3.3.10

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A crônica de Amílcar Neves

Assembléia do Fórum Cultural

Vídeos do Carnaval
Angelita Brandão


Cuba e os direitos humanos
Emanuel Medeiros Vieira


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D e t a l h e s


Por Amílcar Neves*

Gorda, frequentando já a alta meia-idade, a mulher fala ao telefone enquanto caminha pelas alamedas da Universidade Federal:

- Tenho os meus direitos! Não, mana, não vou sair da minha casa para embarcar na aventura de prestações por um apartamento.

Pronto. Só isso. Precisa de algum detalhe? Todo mundo já sabe que lhe coube a casa quitada na partilha do divórcio recente e que os filhos pressionam a tia para meterem a mão na grana da venda da casa.

Detalhes dificultam a vida, atrasam o ritmo da correria cotidiana e não acrescentam nada ao que já se sabe. Os detalhes de um caso apenas impedem que, no mesmo intervalo de tempo, se conheçam inúmeros outros casos.

Não é por menos, ou seja, pelo repúdio aos detalhes, que hoje se conta a história de toda uma vida em 140 caracteres (com espaços). Que se conta a História do Mundo em 140 toques. Sem que ninguém perca nada do essencial, que é o que verdadeiramente importa.

Tem gente que pega um assunto qualquer - um jacaré nadando no Rio do Sertão, por exemplo - e faz dele uma novela à custa de empilhar detalhes sobre detalhes a respeito do fato, quando seria bastante dizer simplesmente que havia um jacaré no riacho ao lado do shopping.

Pronto. Só isso, e estaríamos todos entendidos - e satisfeitos - em relação ao assunto.

Essa gente, e escritores são teimosos e insistentes com essa irritante mania, faz uma novela, não uma telenovela, que é coisa totalmente distinta, consome páginas e páginas de papel quando uma sinopse diria tudo e muitas árvores seriam poupadas.

Só se dedica aos detalhes quem não tem pique para a ação, para a vida moderna, tocada ao estilo dos videoclipes: no texto, na música, nas conversas, nas decisões, nas imagens nervosas que se sucedem e se sobrepõem a cada dois segundos e meio, no máximo.

Assim é que se vive para aproveitar cada momento, cada instante.

Assim são hoje os amores, vejam só, e isto já diz tudo: ninguém mais espera ficar gordo e velho como a mulher da universidade para trocar de parceiro. Até mesmo porque, em tais circunstâncias, consegue apenas ficar sozinho, não tem nem mais o que trocar.

E, também, já nem é o caso de falar em amor mas, objetivamente (quer dizer: sem detalhes), em sexo. O resto é encheção de linguiça. Pura perda de tempo, adiamento inútil do que em verdade conta.

*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (3.3.2010)
do jornal Diário Catarinense (Florianópolis-SC).
Publicação autorizada pelo autor.



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FÓRUM CULTURAL
DE FLORIANÓPOLIS


Lembrando:

Assembleia geral do Fórum Cultural de Florianópolis, no dia 4 de março (quinta-feira), às 18h30min, no plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

Pauta:

- Substituição da presidência do Fórum, conforme regimento interno, dando sequência ao rodízio;

- Fundação Municipal de Cultura Franklin Cascaes: seu desempenho como órgão de administração cultural do município; e

- O contrato do tenor italiano Andréa Bocelli;

Contamos com a sua presença.
Cordialmente,
Murilo Silva – Presidente

Obs: quem ainda não estiver associado ao Fórum poderá participar da Assembleia após preeenchimento (presencial) de ficha cadastral.

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Vídeos de Angelita Brandão

Carnaval 1



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Carnaval 2




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CUBA*

Por Emanuel Medeiros Vieira

Em memória de três queridos amigos e sinceros democratas: Roberto Motta, Adolfo Dias e Jarbas Benedet

