O bairro
Por Amílcar Neves*
A manhã ensolarada de domingo é um estímulo adicional a suas caminhadas diárias de exatos 60 minutos de duração pelo passeio ao longo do que resta do manguezal. Como tudo na Ilha, na cidade e no Estado, aquele resíduo de natureza vive sendo constantemente agredido em nome da corrida desenfreada ao caos e ao fim a que se dá os nomes de progresso e desenvolvimento.
Mas o dia é de sol e céu muito azul, circunstâncias que induzem a supor que a vida é bela e eterna. Valia bem deixar-se levar pelo ar fresco e pela atmosfera límpida de final de Outono. Assim, como em quase todos os dias do ano, empreendeu o sagrado compromisso consigo mesmo de sair em marcha batida por uma hora inteira.
O exercício revela-se, para ele, um momento de intensa atividade intelectual. Durante o trajeto avalia situações, analisa alternativas, traça estratégias, esboça diálogos, faz contas, desenvolve soluções, constrói planos, toma decisões, gera ideias e escreve muito. Sim, escreve um bocado durante as caminhadas, tanto que lhe doem por vezes as pernas na ânsia de chegar depressa a casa e passar tudo para o papel. Há ocasiões em que perde pelo caminho ideias brilhantes que não consegue jamais recuperar. Ou que recupera muito mais tarde, porém sem o brilho e as cores originais...
Por isso tudo, muitas vezes nem repara nas pessoas com as quais cruza, eventualmente conhecidos seus e até mesmo amigos. Por isso, foi tomado de surpresa quando o homem, um completo desconhecido, em voz clara e palavras nítidas perguntou-lhe à queima-roupa:
- Qual foi a alegria de ontem?
Lembrou-se de imediato que vestia uma camiseta com o distintivo do Avaí e riu a gosto. Por associação de ideias, recordou o único momento que viu do jogo exibido pela televisão no sábado, quando o juiz marcou um pênalti a favor do Figueirense aos 42 minutos do segundo tempo - o grande rival perdia por 3 a 2 para o Atlético Goianiense - e matou a charada na bucha:
- O pênalti perdido!
O outro fez com os dedos o sinal de positivo e ambos se afastaram, retomando o caminho em sentidos opostos. Depois ele cumprimentou o Valdir que conserta bicicletas, surpreendeu-se com uma sala para alugar, viu a moça de enormes seios com a barriga flácida à mostra, leu as palavras HARD ROCK em um shortinho, informou a um jovem casal onde havia uma cafeteria...
Pena que o bairro é muito maior do que este modesto espaço.
Mas o dia é de sol e céu muito azul, circunstâncias que induzem a supor que a vida é bela e eterna. Valia bem deixar-se levar pelo ar fresco e pela atmosfera límpida de final de Outono. Assim, como em quase todos os dias do ano, empreendeu o sagrado compromisso consigo mesmo de sair em marcha batida por uma hora inteira.
O exercício revela-se, para ele, um momento de intensa atividade intelectual. Durante o trajeto avalia situações, analisa alternativas, traça estratégias, esboça diálogos, faz contas, desenvolve soluções, constrói planos, toma decisões, gera ideias e escreve muito. Sim, escreve um bocado durante as caminhadas, tanto que lhe doem por vezes as pernas na ânsia de chegar depressa a casa e passar tudo para o papel. Há ocasiões em que perde pelo caminho ideias brilhantes que não consegue jamais recuperar. Ou que recupera muito mais tarde, porém sem o brilho e as cores originais...
Por isso tudo, muitas vezes nem repara nas pessoas com as quais cruza, eventualmente conhecidos seus e até mesmo amigos. Por isso, foi tomado de surpresa quando o homem, um completo desconhecido, em voz clara e palavras nítidas perguntou-lhe à queima-roupa:
- Qual foi a alegria de ontem?
Lembrou-se de imediato que vestia uma camiseta com o distintivo do Avaí e riu a gosto. Por associação de ideias, recordou o único momento que viu do jogo exibido pela televisão no sábado, quando o juiz marcou um pênalti a favor do Figueirense aos 42 minutos do segundo tempo - o grande rival perdia por 3 a 2 para o Atlético Goianiense - e matou a charada na bucha:
- O pênalti perdido!
O outro fez com os dedos o sinal de positivo e ambos se afastaram, retomando o caminho em sentidos opostos. Depois ele cumprimentou o Valdir que conserta bicicletas, surpreendeu-se com uma sala para alugar, viu a moça de enormes seios com a barriga flácida à mostra, leu as palavras HARD ROCK em um shortinho, informou a um jovem casal onde havia uma cafeteria...
Pena que o bairro é muito maior do que este modesto espaço.
*Amilcar Neves, escritor.
Crônica publicada na edição de hoje (17.6) do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
Crônica publicada na edição de hoje (17.6) do jornal Diário Catarinense.
Reprodução autorizada pelo autor.
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CINEARTH NO MUSEU
Apresenta
Ciclo de cinema “América latina, espelho da utopia”
VIVA ZAPATA!
Apresenta
Ciclo de cinema “América latina, espelho da utopia”
VIVA ZAPATA!
Um grupo de lavradores vai até o Presidente do México afimando que suas terras foram roubadas. Entre eles está Zapata, que se torna guerrilheiro e tem grande importância na vida política do país. Dirigido por Elia Kazan, com Marlon Brando e Anthony Quinn.
Dia 20.6.2009, sábado, 18 h.
Museu da Escola Catarinense (antiga FAED), rua Saldanha Marinho, 196 (Centro).
Entrada Franca
Apoio: Udesc e Museu da Escola Catarinense
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