30.8.09

SAMBAQUI MAGAZINE (2)
Luiz Costa
Emanuel Medeiros Vieira
Murilo Silva



Criado o Fórum de Cultura

Por Murilo Silva

Como alguns já sabem, hoje, nesta tarde ensolarada de sábado (29/08), o Teatro da Ubro ficou lotado de artistas, produtores e militantes culturais, das mais diversas linguagens. Assinaram a lista de presença cento e duas pessoas. Mais de 30 entidades, instituições e movimentos participaram, como: UFSC, APUFSC, UDESC, Cinemateca, Funcine, Sinergia, Baiacu de Alguém, Alquimídia, Gesto, Áprika, Associação Nipo Catarinense, Rádio Campeche, Grupo Armação, Grupo Africatarina, Teatro em Trâmite, Exato Segundo Prod. Art., Obrer Cultural, Associações de Bairro, UFECO, etc.

Compareceram, prestigiando com suas falas, representantes da Câmara Municipal de Vereadores, da Fundação Franklin Cascaes e da Frente Parlamentar Catarinense em Defesa da Cultura.
Após longas três horas e meia de discussão, a atenta, criativa e crítica Assembleia fundou o FÓRUM CULTURAL DE FLORIANÓPOLIS, aprovou o seu regimento interno, elegeu uma executiva e tirou dois encaminhamentos imediatos:

1 – A executiva do FCF se reunirá com a Câmara Municipal de Vereadores e com o Superintendente da Fundação Franklin Cascaes, para tratar da imediata aprovação do Conselho Municipal de Política Cultural.

2 – O FCF aprovou por unanimidade o repúdio à PORTARIA/SMDU nº.06/2009, que proíbe, multa e prende artistas de rua que trabalham nos semáforos da cidade.

Obs. Pontos importantes, que ainda precisavam ser encaminhados, ficaram para as próximas oportunidades, tendo em vista o tempo dedicado à minucuosa aprovação do regimento e ao acalorado debate sobre o projeto do Conselho Municipal.
Entre outras questões, destacamos:

- A Executiva eleita, é composta por um colegiado de 5 membros titulares, que ocuparão a Presidência, a Vice-presidência, a Primeira-secretaria, a Segunda-secretaria e a Relatoria, e mais cinco suplências, com mandato de 30 meses. Os titulares ocuparão a presidência durante 6 mêses, cada um, sendo Murilo Silva eleito presidente para o primeiro período. Os nomes para os demais cargos serão definidos na próxima reunião da executiva eleita.

- Os nomes da executiva são: Fátima Costa de Lima (professora, arte-educadora e cenógrafa); Felipe Obrer (animador cultural); Murilo Silva (filósofo e animar cultural); Pedro MC (Cineasta); e Sheila Sabag (Atriz e Produtora).

- Os suplentes: Osmar Policarpo (Produtor Cultural e Líder Comunitário); Christiane Ramirez (Produtora Cultural); Telma Pitta (Arquiteta e Urbanista); Fernando Boppré (Historiador e Produtor Cultural); e Marcelo Pereira Seixas (Artista Plástico)

- O FCF é um espaço de discussão e de articulação permanente, composto de pessoas físicas e jurídicas envolvidas com a questão cultural. Não tem personalidade jurídica e atua encaminhando e fazendo valer as decisões deliberadas em Assembléia Geral, como consenso representativo da comunidade cultural do município de Florianópolis.

- Pode ser membro do FCF qualquer cidadão (pessoa física) na condição de trabalhador, empregador, autônomo, militante e diletante de atividades culturais; e representantes (pessoa jurídica) de áreas e atividades afins da cultura, como entidades não-governamentais, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), empresas, movimentos populares, entidades privadas que representam os profissionais das respectivas áreas que atuam na defesa de direitos difusos e coletivos.