Como a revolução cubana não é um dogma (ou é?), como a Santíssima Trindade, creio que os humanistas do mundo inteiro podem e devem discuti-la.Não é uma bula papal.
Para alguns, o sentimento “religioso”
projeta-se na política.
É como viesse uma ordem de cima: as decisões de certos modelos (o Comitê Central do Partido Comunista vira uma espécie de cúria romana...) não podem ser discutidas. E pronto!
É o chamado “centralismo democrático” em estado bruto.
É como se as pessoas, com a globalização excludente, com o individualismo feroz, com a desimportância da atividade política tradicional diante das grandes corporações, da inutilidade de qualquer gesto individual num mundo áspero e complexo, sintam- órfãs quando algum modelo idealizado não corresponde à perfeição.
Freud medita sobre os chamados “álibis compensatórios”, os auto-enganos, as mentiras interiores que ajudam a suportar o peso da vida.
São arranjos para preencher a nossa radical incompletude.
E de algum jeito queremos nos completar: pela ideologia, pela religião, por tudo.
Sem esses truques mentais certas pessoas sentem-se órfãs.
Quem problematiza esses jargões e as verdades feitas, é desqualificado: vendido, traidor
É a visão maniqueísta da história.
É mais fácil acusar com ferocidade do que examinar as verdades impostas.
No geral, quem acusa sem discutir, leu muito pouco.
Ou só leu manuais relatórios, palavras de ordem e absolutiza a internet.
Há muito tempo não pega um livro – não falo de revistas e da visão idiotizante da maioria dos livros de auto-ajuda
É como se as pessoas fossem obrigadas a viver “carregando bandeiras”, estatutos, regimentos, livrinhos vermelhos e esquecem que o valor maior é a vida.
Não é preciso carregar bandeiras.
Há uma razão crucial para isso: a destruição do ensino pós-golpe de 64.
Pessoas que estudaram depois, receberam um péssimo ensino.
Por exemplo, de filosofia praticamente não conhecem nada.
Carecem de leituras básicas.
É uma verdade acaciana: mas como alguém pode se dizer marxista se não leu Marx?
É com um escritor brasileiro que não leu Machado. É como alguém quer conhecer a sua condição humana em profundidade e se considera intelectual, e não conhece a Homero, a Tragédia Grega, Shakespeare, Cervantes, etc..

Gramsci – tão pouco lido-, o grande marxista italiano, pensava muito na organização da cultura e defendia (sempre) a democracia como valor universal.
Lembro que os militares – quando se discutiam os direitos humanos – vinham com a ladainha: “Problemas de direitos humanos existem em todos os lugares.”
Foi esse lugar-comum que foi utilizado por Marco Aurélio Garcia – alto assessor presidencial e membro do Itamarati do B.
Conheço esse senhor desde os tempos de faculdade de Direito em Porto Alegre, na UFRGS. Ele estava no quinto ano, eu no primeiro.
Ele militava no PCB, eu na AP.
Creio que “El Pais” e “Le Monde” não fazem parte da mídia golpista.
Mesmo que o dissidente cubano morto em greve de fome foi preso comum (alegação de muitos), mereceria tratamento exigido pelas normas internacionais.
Ou então, a solução seria praticar uma eutanásia coletiva. Acabaria logo com o problema e voltaríamos à eugenia, que certo chanceler da Alemanha (nascido na Áustria) defendeu e praticou com fervor nos anos 30.
Creio que o maior compromisso do ser humano é com a vida. E com a verdade.
Os ataques fascistas – frutos da ignorância e da mesquinharia – não enobrecem nenhum espírito.
Degradam àqueles que o praticam.
E energizam ainda mais a nossa vontade lutar até o final de nossos dias.

*Substituído às 15h15 de 3.3.2010.


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Velho Novo Urso,
Assino embaixo. Texto muito bom.
Eu passei umas semanas em Cuba em 1997.
Fiquei na casa de uma família cubana, gente muito boa, muita educada.
Saí pelas ruas de Havana com uma câmera de vídeo e sempre que fazia alguma pergunta sobre o governo ou sobre política, as pessoas - principalmente os jovens - pediam que eu desligasse o equipamento para falar. E falavam tudo aquilo que a gente sabe. Só não podiam se manifestar em frente as câmeras porque, se por azar, a gravação caísse nas mãos de gente do governo, seriam acusados de contra-revolucionários. E seriam perseguidos. Boa parte das pessoas que conheci vivia com medo. Ditadura é sempre uma desgraça, seja ela qual for.
Abraço,
Fernando Evangelista

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Informações:
(48) 3224-6462
(Kelly) e 0800-481200

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