10.6.09

Cinema e Literatura
ou filmes e livros


Por Amílcar Neves*

Para quem gosta de cinema, a semana de 5 a 12 de junho está transcorrendo sob o jugo de um verdadeiro suplício. Acontece na cidade, nesse período, o 13o FAM, o Florianópolis Audiovisual Mercosul 2009. Trata-se da exibição de qualquer coisa como 200 filmes e vídeos dos mais diferentes estilos, gêneros, formatos, metragens, técnicas e nacionalidades cá deste canto do mundo. Daí a angustiante tortura em que fica o aficionado: mesmo que amanheça e anoiteça na UFSC, onde se desenvolve o evento, não haverá possibilidade de ver tudo entre as 9 e as 23 horas de cada dia. Para piorar a situação, registre-se que o F de FAM, além de Festival, significa Feira e Fórum, o que só faz ampliar em muito a impossibilidade física (e emocional, claro) da ubiquidade do cine-maníaco.

Um parêntesis para a Universidade Federal de Santa Catarina: abrindo o magnífico espaço do Centro de Cultura e Eventos e os auditórios e salas de projeção dos diferentes centros de ensino e da própria Reitoria, a UFSC abre os braços para a comunidade, com ela se mistura e confunde, e devolve à sociedade, com esse apoio e participação, um pouco do que dela recebe. E cada qual pode apreciar, de graça, um cinema instigante, de alta qualidade, que fala da realidade que nos cerca.

Com o FAM, o vivente interessado se encharca de um cinema original, diferente e reflexivo, absolutamente distinto das produções pasteurizadas, similares entre si e paridas em série que as salas dos shoppings vivem empurrando goela abaixo (daqueles que aceitam essa imposição). Quem se deixou subjugar por este "estilo" de filme vai odiar o que passa no FAM: fãs incondicionais de hambúrgueres e fast foods detestam tainha recheada (popular e próxima demais) e cozinha japonesa (exótica e esquisita em excesso).

Com seus seminários, fóruns, mesas-redondas, bate-papos, palestras, clínicas, oficinas, encontros, homenagens, apresentações musicais e lançamentos de livros (além da projeção dos 200 audiovisuais), o 13o FAM não se restringe a filmes, mas discute Cinema.

Já uma feira do livro que não discute Literatura faria melhor pela popularização do livro se ocorresse todo sábado, por exemplo, em local movimentado da cidade, vendendo livros com desconto. Como, aliás, acontece na Cidade do México e em Buenos Aires, lugares em que, literalmente, se respira Cultura no meio da rua.

*Amilcar Neves, escritor. Crônica publicada na edição de hoje (10.6) do jornal Diário Catarinense. Reprodução autorizada pelo autor.

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