- Os principais objetivos do FCF: A) contribuir para o cumprimento, pelo Governo Municipal e Sociedade, do dever constitucional de assegurar o desenvolvimento pleno da cultura e da cidadania a partir da realização das políticas públicas e de fomento em âmbitos municipal, estadual e nacional; B) auxiliar para o cumprimento, pelo poder público e pela Sociedade, do dever constitucional de assegurar o acesso de todos às manifestações culturais; C) Promover o debate em favor da definição e implementação do Conselho Municipal de Política Cultural de Florianópolis, objetivando a formulação, execução e avaliação das políticas públicas de fomento às manifestações e execuções culturais em Florianópolis; D) Realizar conferências, encontros, seminários e eventos de cultura, buscando atender as especificidades de cada área da cultura.

- O ato de solicitação para integrar o quadro de membros do FCF, exceto os associados fundadores, deverá ser formalizado por carta, constando as seguintes informações e documentos anexos: a)para pessoa jurídica, é necessário elencar seus objetivos institucionais e suas ações desenvolvidas, o nome de seu representante e de dois suplentes, acompanhado da cópia dos estatutos sociais ou contrato social; das atas da assembléia de eleição e posse da diretoria vigente, com os respectivos registros em cartório; e do cartão do CNPJ; b) para pessoa física, além de seu objetivo precípuo, cópia da carteira de identidade e do comprovante de residência.
Esperamos que este Fórum provoque a criação de muitos outros em toda Santa Catarina.

*
A META DO RIO

Por Luiz Costa

Se diz que o rio
nasce na montanha
um fato
e morre no mar
outro fato.

Contudo
o seu curso
é uma metáfora
para ensinar
o segredo da vida
da Meta da existência.

O rio nasce nas alturas
num céu de vapor
uma essencia d'água pura
pra seguir seu destino.

No caminho
ele lava
suja
machuca
e sofre
nas corredeiras.

Rega, e alegra
nas margens e planícies
e nos lagos que forma.

No seu curso
constrói
alimenta e destroi
e
de quando em vez
se distrai e se refresca
em travessuras nas cascatas
em mergulhos nas cataratas
e cachoeiras do caminho.

Há momentos de corrida
momentos de caminhada.
A medida qu'envelhece
se alimenta dos tributos.
Enquanto engorda
se transforma
se ocupa e transporta.

Quando chega ao mar
à lagoa onde seja
como dizem
ele morre.

Mas ai
não e o fim.
A Meta não é essa.
A essencia
tá na frente
n'oceano
onde espera.

Enquanto espera
recebe a luz
do sol brilhante
e ascende às alturas
novamente
aos céus de agua pura
em vapor que o criou.

Cumpre assim
a sua Meta
de existir para servir
à toda a criacão.

(Em memória de Teresa Costa Pinto)

*
(3) Textos
Emanuel Medeiros Vieira

(1)
JUSTIÇA! QUE JUSTIÇA?

Não é para surpreender.

O clima de degradação moral em todas as instâncias de Poder no Brasil não espanta mais ninguém.

O efeito devastador é DISSEMINAR o sentimento de impotência e a percepção (real) de que a impunidade sempre vai vigorar para os poderosos, para os "grandões" da vida.

Peguemos o exemplo do deputado Palocci, absolvido pelo STF;
Sim, "supremo" tribunal federal...
Faltou - para completar o serviço - prender o caseiro Francenildo.

Qual a função das faculdades de direito?

Se a mais ala corte de Justiça do país age assim, o que ocorre em outras instâncias?
A gente sabe.

É a cultura do patrimonialismo, da complacência com os donos do poder, do vale-tudo moral , e dessa impunidade que nos envergonha.

Stankey Kubrich dizia que as grandes nações se comportam como gângsters e as pequenas como prostitutas.

Como afirma Eduardo Galeano, hoje em dia não fica bem dizer certas coisas perante a opinião pública: o capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado; o imperialismo se chama globalização; oportunismo se chama pragmatismo; a traição se chama realismo.

Brasília, 29 de agosto de 2009

*
(2)
BOLCHEVISMO SEM UTOPIA

“Sobre a Brevidade da Vida”, de Sêneca (IaC-65dC): era a respeito desse (precioso) livro que iria escrever.

Relia-o aqui no Planalto Central: pretendia meditar sobre as lições do estoicismo, pensar sobre a nossa finitude, refletir sobre a necessidade da filosofia no cotidiano, não como algo abstrato, mas como lição de vida e necessário aprendizado existencial.

