18.6.09

A CRÔNICA DO OLSEN
E mais sobre o diploma do jornalista!

Olá, camaradas, salve!
O bom e velho Olsen, globetrotter, com o pé na estrada, antecipando a crônica de amanhã...
A música é duca, feita na década de 1960 (Ben King, Jerry Leiber e Mike Stoller, estes últimos da famosa dupla de compositores Leiber/Soller dos quais os Beatles eram fãs e gravaram várias composições...
A crônica, levemente enfesada, afinal o juizinho que apitou o jogo Corinthians X Internacional, que filho da puta... Não deu um pênalti logo no início do jogo em favor do Inter (o Alecssandro foi derrubado dentro da área, e como diz o Arnaldo César Coelho "a regra é clara", dentro da área é pênalti) e no final, permitiu que o "Corintia" (como eles dizem lá em Sampa) cobrassem uma falta com a bola em movimento...
Well, deu no que deu...
Mas como diz o gaúcho aqui, ainda não terminou....
Um abraço fraterno do viking, autoexilado na Lagoa da Conceição.

ENQUANTO ISSO NAS RUAS


Por Olsen Jr.

No bar, só vi isso em Buenos Aires. Antes de pedir o café, todos os presentes concentrados na leitura dos jornais diários. Não há jornais para todos. Resigno-me com os comentários dos outros enquanto espero, ouço: “esse Sarney é incrível, ele já era um espertalhão quando eu era criança. Onde este senhor está mais dia menos dia vão descobrir alguma falcatrua. Olha só isso, ele afirma que o problema não é ele, mas o senado”. As palavras chegaram da mesa ao lado, imagino um “imortal” da Academia Brasileira de Letras, político de carreira (a única profissão em que o sujeito não precisa comprovar idoneidade), cria uma editora na casa que preside claro, uma editora precisa de um diretor, de um secretário, de um executivo, de alguns membros para o conselho editorial, e assim, mais parentes vão ocupando os espaços, aliás, espaços que foram criados para a ocupação de parentes, de amigos, de amigos dos amigos. Não se pode negar a “engenhosidade” do método. O código penal chama de outra coisa.

No estacionamento, movimento intenso de carros. Observo o pai segurando a criança pela mão no canteiro que separa as duas pistas no meio daquele rush. Do outro lado, sinalizo com o farol para não ter pressa que vou aguardar, ele agradece. Quando passa o último veículo, avança com a criança pela mão, faz um aceno com a cabeça em sinal de agradecimento e depois, antes de entrar no seu próprio automóvel, olha para mim e ergue o polegar, sinal de positivo, como se não estivesse acreditando no gesto. Mundo triste esse quando de tanto assimilar a barbárie passamos a nos assombrar com os gestos de boa vontade.

No posto de gasolina, o cara entra com o carro por onde os veículos devem sair, naturalmente, depois, irá sair pela entrada, visivelmente embriagado, emendando a madrugada com a manhã, ouve do atendente (depois de abastecer) um solene “não se preocupe senhor, a coisa toda vai, vai, vai até que piora”...

No caixa-eletrônico, espero enquanto ouço alguém na minha frente dizer “quando não se tem dinheiro nenhum banco presta”.

Na casa lotérica, escuto “meu time (referia-se ao Vasco) não perdeu nenhum jogo e foi eliminado, uma pena conclui, não pergunto se “eles” ganharam alguma, mas ouço antes de sair que as trombetas tocadas na Copa das Confederações chamam-se “vavuleras”, pô, cultura inútil...
Na banca de jornal, alguém convida alguém para tomar um a cerveja, o convidado responde, “não, muito obrigado, hoje vou me “poipá” (fazia menção ao “poupar” no sentido de economizar) era dose pra mamute...

No almoço, o garçom diz para mim que só tem desgostos com os times de futebol por quem torce (o Avaí e o Vasco, este na segunda divisão) sugiro que torça por um clube grande, o Internacional, por exemplo, ele diz que irá comprar uma camiseta no dia seguinte quando tiver folga, parece convencido...Depois alguém passa por mim e afirma que não tiro mais a camisa (referia-se ao Intenacional), digo que tenho 17 delas, todas diferentes, justamente para ninguém encher o meu saco. A velhinha que está na minha frente, em outra mesa, faz um sinal com a cabeça no sentido de aprovação, depois soube que ela também era torcedora do Inter, coisa de louco...

No café, o sujeito respondendo a pergunta: por que você vem aqui? Afirma “todo o mundo vai lá ou vão ali (referia-se a outros cafés), como não sou todo o mundo, venho aqui”... Quem mandou perguntar?

