suas especialidades: a canoagem e o cavalgar. E assim por mais de uma vez tomaram o instransponível Forte de Corumbá, tanto de portugueses quanto de espanhóis.
Se o poderio das armas não fosse tão superior, talvez nem mesmo a capacidade de renovação de contingente bélico se imporia. Mas foi a eficiência da estratégia divisionista dos dois maiores impérios europeus de então, aliado ao terceiro: o Britânico, o que permitiu o difícil domínio do continente. E quem acredita que bastou a chegada de Pizarro, Cortez ou Martim de Sá para se impor a colonização, nada conhece de história.
Totalmente destruída pelos mapuches (gente da terra), Buenos Aires foi construída duas vezes. A primeira república socialista da história foi a dos Povos das Missões Guaranis, estendendo-se do norte da Argentina por Uruguai, Paraguai e sul do Brasil.
Apesar das nações africanas serem subdividas em lotes dispersos pelas diferentes províncias do amplo território brasileiro, do Rio Grande do Sul à Pernambuco, da Bahia aos sertões das Minas Gerais; misturando elementos de diferentes grupos lingüísticos para evitar identificação entre ketus, bantos, jejes, etc; tivemos um dos mais longos movimentos libertários de toda a história da humanidade na centenária resistência do Quilombo dos Palmares.
A primeira revolução realmente comandada por líderes populares desde Espártaco, e não por intelectuais como Robespierre ou Lênin, foi a Mexicana. Assumida pelos camponeses Emiliano Zapata e Pancho Villa, um ao sul e outro ao norte de um extenso país na fronteira com o grande império dos Estados Unidos.
Esses exemplos deveriam ser suficientes para desmistificar nossa pretensa passividade que, associada ao mito de uma latinidade inexistente mesmo em Europa, confunde grupo lingüístico com etnia para justificar o domínio europeu neste continente, isolando-nos de nós mesmos para falsear uma identificação com os que nos espoliam pela história. Inversos a Teseu, adentramos o labirinto para nos oferecer em auto-imolação a um Minotauro que não nos deseja senão como escravos ou mão-de-obra barata.
A percepção de que unidos somos indomináveis e impossíveis de ser espoliados não é dos últimos anos, não advém dos governos populares que neste princípio de século democraticamente foram alçados à liderança dos países das Américas do Sul e Central.
Em Simón Bolívar e quase todos os que lutaram pelas independências coloniais do México ao Chile e Argentina, havia idêntica percepção de que, como um único povo com tão pequenas diferenças e estreita similaridade à porção de expressão portuguesa, poderíamos formar gigantesco e imbatível bloco. Muito mais coeso do que o europeu.
Mais de um século depois foi Che Guevara quem percebeu na união do continente a possibilidade de total independência a quaisquer das grandes potências que então controlavam o planeta. Che enxergou nos potenciais naturais e humanos de uma única ilha caribenha, as condições de auto-suficiência necessária para enfrentarmos imposições colonialistas vindas de onde viessem.
Qual a relação entre Bolívar, Guevara e Manuel Zelaya, o presidente deposto pelo golpe promovido pelos de seu próprio partido, em Honduras? Aparentemente nenhuma. Embora de origem aristocrata, Bolívar se torna um guerreiro pela liberdade do continente. Empresário, Zelaya apenas pretendeu ajustar em seu país as relações entre povo e governo, atendendo as exigências democráticas de um novo século e um mundo em crise econômica sem precedentes. Se impossível compará-los, ainda menos com Guevara, jovem de classe média que no marxismo e na luta armada encontra orientação para a profunda indignação perante a desumanidade praticada contra a gente latino-americana.
No entanto, os três se unem na única conclusão de que o fio da meada de Ariadne, a nos indicar a saída do labirinto armado para nos dividir, está em nossa união como um único povo por Honduras ou Paraguai, por El Salvador ou Suriname, por Equador ou Barbados.
A realidade apontada pela atual situação mundial é muito clara: a América chamada Latina produz a maior parte do que de mais necessário ao mundo: alimento. Além de concentrar as maiores reservas internacionais de minério e fontes energéticas: do biodiesel ao petróleo in natura. Isso sem contar com nossa pródiga produção aqüífera.
Enfim: não precisamos de Bolívares, Guevaras ou Zelayas, mas se nossos demais políticos e militares compreenderem a lição do golpe de Honduras e souberem valorizar a resistência e coragem de nossos povos, se tornarão os personagens do futuro do mundo.
*Raul Longo
pousopoesia@ig.com.br
pousopoesia@gmail.com
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
88.051-001 - Floripa/SC
Tel: (48) 3206-0047
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Honduras é logo ali!
Camaradas
O que está acontecendo em Honduras nos interessa de perto, como cidadãos e agentes políticos, pois está em jogo o futuro da democracia na América Latina.
O povo está nas ruas resistindo ao golpe e precisa de apoio internacional. Já se contabilizam mortos, feridos, presos e exilados. As três centrais sindicais hondurenhas, as organizações indígenas e de camponeses, os professores e estudantes, organizações religiosas e comunitárias resistem.
Por esse motivo escrevo convidando a se integrar no esforço de solidariedade àquele povo, onde se joga o futuro do Continente.
Caso possa contribuir de alguma forma com a iniciativa, favor retornar o contato. Agradeço também se puder indicar pessoas e/ou organizações que possam se integrar a esse movimento de solidariedade.
Atenciosamente
Celso Martins da Silveira Júnior
celsodasilveira@gmail.com
O que está acontecendo em Honduras nos interessa de perto, como cidadãos e agentes políticos, pois está em jogo o futuro da democracia na América Latina.
O povo está nas ruas resistindo ao golpe e precisa de apoio internacional. Já se contabilizam mortos, feridos, presos e exilados. As três centrais sindicais hondurenhas, as organizações indígenas e de camponeses, os professores e estudantes, organizações religiosas e comunitárias resistem.
Por esse motivo escrevo convidando a se integrar no esforço de solidariedade àquele povo, onde se joga o futuro do Continente.
Caso possa contribuir de alguma forma com a iniciativa, favor retornar o contato. Agradeço também se puder indicar pessoas e/ou organizações que possam se integrar a esse movimento de solidariedade.
Atenciosamente
Celso Martins da Silveira Júnior
celsodasilveira@gmail.com
Um comentário:
Farei propaganda do blog! Um grande abraço, Celso. Michelle Stakonski
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