A palavra escrita
Por Amílcar Neves*
Há quem assegure que um livro de literatura, um artigo de jornal ou mesmo uma despretensiosa crônica como esta têm o poder de mudar o mundo, de influenciar as pessoas. De promover revoluções. Duvido dessas maravilhosas virtudes do texto literário. Penso que existe um bocado de exagero nisso tudo.
Para mim, o que sucede é que as pessoas se assustam tremendamente com o texto impresso, com a palavra escrita.
Bem verdade que, por vezes, o texto impresso consegue fazer com que um governador de Estado volte atrás na sua decisão, já encaminhada à Assembléia, e suspenda a liquidação de um teatro e a desativação de uma biblioteca pública estadual com a remessa aos porões úmidos e sombrios da Burocracia de um acervo de 130 mil títulos, fora uma extraordinária coleção de jornais - para se ouvir muito por aí, dois anos depois, que os planos iniciais foram retomados e, agora, com "negociações" conduzidas em surdina para não atiçar a beligerância do "inimigo".
Também é fato que, vez ou outra, a palavra escrita pode arrancar de um prefeito a promessa pública e solene de restaurar a autonomia da fundação de cultura do município depois de ele ter sacado da Câmara dos Vereadores, em tempo recorde e quase por unanimidade, sua subordinação à pasta do turismo - para se constatar, quatro meses após, que o prometido pelo alcaide não foi cumprido.
Mas o que acontece mesmo é que as pessoas se impressionam demais com a palavra escrita, seja numa carta, num jornal, num livro. O dito palavrão é típico dessa atitude: todo mundo ouve, todo mundo fala, todo mundo vê seu uso no cinema e na televisão. Basta pô-lo no papel, entretanto, para que o mundo venha abaixo.
O mesmo ocorre com descrições do ato sexual entre humanos, por mais competente que seja a engenhosidade do escritor para narrá-lo de forma direta, forte, delicada ou sutil. Encharcados de sexo, todos nós ouvimos sexo, falamos de sexo, apreciamos sexo no cinema e na televisão, fazemos sexo. Basta, porém, um Cristovão Tezza colocar um pingo dessas coisas num romance como Aventuras Provisórias para que livro e autor sejam execrados sob o argumento pueril de que nossas crianças de 15 a 18 anos (em pleno Século 21) não podem ser expostas a uma obra, a um perigo desses porque...
A palavra escrita verdadeiramente assusta as pessoas. Muito mais do que as mil palavras de uma imagem, pobres de nós.
Para mim, o que sucede é que as pessoas se assustam tremendamente com o texto impresso, com a palavra escrita.
Bem verdade que, por vezes, o texto impresso consegue fazer com que um governador de Estado volte atrás na sua decisão, já encaminhada à Assembléia, e suspenda a liquidação de um teatro e a desativação de uma biblioteca pública estadual com a remessa aos porões úmidos e sombrios da Burocracia de um acervo de 130 mil títulos, fora uma extraordinária coleção de jornais - para se ouvir muito por aí, dois anos depois, que os planos iniciais foram retomados e, agora, com "negociações" conduzidas em surdina para não atiçar a beligerância do "inimigo".
Também é fato que, vez ou outra, a palavra escrita pode arrancar de um prefeito a promessa pública e solene de restaurar a autonomia da fundação de cultura do município depois de ele ter sacado da Câmara dos Vereadores, em tempo recorde e quase por unanimidade, sua subordinação à pasta do turismo - para se constatar, quatro meses após, que o prometido pelo alcaide não foi cumprido.
Mas o que acontece mesmo é que as pessoas se impressionam demais com a palavra escrita, seja numa carta, num jornal, num livro. O dito palavrão é típico dessa atitude: todo mundo ouve, todo mundo fala, todo mundo vê seu uso no cinema e na televisão. Basta pô-lo no papel, entretanto, para que o mundo venha abaixo.
O mesmo ocorre com descrições do ato sexual entre humanos, por mais competente que seja a engenhosidade do escritor para narrá-lo de forma direta, forte, delicada ou sutil. Encharcados de sexo, todos nós ouvimos sexo, falamos de sexo, apreciamos sexo no cinema e na televisão, fazemos sexo. Basta, porém, um Cristovão Tezza colocar um pingo dessas coisas num romance como Aventuras Provisórias para que livro e autor sejam execrados sob o argumento pueril de que nossas crianças de 15 a 18 anos (em pleno Século 21) não podem ser expostas a uma obra, a um perigo desses porque...
A palavra escrita verdadeiramente assusta as pessoas. Muito mais do que as mil palavras de uma imagem, pobres de nós.
*Amilcar Neves, escritor. Crônica publicada na edição de hoje (3.6)
do jornal Diário Catarinense. Reprodução autorizada pelo autor.
do jornal Diário Catarinense. Reprodução autorizada pelo autor.
Um comentário:
Afinal, alguem conseguiu saber qual o destino da carrada de livros deste autor dispensadas pela secretaria de educaçao do estado de Santa Catarina?
Quem fim levou?
O gato comeu?
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