Penso nessas frases todas, colhidas aqui e ali, com uma lógica ingênua e fatalista, como se tudo estivesse escrito antes de nascermos, e o homem não pudesse mais mudar aquela escrita...

Então, quando chegou a minha vez de fazer um pedido, lembro dessa pasmaceira toda, e da subserviência acólita e não vacilo, digo logo, “me dê com espaguete ao fungui com um contrafilé...

E se me perguntarem por que? Afirmo, pelo menos o filé é contra !

Ilustrações: Uochiton S.

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Diploma: ABI repudia a decisão do STF

17.6.2009

Nesta quarta-feira, 17, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional a exigência de diploma de nível superior para o exercício da profissão de jornalista.

O Ministro Gilmar Mendes foi o relator do Recurso Extraordinário nº 511961, e votou contrariamente à exigência do diploma como requisito para o exercício da profissão. Na opinião dele, a Constituição Federal de 1988, ao garantir a ampla liberdade de expressão, não recepcionou o Decreto-Lei nº 972/69, que exigia o diploma.

O voto do relator foi acompanhado pelos Ministros Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Ellen Gracie, Cezar Peluso e Celso de Mello. O Ministro Marco Aurélio de Melo votou pela permanência da exigência do diploma. Os Ministros Joquim Barbosa e Carlos Alberto Menezes Direito não estavam presentes na sessão.

Em Brasília, onde foi participar da entrega de uma premiação, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, foi informado da decisão do STF e emitiu a seguinte declaração:

A ABI lamenta e considera que esta decisão expõe os jornalistas a riscos e fragilidades e entra em choque com o texto constitucional e a aspiração de implantação efetiva de um Estado Democrático de Direito entre nós, como prescrito na Carta de 1988.

A ABI tem razões especiais para lamentar esse fato porque, já em 1918, há mais de 90 anos portanto, organizou o 1º Congresso Brasileiro de Jornalistas e aprovou como uma das teses principais a necessidade de que os jornalistas tivessem formação de nível universitário. Com esse fim, chegou a aprovar a possível grade curricular do curso de Jornalismo a ser implantado.

A ABI espera que as entidades de jornalistas, à frente a Federação Nacional dos Jornalistas-Fenaj, promovam gestões junto às lideranças do Congresso Nacional, para restabelecer aquilo que o Supremo Tribunal está sonegando à sociedade: um jornalismo feito com competência técnica e alto sentido cultural e ético”.

Maurício Azêdo, Presidente da ABI."

(Fonte: ABI)

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Uma decisão danosa

Por Alberto Dines em 18.6.2009

Difícil avaliar o que é mais danoso: a crítica do presidente Lula à imprensa por conta das revelações sobre o comportamento do senador José Sarney (PMDB-AP) ou a decisão do Supremo Tribunal de eliminar a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. São casos diferentes, porém igualmente prejudiciais à fluência do processo informativo. E exibem a mesma tendência para o sofisma, a ilusão da lógica.

Fiquemos com a decisão do STF. Embora irreversível, não é necessariamente a mais correta, nem a mais eficaz. A maioria do plenário seguiu o voto do presidente da Corte, Gilmar Mendes, relator do processo, que se aferrou à velha alegação de que a obrigatoriedade do diploma de jornalista fere a isonomia e a liberdade de expressão garantida pela Constituição.

Para derrubar esta argumentação basta um pequeno exercício estatístico: na quarta-feira em que a decisão foi tomada, nas edições dos três jornalões, dos 29 artigos regulares e assinados, apenas 18 eram de autoria de jornalistas profissionais, os 11 restantes eram de autoria de não-jornalistas. Esta proporção 60% a 40% é bastante razoável e revela que o sistema vigente de obrigatoriedade do diploma de jornalismo não discrimina colaboradores oriundos de outras profissões.

No seu relatório, o ministro Gilmar Mendes também tenta contestar a afirmação de que profissionais formados em jornalismo comportam-se de forma mais responsável e menos abusiva. Data vênia, o ministro-presidente da Suprema Corte está redondamente enganado: nas escolas de jornalismo os futuros profissionais são treinados por professores de ética e legislação e sabem perfeitamente até onde podem ir.

É por isso que na Europa e Estados Unidos onde não existe a obrigatoriedade do diploma de jornalismo, são as empresas jornalisticas que preferem os profissionais formados em jornalismo, justamente para não correrem o risco de serem processadas e punidas com pesadas indenizações em ações por danos morais.

O STF errou tanto no caso da derrubada total da Lei de Imprensa como no caso do diploma. E foi induzido pela mesma miopia.

(Fonte: Observatório da Imprensa)


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