Sempre internalizando a percepção de que o homem é um ser para morte, mas que nesse breve trânsito pode construir uma obra, porque sendo o único animal que sabe que vai morrer, deixará algo que ultrapassará a poeira do tempo.

O ato da criação é aquele através do qual o homem arranca algo à morte, “transformando em consciência uma experiência” (personagem Garcia, em “A Esperança”, de André Malraux).

Mas a percepção do nosso cotidiano falou mais forte: um horror feito de pasmo e resignação.
Lembrei-me de uma expressão: “Bolchevismo sem utopia”.

Quer dizer, os vitoriosos líderes da Revolução Russa tinham uma utopia.

No Brasil: a noção subleninista do aparelhamento do Estado (lógico, muitos não se deram conta, pois tiveram má formação intelectual, leram pouco) está grudada no governo Lula e tomou conta do PT.

Eu sei, hoje o partido é apenas uma sublegenda ou apêndice subalterno do presidente.

No chamado pragmatismo dos dirigentes do PT, percebe-se essa fome insaciável por cargos e desejo compulsivo do aparelhamento total.

E uma visão paranóica: todos os que criticam são de “direita” ou fazem o seu jogo.

Alguns sim. Nem todos.

E calam-se vozes – através do dinheiro e de cargos públicos - que já foram da esperança e da inquietude (CUT, UNE, MST), através da pecúnia, de cargos, de prebendas e de Ongs manipuladas e cheias de verbas.

Não adianta afirmar que nossa crítica é humanista: a paranóia facilitaria diz que é “conspiração tucana”, do PSDB, esquecendo-se até do passado honrado e de resistência dos seus críticos.
E carecem de visão internacionalista, ficam com uma percepção meramente paroquial. Falta uma visão de mundo, falta a noção de que o planeta precisa ser preservado.

Enfim, carecem de humanismo, de uma noção da “vida plena”, não calcada no consumismo ou em cargos.

O que vemos?

Uma política de terra arrasada, a ausência completa de princípios éticos, a devastadora “pedagogia” que é passada às novas gerações (“se eles roubam, também vou ser corrupto”).

Não agüento mais a lembrança dos governos passados do PSDB.

Insisto à redundância: a velhacaria dos outros não pode ser a medida dos nossos valores.

Em 64 anos de vida, poucas vezes vi um quadro tão carente de perspectivas (sim, pelo menos não nos prendem, torturam ou nos mandam para o exílio....)

O PSOL é apenas um grupelho, muitas vezes delirante, e contaminado por infantilismo ideológico.

A aliança PSDB-DEM não é sinal de dias melhores.

Não alegra o coração saber que a candidata Marina Silva é da Assembléia de Deus.

(As escolas vão adotar o criacionismo, negar Darwin, e as mulheres não poderão mais se pintar ou cortar o cabelo?)

E, então? Não sei. Realmente não sei.

Mas lembro-me de Eduardo Galeano: “Ela está no horizonte... Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Por mais que caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia?

Serve para isso. Serve para caminhar.”
(Brasília, agosto de 20009)

*
(3)
Senador Mercadante

Fui da AP, amigo próxmo de Luiz Travassos, com quem estive no exílio em Berlim.
Militante estudantil, lutei intensamente pela democracia no país, tendo passado de 9 de dezembro de 1970 a 18 de fevereiro de 1971 na OBAN e no DOPS paulista.

Optei pela ofício de escritor.

Cobri a CPI do Orçamento e a do Collor.
Lembro de sua combativa participação.

Sem sectarismo, o que me dói é o efeito devastador para as novas gerações (e para os que acreditavam no PT), o que está acontecendo no Senado.

Céticos, desencantados, os jovens estão convictos de que tudo é igual (e todos os políticos) - o pacto por cima, o apoio às oligarquias mais venais, às práticas danosas, consagrando nosso velho patrimonialismo, tão bem descrito pior Raymundo Faoro em "Os Donos do Poder".

Sinceramente, não espero resposta.

Mas ficaria compensado com a sua reflexão.

Cordialmente, Emanuel Medeiros Vieira

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